Gnosticismo. www.gnosisonline.org. Texto de Raul
Branco (Membro da Sociedade Teosófica pela Loja Brasília). OS ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ. Comecei a pesquisar
os ensinamentos internos do cristianismo primitivo por estar convencido de que
Jesus não poderia ter omitido de suas instruções uma metodologia para o caminho
espiritual, à semelhança dos métodos conhecidos nas principais tradições
orientais. Essas tradições têm atraído milhares de cristãos sinceros mas
desiludidos com o receituário do cristianismo tradicional. A riqueza do
material encontrado, geralmente pouco conhecido, foi tão surpreendente que
resolvi sistematizá-lo e apresentá-lo sob a forma de livro. Ao mergulhar no
estudo das tradições orientais, principalmente do budismo, da ioga, da vedanta
e de sua versão moderna, a teosofia, descobri que o lado esotérico da tradição
cristã tem todos os ingredientes das formas esotéricas dessas outras, e que a
devoção realmente caminha de mãos dadas com a razão. Em vista dos ensinamentos
transformadores que capacitam a união do buscador com o Supremo Bem,
poder-se-ia dizer que esta tradição seria a ioga cristã, bem pouco conhecida
dos cristãos, porque é derivada dos ensinamentos reservados de Jesus. Lembramos
que ioga é um termo sânscrito que significa união, mas que é usado também, por
extensão, para transmitir de forma sistemática a metodologia que visa promover
a união da natureza exterior do homem com sua natureza interior. Como o
esoterismo cristão é muito rico e a literatura existente muito extensa, o foco
deste trabalho foi direcionado para o ponto central dos ensinamentos esotéricos
de Jesus, ou seja, a busca do Reino de Deus. Procuraremos elucidar esse tema
sobre o qual todo o ministério de Jesus foi baseado, explorando o caminho que
leva ao Reino, bem como o método e o instrumental facilitador que capacitam a
entrada pela porta estreita e o trilhar do caminho apertado. O mais
surpreendente, como será visto a seguir, é que a essência dos ensinamentos mais
profundos de Jesus sempre esteve expressa na Bíblia e em outros documentos sem
ser devidamente percebida. É como se as joias mais preciosas da mensagem
bíblica estivessem escondidas debaixo de nossos olhos sob a aparência de coisas
sem maior importância. Dentre essas preciosidades negligenciadas do esoterismo
cristão poderíamos mencionar: “Eu e o Pai somos Um,” “Conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará,” “Já não sou eu que vivo mas é Cristo que vive em mim,”
“Quem não nascer de novo não poderá entrar no Reino dos Céus,” “Vinde a mim as
criancinhas,” “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só;
mas se morrer produzirá muito fruto.” Esses exemplos e muitos outros
evidenciam que os ensinamentos esotéricos de Jesus foram preservados em dois
segmentos: no primeiro, encontram-se as proposições, instruções e
acontecimentos da vida do Salvador, que estão descritos na Bíblia e em diversos
documentos apócrifos; no outro, estão os detalhamentos dessas instruções, com
as explicações de suas razões e as técnicas e métodos para o aprimoramento da
vida espiritual. Essas instruções e explanações que não se encontram na Bíblia
ou nos documentos apócrifos foram passadas de boca a ouvido, naquilo que se
chama de tradição oral, ou mesmo por intermédio de outros métodos que serão
abordados posteriormente. Este livro é em grande parte um trabalho de
reconstituição dos diferentes aspectos desses ensinamentos. Quando buscamos
sintonia com o Mestre em nossas meditações, depois de algum tempo, a confusão
inicial cede lugar à simplicidade essencial da mensagem divina, facilitando-nos
a tarefa de desenterrar a tradição interna que desconhecíamos. Os objetivos da
mensagem salvífica de Jesus começam a aclarar-se, seus métodos de transmissão
de instruções fazem-se presentes, e seus ensinamentos surgem como joias
preciosas escondidas sob o véu da alegoria. Vivemos na ilusão da
separatividade, alimentados pelo egoísmo e pelo orgulho, pensando que criamos
de forma separada e independente alguma coisa. A realidade, no entanto, é que
cada ser humano é tão somente uma célula no grande organismo da humanidade.
Como tal, a mente de cada um nada mais é do que um aspecto da mente universal,
também chamada de inconsciente coletivo ou mente divina. Dentro da mente
divina, a verdade está eternamente presente em sua forma essencial, embora seja
apresentada de diferentes maneiras, pelos inumeráveis aspectos individuais
desse grande Todo. Verifiquei que, quanto mais procurava estudar e meditar
sobre os ensinamentos de Jesus, mais livros e ideias sobre o assunto iam
aparecendo. Percebi que muitas outras almas já haviam decifrado e interpretado
boa parte dos ensinamentos do Salvador. Minha tarefa, portanto, foi grandemente
facilitada, pois foi possível coligir a essência do que já estava escrito e
aproveitar parte do que ainda estava no mundo mental, a espera de ser expresso.
Como é natural, minhas deficiências literárias, intelectuais e espirituais
explicam as falhas que serão encontradas ao longo do texto. (…). As citações
bíblicas são apresentadas em itálico, sendo usada a versão da Bíblia de
Jerusalém, Edições Paulinas. O leitor ansioso em obter uma visão de conjunto do
livro, antes de mergulhar nos detalhes explicativos e operacionais do processo
de transformação interior do homem velho no homem novo, poderá ler a
Introdução, o Anexo 1, “Exercícios e práticas espirituais” e os capítulos 4,
“Uma visão esotérica do Reino nos ensinamentos de Jesus,” 8, “A peregrinação da
alma,” 13, “O instrumental da tradição cristã,” 26, “Transformação, Integração
e União” e 27, “A Vida do Cristo como o Caminho.” Uma vez efetuada essa leitura
seletiva, esperamos que o verdadeiro buscador da tradição cristã tenha a
motivação necessária para efetuar, não mais uma leitura, mas um estudo atento
do texto completo. Introdução. O cristão dedicado e sincero, que procura seguir
a orientação do Mestre de tomar a sua cruz e segui-lo, pode se questionar como
é possível que o entusiasmo da cristandade dos três primeiros séculos, que
seguia Jesus com amor e fervor apesar das perseguições implacáveis que ceifaram
a vida de milhares de mártires naqueles tempos, possa ter arrefecido e se
transformado, para grande parte daqueles que se dizem cristãos, numa mera
afiliação religiosa pró forma sem o envolvimento de seu coração. As causas
dessa mudança qualitativa da religiosidade do cristão são complexas, mas podem
ser em boa parte imputadas ao fato de que a maioria das igrejas atuais
distanciaram dos ideais originais, retornando ao comportamento de obediência a
rituais externos e a práticas religiosas mecânicas que Jesus havia tão
duramente criticado nos fariseus e levitas. São poucos os cristãos no mundo de
hoje que procuram realmente entender os ensinamentos de Jesus e, um menor
número ainda, seguir o Mestre. Com o passar dos séculos, a mensagem central de
Jesus foi progressivamente desvirtuada e acabou sendo esquecida. Em vez de
buscarmos o Reino dos Céus aqui e agora, colocamos a nossa esperança num
paraíso distante, talvez no outro mundo. Porém, se meditarmos profundamente
sobre a essência dos ensinamentos de Jesus, deixando de lado nossas ideias
pré-concebidas, chegaremos à conclusão de que somos o próprio filho pródigo e
que algum dia retornaremos à Casa do Pai, que é o Reino dos Céus, voltando ao
estágio de pureza prístina original de um Filho de Deus, tornando-nos, então,
um Cristo (1) e podendo dizer, por experiência própria, que “Eu e o Pai somos
um” (João 10:30). Paulo demonstra estar em sintonia com essa realidade ao
dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2:20).
Esse entendimento do potencial ilimitado do homem e o conhecimento da herança
divina podem ser obtidos através do estudo e da vivência do lado esotérico de
nossa tradição, que permaneceu esquecido e negligenciado por tantos séculos. O
primeiro passo para usufruirmos a herança divina é a decisão de reivindicá-la.
Para isso temos que nos desvencilhar dos condicionamentos limitativos impostos
por muitos séculos de apatia intelectual e de ausência do exercício da vontade.
A verdade sempre esteve ao nosso alcance, mas, por várias razões, deixamos
escapar a oportunidade de percebe-la. Podemos, no entanto, reverter esta
situação porque o momento atual é extremamente propício para o despertar
espiritual. Felizmente, os ensinamentos esotéricos da tradição cristã não foram
totalmente perdidos. Eles podem ser recuperados, compreendidos e, se
devidamente vivenciados, podem mudar a nossa vida, permitindo que alcancemos “O
estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios
4:13). O primeiro passo neste estudo dos ensinamentos de Jesus é deixar claro
que o cristianismo, em sua essência última, não é uma instituição mas sim uma
convicção interior. Essa convicção, a verdadeira fé, deve guiar a conduta de seus
seguidores rumo à meta final, o Reino, deixando um rastro de boas obras ao
longo do caminho trilhado. Um aspecto pouco conhecido da natureza cíclica da
manifestação é o de que, em cada final de século, a Providência Divina aumenta
o fluxo de energias espirituais para estimular o progresso da humanidade.
Ocorrem também ciclos maiores, como ciclos milenares e ciclos envolvendo as
grandes eras. A humanidade está vivendo agora um momento muito especial, a
confluência de três ciclos, o centenário, o milenar e o de transição da era de
peixes para a era de aquário. Isso pode ser notado pelas pessoas mais
sensitivas. O resultado dessa ação energética inusitada se faz sentir no mundo
das ideias e do comportamento humano. Nesta virada do terceiro milênio, estamos
vivendo um momento extremamente propício para tornar conhecidas as coisas
ocultas. Por isso esforçamo-nos para fazer com que os ensinamentos de Jesus
entesourados em documentos raros, ao alcance apenas de um limitado círculo de
estudiosos, sejam postos à disposição dos cristãos sinceros que ainda não
conhecem a inteireza de sua mensagem. Como não podia deixar de ser, essas
energias afetaram de forma positiva a vida espiritual do planeta. As estruturas
religiosas foram induzidas a alargar seus horizontes para abranger outros
grupos e outras etnias. Em virtude da invasão chinesa, que forçou um êxodo de
grandes proporções da comunidade monástica tibetana, o budismo tibetano passou
a ser conhecido e praticado por centenas de milhares de pessoas em quase todo mundo
ocidental, quebrando um milênio de isolamento no Tibete. O sofrimento do povo
tibetano foi transmutado em benefício dos buscadores da verdade em todo o
mundo, com a tradução das obras dos mestres budistas daquele país e o
estabelecimento de centros de ensino do Dharma em vários países do oriente e do
ocidente. Até a rígida e arcaica Igreja de Roma mostrou sinais de abertura.
Atendendo aos clamores dos fiéis que há muito se sentiam alienados com os
serviços religiosos em latim, uma drástica reforma litúrgica foi implementada,
permitindo que a missa fosse conduzida na língua de cada povo e com maior
participação dos fiéis. O sacerdote, que anteriormente oficiava boa parte da
missa de costas para o público, passa agora a voltar-se de frente para os fiéis
numa tentativa de quebrar barreiras e promover a comunicação. (2). Porém, a
iniciativa conciliadora mais importante do Vaticano foi o movimento ecumênico.
Depois de muitos séculos de disputas fratricidas a Igreja de Roma, numa
demonstração saudável de humildade, tomou a iniciativa de promover o contato
com grupos dissidentes dentro da grande tradição cristã, bem como com outras
religiões. (3). A mudança de atitude foi, em grande parte, motivada pelo
relativo esvaziamento das igrejas católicas, face ao rápido crescimento das
seitas protestantes e de outros movimentos, como o espiritismo e as religiões
ou filosofias orientais. Esse processo ecumênico, ainda que tímido e cauteloso,
em virtude dos ânimos acirrados por séculos de disputas, muitas vezes
sangrentas, promove pontos de união e minimiza os de separação. Esse ecumenismo
tem-se mostrado, no entanto, eminentemente externo. Mais importante ainda, com
imensas perspectivas de vir a provocar mudanças radicais, inclusive ao nível da
espiritualidade das massas de fiéis em todo o mundo, seria um ecumenismo
interior, entendido como uma abertura que leve em consideração todos os
aspectos da natureza humana. Os cultos de praticamente todas as igrejas cristãs
tradicionais, antes e depois da Reforma, baseiam-se num acirramento do aspecto
emocional do homem. As liturgias, cânticos, romarias e atos devocionais
baseiam-se numa fé emotiva e cega. A questão da verdadeira fé é de grande
importância e será examinada posteriormente, pois ela é um dos instrumentos
fundamentais do processo transformador da ioga cristã. Mas a emoção é apenas um
dos aspectos interiores do homem. O caminho que leva ao Reino dos Céus requer a
integração de todos os aspectos do ser humano. Isso significa que a emotividade
religiosa tem que abrir espaço para a razão, a fim de que as duas, emoção e
razão, possam ser integradas e transcendidas, no seu devido tempo, pela
intuição. Isso só ocorre quando o Cristo interior tem condições de despertar no
âmago de nossos corações e, progressivamente, assenhorar-se do comando de
nossas vidas. Esse processo de integração, ou ecumenismo interior, é a essência
dos ensinamentos internos de Jesus. Assim como o aumento da intensidade das
energias espirituais neste século se fez sentir ao nível das ideias, dos
movimentos e das instituições existentes, com mais razão ainda se fez sentir na
alma das pessoas. Milhões de indivíduos em todo mundo passaram a sentir o
chamado do alto. Esse chamado, sempre sutil, procura por diversos meios fazer
com que o homem entenda que sua meta é o Reino e que, para atingi-la, torna-se
necessário um progressivo desapego do mundo material. A forma como os homens,
geralmente sentem esse chamado é através da insatisfação com sua vida, mesmo
quando estão aparentemente fazendo as coisas certas e vivendo uma vida ética.
Essa divina insatisfação deslancha um processo de busca, que, inicialmente, é
confuso, pois o homem não consegue identificar exatamente o que está
procurando. Busca livros e outras formas de autoajuda, dentro e fora de sua
tradição; procura ouvir todo tipo de palestra sobre temas espirituais, enfim;
procura por todos os meios saciar sua terrível sede da verdade. Muitos dos que
batem às portas das igrejas voltam desapontados com o receituário prescrito
pelos seus sacerdotes e pastores. Podemos identificar três áreas principais de
insatisfação com a ortodoxia: os dogmas, a conceituação do homem como pecador e
de Deus como justiceiro e, finalmente, as práticas espirituais sugeridas. Os
dogmas de fé, sempre constituíram-se em obstáculos para o crescente segmento
pensante da cristandade. Enquanto o domínio da Igreja de Roma era total sobre
seus fiéis, o medo era geralmente suficiente para manter os fiéis e até mesmo
os intelectuais em linha. Porém, neste último século, com os grandes avanços na
educação das massas e a liberdade de pensamento exercida sem as antigas
inibições religiosas, o conflito entre dogma e razão vem levando um número
crescente de cristãos a assumir uma posição de coerência com seus sentimentos
mais íntimos. Infelizmente, isto tem também levado muitos a rechaçarem,
juntamente com os dogmas, toda a doutrina cristã e os ensinamentos corretos da
Igreja. A segunda área de conflito com a doutrina ortodoxa já era sentida de
forma latente há muitos séculos, como uma repulsa instintiva ao conceito do
Deus justiceiro apresentado pelo Antigo Testamento, em sua interpretação
literal, que foi encampado pela ortodoxia cristã. Conceber Deus como um Ser
sujeito a ataques de fúria que precisam ser aplacados por diversas formas de
sacrifícios e holocaustos fere a consciência daqueles que não se recusam a
pensar e constitui-se numa verdadeira heresia. A máxima heresia nesse sentido é
a proposição de que o Filho de Deus foi oferecido em sacrifício para propiciar
o perdão de Deus pelos pecados dos homens, conhecida como doutrina da expiação
vicária. Felizmente, em nosso século, com os avanços da psicologia moderna e o
entendimento do lado sombra do ser humano, o cristão começou a entender porque
sempre se sentiu incomodado por sua caracterização como “vil pecador”. Carl
Gustav Jung (1875-1961) mostrou que as negatividades inerentes ao nosso
processo de aprendizado terreno devem ser entendidas e superadas através da
compreensão e amor e não pelo temor de um Deus implacável que castiga nossas
falhas e fraquezas com os tormentos do fogo eterno. (4). Finalmente, muitos dos
cristãos que ainda se mantêm fiéis à Igreja mostram seu descontentamento com as
práticas espirituais tradicionais da ortodoxia e, em alguns casos, com o
significado deturpado dado a elas. A missa, o terço, as romarias e as outras
práticas disponíveis aos leigos contrastam com as práticas de outras tradições
que, aos poucos, se tornaram conhecidas no Ocidente. Esse descontentamento não
se restringe aos católicos mas é sentido, também pelos fiéis das seitas
evangélicas e protestantes com sua conhecida inflexibilidade em questões
doutrinárias. Apesar de muita resistência interna, a poderosa energia crística
atuando nesta época de transição parece ter rachado, em alguns lugares, a
espessa muralha do conservadorismo. Assim, algumas aberturas, como o movimento
carismático e os movimentos de jovens e de casais da igreja católica resultaram
em entusiástica resposta dos leigos e de parte do clero. Também a divulgação,
por iniciativa de alguns padres e monges, de certas práticas meditativas e
contemplativas, parcialmente inspiradas nos modelos orientais, tiveram
excelente acolhida. Porém, para a grande massa dos buscadores, a Igreja
permaneceu uma instituição rígida, distante, indiferente e até mesmo alienada
das necessidades espirituais de seus fiéis. O resultado tem sido um progressivo
desapontamento dos fiéis com a ortodoxia religiosa cristã e consequente êxodo
para outros movimentos e tradições não cristãos ou fora dos cânones ortodoxos.
Isso explica porque o espiritismo, o budismo, o hinduísmo, a ioga e outros
movimentos religiosos e filosóficos no Brasil tiveram tão boa acolhida entre os
cristãos insatisfeitos com a postura ortodoxa de sua tradição. Isso ocorre
porque, nesses movimentos ou tradições, o buscador encontra práticas
espirituais sólidas e doutrinas que não agridem a razão. As tradições budista e
da ioga têm exercido grande atração sobre os buscadores ocidentais. Ambas podem
ser mais acertadamente consideradas como tradições filosóficas do que
religiosas. Seus aspectos doutrinários são extremamente atraentes, englobando
conceitos filosóficos e cosmológicos de abrangência e grandeza que fascinam os
estudiosos livres de preconceitos. Porém, o ponto que exerce maior atração
parece ser a prática espiritual dessas tradições voltadas para a libertação do
sofrimento. Dentre essas práticas destaca-se a meditação, com todas suas
modalidades e etapas. Até mesmo alguns padres e monges cristãos, como Thomas
Merton (1915-1968) (5) e William Johnston (1925-2010), (6) depois de estudarem
o budismo, procuraram introduzir suas práticas meditativas nos meios cristãos.
Johnston, preocupado com o desinteresse crescente dos fieis pelas práticas
devocionais tradicionais (rosário, via sacra e novenas), e verificando a
firmeza milenar das práticas budistas, tal como observou no Japão, desabafa: “A
velha contemplação cristã destinava-se a uma elite – os franciscanos, os
jesuítas, os dominicanos e as pessoas de bem. Mas o pobre leigo, o cidadão de
segunda classe, ficava com as contas de seu rosário. De ora em diante, não é
preciso que seja assim. Assim como a liturgia ampliou-se para abranger a todos,
também o mesmo pode dar-se com a contemplação. O muro infame que separava o
cristianismo popular do cristianismo monástico pode ser derrubado de forma a
que todos possamos ter as nossas visões, alcançar o nosso samadhi”. (7) A
diferença radical de enfoque para a vida espiritual entre a tradição budista e
a cristã pode ser aquilatada pela maneira como caracterizam seus membros. Os
budistas geralmente se auto denominam “praticantes” no sentido de serem
praticantes do dharma, do corpo de ensinamentos do Senhor Buda. Os cristãos,
por sua vez, são normalmente caracterizados como “fieis” refletindo o fato de
serem supostamente fieis à sua crença no corpo doutrinário da Igreja. Enquanto
uns praticam os ensinamentos de seu mestre, outros simplesmente creem
passivamente nos dogmas de sua crença, desconhecendo, em geral, os ensinamentos
de seu Salvador. Dentro desse contexto de crescente insatisfação com as
práticas cristãs ortodoxas e a constatação de que existem alternativas
atraentes nas outras tradições, a apresentação das doutrinas e práticas
espirituais do lado interno da tradição cristã assume especial importância.
Felizmente, quando conseguimos desvelar os ensinamentos esotéricos de Jesus,
verificamos que as práticas do cristianismo primitivo nada deixam a desejar às
outras tradições orientais tão em voga atualmente. Este livro vem juntar-se a
uma crescente literatura sobre o cristianismo primitivo e os aspectos
esotéricos da tradição cristã, enfatizando os métodos e práticas espirituais
voltados para a transformação interior, tão escondidos no passado. (8) Esses
antigos ensinamentos abrangentes, profundos e eternamente atuais, levaram
Agostinho, reputado como um dos baluartes da Igreja, a escrever há quinze
séculos atrás: “Esta que hoje chamamos de religião cristã existiu entre os
antigos e existia desde o começo da raça humana até que o Cristo se fez carne,
tempo a partir do qual a verdadeira religião já existente começou a ser
denominada de Cristianismo” (9) A postura necessária para o estudo dos
ensinamentos esotéricos. Se por um lado existe uma natural curiosidade por
parte de todo cristão em conhecer os ensinamentos internos de sua tradição,
devemos estar preparados para o fato de que esses ensinamentos nem sempre
estarão de acordo com nossas idéias tradicionais. Na verdade, parte dos
conceitos ortodoxos deverão ser modificados e, em alguns casos, até mesmo
abandonados, à medida que adquirimos um entendimento mais sólido do lado
esotérico dos ensinamentos de Jesus. Esse é o processo natural de
amadurecimento de todo indivíduo. As noções que governam a atitude das crianças
em seus primeiros anos de interação com o mundo exterior, dão geralmente lugar
a conceitos mais abrangentes e complexos quando o jovem adulto está
suficientemente amadurecido em sua capacidade intelectual e emocional. Um
processo semelhante ocorre em nossa vida espiritual. Para que o devoto possa
crescer espiritualmente, ele deve aprender a entender o sentido esotérico
subjacente às doutrinas anteriormente aceitas literalmente como dogmas de fé.
Um dos principais objetivos deste livro é desvelar os ensinamentos escondidos
por trás do simbolismo da Bíblia e de outras fontes de nossa tradição. Nessa
busca, o leitor deve estar disposto a investigar a simbologia bíblica. Essa
disposição implica numa atitude de flexibilidade e tolerância para com ideias e
argumentos diferentes dos aceitos até então. O verdadeiro estudioso deve
submeter todo conceito e argumento, tanto tradicional como não ortodoxo, ao
crivo da razão e, a seguir, à avaliação do coração. O devoto que adotar essa
postura espiritualmente sadia estará chamando em seu auxílio o Cristo interior,
que derramará suas bênçãos na forma de inspiração para a compreensão mais
profunda das verdades transformadoras de nossa tradição. Com isso ele sentirá
uma profunda alegria ao efetuar uma leitura crítica, que lhe permitirá
construir paulatinamente, e de forma consciente, o arcabouço doutrinário e
prático de sua transformação espiritual. Isso significa que o leitor deve
adotar a postura do cientista que, ao iniciar um novo projeto de pesquisa,
adota uma série de hipóteses de trabalho, que serão investigadas e testadas.
Caso essas hipóteses facilitem o avanço da pesquisa e sejam confirmadas por
testes posteriores, então, e só então, poderão ser promovidas de hipóteses a
premissas para a implementação da parte prática que permitirá a conclusão do
trabalho. Essa atitude “científica”, apesar de atraente e lógica, é difícil de
ser adotada na prática. Todos nós interagimos com o mundo a partir de um grande
número de condicionamentos, a maior parte dos quais inconscientes. Nossa mente
racional pode estar disposta a considerar uma determinada linha de raciocínio,
porém, nossos sentimentos, que são governados pelo inconsciente, usurpam muitas
vezes a atribuição da razão e rejeitam os argumentos lógicos tão logo percebem
que esses podem ameaçar a segurança de nossa estrutura de valores. Isso explica
a natureza intrinsecamente conservadora de todo ser humano. Resistimos à
mudança porque toda mudança implica numa revolução interior que demanda um
compromisso inabalável com a verdade. Esse compromisso implica em humildade
para aceitar a possibilidade de que alguns de nossos mais estimados conceitos
foram construídos sobre a areia e, finalmente, uma coragem extraordinária para
enfrentar a resistência inicial de nosso ego orgulhoso e inseguro. Os meandros
da mente são muitas vezes desconcertantes para o iniciante. Um profundo
estudioso da matéria escreveu: “A mente formal assemelha-se a um ditador de um
estado autoritário. Tal dirigente não pode, não ousa, tolerar qualquer
interferência de outros no seu despotismo ou sugestão de controle sobre ele,
porque se isso prosperasse a sua ditadura eventualmente terminaria. No que
concerne à manutenção de seu sistema e ao controle das mentes cegas de seus
membros, a ortodoxia religiosa estreita e defensiva está precisamente na mesma
posição. Todo dogmatismo em assuntos religiosos surge do medo e desse impulso
para o poder e sua preservação.” (10). Para o estudante de esoterismo, toda e
qualquer proposição doutrinária ou filosófica deve ser tomada como hipótese de
trabalho da mente concreta, até que ele alcance o estado místico que lhe
permita conhecer diretamente a verdade. Quando em profunda contemplação ele
passar a comungar com a Luz, então, e só então, poderá saber com toda certeza
as verdades que transcendem a mente intelectiva e que pertencem ao âmbito do
que chamamos de intuição (buddhi, em sânscrito). É esse conhecimento que os
antigos chamavam de gnosis, o conhecimento direto da verdade que é alcançado
com a iluminação, e que gera uma fé inabalável. Assim sendo, as considerações
doutrinárias e de ordem filosófica neste livro devem ser consideradas como de
importância secundária. O importante são os ensinamentos transformadores, que
poderíamos chamar de metodologia para a transformação do homem velho no homem
novo. Quando tivermos nascido de novo, iluminados pelo Cristo interior,
estaremos capacitados a reavaliar nossas premissas anteriores para, então,
estabelecer nossa fundamentação filosófica com base na Verdade e não mais em
hipóteses. O objetivo primordial deste livro é oferecer ao cristão dedicado
essa metodologia transformadora que, se devidamente utilizada, pode levar o
devoto ao estado experimentado pelo Apóstolo Paulo quando disse “Já não sou eu
que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2:20). Todas as considerações
filosóficas ou doutrinárias do livro devem ser consideradas como meras
hipóteses, servindo como elementos auxiliares no desenvolvimento de uma
estrutura referencial que acreditamos ser lógica e sequenciada. O estudante que
estabelecer como meta a sua transformação interior, não se deixando limitar ou
intimidar por argumentos filosóficos ou teológicos, poderá deixar para mais
tarde as decisões doutrinárias, quando estiver capacitado pela iluminação
transformadora a pronunciar-se sobre esses pontos de forma definitiva. O Mestre
deve ter tido isso em mente quando nos disse: “Conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará” (João 8:32). Apresentamos a seguir as principais
hipóteses que foram usadas para nortear o trabalho. Estas hipóteses serão
examinadas com mais detalhes ao longo do texto. 1. O objetivo de todo
ministério de Jesus foi alertar a humanidade para a realidade do Reino e
ensinar os homens como alcançá-lo, retornando à Casa do Pai. 2. Para chegar ao
Reino, ou seja, para alcançar a perfeição, o homem deve encontrar e trilhar o
Caminho ao longo de todas as suas etapas. 3. A maioria das pessoas ainda não
despertou para a realidade do Caminho, pois estão mergulhadas na vida material
e sensual, sem o menor interesse pela vida espiritual. 4. O Caminho tem três
grandes etapas, que poderiam ser chamadas de religiosa, espiritual e mística.
Essas etapas têm um estreito paralelo com as três grandes fases da vida do
homem: infância, vida adulta e maturidade. Nem todos os homens chegam a última
etapa em sua plenitude, envelhecendo sem tornarem-se sábios, muitos agindo como
crianças em idade avançada. 5. Na infância a criança deve ser conduzida e
protegida por seus pais e tutores, enquanto está sendo preparada para enfrentar
a vida adulta por seus próprios meios. Nessa etapa a criança caracteriza-se por
sua relativa subserviência, passividade e crença no poder e sabedoria de seus
mentores, valendo-se principalmente da emoção como instrumento de resposta ao
mundo. O caminho religioso tradicional equivale à infância da humanidade, em
que os fiéis são conduzidos pelos sacerdotes, como representantes do Pai
Celestial e da Madre Igreja, crendo em dogmas e obedecendo os mandamentos e
regras estabelecidos. As práticas religiosas são fundamentadas essencialmente
no aspecto emotivo da natureza humana. 6. A transformação da criança como
adulto ocorre na adolescência um período caracterizado, entre outras coisas,
pela rebeldia do jovem. Essa rebeldia, dentro de certos limites, é saudável,
pois prepara o jovem para pensar e agir por conta própria, usando a razão e
desenvolvendo o discernimento. Um período de transição semelhante também ocorre
com o devoto que começa e sentir-se insatisfeito com a vida emocionalmente
protegida dentro de sua religião. Ele começa a se rebelar contra a doutrina estabelecida
e a obediência às regras e à autoridade religiosa constituída. Esse período é
extremamente penoso e eivado de contradições, mas é essencial para a entrada na
próxima etapa do Caminho. É caracterizado por uma insatisfação essencial que
leva à busca da verdade. 7. A etapa intermediária do Caminho, que chamamos de
vida espiritual, equivale a vida do adulto. Nela o buscador deve assumir a
responsabilidade por sua vida e procurar viver de acordo com a mais alta ética
que seu discernimento lhe dirá ser apropriada para uma vida responsável,
harmônica e construtiva dentro da família humana. O aspecto mais importante
dessa fase é a constante preocupação com o crescimento espiritual da pessoa,
que deverá efetuar diversas mudanças em sua atitude e seu comportamento, para
purificar-se e chegar cada vez mais perto da meta. 8. Ao desenvolver um ego
forte, lúcido e crítico o homem maduro chegará um dia ao último estágio do
Caminho, a etapa mística. Essa etapa também corresponde, de certa forma, ao
caminho ocultista, que será descrito mais adiante. O místico é o buscador
espiritual que, tendo feito tudo o que podia para a sua autotransformação,
reconhece que os esforços do ego não são suficientes para alcançar a meta
suprema, o que só pode ser feito com a ajuda do Alto. A Graça Divina não pode
ser forçada, mas o terreno para que ela seja concedida pode e deve ser
devidamente preparado por uma vida de purificação, meditação e serviço. O
místico procura subordinar seu ego desenvolvido para fazer a vontade de Deus e
não mais a sua. 9. No Caminho ocorre um drástico afunilamento de uma etapa para
a outra, como havia sido indicado por Jesus que “muitos são chamados, mas
poucos escolhidos” (Mateus 22:14) e também que “escolherei dentre vós, um entre
mil e dois entre dez mil” (Evangelho de Tomé, versículo 23). (11) Portanto, não
é de se estranhar que as instruções esotéricas de Jesus eram dirigidas “aos
poucos”, enquanto seu ministério público era voltado para “os muitos.” Da mesma
forma, dentre os milhares de buscadores que se dedicam a vida espiritual, são
poucos os que alcançam as realizações místicas avançadas associadas ao Reino
dos Céus. 10. O ministério de Jesus cobriu as três etapas do Caminho. O
ensinamento aberto ao povo, mais tarde acrescido das doutrinas e dogmas estabelecidos
pela Igreja, visava atender a primeira etapa de desenvolvimento do homem. Seus
ensinamentos esotéricos, velados nas parábolas e ministrados diretamente a seus
discípulos, tinham por objetivo guiar o homem ao longo da segunda etapa de
busca espiritual. Seu método de ensino, incluindo a crítica à sabedoria
convencional, ou seja, à religião ortodoxa dos judeus de sua época (que será
examinado, em especial, nos capítulos 4 e 10), visava estimular a razão, o
discernimento e o senso de responsabilidade do homem em busca do Reino. Esses
ensinamentos e, principalmente, os mistérios ou sacramentos que Jesus
ministrava aos poucos que estavam preparados para eles, visavam levar o homem à
última etapa, a vida unitiva do caminho místico. Nessa etapa o homem aprende
que deve morrer para o mundo para alcançar o Reino, ou seja, entregar-se
inteiramente a Deus para alcançar a Salvação. Observamos que o Caminho, como
tudo na vida, apresenta uma periódica alternância de ciclos. Na primeira etapa
a criança tem uma atitude passiva para com a vida, aceitando a orientação de
seus superiores. O adulto, ao contrário, para ser bem sucedido, deve assumir
uma atitude ativa, buscando sua liberdade para decidir sobre o que julga ser
melhor para seus interesses. Na última etapa, o futuro sábio deve mais uma vez
retornar à passividade, aguardando com paciência, humildade e perseverança a
chegada da Graça, que trará a iluminação. A classificação das três etapas do
Caminho como religiosa, espiritual e mística deve ser entendida como indicativa
de características básicas do comportamento e atitude dos indivíduos. Para
evitar controvérsias semânticas, deve ficar claro que um indivíduo na etapa
espiritual ou até mesmo na via mística pode se considerar corretamente como
sendo religioso, cristão ou católico. A religião em seu sentido mais amplo deve
acomodar almas em todos os estados evolutivos, da mesma forma como o Reino do
Pai, que tem muitas moradas. Esta obra foi dividida em sete partes. Na
primeira, procuramos identificar o estado atual da vida espiritual do cristão
comum, alheio aos ensinamentos internos de Jesus, e indicar porque o momento
presente é especialmente propício para resgatar esses ensinamentos, confirmando
as palavras do Mestre de que “nada há de oculto que não venha a ser manifesto,
e nada em segredo que não venha à luz do dia” (Marcos 4:22). A segunda parte
estabelece a definição de ‘tradição interna’, determina as fontes primárias e
secundárias dessa tradição e as formas para termos acesso ao seu material. A
importância da interpretação do material bíblico é ressaltada. O significado da
meta suprema apontada por Jesus, o Reino dos Céus, é o objeto da terceira
parte. Contrastando com o conceito de ‘Reino’ na tradição judaica e como ele
foi interpretado pelas igrejas ortodoxas, é sugerido que o Reino dos Céus não é
um lugar no tempo e no espaço, e que não é atingido somente após a morte, mas
que é um estado de espírito que pode e deve ser alcançado aqui e agora. Ao
contrário do que muitos creem, só aqueles que alcançam o Reino enquanto
encarnados podem gozar da bem-aventurança celestial após a morte. A quarta
parte é a descrição do processo de retorno à Casa do Pai, a nossa meta, sendo a
Parábola do Filho Pródigo um exemplo de como a interpretação de um mito ou
alegoria pode proporcionar a chave para o entendimento dos ensinamentos ocultos
de Jesus. Dois outros mitos cosmogônicos ainda mais abrangentes e profundos do
que aquela parábola, conhecidos como o Hino da Pérola e o mito de Pistis
Sophia, são apresentados em anexo, oferecendo outras fontes para o mesmo
ensinamento. Como o objetivo do trabalho não é meramente acadêmico, as questões
práticas relacionadas com o método e o instrumental transformador legado pela
nossa tradição são enfatizadas, ocupando a maior parte do livro. A quinta parte
aborda o método para alcançar o Reino dos Céus, que foi descrito por Jesus como
a Porta Estreita e o Caminho Apertado. Em sua essência, o método poderia ser
resumido no que a ortodoxia chamou de “arrependimento”, mas que no original grego
era metanoia, que tinha um significado bem mais amplo, que era o de mudança dos
estados mentais que levam à mudança de consciência pela superação dos
condicionamentos e da ignorância anterior. Esse conceito é basicamente
psicológico e oferece um paralelo com o enfoque da tradição budista de
transformação da mente. Ainda nesta parte são abordados os primeiros passos no
caminho espiritual, incluindo o despertar para a realidade última da vida, a
eterna busca da felicidade e o papel da aspiração ardente. Finalmente, são
examinadas as regras do caminho espiritual, a fundação da verdadeira fé. Dentre
essas regras são discutidas a unidade de todas as coisas, a natureza cíclica da
manifestação, o objetivo do processo de manifestação, o papel do livre arbítrio
e da lei de causa e efeito e a importância do conhecimento de si mesmo. O
instrumental transformador de nossa tradição é tão rico e efetivo como o das
tradições orientais. Esse instrumental, que se constitui verdadeiramente nas
chaves do Reino dos Céus, é examinado na sexta parte. Assim como a Bíblia nos
fala dos doze apóstolos de Jesus, a tradição interna legou-nos doze
instrumentos transformadores. Os seis primeiros servem como fundação para o
processo transformador, promovendo o que os místicos chamam de via negativa ou
purgativa e os cristãos primitivos de kenosis, ou esvaziamento que prepara a
alma para receber a Graça suprema do Espírito. Esses seis primeiros
instrumentos fundamentais são a fé, o amor a Deus, a vontade, a purificação, a
renúncia e o discernimento. Os outros seis instrumentos são de natureza mais
operativa. São eles: estudo, oração e meditação, lembrança de Deus, atenção,
rituais e sacramentos e, finalmente, a prática das virtudes. A sétima e última
parte do livro examina algumas questões de interesse para aqueles que começam a
trilhar o caminho. Dentre elas destacam-se a integração entre a natureza
superior e a inferior do homem, semelhante ao processo de individuação descrito
por Jung, como necessária para que ocorra o verdadeiro crescimento espiritual.
Verifica-se que o amor e a verdade são os elementos integradores mais
importantes no processo. De interesse especial para o devoto são os indícios de
que a transformação está ocorrendo e está levando-o progressivamente à união
com o Supremo Bem, a meta de todo esforço. Um fato de especial interesse para o
devoto é que a vida do Cristo, pode ser vista como uma alegoria do caminho
acelerado, em que os marcos de seu nascimento, batismo, transfiguração, morte e
ressurreição e, finalmente, a ascensão representam as cinco grandes iniciações.
Com o objetivo de tornar este livro o mais prático possível para o buscador
determinado a entrar pela Porta Estreita e trilhar o Caminho Apertado, reunimos
no Anexo 1 algumas práticas e exercícios espirituais, decorrência natural dos
instrumentos transformadores examinados ao longo do texto. Um glossário também
é apresentado no Anexo 4, numa tentativa de facilitar o entendimento da
terminologia cristã e esotérica. www.gnosisonline.org.
Abraço. Davi
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