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Colaboração de Cristiane Kajimura. AS QUATRO ESPOSAS. "Em um dos Sutras Agama, que foi um dos
primeiros sermões do Budha, havia um conto bastante interessante: Era um vez um
homem indiano que possuía quatro esposas. De acordo com o sistema social e
circunstâncias da Índia antiga, era possível um homem possuir várias esposas.
Não raro também era, no período Heian (794-1185) no Japão, uma mulher possuir
vários maridos. O indiano estava bastante doente, e estava para morrer. Ao
final de sua vida, ele se sentia extremamente solitário e foi então que ele
resolveu perguntar a sua primeira esposa se ela o acompanharia ao outro mundo.
Minha amada esposa, disse: Eu tenho amado você dia e noite, e cuidei de você
por toda a minha vida. Neste momento, que estou para morrer, me diga se, por
favor, viria comigo aonde quer que eu vá após minha morte? Ele esperava que sua
mulher lhe respondesse sim, no entanto, ela lhe disse: Meu amado marido, eu sei
que você sempre me amou, e agora você vai morrer (...), porém, este é o momento
em que me separo de você. Adeus, meu amor. Então ele chamou sua segunda esposa
ao leito de sua morte e implorou a ela que o seguisse e disse: Minha querida
segunda esposa, você sabe do meu amor por você. Algumas vezes me senti inseguro
que me deixasse, mas lhe segurei firme e intensamente. Minha querida, lhe peço,
venha comigo (...). A segunda esposa, ao contrário, se expressou friamente:
Querido marido, sua primeira esposa se negou a acompanha-lo, por qual motivo eu
haveria de segui-lo? Você me amou somente pelo seu próprio ego e sentimento
egoísta. Deitado em seu leito de morte, chamou sua terceira esposa e também lhe
pediu que o acompanhasse, e ela respondeu-lhe com lágrimas em seus olhos: Meu
querido, tenho pena de ti, e me sinto muito entristecida, por isto lhe
acompanharei até ao momento de seu enterro. Este será meu último dever a
cumprir contigo. E ela também refutou em acompanha-lo em sua morte. Três
esposas se recusaram a tal pedido, e agora, ele se lembrava que tinha uma
quarta esposa, por quem ele nunca teve nenhum afeto. Ele a tratava como uma
escrava, e sempre se mostrava enfadado com ela. Ele agora, refletindo, pensava
que ela certamente diria não a ele, mas estava tão amedrontado e sentindo-se
extremamente solitário, que resolveu se esforçar em pedir a ela que o
acompanhasse ao “outro mundo”. A quarta esposa, para sua surpresa, contente,
aceitou o pedido de seu esposo. “Meu querido esposo”, ela disse, irei com você.
Não importa o que aconteça, estou determinada a estar ao seu lado para todo o
sempre. Não há como eu ficar separada de você. Esta é a parábola sobre “Um
homem e suas quatro esposas”. O Budha Sakyamuni concluiu tal história com as
seguintes palavras: Todo homem e toda mulher possui 4 esposas ou maridos. O que
estas esposas deste conto representam? A primeira esposa consiste em nosso
corpo. Nós amamos nosso corpo dia e noite. De manhã, lavamos o rosto,
escolhemos nossas roupas e sapatos, e os vestimos. Nós alimentamos nosso corpo,
cuidamos, amamos e o contemplamos como a primeira esposa do conto. Mas
infelizmente, ao final de nossas vidas, o corpo, a primeira esposa, não pode
nos acompanhar em nosso momento de morte seguindo ao “próximo mundo”. Conforme
é dito: Quando o último suspiro deixa nossos corpos, a cor saudável de nossas
faces se transforma, e perdemos esta aparência de uma vida radiante. Nossos
queridos entes e amigos podem lamentar nossa morte, mas nada podem fazer diante
disto. Nosso corpo então é cremado, e tudo o que resta são nada mais do que
cinzas brancas. Este é o destino de nosso corpo. A segunda esposa representa as
coisas materiais, nossa fortuna, dinheiro, propriedades, fama, posição social,
e emprego que lutamos bastante para conquistar. Nós somos afeiçoados a estas
posses materiais. Sentimos medo em perder todas estas coisas, e ainda sempre
desejamos obter mais e mais. Não há limite. Ao final de nossas vidas, tais
posses não podem vir junto conosco ao momento de nossa morte. Qualquer que seja
esta fortuna acumulada e conquistada, nós simplesmente a deixamos aqui. Viemos
a este mundo de mãos vazias, e durante nossas vidas, alimentamos a ilusão de
que realmente conquistamos uma verdadeira fortuna. Ao momento de nossa morte,
também seguimos de mãos vazias. Não há como levarmos conosco tal fortuna
material, assim como a segunda esposa disse ao marido: Você me segurou e cuidou
de mim pelo seu ego e sentimento egoísta. Agora é o momento de dizer adeus. A
terceira esposa. Todos nós temos uma terceira esposa. Esta consiste no
relacionamento que temos com nossos pais, irmãos, irmãs, todos os parentes,
amigos e a sociedade em geral. Eles nos acompanharão somente até o momento de
nosso sepultamento, com lágrimas em seus olhos. Eles ficam entristecidos
e compadecidos com nossa morte, mas não há nada mais além que possam
fazer. Portanto, não podemos basear nossas vidas e nos tornar dependentes de
nosso corpo físico, da fortuna que acumulamos, e das pessoas que nos circundam,
e da sociedade em geral. Nascemos sozinhos, e morreremos sozinhos. Não há
ninguém e nada que nos acompanhará no momento de nossa morte. A quarta esposa
segundo o Budha Sakyamuni é a nossa mente (ou a consciência, Alaya no budismo).
Quando observamos e reconhecemos profundamente que nossas mentes estão
preenchidas com sentimentos de ira, avidez (gula) e descontentamento, estamos
tendo uma boa percepção e realmente enxergando nossas próprias vidas. A ira, a
avidez e tal descontentamento representam nosso carma, a lei da causa e efeito.
Nós nunca nos separamos do carma que cada um possui. Como a quarta esposa
disse: Eu o seguirei onde quer que vá”. www.maisbelashistoriasbudistas.com.
Abraço. Davi
Editor do
Mosaico. Nosso carma representa a colheita dos frutos que plantamos ao longo de
nossa encarnação passada e presente. Como dito em Gálatas 6:7 “Não vos
enganeis; Deus não se deixa escarnecer, pois tudo o que o homem semear, isso
também ceifará”. Ao renascermos trazemos conosco os méritos ou deméritos
advindos desse processo. Como não podemos mensurar aquilo que fizemos em outras
vidas, valorando se mais vícios ou virtudes realizados. Sempre em todos os
renascimentos, devemos praticar a benevolência e a boa vontade para com todos
os seres. Desse modo, a compaixão, o altruísmo e a abnegação nos possibilitam
reparar ou retificar aquilo que mais sofreremos. Isso devido ao egoísmo,
inveja, ira e rancor pelo próximo que praticamos voluntária ou
premeditadamente. Evidentemente, antes de chegarmos ao Nirvana ou estado
Desperto nos tornando um Budha em expressão e essencial, sofreremos em todas as
vidas, pois o sofrimento é inerente a todos os seres dentro da busca pela
libertação do Samsara, (a roda circunscrita da vida, morte, renascimento e
sofrimento). Todavia praticando a fraternidade, fugindo da ignorância e
assumindo uma posição de concentração meditativa e contemplativa baseado no
desapego do materialismo, racionalismo e dualismo, podemos conquista um seguro
caminho para nossa evolução espiritual. Diminuindo sensivelmente a dor e o sofrimento. O bardo, estado intermediário entre os
renascimentos, têm inúmeras particularidades explicadas no Livro Tibetano dos
Mortos. Como exemplo temos o período do devachan (comparado ao céu cristão),
estipulado entre mil a mil e quinhentos anos. Uma fase de descanso e júbilo,
concedida àqueles que por seus méritos e virtudes praticaram a benevolência e
compaixão a todos os seres. Aqui, incluindo os reinos humano, animal, vegetal e mineral. Vivendo uma vida desapegada do materialismo e
prazeres mundanos, ajudando na evolução do planeta em todos os níveis. Aos que morreram
numa situação de apego a estrutura econômica e ao hedonismo social, realizando
aquilo que as escrituras sagradas chamam de obras da carne em Gálatas
5:19-21 “Porque as obras da carne são manifesta, as quais são: adultério,
fornicação, impureza, lascívia, idolatria (no sentido esotérico interior),
feitiçaria (magia negra), inimizades, porfias (discussões), emulações (competir
rivalizando primazia de conceitos espirituais). Iras, pelejas, dissensões, heresias,
inveja, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca
das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas
não herdarão o reino de Deus”, Atitudes assim, farão com que o praticante tenha
enorme dificuldade em se desligar de sua personalidade. Que sendo o veículo
sutil do corpo humano, que nesse caso não existe temporariamente, agrega por
determinado tempo, todos esses horríveis vícios e pecados. Assim, pós morte,
sofrerão as consequências desses delitos efetuados, como uma disciplina
pedagógica e temporária, atrasando a entrada no devachan. Uma espécie de
purgação dos pecados (ou limbo cristão) com um propósito específico de limpeza temporária. Isso é
necessário, para que a personalidade seja completamente desintegrada dando
lugar a individualidade, representada por Atma, a centelha divina originária,
Budhi, o Logos Cósmico eterno, e Manas, a mente pura aperfeiçoada
evolutivamente pela divindade Inefável e Inominável. Essas quatro esposas,
que simbolicamente temos, podemos fazer um paralelo com nosso quaternário
inferior. A parte transitória do nosso ser representado pela personalidade.
Estando no nível material racional tende as coisas terrenas e passageiras. O
corpo, hoje, é supervalorizado no contexto social. Haja vista, as academias
espalhadas pelo mundo que tentam modelar o físico humano a um atleta olímpico
grego. Um ideal que homens e mulheres perseguem incansavelmente. Outro aspecto sugestivo
nesse ambiente, é o cuidado com a aparência física, que consume boa parte do orçamento
feminino em alguns casos. Estou, com esses exemplos, enfatizando a perspectiva
do exagero visto nos excessos que corroem uma normalidade que deve nortear o
comportamento. Eu mesmo, sou adepto do exercício físico, fazendo academia e
caminhada pelo parque na cidade onde moro com minha esposa. Porém estas
práticas saudáveis precisam ser desenvolvidas com equilíbrio frente as demais
áreas, sutis, do nosso ser terreno – alma. A energia, intermediário entre o
corpo e a emoção, suscita a regulação mediadora que ativa os sete chakras. Esse
conceito é praticamente desconhecido no Ocidente. Infelizmente, essa
ignorância, priva-nos de acessar um universo de uma alimentação emocional saudável
– vindo das três energias dimanadas do Sol – Fohat, Prana e Kundalini. Elas
agem na criação, regeneração e restauração de todos os seres. A meditação baseada na coluna ereta, respiração pausada e atenção aos sete pontos referenciais do chackra, potencializam essas poderosas forças energéticas naturais e sobrenaturais. A emoção, também
chamada de corpo astral, ou Kama pelos hindus, processa as informações dos
sentidos na forma de sensação, tornando-a prazerosa ou dolorosa. É de suma
importância o desenvolvimento espiritual de nosso corpo astral ou emocional.
Ele independe do corpo físico, tanto que, os iogues e aqueles aperfeiçoados na
meditação profunda fazem projeções ou viagem astral. O mental concreto ou
manas, é o formador de nossa consciência, o poder da memória, a relação
contínua com o astral (emocional). Os pensamentos criam a ilusão da “realidade”
em nossa mente, fazendo com que nos apeguemos solidamente ao palpável e
tangível, bloqueando a vontade consciente que aspira o duradouro e eterno.
Alguns artigos do Mosaico, abordam mais detalhadamente esse precioso assunto.
Cuidemos muito bem das “esposas” que convivem conosco pela Senda. Elas são
indispensáveis a nossa evolução espiritual. Abraço. Davi
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