Islamismo. www.islamreligion.com.
BIOGRAFIA DO PROFETA MUHAMMAD – AS CONDIÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS DA PENÍNSULA
ARÁBICA ANTES DA PROFECIA DO NASCIMENTO DO PROFETA. A Arábia naquele período
estava dividida em três áreas de influência. O Norte vivia sob a sombra de
dois grandes impérios, o Bizâncio cristão e a Pérsia zoroastrina, impérios em
guerra perpétua tão equiparada que um não conseguia vitória definitiva sobre o
outro. Nas sombras desses poderes viviam os árabes da região Norte com
alianças divididas e inconstantes. O Sul era a terra dos perfumes árabes,
chamada pelos romanos de “Arábia Feliz” (hoje Iêmen e região sul da Arábia
Saudita). Era uma propriedade desejável. A conversão do governante etíope,
o Negus, ao Cristianismo levou seu país à aliança com Bizâncio, e foi com a
aprovação bizantina que os etíopes tomaram posse desse território fértil no
início do século sexto. Antes de sua ruína nas mãos de um
conquistador implacável, entretanto, os habitantes do Sul tinham aberto os desertos
da Arábia central ao comércio, introduzindo certa organização à vida dos
beduínos que serviam como guias para suas caravanas e estabeleceram postos de
comércio nos oásis. Se o símbolo daquele povo sedentário era a árvore de
olibano, o da zona árida era a tamareira; de um lado o luxo do perfume, do
outro o alimento necessário. Ninguém poderia ter considerado o Hijaz –
‘onde nenhum pássaro canta e nenhuma grama cresce’ – de acordo com um poeta
sulista – uma propriedade desejável. As tribos do Hijaz nunca tinham
experimentado conquista ou opressão; nunca tinham sido obrigadas a chamar de
‘senhor’ nenhum homem. A pobreza era sua proteção, mas é questionável se se
consideravam pobres. Para se considerar pobre deve-se invejar o rico, e
eles não invejavam ninguém. Sua fortuna estava em sua liberdade, em sua
honra, em sua linhagem nobre, e no instrumento maleável da única arte que
conheciam, a arte da poesia. Tudo que nós agora chamamos de ‘cultura’
estava concentrado nesse instrumento. Sua poesia glorificava a coragem e
a liberdade, louvava o amigo e ironizava o adversário, exaltava a bravura dos
homens da tribo e a beleza das mulheres, em poemas recitados do lado da
fogueira ou na infinidade do deserto sob o vasto céu azul, testemunhando a
grandeza dessa pequena criatura humana sempre viajando por regiões estéreis da
terra. Para o beduíno a palavra era tão poderosa quanto a espada. Quando
tribos hostis se encontravam para testes em batalha era comum que cada lado
colocasse seu melhor poeta para louvar a coragem e nobreza de seu próprio povo
e despreza o inimigo ignóbil. Essas batalhas, na quais o combate entre
campeões rivais era a característica principal, eram mais um esporte de honra
do que uma guerra como agora entendemos o termo; eram tumultos, ostentação e
exibicionismo, com muito menos baixas que as produzidas pela guerra
moderna. Serviam um propósito econômico claro através da distribuição de
botim, e se o vitorioso usasse demais a sua vantagem iria contra o conceito de
honra. Quando um lado ou outro reconhecia a derrota os mortos de ambos os
lados eram contados e os vitoriosos pagavam a dívida de sangue – reparações –
para os conquistados, para que a força relativa das tribos fosse mantida em um
equilíbrio saudável. O contraste entre essa prática e as práticas da
guerra civilizada é espantoso. Entretanto, Meca era, e continua sendo,
importante por uma razão diferente. Lá está a Caaba, a primeira Casa
construída para a humanidade adorar seu único Deus. A antiga Caaba há
muito tempo era o centro desse pequeno mundo. Mais de 1.000 anos antes de
Salomão construir o templo em Jerusalém, seu ancestral, Abraão, ajudado por
Ismael, seu filho mais velho, suspendeu suas paredes sob fundações
antigas. Um certo Qusayy, chefe da poderosa tribo dos Coraixitas,
estabeleceu um assentamento permanente lá. Essa era a cidade de Meca (ou
Baca). Perto da Caaba havia o poço de Zanzam. Sua origem, também, remonta
ao tempo de Abraão. Foi esse poço que salvou a vida do bebê Ismael.
Como a Bíblia diz: “E ouviu Deus a voz do menino, e bradou o anjo de Deus
a Agar desde os céus, e disse-lhe: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu
a voz do menino desde o lugar onde está. Ergue-te, levanta o menino e pega-lhe
pela mão, porque dele farei uma grande nação. E abriu-lhe Deus os olhos, e
viu um poço de água; e foi encher o odre de água, e deu de beber ao
menino. E era Deus com o menino, que cresceu; e habitou no deserto, e foi
arqueiro.” (Gênesis 21:17-20). Ou, como o salmista canta: “Que,
passando pelo vale de Baca, faz dele uma fonte; a chuva também enche os
tanques.” (Salmos 84:6). As circunstâncias da época favoreceram o
desenvolvimento de Meca como um centro comercial de destaque. As guerras
entre a Pérsia e Bizâncio tinham fechado as rotas de comércio mais ao norte
entre o oriente e o ocidente, enquanto que a influência e prosperidade do sul
da Arábia tinham sido destruídas pelos etíopes. Além disso, o prestígio
da cidade foi intensificado por seu papel como um centro de peregrinação, e os
Coraixitas, como curadores da Caaba, desfrutavam do melhor de ambos os
mundos. A combinação de nobreza – a descendência árabe de Abraão através
de Ismael – com riqueza e autoridade espiritual lhes deu base para acreditar
que seu esplendor, comparado com o de qualquer outro povo na terra, era como o
esplendor do sol comparado ao brilho das estrelas. Mas a distância no tempo dos
grandes patriarcas e profetas assim como seu isolamento nos desertos áridos da
península provocaram o surgimento da idolatria. Acreditando na
intercessão de deuses menores com o Ser Supremo em seus rituais de adoração,
mantinham a crença que suas deidades possuíam o poder de levar suas orações ao
Deus Supremo. Cada região e clã, de fato cada casa, tinha seu próprio
pequeno ‘deus’ em separado. Trezentos e sessenta ídolos tinham sido
instalados dentro da Caaba e seu pátio - a casa construída por Abraão para a
adoração do Único Deus. Os árabes na verdade prestavam honras divinas não
apenas a ídolos esculpidos mas veneravam tudo que fosse sobrenatural.
Acreditavam que os anjos eram filhas de Deus. Bebedeira e jogatina eram
comuns. O infanticídio feminino era comum onde as meninas recém-nascidas
eram enterradas vivas. DO NASCIMENTO A IDADE ADULTA. O NASCIMENTO DO PROFETA.
Foi no ano de 570 da Era Cristã que o Profeta Muhammad, que a misericórdia e
bênçãos de Deus estejam sobre ele, nasceu em Meca, uma cidade na atual Arábia
Saudita. Seu pai, Abdullah, era um tataraneto de Qusayy, o fundador de
Meca, e pertencia à família Hashimita de Coraix. Sua mãe, Amina, era descendente
do irmão de Qusayy. Ao retornar com uma caravana da Síria e Palestina,
Abdullah parou para visitar parentes em um oásis ao norte de Meca, ficou doente
lá e morreu vários meses antes do nascimento de seu filho. Era costume enviar
os filhos dos Coraixitas para o deserto para serem amamentados por uma
mãe-de-leite e passar sua primeira infância com uma tribo beduína. Fora
considerações de saúde, isso representava um retorno às suas raízes, uma
oportunidade de experimentar a liberdade que acompanha a vastidão do
deserto. O Profeta Muhammad foi levado por Halima e passou quatro ou
cinco anos com essa família beduína, pastoreando ovelhas assim que teve idade
suficiente para andar, aprendendo os modos do deserto. Quando estava com seis
anos, pouco depois de ter se reunido à sua mãe, ela o levou para uma visita a
Yathrib, onde seu pai havia morrido, e ela própria ficou doente com uma das
febres que predominavam no oásis, morrendo na viagem de volta para casa.
Muhammad então ficou sob a custódia de seu avô, Abdul-Muttalib, chefe do clã
Hashimita. Quando o menino estava com oito anos de idade Abdul-Muttalib
(497-578) morreu e ele ficou sob os cuidados do novo chefe Hashimita, seu tio
Abu Talib (539-619). O Profeta Muhammad pastoreava ovelhas e quando alcançou
a idade de nove anos foi levado por seu tio na viagem de caravana para a Síria,
para que aprendesse a arte do comércio. Continuou trabalhando como mercador, e
logo criou uma reputação. Entre as fortunas substanciais de Meca estava a
de Khadija, que enviuvara duas vezes. Impressionado pelo que ouviu de
Muhammad, que era agora comumente conhecido como al-Amin, ‘o confiável’, ela o
empregou para levar sua mercadoria à Síria. Ainda mais impressionada por
sua competência, quando sua tarefa foi completada, do que por seu charme
pessoal, ela enviou uma proposta para casamento. Por essa época o Profeta
Muhammad tinha vinte e cinco anos e Khadija quarenta. Khadija presenteou
seu marido com um jovem escravo, Zaid, que foi então libertado por Muhammad.
Quando os parentes de Zaid vieram para resgatá-lo, sua afeição por seu
benfeitor era tão grande que ele escolheu permanecer com o Profeta
Muhammad. Khadija deu a Muhammad seis filhos, incluindo um menino, Qasim,
que morreu antes de seu segundo aniversário. O Profeta Muhammad era agora um
homem de posses, respeitado na comunidade, admirado por sua generosidade e seu
bom senso. Seu futuro parecia garantido. No devido curso, por ter
restabelecido a prosperidade de seu clã, ele se tornaria um dos líderes mais influentes
da cidade e terminaria sua vida, talvez, como seu avô, reclinado na sombra da
Caaba lembrando os longos anos bem vividos em termos terrenos. Ainda
assim seu espírito estava inquieto e ficou ainda mais quando se aproximou da
meia-idade. OS HUNAFAS. Os mecanos reivindicavam descendência de
Abraão através de Ismael e seu templo, a Caaba, tinha sido construído por
Abraão para a adoração do Deus Único. Continuava a ser chamada a Casa de
Deus, mas os principais objetos de adoração passaram a ser vários ídolos
colocados em seu interior, esculturas de deidades que acreditavam serem as
filhas de Deus que agiam como intercessoras. Os poucos que repugnavam
essa idolatria que havia prevalecido por séculos ansiavam pela religião de
Abraão. Os que buscavam pela verdade eram conhecidos como Hunafas, uma
palavra que originalmente significava “aqueles que se afastam” da adoração de
ídolos. Esses Hunafas não formavam uma comunidade, e buscavam a verdade
através da luz de suas próprias consciências. Muhammad filho de Abdullah
era um deles. AS PRIMEIRAS REVELAÇÕES. Foi por essa época que o Profeta começou
a ter sonhos agradáveis que se provaram verdadeiros. Ele também começou a
sentir uma necessidade crescente por solidão, e isso o levou a buscar reclusão
e meditação nas montanhas rochosas que cercavam Meca. Lá ele se retirava
por dias levando provisões, e retornava para sua família para mais provisões.
No calor do dia e durante as noites claras do deserto, quando as estrelas
pareciam afiadas o bastante para penetrar o olho, sua própria substância se
saturava com os ‘sinais’ nos céus, para que ele servisse como um instrumento
totalmente adequado para uma revelação já inerente nesses ‘sinais’. Foi então
que ele passou por uma preparação para a enorme tarefa que seria colocada sob
seus ombros, a tarefa da missão profética e de transmitir a verdadeira religião
de Deus para seu povo e o resto da humanidade. Veio em uma noite no final do
mês sagrado de Ramadã, a noite conhecida pelos muçulmanos como Laylat-ul-Qadr,
a ‘Noite do Decreto’. O Profeta Muhammad estava em solidão na caverna no Monte
Hira. Foi surpreendido pelo Anjo da Revelação, Gabriel, o mesmo que tinha
vindo para Maria, a mãe de Jesus, que o segurou em um abraço. Uma única
palavra de comando irrompeu sobre ele: ‘Iqra’ - ‘Leia!’ Ele
disse: ‘Não sei ler!’ mas o comando foi emitido mais duas vezes, cada vez
com a mesma resposta do Profeta. Finalmente ele foi pego com força
esmagadora pelo anjo. Gabriel o libertou e a primeira “recitação” do
Alcorão foi revelada a ele: “Lê, em nome do teu Senhor Que criou; Criou o
homem de algo que se agarra. Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, Que
ensinou através do cálamo, Ensinou ao homem o que este não sabia.” (Alcorão
96:1-5). Assim começou a magnífica história da revelação final de Deus
para a humanidade até o fim dos tempos. O encontro de um árabe, quatorze
séculos atrás, com um ser do campo do Invisível foi um evento de tamanha
significância que moveu povos inteiros em toda a terra e afetou as vidas de
centenas de milhões de homens e mulheres, construindo grandes cidades e grandes
civilizações, provocando o confronto de poderosos exércitos e fazendo surgir da
poeira beleza e esplendor antes desconhecidos. Também trouxe multidões
aos Portões do Paraíso e, além disso, para uma visão beatífica. A
palavra Iqra, ecoando ao redor dos vales do Hijaz, quebrou o molde
no qual o mundo conhecido era modelado; e esse homem, sozinho entre os
rochedos, colocou sob seus ombros o fardo que teria esmagado as montanhas se
tivesse sido colocado sobre elas. O Profeta Muhammad estava com quarenta anos e
havia alcançado a idade da maturidade. Pode-se dizer que o impacto desse
encontro tremendo desfez sua substância. A pessoa que ele tinha sido era
como uma pele queimada pela luz, e o homem que desceu da montanha e buscou
refúgio nos braços de sua esposa Khadija não era o mesmo homem que a subiu.
Naquele momento, era como um homem perseguido. Quando desceu, ouviu uma
grande voz gritando: ‘Muhammad, tu és o Mensageiro de Deus e eu sou Gabriel.’
Ele olhou para cima e o anjo encheu o horizonte. Para onde quer que
se voltasse, a figura estava lá, inescapavelmente presente. Ele correu
para casa e gritou para Khadija: ‘Cubra-me! Cubra-me!’ Ela se deixou, colocou
um manto sobre ele e assim que ele se recobrou um pouco contou a ela o que
havia acontecido. O Profeta temia por si mesmo. Ela o abraçou e
confortou: “Nunca! Por Deus, Ele nunca o desgraçará. Você mantém
boas relações com seus parentes, ajuda os pobres, serve seus hóspedes de forma
generosa e ajuda aqueles atingidos por calamidades.” (Saheeh Al-Bukhari). Ela
viu em seu marido um homem que Deus não humilharia por causa de suas virtudes e
honestidade, justiça e por ajudar aos pobres. A primeira pessoa na face
da terra a acreditar nele foi sua própria esposa, Khadija. Imediatamente
ela foi ver seu tio Waraqa, um estudioso da Bíblia. Depois de ouvir o
relato da experiência de seu marido, Waraqa o reconheceu das profecias da
Bíblia como sendo o profeta esperado, e confirmou que o que apareceu para ele
na caverna era de fato o anjo Gabriel, o Anjo da Revelação: “Esse é o
Protetor de Segredos (Gabriel) que veio para Moisés.” (Saheeh Al-Bukhari). O
Profeta continuou a receber revelações pelo resto de sua vida, memorizadas e
escritas por seus companheiros em pedaços de couro de ovelha e o que mais
estivesse a mão. O ALCORÃO SAGRADO OU A “RECITAÇÃO”. As palavras trazidas a ele de Gabriel são consideradas sagradas pelos
muçulmanos e nunca são confundidas com aquelas que ele próprio emitiu. As
primeiras são o Livro Sagrado, o Alcorão; as segundas são o Hadith ou Sunna do
Profeta. Como o anjo Gabriel recitou o Alcorão oralmente ao Profeta, o
Livro Sagrado é conhecido como Alcorão, “A Recitação”, a recitação do homem que
não sabia ler. PRIMEIROS CONVERTIDOS. Pelos primeiros poucos anos de sua
Missão, o Profeta pregou para sua família e amigos íntimos. A primeira
mulher a se converter foi sua esposa Khadija, a primeira criança foi seu primo
de primeiro grau Ali, que estava sob seus cuidados, e o primeiro servo foi seu
servo Zaid, um ex escravo. Seu velho amigo Abu Bakr (573-634) foi o
primeiro homem adulto livre a se converter. Muitos anos depois o Profeta
falou a respeito dele: ‘Nunca chamei ninguém para o Islã que não hesitasse
inicialmente, com a exceção de Abu Bakr.’ Mais tarde veio a ordem para pregar
abertamente e falar contra a idolatria. A princípio os líderes dos
Coraixitas foram capazes de ignorar esse estranho pequeno grupo, tratando
Muhammad como um caso triste de autoengano, mas depois começaram a se dar conta
de que sua pregação, que estava atraindo adeptos entre os pobres e despossuídos
(e podia, portanto, ser vista como subversiva), apresentava uma ameaça tanto à
religião quanto à prosperidade de Meca. Um conflito aberto, entretanto,
seria contra seus interesses. Seu poder dependia de sua unidade, e com o
exemplo de Yathrib – destruída por conflito tribal – com um terrível alerta do
que poderia acontecer em sua própria cidade, foram obrigados a aguardar seu
momento. Além disso, o clã Hashim, independentemente do que pensasse em
particular de seu membro perigoso, era obrigado por força do costume a
defendê-lo se atacado. Restringiram-se no momento à zombaria, talvez a
arma mais eficaz na defesa do homem comum contra o surgimento da verdade, uma
vez que não envolve o nível de comprometimento inerente à violência. Seu
ex guardião Abu Talib abriu mão de seu chamado para não prejudicar sua
segurança e a segurança do clã. ‘Ó meu tio’, disse ele, ‘mesmo se
colocarem o sol em minha mão direita e a lua em minha mão esquerda, não
abandonarei meu propósito até que Deus me conceda sucesso ou eu morra.’ Abu
Talib respondeu com um suspiro: ‘Ó filho de meu irmão, eu não o abandonarei.’ A
tensão na cidade aumentou gradualmente, mês a mês, à medida que a influência
espiritual de Muhammad se espalhava, minando a hegemonia dos líderes dos
Coraixitas e causando divisão em suas famílias. Essa influência se tornou
ainda mais perigosa para a ordem estabelecida quando o conteúdo de sucessivas
revelações se ampliou para incluir a denúncia da insensibilidade da plutocracia
de Meca, sua ambição por ‘mais e mais’ e sua avareza. A oposição era
agora liderada por um certo Abu Jahl, junto com Abu Lahab e o cunhado do
segundo, um homem mais jovem que era mais sutil e talentoso do que ambos, Abu
Sufyan (560-652). Ao retornar um dia da caçada, Hamza, o tio de Muhammad,
que até então tinha se mantido neutro, ficou tão irado ao saber dos insultos
lançados ao seu sobrinho que procurou Abu Jahl, bateu em sua cabeça com seu
arco e anunciou ali sua conversão ao Islã. COMEÇO DA PERSEGUIÇÃO. No final
do terceiro ano, o Profeta recebeu o comando para “se erguer e admoestar”,
depois do que começou a pregar em público, destacando a insensatez maléfica da
idolatria em face das leis maravilhosas do dia e da noite, da vida e da morte,
do crescimento e decadência, que manifestam o poder de Deus e atestam Sua
Unicidade. Foi então, quando começou a falar contra seus deuses, que os
Coraixitas se tornaram ativamente hostis, perseguindo seus discípulos mais
pobres, zombando dele e insultando-o. A única consideração que os impedia
que matá-lo era o medo da vingança de sangue do clã ao qual sua família
pertencia. Forte em sua inspiração, o Profeta continuou admoestando,
pleiteando e ameaçando, enquanto os Coraixitas faziam tudo que podiam para
ridicularizar seus ensinamentos e desanimar seus seguidores. A FUGA
PARA A ABISSÍNIA (atual Etiópia). Os
convertidos dos primeiros quatro anos eram em sua maioria pessoas humildes para
se defenderem contra a opressão. A perseguição que sofreram foi tão cruel
que o Profeta aconselhou que todos que tivessem meios emigrassem, pelo menos
temporariamente, para a Abissínia (hoje Etiópia), onde seriam bem recebidos
pelo Negus cristão, ‘um rei justo’. Em torno de oitenta convertidos
fugiram no ano 614 para o país cristão. Essa aliança aparente com um poder
estrangeiro enfureceu ainda mais os mecanos, e eles despacharam enviados para o
Negus exigindo a extradição dos muçulmanos. Um grande debate ocorreu na
Corte e os muçulmanos ganharam o dia, primeiro por demonstrarem que adoravam o
mesmo Deus dos cristãos, e então por recitarem uma das passagens corânicas
referentes à Virgem Maria, depois do que o Negus chorou e disse:
‘Verdadeiramente isso veio da mesma fonte que Jesus trouxe.’ Apesar da
perseguição e emigração, o pequeno grupo de muçulmanos cresceu em número.
Os Coraixitas ficaram seriamente alarmados. A adoração de ídolos na
Caaba, o lugar sagrado para o qual toda a Arábia peregrinava e do qual eram guardiães,
era o primeiro de seus interesses. Na estação da peregrinação eles
colocaram homens em todas as estradas para alertar as tribos contra o louco que
pregava em seu meio. Tentaram fazer um acordo com o Profeta, oferecendo
aceitar sua religião se ele a modificasse para acomodar seus deuses como
intercessores com Deus. Em troca, ofereceram fazer dele seu rei se ele
abrisse mão de atacar a idolatria. A constante recusa do Profeta Muhammad
frustrou seus esforços na negociação. CONVERSÃO DE UMAR. Ainda
mais importante foi a conversão de um dos jovens mais formidáveis na cidade,
Umar ibn al-Khattab. Enfurecido pelo sucesso crescente da nova religião –
tão contrária a tudo que ele cresceu acreditando – ele jurou matar Muhammad,
que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, a despeito das
consequências. Foi instruído que, antes de fazê-lo, desse uma olhada nos
assuntos de sua própria família, porque sua irmã e o marido tinham se tornado
muçulmanos. Irrompendo em sua casa ele os encontrou lendo um capítulo
chamado ‘Ta-Ha’ e quando sua irmã admitiu que haviam abraçado o Islã, ele a
atingiu com um forte soco. Um pouco envergonhado, ele então pediu para
ver o que estavam lendo. Ela lhe entregou o texto depois de insistir que
ele fizesse ablução antes de segurá-lo, e enquanto lia esses versículos do
Alcorão ele passou por uma repentina e total transformação. A doce
potência das palavras do Alcorão o mudou para sempre! Ele foi diretamente
a Muhammad e aceitou o Islã. Homens como esse eram muito importantes na
hierarquia social para serem atacados, mas a maioria dos novos muçulmanos era
pobres ou escravos. Os pobres eram espancados e os escravos torturados
para fazê-los renunciar à sua fé, e havia pouco que Muhammad podia fazer para
protegê-los. Um escravo negro chamado Bilal foi preso nu no chão sob o sol
escaldante com uma pesada pedra sobre seu peito e deixado para morrer de
sede. Foi insultado pelos pagãos para renunciar à sua religião em troca
de ser libertado da tortura, mas sua única resposta foi ‘Ahad! Ahad!’(‘Deus
é Um! Deus é Um!’). Foi nesse estado, perto da morte, que Abu Bakr o encontrou
e resgatou por uma taxa exorbitante. Foi tratado na casa de Muhammad e se
tornou um dos mais próximos e amados entre os companheiros. Quando, muito
mais tarde, surgiu a questão de como os crentes deviam ser convocados para a
oração, Bilal se tornou o primeiro muezzin (o chamado para a
oração anunciado em voz alta a partir do local muçulmano de adoração, chamado
masjid) do Islã: um negro alto e magro com uma voz poderosa e, por assim dizer,
o rosto de um corvo sob uma cabeleira grisalha; um homem que o sol havia
queimado, durante seu tormento, tudo por amor ao Único e ao mensageiro do
Único. DESTRUIÇÃO DO SAIFAH. Frustrados em todos os lados, a
oligarquia mecana, sob a liderança de Abu Jahl, escreveu um documento formal
declarando o banimento ou boicote contra o clã Hashim como um todo; não haveria
transações comerciais com eles até que banissem Muhammad, e ninguém se casaria
com uma mulher dos Hashim ou daria sua filha para um homem do clã. Então,
por três anos, o Profeta foi confinado com toda sua parentela em sua fortaleza,
que era situada em um dos desfiladeiros na direção de Meca. Com o tempo alguns
corações mais gentis entre os Coraixitas se cansaram do boicote de antigos
amigos e vizinhos. Conseguiram fazer com que o documento, que havia sido
colocado na Caaba, fosse trazido para reconsideração. Descobriu-se que
tudo que estava escrito havia sido destruído pelas formigas brancas, exceto as
palavras Bismika Allahumma (“Em teu nome, Ó Deus”). Quando os líderes
viram aquela maravilha o banimento foi removido e o Profeta ficou novamente
livre para andar pela cidade. Enquanto isso, a oposição à sua pregação se
tornou rígida. Ele teve pouco sucesso entre os mecanos, e uma tentativa
que fez para pregar na cidade de Taif foi um fracasso. Sua missão não
estava prosseguindo da forma que ele esperava, quando, na estação da
peregrinação anual, ele encontrou um pequeno grupo de homens que o ouviram com
satisfação. PREPARANDO A ETAPA PARA MIGRAÇÃO. HOMENS DE YATHRIB. Eles vieram de
Yathrib realizar a peregrinação (Hajj), uma cidade há mais de trezentos
quilômetros de distância, que desde então se tornou a mundialmente famosa
al-Medina, “a Cidade” por excelência. Yathrib foi favorecida por sua
localização em um oásis agradável, famoso mesmo nos dias de hoje pela
excelência de suas tâmaras, mas prejudicada em todas as outras formas. O
oásis tinha sido a cena de lutas tribais praticamente incessantes. Judeus
combatiam judeus e árabes combatiam árabes; os árabes se aliavam com os judeus
e combatiam outros árabes aliados com uma comunidade judaica diferente.
Enquanto Meca prosperava, Yathrib vivia em miséria. Precisava de um líder
capaz de unir seu povo. Em Yathrib havia tribos judaicas com rabinos sábios que
com frequência falavam aos pagãos de um Profeta que logo chegaria entre os
judeus, com quem, quando chegasse, os judeus destruiriam os árabes como as
tribos de Aad e Tamude tinham sido destruídas por sua idolatria. O Profeta
Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, nessa etapa
em seu chamado visitava secretamente tribos diferentes nas cercanias de Meca
para transmitir-lhes a mensagem do Islã. Uma vez ao entreouvir um grupo
de homens em Aqaba, um local fora de Meca, pediu para se sentar com eles e foi
recebido com alegria. Quando os homens da tribo dos Khazraj de
Yathrib ouviram o que Muhammad tinha a dizer, o reconheceram como o Profeta que
os judeus lhes tinham descrito, e todos os seis homens aceitaram o Islã.
Também esperavam que Muhammad, através de sua nova religião, pudesse ser
o homem que os uniria com sua tribo irmã, os Aws, uma tribo em Yathrib com quem
compartilhavam uma linhagem comum, mas tinham grandes problemas com anos de
guerra e animosidade. Determinaram-se a
retornar para Yathrib e propagar a religião de Muhammad. Como resultado,
não existia nenhuma casa em Yathrib que não tivesse ouvido a mensagem do Islã e
na próxima estação de peregrinação, no ano de 621, uma delegação veio de
Yathrib com o propósito de encontrar o Profeta. PRIMEIRO PACTO DE AQABA. Essa
delegação era composta de doze homens, cinco dos presentes no ano anterior e
dois membros dos Aws. Encontraram o Profeta novamente em Aqaba e se
comprometeram em seus próprios nomes e nos nomes de suas esposas a não
associarem nenhuma criação com Deus (para se tornarem muçulmanos), não roubar,
não cometer adultério e não matar seus bebês, mesmo na mais terrível pobreza; e
prometeram obedecer a esse homem em todas as coisas justas. Esse foi o
Primeiro Pacto de Aqaba. Quando retornaram à Yathrib o Profeta enviou com
eles seu primeiro embaixador, Mus’ab ibn ‘Umair, para ensinar aos novos
convertidos os rudimentos da fé e propagar a religião para aqueles que ainda não
tinham abraçado o Islã. Mus’ab pregou a mensagem do Islã até que quase toda
família em Yathrib tivesse um muçulmano em seu meio, e antes do Hajj do ano
seguinte, 622, Mus’ab retornou para o Profeta e lhe deu as boas novas de sua
missão, e da bondade e força de Yathrib e seu povo. SEGUNDO
PACTO DE AQABA. Em 622,
peregrinos de Yathrib, setenta e cinco deles muçulmanos, entre eles duas
mulheres, vieram para realizar o Hajj. Durante a última parte de uma noite,
enquanto todos dormiam, os muçulmanos entre os peregrinos de Yathrib
secretamente chegaram ao lugar que tinham previamente combinado de encontrar o
Profeta, nas rochas de Aqaba, para prestar aliança ao Profeta e convidá-lo para
sua cidade. Em Aqaba encontraram o Profeta, e com ele estava seu tio, que
continuava um pagão mas defendia seu sobrinho devido a laços de família.
Ele falou e alertou os muçulmanos sobre os perigos de sua tarefa, e que
era contrária ao seu compromisso se a empreendessem. Outra pessoa dos
peregrinos que estava presente nos dois anos anteriores também se levantou e
alertou contra o perigo do seu compromisso e sua preparação para executá-lo.
Em sua determinação e amor pelo Profeta, juraram defendê-lo com suas
próprias vidas, de suas esposas e filhos. Foi então que a Hégira, a emigração
para Yathrib, foi decidida. Ficou conhecido como o Pacto de Guerra, porque
envolvia proteger a pessoa do Profeta, através de armas se necessário; e logo
após a emigração para Yathrib os versículos corânicos com permissão para guerra
em defesa da religião foram revelados. Os versículos são cruciais na
história do Islã: “Ele permitiu (o combate) aos que foram atacados; em
verdade, Deus é Poderoso para socorrê-los. São aqueles que foram expulsos
injustamente dos seus lares, só porque disseram: Nosso Senhor é Deus! E se
Deus não tivesse refreado os instintos malignos de uns em relação aos outros,
teriam sido destruídos mosteiros, igrejas, sinagogas e mesquitas, onde o nome
de Deus é freqüentemente celebrado. Sabei que Deus secundará quem O secundar,
em Sua causa, porque é Forte, Poderosíssimo.” (Alcorão 22:39-40). Havia
chegado um momento decisivo para o Profeta Muhammad, para os muçulmanos e para
o mundo. Era destino do Profeta Muhammad, e um aspecto de sua função
profética, que demonstrasse as alternativas para os perseguidos e os oprimidos;
de um lado, paciência, de outro, o que é chamado pelos cristãos a ‘guerra
justa’, mas pela qual, nas palavras de uma revelação corânica posterior – “corrupção
certamente cobriria a terra” (Alcorão 2: 251). Por quase
treze anos ele e seus seguidores sofreram perseguição, ameaças e insultos sem
levantarem a mão para se defenderem. Provaram que isso era humanamente
possível. As circunstâncias agora estavam mudando e requeriam uma
resposta muito diferente para que a religião do Islã sobrevivesse no
mundo. A paz tem suas estações, mas a guerra também, e o muçulmano nunca
esquece que todo homem nasce para lutar de uma forma ou de outra, em um nível
ou outro, se não fisicamente, então espiritualmente. Aqueles que tentam
ignorar esse fato são, mais cedo ou mais tarde, escravizados. CONSPIRAÇÃO
PARA ASSASSINAR O PROFETA. Em pequenos grupos os muçulmanos saíram de
Meca e pegaram a estrada para Yathrib. A Hégira (‘emigração’) havia
começado. Para os Coraixitas os limites do aceitável haviam sido ultrapassados.
Ter inimigos dentro da cidade era ruim o bastante, mas agora esses inimigos
estavam estabelecendo um centro rival ao norte. A morte de Abu Talib
havia removido o chefe protetor de Muhammad. Contidos até aqui por princípios
herdados de seus antepassados beduínos e pelo temor de causar uma briga
sangrenta e problemática, os líderes finalmente decidiram que Muhammad, que a
misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, devia morrer. Abu Jahl
propôs um plano simples. Os jovens deviam ser escolhidos de diferentes
clãs, cada um dando um golpe mortal, para que o sangue de Muhammad estivesse
nas mãos de todos eles. O clã Hashim não poderia exigir vingança de todos
os outros clãs. A HÉGIRA DO PROFETA (23 DE SETEMBRO DE 622). Enquanto isso, o
Profeta, com uns poucos íntimos, esperava a ordem divina para se unir aos
muçulmanos em Yathrib. Não estava livre para emigrar até que esse comando
viesse. Finalmente o comando veio. Ele deu um manto para Ali, dizendo-lhe
para deitar na cama de modo que qualquer um que olhasse pensasse que Muhammad
estava deitado lá. Os assassinos deviam atacá-lo quando saísse da casa, à
noite ou cedo pela manhã. Ele sabia que não feririam Ali. Os
assassinos já estavam cercando sua casa quando o Profeta Muhammad saiu sem ser
visto. Foi para a casa de Abu Bakr e o chamou, e ambos foram juntos para
uma caverna em um monte deserto, se escondendo lá até que a confusão tivesse
passado. O filho e filha de Abu Bakr e seu pastor lhes trouxeram comida e
novidades depois da noite cair. Uma vez, um grupo de busca chegou tão
perto de seu esconderijo que puderam ouvir suas palavras. Abu Bakr estava
com medo e disse: “Ó Mensageiro de Deus, se um deles olhar para o próprio pé,
nos verá!” O Profeta respondeu: “O que você pensa de duas pessoas com as
quais Deus é o Terceiro? Não fique triste, porque de fato Deus está conosco.”
(Saheeh Al-Bukhari). Quando o grupo de busca partiu, Abu Bakr recebeu
os camelos e o guia na caverna à noite, e partiram para a longa cavalgada até
Yathrib. Depois de viajarem por muitos dias através de caminhos ermos, os
fugitivos alcançaram um subúrbio de Yathrib chamado Qubaa, onde, algumas
semanas antes, o povo da cidade ouviu que o Profeta tinha deixado Meca e,
portanto, iam para os montes locais todas as manhãs, esperando pelo Profeta até
que o calor os levasse a buscar abrigo. Os viajantes chegaram no
calor do dia, após os observadores terem se retirado. Um judeu que estava
fora o viu se aproximando e avisou os muçulmanos que aquele que esperavam tinha
finalmente chegado, e os muçulmanos foram para os montes de Qubaa para
saudá-lo. O Profeta ficou em Qubaa por alguns dias, e lá estabeleceu a primeira
mesquita do Islã. Ali, que tinha deixado Meca a pé três dias depois do
Profeta, tinha chegado também. O Profeta, seus companheiros de Meca e os
“Ajudantes” de Qubaa o levaram para Medina, onde tinham antecipado ansiosamente
sua chegada. Os habitantes de Medina nunca viram um dia mais animado em sua
história. Anas, um amigo próximo do Profeta, disse: “Eu estava presente
no dia que ele entrou em Medina e nunca vi um dia melhor ou mais animado que o
dia que ele chegou para nós em Medina. E estava presente no dia que ele morreu,
e nunca vi um dia pior ou mais triste do que o dia no qual ele morreu.”
(Ahmed). Toda casa em Medina queria que o Profeta ficasse com eles, e alguns
tentaram levar sua camela para suas casas. O Profeta os impediu e disse: “Deixe-a,
porque ela está sob Comando (Divino)”. Ela passou por muitas casas até
que parou e se ajoelhou na terra de Banu Najjaar. O Profeta não desceu até que
a camela se levantou e andou um pouco, e então se voltou para o local original
e se ajoelhou novamente. Nesse momento o Profeta desceu. Ele ficou
feliz com sua escolha, porque Banu Najjaar eram seus tios maternos e ele também
desejava honrá-los. Quando indivíduos da família pediram que entrassem em
suas casas, um certo Abu Ayyoub se adiantou para cuidar de sua sela e a levou
para sua casa. O Profeta disse: “Um homem vai com sua sela.” (Saheeh
Al-Bukhari, Saheeh Muslim). A primeira tarefa que empreendeu em Medina
foi construir uma mesquita. O Profeta, que a
misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele, perguntou aos dois meninos
que eram proprietários do armazém de tâmaras o preço do
depósito. Eles responderam: “Não, faremos dele um presente para ti,
Ó Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele) de Deus!”
O Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele),
entretanto, recusou sua oferta, pagou seu preço e construiu uma mesquita,
tomando parte em sua construção. Enquanto trabalhava, foi ouvido dizendo:
“Ó Deus! Não há bondade exceto a da Vida Futura então, por favor,
perdoe os Ajudantes e os Emigrantes.” (Saheeh Al-Bukhari). A mesquita
servia como local de adoração para os muçulmanos. A oração que antes era
um ato individual realizado em segredo agora se tornou um assunto público, um
que simboliza uma sociedade muçulmana. O período no qual os muçulmanos e
o Islã estavam subjugados e oprimidos tinha acabado e agora o adhan, o chamado
para oração, seria feito em voz alta, ecoando e penetrando as paredes de toda
casa, chamando e lembrando os muçulmanos de cumprirem sua obrigação com seu
Criador. A mesquita era um símbolo da sociedade islâmica. Era
um local de adoração, uma escola onde os muçulmanos se iluminavam sobre as
verdades da religião, um local de reunião onde as diferenças de várias partes
em conflito se resolviam, e um prédio administrativo a partir do qual os
assuntos referentes à sociedade emanavam, um verdadeiro exemplo de como o Islã
incorpora todos os aspectos da vida na religião. Todas essas tarefas eram
empreendidas em um local construído sobre os troncos de tamareiras cobertos com
suas folhas. Quando a primeira e mais importante tarefa foi concluída, ele
também fez casas em ambos os lados da mesquita para sua família, dos mesmos
materiais. A mesquita e a casa do Profeta em Medina continuam hoje no
mesmo lugar. A Hégira havia sido completada. Era 23 de setembro de 622, e
a Era Islâmica, o calendário muçulmano, começa no dia que esse evento
ocorreu. E desse dia em diante Yathrib recebeu um novo nome, um nome de
glória: Madinat-un-Nabi, Cidade do Profeta, resumido, Medina. Assim foi a
Hégira, a emigração de Meca para Yathrib. Os treze anos de humilhação,
perseguição, de sucesso limitado, e de profecia ainda por se cumprir estavam
para trás. Os dez anos de sucesso, a plenitude que coroou o empenho de um
homem, tinham começado. A Hégira fez uma divisão clara na história da
Missão do Profeta, que é evidente do Alcorão. Até então ele tinha sido
apenas um pregador. Dali em diante ele era o governante de um Estado, a
princípio muito pequeno, mas que cresceu em dez anos para se tornar o império
da Arábia. O tipo de orientação que ele e seu povo precisavam depois da
Hégira não era o mesmo daquele que tinham precisado antes. Os capítulos
de Medina diferem, consequentemente, dos capítulos de Meca. Os últimos
dão orientação à alma individual e ao Profeta como Admoestador: os primeiros
dão orientação a uma comunidade social e política e ao Profeta como exemplo,
legislador e reformador. UMA NOVA ETAPA EM MEDINA. A principal refeição do
Profeta Muhammad usualmente era mingau cozido com tâmaras e leite, sua única
outra refeição do dia era tâmaras e água; mas ele frequentemente ficava com
fome, e às vezes até colocava pedras sobre seu estômago para aliviar seu
desconforto. Um dia uma mulher lhe deu um manto – algo que ele precisava
muito – mas na mesma noite alguém pediu o manto para fazer uma mortalha e ele
prontamente o deu como caridade. Os que tinham algum excedente
traziam-lhe comida, mas parecia que ele nunca conseguia mantê-la por tempo
suficiente para prová-la, já que sempre havia alguém em necessidade
maior. Com a força física diminuída – agora com cinquenta e dois anos –
ele lutava para construir uma nação baseada na verdadeira religião do Islã a
partir do variado sortimento de pessoas que Deus lhe deu como matéria-prima.
Por força do caráter combinado com extraordinária habilidade diplomática, o
Profeta Muhammad começou a reconciliar as facções em luta de Medina. Com
seus outros companheiros também emigrando, era de suma importância um sistema
de suporte para os recém-chegados. Para unir os ‘emigrantes’ (Muhājirūn)
com os muçulmanos locais, os ‘ajudantes’ (Ansār), ele estabeleceu um
sistema de relações pessoais: cada ‘ajudante’ tomava um ‘emigrante’ como seu
irmão, para ser tratado como tal sob todas as circunstâncias e para participar
da herança junto com membros da família natural. Com poucas exceções os
‘emigrantes’ tinham perdido tudo que possuíam e estavam completamente
dependentes de seus novos irmãos. Os Ajudantes às vezes chegavam a ponto
de dar a seus irmãos Emigrantes metade do que possuíam em casas, bens, terras e
pomares. Tal era o entusiasmo dos Ajudantes em compartilhar tudo com
seus irmãos na fé que dividiam tudo em duas partes para alocar sua
porção. Na maioria dos casos, tentavam dar aos Emigrantes a porção
mais justa de sua propriedade. Se é tentado a descrever como um ‘milagre’ o
fato dessa situação não ter causado qualquer ressentimento entre aqueles que de
forma tão repentina eram obrigados a incluir pessoas totalmente estranhas em
suas famílias. Esse laço de irmandade quebrou os de linhagem, cor, nacionalidade
e outros fatores que antes eram considerados como um padrão de honra. Os
únicos laços que importavam agora eram religiosos. Raramente o poder da fé em mudar os homens
foi demonstrado de forma mais clara. Os muçulmanos de Meca, entretanto, não
tinham esquecido suas antigas habilidades. Quando seu novo irmão lhe
disse: ‘Ó mais pobre dos pobres, como posso ajudá-lo? Minha casa e meus fundos
estão a seu dispor!’, um ‘emigrante’ respondeu: ‘Ó mais gentil dos amigos
gentis, apenas me mostre o caminho para o mercado local. O resto virá.’ Diz-se
que esse homem começou vendendo queijo e manteiga e logo ficou rico o
suficiente para pagar o dote de uma moça local e, no devido curso, foi capaz de
equipar uma caravana de 700 camelos. Esse tipo de empreendimento era
encorajado, mas existiam também aqueles que não tinham habilidade para fazê-lo
e nem tinham família ou propriedade. Passavam o dia na mesquita e à noite
o Profeta os colocava com vários indivíduos dos Ajudantes. Ficaram
conhecidos como ‘Ahl us-Suffa.’ Alguns eram alimentados na
própria mesa do Profeta, quando havia algo, e com cevada tostada da comunidade.
No primeiro ano desse reino em Yathrib o Profeta fez uma aliança solene de
obrigação mútua entre seu povo e as tribos judaicas de Medina e áreas vizinhas,
na qual ficou acordado que teriam status igual como cidadãos de um estado e
plena liberdade religiosa, e que defenderiam uns aos outros se fossem atacados.
Mas sua ideia de um Profeta era a de um que lhes daria domínio, e um profeta
judeu, não um árabe. Os judeus também tinham lucrado muito com a
rivalidade entre as tribos árabes, uma vez que era através dessa instabilidade
da região que tinham conseguido o predomínio no comércio e mercadorias. A
paz entre as tribos de Medina e áreas vizinhas era uma ameaça aos judeus. Além
disso, entre os habitantes de Medina existiam aqueles que se ressentiam dos
recém-chegados, mas que mantinham a paz por enquanto. O mais poderoso
deles, Abdullah ibn Ubayy ibn Salool, estava extremamente ressentido com a chegada
do Profeta, uma vez que ele era o líder de fato de Yathrib antes do Profeta.
Ele aceitou o Islã como simples formalidade, embora mais tarde viesse a
trair os muçulmanos como o líder dos ‘hipócritas.’ Devido a esse ódio comum em
relação ao Profeta, aos muçulmanos, e à nova situação de Yathrib, a aliança
entre os judeus e os ‘hipócritas’ de Medina era quase inevitável. Ao
longo da história dos muçulmanos em Medina, eles tentaram seduzir os seguidores
da nova religião, conspirando e tramando constantemente contra eles.
Devido a isso, existe menção frequente dos judeus e hipócritas nos capítulos de
Medina do Alcorão. A QIBLA. A Qibla (a direção para a qual os muçulmanos se viram quando
oram) até esse ponto tinha sido Jerusalém. Os judeus imaginavam que a escolha
implicava uma inclinação em relação ao Judaísmo e que o Profeta precisava de
sua instrução. O Profeta queria que a Qibla fosse mudada para a Caaba.
O primeiro lugar na terra construído para a adoração de Deus, e
reconstruído por Abraão. No segundo ano depois da migração, o Profeta
recebeu o comando para mudar a Qibla de Jerusalém para a Caaba em Meca.
Uma porção inteira da Surata Al-Bácara se refere a essa controvérsia judaica. AS PRIMEIRAS EXPEDIÇÕES. A primeira preocupação do Profeta
como governante era estabelecer adoração pública e formular a constituição do
Estado: mas ele não esqueceu que os Coraixitas tinham jurado dar fim à sua
religião. Enfurecidos porque o Profeta tinha tido sucesso em migrar para
Medina, eles aumentaram sua tortura e perseguição aos muçulmanos que ficaram
para trás em Meca. Suas tramas maléficas não ficaram nisso. Também
tentaram fazer alianças secretas com alguns politeístas de Medina, como
Abdullah ibn Ubayy anteriormente mencionado, ordenando que ele matasse ou
expulsasse o Profeta. Os Coraixitas com frequência enviavam mensagens
ameaçadoras para os muçulmanos de Medina alertando-os de sua aniquilação, e
tantas notícias sobre conspirações e tramas chegaram ao Profeta que ele pediu o
posicionamento de guardas ao redor de sua casa. Foi nessa época que Deus
deu permissão aos muçulmanos para lutar contra os descrentes. Por treze anos
tinham sido pacifistas estritos. Agora, entretanto, várias expedições
pequenas foram enviadas, lideradas pelo próprio Profeta ou por algum outro dos
emigrantes de Meca com o propósito de fazer um reconhecimento das rotas que
levavam até Meca, e também formar alianças com outras tribos. Outras
expedições eram lideradas para interceptar algumas caravanas retornando da
Síria em rota para Meca, uma forma dos muçulmanos fazerem pressão econômica
sobre os Coraixitas e acabar seu assédio dos muçulmanos, tanto em Meca quanto
em Medina. Poucas dessas expedições resultaram em batalha, mas através
delas os muçulmanos estabeleceram sua nova posição na Península Árabe, a de que
não eram mais um povo fraco e oprimido, mas ao contrário que sua força tinha
crescido e eram agora um poder formidável nada fácil de lidar. A
CAMPANHA DE BADR. Em uma expedição a caravana coraixita em rota para Síria escapou
dos muçulmanos. Os muçulmanos esperavam por seu retorno. Alguns
batedores dos muçulmanos viram a caravana, liderada pelo próprio Abu Sufyan,
passar por eles, e correram para informar ao Profeta disso e de seu tamanho.
Se essa caravana fosse interceptada seria um grande impacto
econômico, um que abalaria toda a sociedade dos mecanos. Os batedores
muçulmanos relataram que a caravana faria uma parada nos poços de Badr, e os
muçulmanos se preparavam para interceptá-la. Notícias sobre essas preparações
chegaram a Abu Sufyan em sua jornada ao sul, e ele enviou uma mensagem urgente
para Meca para que um exército fosse despachado para líder com os
muçulmanos. Percebendo as consequências catastróficas se a caravana fosse
interceptada, imediatamente reuniram todo o poder possível e partiram para
encontrar os muçulmanos. No caminho para Badr o exército recebeu as
notícias de que Abu Sufyan tinha conseguido escapar dos muçulmanos levando a
caravana por uma rota alternativa junto ao litoral. O exército de Meca,
com aproximadamente mil homens, persistiu em Badr para ensinar uma lição aos
muçulmanos, dissuadindo-os de atacar quaisquer caravanas no futuro. Quando os
muçulmanos tomaram conhecimento do avanço do exército de Meca, souberam que um
passo ousado teria que ser dado. Se os muçulmanos não os encontrassem em
Badr, os mecanos continuaram a minar a causa do Islã de todas as formas,
possivelmente indo até Medina para destruir propriedades e bens lá. O
Profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, reuniu um
conselho consultivo para determinar o curso de ação. O Profeta não queria
liderar os muçulmanos, especialmente os Ajudantes que eram a maioria do
exército e não estavam obrigados pelo Pacto de Aqaba a lutar além de seus
territórios, em algo com o qual não concordassem. Um homem dos Ajudantes, Sa’d
ibn Mu’aadh, reafirmou sua devoção ao Profeta e à causa do Islã. A seguir
estão suas palavras: “Ó Profeta de Deus! Acreditamos em você e testemunhamos o
que nos concedeu, e declaramos em termos inequívocos que o que trouxe é a
Verdade. Damos-lhe nosso firme compromisso de obediência e
sacrifício. Obedeceremos de boa vontade no que quer que nos ordene, e por
Deus que enviou com a Verdade, se nos pedir para mergulhar no mar, o faremos
imediatamente, e nenhum homem ficará para trás. Não rejeitamos a ideia de
encontrar o inimigo. Temos experiência em guerra e somos confiáveis em
combate. Esperamos que Deus lhe mostre através de nossas mãos aqueles
atos de valor que agradarão seus olhos. Lidere-nos no campo de batalha em
Nome de Deus. Depois dessa demonstração de extremo apoio e amor pelo Profeta e
pelo Islã tanto por parte dos Emigrantes quanto dos Ajudantes, os muçulmanos,
em número um pouco acima de 300, se prepararam da melhor forma possível para
Badr. Tinham apenas setenta camelos e três cavalos e por isso os homens
cavalgavam em turnos. Prosseguiram para o que é conhecido na história
como al- Yawm al-Furqan, o Dia do Discernimento; discernimento
entre luz e trevas, bem e mal, certo e errado. Precedendo o dia da batalha, o
Profeta passou a noite toda em oração e súplica. A batalha foi travada em
17 de Ramadã no segundo ano da Hégira, em 624. Era costume para os árabes
começarem as batalhas com duelos individuais. Os muçulmanos ganharam uma
vantagem nos duelos e alguns escribas dos Coraixitas foram mortos. Os
Coraixitas ficaram enfurecidos e caíram sobre os muçulmanos para exterminá-los
de uma vez por todas. Os muçulmanos mantiveram a posição estratégica de
defesa, que por sua vez produziu pesadas baixas para os mecanos. O
Profeta implorava a Seu Senhor com toda sua força nesse momento, levantando
suas mãos tão alto que seu manto caiu abaixo de seus ombros. Nesse ponto
ele recebeu uma revelação prometendo a ajuda de Deus: “...
Reforçar-vos-ei com mil anjos, que vos chegarão paulatinamente.” (Alcorão 8:9).
Ao ouvir as boas novas, o Profeta ordenou aos muçulmanos que tomassem a
ofensiva. O grande exército dos Coraixitas foi esmagado pelo zelo, valor
e fé dos muçulmanos, e depois de enfrentar pesadas baixas, não havia o que
fazer a não ser fugir. Os muçulmanos ficaram sozinhos no campo com uns
poucos mecanos condenados, entre eles o arquiinimigo do Islã, Abu Jahl.
Os Coraixitas foram derrotados e Abu Jahl foi morto. A promessa de Deus
se realizou: “Logo, a multidão será debelada e debandará.” (Alcorão
54:45). Em uma das mais decisivas batalhas na história humana, o total
de perdas ficou apenas entre setenta e oitenta. Meca ficou em choque e Abu
Sufyan ficou como a figura dominante na cidade. Ele sabia melhor que ninguém
que a situação não poderia ficar como estava. Sucesso atrai sucesso e as
tribos beduínas rapidamente avaliaram que o equilíbrio de poder se direcionava
para a aliança com os muçulmanos, e o Islã conquistou muitos novos convertidos
em Medina. A TRAIÇÃO DOS ANTIGOS ALIADOS. A BATALHA NO MONTE UHUD. De fato, no
ano seguinte, um exército de três mil homens veio de Meca para destruir
Yathrib. A primeira idéia do Profeta era meramente defender a cidade, um
plano que Ibn Ubayy, o líder dos “Hipócritas” aprovava fortemente. Mas os
homens que lutaram em Badr, acreditando que Deus os ajudaria contra quaisquer
desvantagens, pensaram que seria uma vergonha se esconderem atrás de muros. O
Profeta, em aprovação à sua fé e zelo, concordou com eles e seguiu com um
exército de mil homens na direção do Monte Uhud, onde o inimigo havia
acampado. Ibn Ubayy se retirou com seus homens, que eram um terço do
exército, em retaliação. Apesar das grandes desvantagens, a batalha no Monte de
Uhud teria sido uma vitória ainda maior do que a de Badr para os muçulmanos,
mas fracassou por causa da desobediência de um grupo de cinquenta arqueiros que
o Profeta tinha determinado que guardasse a passagem da cavalaria
inimiga. Ao ver seus companheiros vitoriosos, esses homens deixaram seus
postos temendo perder sua parte nos espólios. A cavalaria dos Coraixitas
cavalgou através da passagem e caiu sobre os muçulmanos exultantes. O
próprio Profeta foi ferido e surgiram gritos de que ele tinha sido morto, até
que alguém o reconheceu e gritou que ele continuava vivo: isso fez com que os
muçulmanos se reagrupassem. Reunidos em torno do Profeta, se retiraram,
deixando muitos mortos no declive. O campo pertencia aos mecanos e agora
as mulheres dos Coraixitas se moviam entre os corpos, lamentando a morte
daqueles de seu próprio povo e mutilando os mortos muçulmanos. Hamzah, o
jovem tio do Profeta e amigo de infância estava entre os últimos, e a
abominável Hind, mulher de Abu Sufyan, que tinha um ressentimento particular em
relação a ele e havia oferecido recompensa ao homem que o matasse, comeu seu
fígado, retirado do corpo ainda quente. No dia seguinte o Profeta mais uma
vez saiu com o que havia restado do exército, para que os Coraixitas ouvissem
que ele estava no campo e talvez dessa forma impedi-los de atacar a
cidade. O estratagema deu certo, graças ao comportamento de um beduíno
amigo que encontrou os muçulmanos, conversou com eles e depois encontrou o
exército dos Coraixitas. Questionado por Abu Sufyan ele disse que Muhammad
estava no campo, mais forte do que nunca, e sedento por revanche pelo dia
anterior. Com essa informação Abu Sufyan decidiu retornar à Meca. MASSSACRE
DE MUÇULMANOS. O revés que sofreram no Monte Uhud diminuiu o prestígio dos
muçulmanos com as tribos árabes e também com os judeus de Yathrib. As
tribos que tinham se voltado para os muçulmanos agora se voltavam para os
Coraixitas. Os seguidores do Profeta eram atacados e assassinados quando
saíam em pequenos grupos. Khubaib, um dos seus emissários, foi capturado
por uma tribo do deserto e vendido aos Coraixitas, que o torturaram até a morte
publicamente em Meca. EXPULSÃO DE BANI NADIR. Os judeus, apesar de seu tratado
com os muçulmanos, agora não ocultavam sua hostilidade. Começaram a
negociar alianças com os Coraixitas e os ‘hipócritas’ e até tentaram assassinar
o Profeta. O Profeta foi obrigado a adotar ação punitiva contra alguns
deles. A tribo de Bani Nadir foi cercada em suas fortes torres, subjugada
e forçada a emigrar. A GUERRA DA TRINCHEIRA. Abu Sufyan deve ter entendido
muito bem que o velho jogo da retaliação não era mais válido. Os
muçulmanos deviam ser destruídos ou o jogo estaria perdido para sempre.
Com grande habilidade diplomática se dedicou a formar uma confederação de
tribos beduínas, algumas eram, sem dúvida, contrárias aos muçulmanos, mas
outras meramente ansiavam por pilhagem. Ao mesmo tempo ele começou
discretamente a sondar os judeus em Medina sobre uma possível aliança. No
quinto ano da Hégira (início de 627) ele partiu com 10.000 homens, o maior
exército jamais visto em Hijaz (a região ocidental da Península Árabe).
Medina podia conseguir no máximo 3.000 para enfrentá-lo. O Profeta
presidiu um conselho de guerra e nesse momento ninguém sugeriu sair para
encontrar o inimigo. A única questão era como a cidade poderia se
defender. Nesse ponto Salman, o persa, um ex-escravo que tinha se tornado
um dos companheiros mais próximos, sugeriu cava uma trincheira profunda para
unir os pontos fortes de defesa formados pelos campos de lava e por construções
fortificadas. Isso era algo que jamais se tinha ouvido falar em uma
guerra árabe, mas o Profeta imediatamente apreciou os méritos do plano e
começou a trabalhar, carregando entulhos das escavações em suas costas. O
trabalho mal tinha sido concluído quando o exército confederado apareceu no
horizonte. Enquanto os muçulmanos esperavam pelo ataque, chegaram notícias
de que Bani Quraida, uma tribo judaica de Yathrib que tinha, até então, sido
leal, tinha desertado para o inimigo. O caso parecia desesperado. O
Profeta trouxe todo homem disponível para a trincheira, deixando a cidade sob o
comando de um companheiro cego, e o inimigo foi enfrentado com uma chuva de
flechas que surgiram do obstáculo inesperado. Eles nunca o cruzaram, mas
permaneceram em posição por três ou quatro semanas, trocando flechas e insultos
com os defensores. O clima ficou severo, com ventos gelados e uma
tremenda chuva, e foi demais para os confederados beduínos. Tinham vindo
com a expectativa de uma pilhagem fácil e não viram nada a ganhar para se
agacharem ao lado de uma trincheira lamacenta em um clima assustador,
observando seus animais morrerem por falta de forragem. Foram embora sem
se despedirem de Abu Sufyan. O exército se desintegrou e ele próprio foi
forçado a recuar. O jogo estava acabado. Ele havia perdido. O
TRATADO DE HUDAIBYYAH. PUNIÇÃO DE BANI QURAIDA. Nada é pior, aos olhos árabes,
do que a traição da confiança e a quebra de um compromisso solene. Agora
era hora de lidar com Bani Quraida. No dia do retorno da trincheira o
Profeta ordenou guerra aos traidores Bani Quraida, que, conscientes de sua
culpa, já tinham ido para suas fortalezas. Depois de um cerco de quase um
mês eles tiveram que se render incondicionalmente. Apenas imploraram para
que fossem julgados por um membro da tribo árabe a qual
pertenciam. Escolheram o chefe do clã com o qual tinham aliança há muito
tempo, Sa’d ibn Mu’ādh dos Aws, que estava morrendo dos ferimentos recebidos em
Uhud e teve que se restabelecer para dar o julgamento. Sem hesitação ele
condenou os homens da tribo à morte. HUDAIBIYYAH.
No
mesmo ano o Profeta teve uma visão na qual entrava em Meca sem receber oposição
e assim resolveu tentar a peregrinação. Junto com vários muçulmanos de
Medina, ele chamou os árabes amigos para acompanhá-lo, cujos números haviam
aumentado desde a milagrosa derrota dos clãs na Batalha da Trincheira, mas a
maioria deles não respondeu. Vestidos como peregrinos e levando as
ofertas costumeiras, um grupo de quatorze homens viajou para Meca. Quando
se aproximaram do vale encontraram um amigo da cidade, que avisou o Profeta de
que os Coraixitas tinham jurado impedir sua entrada no santuário; sua cavalaria
estava na estrada adiante. Ao saber disso o Profeta ordenou um desvio
através dos desfiladeiros da montanha, e por isso os muçulmanos estavam
exaustos quando finalmente desceram no vale de Meca e acamparam em um local
chamado Hudaybiyyah; dali ele tentou abrir negociações com os Coraixitas, para
explicar que vinha apenas como peregrino. O primeiro mensageiro que
enviou para a cidade foi maltratado e seu camelo teve o tendão cortado.
Ele retornou sem dar sua mensagem. Os Coraixitas, por outro lado,
enviaram um emissário com tom ameaçador e que era muito arrogante. Outro
de seus emissários falou de forma muito íntima ao Profeta, e teve que ser
lembrado de forma rígida do respeito devido a ele. Foi ele que falou, em
seu retorno para a cidade de Meca: “Já vi César e Cosroes (501-579) em sua
pompa, mas nunca vi um homem honrado como Muhammad é honrado por seus
companheiros.” O Profeta procurou enviar um mensageiro que imporia
respeito. Uthman foi finalmente escolhido por causa de seu parentesco com
a poderosa família Omíada. Enquanto os muçulmanos esperavam seu retorno
chegou a notícia de que ele tinha sido assassinado. Foi então que o
Profeta, sentado sob uma árvore em Hudaybiyyah, recebeu um compromisso de todos
os seus companheiros de que ficariam de pé ou cairiam juntos. Pouco
depois, entretanto, se soube que Uthman não havia sido assassinado. Então
uma tropa que saiu da cidade para molestar os muçulmanos em seu campo foi
capturada antes que pudesse fazer qualquer mal e trazida perante o Profeta, que
os perdoou diante de sua promessa de renunciarem à hostilidade TRATADO DE HUDAIBIYYAH. Finalmente emissários adequados
vieram dos Coraixitas. Depois de alguma negociação o tratado de
Hudaybiyyah foi assinado. Estipulava que por dez anos não haveria
hostilidades entre as partes. O Profeta devia retornar para Medina sem
visitar a Caaba, mas poderia realizar a peregrinação no ano seguinte com seus
companheiros. Os Coraixitas prometeram que evacuariam Meca para permitir que
isso acontecesse. Os desertores dos Coraixitas para os muçulmanos durante
o período do tratado deviam ser devolvidos; mas não os desertores dos
muçulmanos para os Coraixitas. Qualquer tribo ou clã que desejasse fazer
parte do tratado como aliados do Profeta poderia fazê-lo, e qualquer tribo ou
clã que desejasse fazer parte do tratado como aliados dos Coraixitas poderia
fazê-lo. Houve decepção entre os muçulmanos em relação a esses
termos. Eles se perguntaram: “Onde está a vitória que nos foi
prometida?”Foi durante a viagem de volta de Hudaybiyyah que a surata chamada
“Vitória” foi revelada. Esse tratado provou ser, de fato, a maior vitória
que os muçulmanos tinham alcançado até então. A guerra tinha sido uma
barreira entre eles e os idólatras, mas agora ambos os lados se encontravam e
conversavam, e a nova religião se espalhou de forma mais rápida. Nos dois
anos entre a assinatura do tratado e a queda de Meca o número de convertidos
foi maior que o número total de todos os convertidos anteriores. O
Profeta viajou para Hudaybiyyah com 1.400 homens. Dois anos depois,
quando os mecanos quebraram o tratado, marchou contra eles com um exército de
10.000. O RETORNO À MECA. A CAMPANHA DE KHAIBAR. No sétimo ano da Hégira o
Profeta, que Deus o louve, liderou uma campanha contra Khaibar, a fortaleza das
tribos judaicas na Arábia do Norte, que se tornou um vespeiro de seus inimigos.
Os judeus de Khaibar se tornaram arrendatários dos muçulmanos. Foi em
Khaibar que uma mulher judia preparou carne envenenada para o Profeta, da qual
ele só provou um pequeno pedaço. Mal o pedaço tocou seus lábios ele
percebeu que estava envenenado. Sem engoli-lo, avisou seus companheiros
do veneno, mas um muçulmano, que já tinha engolido uma boa porção, morreu
depois. A mulher que cozinhou a carne foi condenada à morte. PEREGRINAÇÃO
À MECA. No mesmo ano a visão do Profeta foi cumprida: ele visitou Meca
sem enfrentar oposição. De acordo com os termos do tratado os idólatras
evacuavam a cidade e das montanhas vizinhas observavam o procedimento dos
muçulmanos. TRATADO QUEBRADO PELOS CORAIXITAS. Um pouco
depois, uma tribo aliada dos Coraixitas quebrou o tratado atacando uma tribo
que era aliada do Profeta, massacrando-os no santuário em Meca. Depois
ficaram com medo do que tinham feito. Enviaram Abu Sufyan para Medina
para pedir que o tratado existente fosse renovado e seu termo prolongado.
Esperavam que ele chegasse antes da notícia do massacre. Mas um
mensageiro da tribo atacada chegou antes dele e Abu Sufyan falhou novamente. CONQUISTA
DE MECA. Então o Profeta convocou todos os muçulmanos capazes de portar
armas e marchou para Meca. Os Coraixitas estavam apavorados. Sua
cavalaria se postou antes da cidade, mas foi desbaratada sem derramamento de
sangue; e o Profeta entrou em sua cidade natal como conquistador. Os habitantes
esperavam vingança por seus erros passados, mas o Profeta proclamou uma anistia
geral. Em seu alívio e surpresa, toda a população de Meca correu para
jurar lealdade. O Profeta ordenou que todos os ídolos que estavam no
santuário fossem destruídos, dizendo: “A verdade chegou; as trevas se foram”; e
o chamado muçulmano para a oração foi ouvido em Meca. BATALHA
DE HUNAIN. No mesmo ano houve um encontro enraivecido de tribos pagãs
ansiosas para reconquistar a Caaba. O Profeta liderou doze mil homens
contra eles. Em Hunain, uma ravina profunda, suas tropas foram emboscadas
pelo inimigo e quase fugiram. Foi com dificuldade que foram reunidos ao
Profeta e seu corpo de guarda de companheiros fiéis que se mantiverem
firmes. Mas a vitória, quando veio, foi completa e o botim enorme, porque
muitas das tribos hostis tinham trazido com elas tudo que possuíam. CONQUISTA
DE TAIF. A tribo de Taqif estava entre os inimigos em Hunain.
Depois daquela vitória sua cidade de Taif foi cercada pelos muçulmanos e
finalmente subjugada. Então o Profeta nomeou um governador de Meca e ele
próprio retornou para Medina para alegria dos Ansar, que temiam que agora que
ele tinha reconquistado sua cidade natal, pudesse esquecê-los e fazer de Meca a
capital. A EXPEDIÇÃO DE TABUK. No nono ano da Hégira, ao ouvir
que um exército estava se reunindo novamente na Síria, o Profeta chamou todos
os muçulmanos para suportá-lo em uma grande campanha. Apesar da
enfermidade, o Profeta liderou um exército contra a fronteira Síria no meio do
verão. A longa distância, o calor, o fato de que era tempo de colheita e
o prestígio do inimigo fez com que muitos usassem isso como desculpa para ficar
para trás e muitos outros se isentaram sem desculpa alguma. Acamparam
aquela noite sem comida ou bebida, se abrigando atrás de seus camelos, e assim
alcançaram o oásis de Tabuk, retornando finalmente para Meca depois de
converter várias tribos. Mas a campanha terminou de forma pacífica.
O exército avançou para Tabuk, na fronteira da Síria, mas lá souberam que o
inimigo ainda não havia se reunido. DECLARAÇÃO DE IMUNIDADE. Embora
Meca tivesse sido conquistada e seu povo fosse agora muçulmano, a ordem oficial
da peregrinação não havia mudado; os árabes pagãos a realizavam de sua maneira
e os muçulmanos de sua maneira. Foi apenas depois da caravana de
peregrinos ter deixado Medina no nono ano da Hégira, quando o Islã era
dominante na Arábia do Norte, que a Declaração de Imunidade, como é chamada,
foi revelada. Seu teor era que depois daquele ano apenas os muçulmanos
fariam a peregrinação, com exceção para os idólatras que tinham um tratado em
andamento com os muçulmanos e nunca tivessem quebrado seus tratados e nem
apoiado ninguém contra aqueles com quem tinham tratados. Esses
desfrutariam os privilégios de seu tratado para o termo acordado, mas quando
seu tratado expirasse seriam como os outros idólatras. Essa proclamação
colocou um fim à idolatria na Arábia. DIZENDO DEUS. A PEREGRINAÇÃO DA
DESPEDIDA. O fim, entretanto, estava se aproximando, e no décimo ano da
Hégira ele partiu de Medina com 90.000 muçulmanos de todas as partes da Arábia
para realizar o Hajj, a peregrinação. Essa viagem triunfal do homem
envelhecido, exaurido por anos de perseguição e então por luta incessante, é
cercada por um tipo de esplendor sombrio, como se um grande aro de luz tivesse
finalmente se fechado, cercando o mundo mortal em seu brilho calmo. No décimo
ano da Hégira ele foi para Meca como um peregrino pela última vez, chamada de
“peregrinação da despedida” quando da planície de Arafat ele pregou para uma
multidão de peregrinos. Ele os lembrou de todos os deveres que o Islã
exigia deles, e que um dia encontrariam seu Senhor, que julgaria cada um de
acordo com sua obra. No fim do discurso, ele perguntou: “Transmiti
a Mensagem?” E aquela multidão de homens que há poucos meses ou anos tinham
sido idólatras sem consciência gritou: “Ó Deus! Sim!” O Profeta disse: “Ó
Deus! Tu és testemunha!” O Islã tinha sido estabelecido e cresceria para ser
uma grande árvore abrigando multidões ainda maiores. Seu trabalho estava
feito e ele estava pronto para abrir mão de seu fardo e partir. DOENÇA E
MORTE DO PROFETA MUHAMMAD. O Profeta retornou para Medina. Ainda
havia trabalho a ser feito; mas um dia ele foi acometido por uma dolorosa
doença. Veio para a mesquita envolvido em um cobertor, e alguns viram os
sinais da morte em seu rosto. “Se houver alguém entre vocês,” ele disse,
“a quem eu tenha ordenado que fosse chicoteado injustamente, aqui estão as
minhas costas. Bata agora. Se tiver prejudicado a reputação de algum de vocês,
ele poderá fazer o mesmo com a minha.” Ele disse uma vez: “O que
tenho a ver com esse mundo? Eu e esse mundo somos como um cavaleiro e uma
árvore sob a qual ele se abriga. Então ele segue seu caminho e a deixa para
trás.” E agora ele disse: “Existe um servo entre os servos de
Deus a quem foi oferecida a escolha entre esse mundo e aquele que está com Ele,
e o servo escolheu aquele que está com Deus.” Em 12 de 12 Rabī’ul-Awwal
no décimo primeiro ano da Hégira, que no calendário cristão era 8 de junho de
632, ele entrou na mesquita pela última vez. Abu Bakr estava liderando a
oração e ele fez um gesto para que Abu Bakr continuasse. Enquanto
observava as pessoas, seu rosto ficou radiante. ‘Nunca vi o rosto do
Profeta mais belo do que naquela hora’, disse seu companheiro Anas. Ao
retornar para a casa de Aisha ele deitou sua cabeça em seu colo. Abriu
seus olhos e ela o ouviu murmurar: ‘Com o companheiro mais nobre no
Paraíso...’ Essas foram suas últimas palavras. Mais tarde, cresceu o
rumor de que ele estava morto. Umar ameaçou aqueles que espalharam o
rumor com uma terrível punição, declarando um crime pensar que o Mensageiro de
Deus podia morrer. Estava esbravejando para as pessoas quando Abu Bakr
veio para a mesquita e o entreouviu. Abu Bakr foi para a câmara de
sua filha Aisha, onde o Profeta estava deitado. Tendo se certificado do
fato, e beijado a testa do homem morto, voltou para a mesquita. As
pessoas continuavam a ouvir Umar, que dizia que o rumor era uma mentira
perversa, que o Profeta, que era sua força vital, não podia morrer. Abu
Bakr foi para Umar e tentou pará-lo com um sussurro. Então, ao
perceber que ele não daria atenção, Abu Bakr chamou as pessoas, que,
reconhecendo sua voz, deixaram Umar e se reuniram ao seu redor. Primeiro
ele louvou a Deus e então disse as palavras que simbolizam o credo do Islã: “Ó
povo! Quanto aquele que costumava adorar Muhammad, Muhammad está morto. Quanto
aquele que costumava adorar Deus, Deus está vivo e não morre.” Então recitou o
versículo do Alcorão: “E Muhammad é apenas um mensageiro; mensageiro como
aqueles que vieram antes dele. Quando ele morrer ou for assassinado,
debandarão? Aquele que dá as costas não causa mal a Deus, e Deus
recompensará os agradecidos.” www.islamreligion.com.
Abraço. Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário