Espiritualidade. Texto de Rajness Chandra Mohan
– Osho (1931-1990). AMOR É DEUS. Jesus diz: "Deus é amor". Mas eu digo a
vocês: o amor é Deus. "Amor" é uma palavra muito mais importante do que a palavra "Deus". "Amor" tem um significado existencial. A palavra "Deus" é completamente
vazia, ela nada significa, ela não se relaciona a coisa alguma dentro de você.
Ela é uma pura palavra, pura no sentido de que ela não tem qualquer realidade
correspondente dentro de sua experiência. Embora
ambas as palavras indiquem a mesma verdade, "amor" é a palavra dos poetas
enquanto "Deus" é a palavra dos teólogos. Mas, obviamente o insight poético é
mais intenso, mais profundo e a sensibilidade do poeta é também muito mais
refinada, muito mais sutil que a dos teólogos. A visão do poeta é também mais
estética, mais bela, mais primorosa; ela tem mais graça, mais sentido, mais
significância. Além disso, a escolha dos teólogos tem sido contaminada ao longo
das eras por tantas pessoas: hindus, cristãos, muçulmanos; por tantas igrejas;
por tantas religiões, as quais fingiam ser religiosas, mas não eram. Amor
ainda permanece sem contaminação; ele ainda é virgem. Assim, deixe-me repetir: em vez de dizer Deus é
amor, diga amor é Deus, e você estará mais próximo da verdade. E não apenas
mais próximo, você imediatamente estará ligado à verdade, porque o amor é uma
experiência sua. Ele pode não ser tão profundo ao ponto de ser tornar
Deus, mas ainda assim, ouro é ouro, mesmo que não seja refinado. O diamante é
diamante mesmo que não tenha sido lapidado e polido. O diamante pode estar
perdido no meio da lama, mas, a qualquer momento, ele pode ser limpo, a lama
não consegue entrar dentro do seu ser. O amor é o seu ser. E no momento em
que usamos a palavra 'Deus', grandes controvérsias se levantam. Use a palavra
'amor', e ficam descartados: teísmo, ateísmo e todo tipo de argumentos
desnecessários. O amor também representa o centro mais interno da própria
existência. A existência não é indiferente a você, ela não é distanciada. Ela
está envolvida com você, ela cuida de você. Ela pode não cuidar do jeito como
você queria ser cuidado, mas ainda assim, ela cuida da maneira que lhe é
própria. E a sua expectativa pode não ser verdadeiramente a sua necessidade;
pode ser exatamente o oposto. A
existência de fato preenche as suas necessidades, não o que você gosta e
desgosta, não o que você quer; mas as suas necessidades reais, verdadeiras e
autênticas são sempre cuidadas. A existência não pode ser indiferente a você:
você é parte dela. Ser indiferente a você significaria ser indiferente a ela
mesma, o que é impossível. A existência já teria desaparecido há muito tempo,
se fosse assim. Nós somos as suas ondas. Nós somos as flores dessa árvore de vida
e existência. O seu desejo de ser amado e o seu desejo de amar é o seu desejo
mais supremo. Ele mostra algo da sua natureza básica fundamental, ele
representa o seu centro mais interno, ele representa isso. Uma vez que
você entenda o amor como Deus, toda a sua visão da vida irá mudar. Então você
não irá venerar num templo ou numa igreja ou numa mesquita: então o amor será a
sua veneração. E então você não terá medo da existência, porque ela cuida de
você. O medo desaparecerá. Você não terá medo nem mesmo da morte, porque a
morte só pode levar aquilo que não é mais necessário, mas ela não pode destruir
você. A existência é a sua mãe, ela não pode permitir destruição. Nada é
destruído, jamais. Agora, mesmo os físicos concordam com isso: nada é destruído
em tempo algum e nada é criado. Nem mesmo um pequeno grão de areia pode ser
destruído ou criado. A existência contém a mesma quantidade de matéria, vida,
amor e energia que sempre conteve e que sempre conterá. Martinho Lutero (1483-1453) disse uma coisa tremendamente
significante. Ele disse “Pecca fortiter”: peque audaciosamente'. É estranho. A
declaração parece ser inacreditável: um homem como Martinho Lutero dizendo
'Peque audaciosamente'. Mas realmente vale a pena refletir a respeito do seu
significado. Ele está dizendo: o amor permeia toda a existência, assim não
tenha medo. Mesmo se você estiver em pecado, seja audacioso nele, porque a
existência está sempre pronta para perdoar, está perdoando. O amor sempre é
perdão. Ele não quer dizer que você deve pecar. Ele está simplesmente dizendo:
o seu pecado é nada comparado ao perdão que flui da existência para você. Há
poucos dias, alguém me perguntou: “Eu sou um grande pecador. Como posso
perceber Deus?” Você não consegue ser
esse grande pecador. Você não consegue estar tão caído que as mãos de Deus não
possam alcançar você. Você não consegue estar tão pesado e sobrecarregado pelos
pecados que Deus não possa levantar você. O peso dos pecados não pode ser maior
que a graça de Deus. Esse é um dos fundamentos do sufismo, que Deus é perdão
incondicional. Ele tem que ser, pois a sua natureza é o amor. O amor é a sua
realidade. A questão não é se o amor perdoa. O amor é perdão. Não existe a
questão de Deus perdoar você. A questão surgiria apenas se Deus estivesse com
raiva de você. Só então a questão de perdoar surgiria. Mas Deus não pode estar
com raiva de você. Você é do jeito que ele o fez. Você não é uma criação sua.
Como ele pode ficar com raiva de você? Isso equivaleria a estar com raiva dele
mesmo, o que seria uma auto condenação. Mas
você começa a pensar a respeito de coisas pequenas como se você estivesse
cometendo grandes pecados. O ego sempre adora fazer grandes coisas. Mesmo se
você estiver fazendo algo errado, você vai querer fazer com que seja o maior
erro que jamais foi feito ou que jamais será feito. Você quer que ele seja
único, incomparável; você quer que ele esteja no topo. O ego sempre se sente
bem se algo grandioso está sendo feito. Pode ser um pecado, não importa. Que
grande pecado você consegue cometer? Todos os nossos pecados nada são, a não
ser coisas pequenas. Nós somos pequenos, nossos pecados não podem ser grandes.
Nossas mãos são pequenas: o que quer que façamos irá permanecer pequeno, porque
levará a nossa assinatura. A sua vida, virtuosa ou malvada, não será uma
barreira nem uma ponte, porque você já está conectado e não existe jeito de
desconectá-lo de Deus. E não é uma questão de que quando você peca, Deus o
perdoa. Ele é perdão: ele está continuamente fluindo em tremendo amor para
você. O amor dele é como uma enchente e
os seus pecados são como gotas d'água. A enchente irá levá-las. E a enchente
não vem para levar os seus pecados embora, ela já está aí. Entender isso,
compreender esse ponto, é um grande alívio, como se uma montanha de repente desaparecesse,
aliviando o seu peito. Você se torna leve, sem peso. E somente em tal estado de
leveza você pode venerar. O pecador não
pode venerar, ele está continuamente assustado. O medo não pode criar prece. A
prece criada pelo medo permanece política, uma estratégia da mente para
persuadir Deus; é um tipo de suborno. A verdadeira prece surge da compreensão,
do amor. Lutero está realmente certo quando diz: 'Peca fortiter: peque
audaciosamente'. Qualquer coisa que você estiver fazendo, faça-o audaciosamente.
Você pertence a Deus e Deus pertence a você. Este é o seu lar. Não viva como um
estranho, não esteja aqui como um hóspede, você é parte do anfitrião. Viva sem
medo. (...). Lutero está certo quando diz: “Pecca fortiter”: peque
audaciosamente, porque o seu perdão é imenso, é infinito. E o que você fizer
serão apenas pequenas gotas d'água: a enchente virá e as levará embora. O sufismo é o caminho da graça. Nenhum esforço é
preciso de sua parte: apenas receptividade, abertura, um coração amoroso, um
estado de entrega, um relaxamento. E tudo aquilo que os chamados yogues não
conseguem alcançar em milhões de vidas, você alcança num simples instante. Seu
perdão vem tão rápido, ele é imediato, porque Deus conhece apenas um tempo: o
agora. Deus não pode adiar, ele não tem futuro. Ele não pode dizer 'Amanhã',
porque para ele não existe amanhã. O tempo significa este tempo, este
momento. Para Deus tudo é o presente. A nossa visão é limitada e por isso
alguma coisa é passado, alguma coisa é futuro e alguma coisa é presente. A
nossa visão é tão limitada que o nosso presente é muito estreito. Essa é a
proporção de nossa visão. Nós estamos olhando para a realidade através de um
buraco de fechadura: nós só conseguimos ver esse tanto, tudo o mais é
passado. Sente-se atrás de um buraco de fechadura e observe. Alguém vem:
você vê de repente uma pessoa surgindo do nada. Há um momento, você não era
capaz de vê-lo. Quando ele vem à frente do buraco de fechadura, você o vê, e,
no momento seguinte, ele já se foi, ele passou, de novo ele não está mais lá.
Num momento atrás ele estava no futuro, num momento depois ele está no passado.
Você pensa que o homem desapareceu? Você pensa
que o homem de repente apareceu do nada e que agora ele desapareceu no nada
novamente, e que ele apareceu somente por um simples momento? É a nossa visão
que está criando o engano. Saia de seu lugar escondido, abra a porta e você
ficará surpreso: ele estava lá antes de você vê-lo e ele está lá depois que
você o viu. Agora você terá uma visão melhor. Para Deus tudo é eterno
agora. O ladrão que foi crucificado ao lado de Jesus, perguntou-lhe:
'Senhor, eu serei capaz de vê-lo novamente no futuro?' Jesus disse: 'Hoje você
me verá no reino de meu Deus'. A palavra é 'hoje' e isso é muito
significante. 'Hoje você me verá no reino de meu Deus'. O amanhã está fora de
questão. Deus é imediato. Deus está sempre presente. Assim, tudo o que acontece
através de Deus, acontece agora. E isso não está acontecendo para você, Deus
não está acontecendo para você, porque você vive ou no passado ou no futuro, e
ele nunca está no passado nem no futuro. Daí
a ciência da meditação: ela traz você para o presente, ela traz você para este
momento. O passado é um pensamento e ele desaparece quando os pensamentos
desaparecem. O futuro também é um pensamento e ele desaparece quando você
abandona o pensar. Quando você está num estado de não-pensamento, não existe
passado algum, nem futuro, apenas o presente existe. Em tal estado de não
pensamento você é um, em sintonia com Deus. De repente a enchente está ali e
você é inundado com luz, com amor e com graça. Você não é mais um homem, você é
divino. Você superou a humanidade. Humanidade é um estado de sono
profundo. Deus é o nosso pastor. Ele
cuida de tudo. Nós estamos preocupados desnecessariamente, e começamos a
tentar tomar conta de nós mesmos. E é assim que nos tornamos vítimas do lobo, a
mente. A mente diz: esse caminho é mais seguro, mais prudente. Organize a
vida dentro deste padrão, não viva na insegurança. Essa é a constante mensagem
da mente. 'Não viva na insegurança, torne a vida segura. Tenha uma conta
bancária, tenha uma família, tenha os pés no chão. Faça tantos arranjos quanto
possíveis, assim você estará protegido.' Deus
é o nosso protetor, mas a mente começa a atuar como protetora. E a mente é o
lobo, porque ela é criada por todo tipo de exploradores que existem no mundo.
Os padres, os eruditos e os políticos criam a mente, criam o medo em você. Eles
vivem do seu medo, eles criam uma constante tremedeira; por toda a sua vida
você permanece angustiado, tremendo, com medo. Eles criam preocupação em você e
a preocupação é a fonte de sua mente. Se a pessoa estiver pronta para
viver na insegurança, a mente desaparece. Aí não existe necessidade de
mente. Sânias significa viver na insegurança, porque Deus é a nossa única
segurança. Sânias significa viver sem qualquer medo, porque nós somos parte da
existência. Não há de que se ter medo. A existência não é antagônica a nós; ela
nos protege. Mas a mente é um subproduto do medo e por causa do medo ela segue
criando sua própria segurança: tenha mais dinheiro, tenha uma casa maior, tenha
respeito, prestígio, poder político. Conquiste amigos e influencie pessoas,
assim você estará seguro. Tenha muitos amigos, eles serão úteis. É dito que um
amigo é amigo somente quando ele o socorre nos tempos de necessidade. Assim,
tenha muitos amigos, faça concessões. Tenha uma face falsa, sorria, assim você
poderá influenciar pessoas. Você coloca a sua segurança em coisas muito
frágeis. E Deus é a sua única segurança. Mas para conhecer a segurança de Deus,
para saber que ele é o seu pastor, você terá que confiar, terá que viver na
insegurança. Se você não puder confiar, você seguirá acumulando lixo ao seu
redor. (...). Basta olhar as pessoas.
Quanto mais ricas elas se tornam, mais infelizes elas parecem. Isso não deveria
ser assim. E por que é assim? Isso é tão sem lógica. Por que elas se tornam tão
infelizes? Parece que elas não sabem como viver na confiança, elas não sabem
como viver na alegria. Toda a vida delas tem sido trabalhar para ficar mais e
mais seguras. E não é muito difícil acumular muita riqueza. Mas ao mesmo tempo
em que você vai acumulando muita riqueza, a sua vida vai escorrendo pelo
bueiro. Então, de repente, a pessoa percebe: 'O que eu tenho feito? Eu
desperdicei a minha vida.' Surge uma grande frustração com a percepção de
que 'eu desperdicei a minha vida, acumulando coisas desnecessárias, e agora
todos aqueles belos dias se foram e somente a morte existe no futuro'. A pessoa
sente que fracassou tremendamente. É dito que nada é tão bem sucedido como
o sucesso, mas eu digo nada fracassa tanto como o sucesso. No momento em que
você é bem sucedido, você conhecerá o sabor do fracasso completo. (...).
A mensagem Sufi é: Entregue tudo para Deus,
entregue tudo para o todo. E veja: essa existência infinita segue
perfeitamente. A energia que cuida de milhões de estrelas também pode cuidar de
você. Você não precisa carregar esse fardo na sua cabeça, você pode confiar. E
basta algumas poucas experiências de confiança e então você nunca mais será
pego na velha armadilha de novo, porque você irá saber que as coisas estão
sendo bem cuidadas. (...). Você terá que criar um tipo diferente de espaço. Um
espaço diferente será necessário. Tal espaço se chama confiança, entrega,
relaxamento, fé, amor, ou como quer que você queira chamá-lo. Uma vez que esse
espaço seja criado, você começa a se movimentar num plano totalmente diferente.
Você entra numa nova dimensão: é a dimensão sem morte, é a dimensão sem medo. E
então você viverá totalmente, audaciosamente, e qualquer coisa que você faça,
você estará totalmente nela, completamente nela. Cada ato se tornará um caso de
paixão e muito criativo, não apenas nas coisas que você cria do lado de fora,
mas em alguma coisa que integra você também internamente. (...). www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi
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