Judaísmo. www.pt.chabad.org.br. Texto do rabino
Tzvi Freeman. O QUE É CABALÁ? A ALMA DO JUDAÍSMO. Dentro de seu corpo respira
uma pessoa – uma alma. Dentro do corpo da prática judaica respira uma sabedoria
interior – a alma do Judaísmo. Nós a chamamos de “Cabalá”, que significa
“receber”. Assim como a prática judaica é recebida por meio de uma tradição
antiga e ininterrupta da revelação no Sinai, assim é a sua alma. Cabalá, então,
é a sabedoria recebida, a teologia e a cosmologia nativas do Judaísmo. Outro
nome para Cabalá – mais revelador – é “Torat ha’Sod.” Comumente, é mal
traduzido como “o ensinamento secreto”. A tradução correta, porém, contém o
significado oposto: “o ensinamento do secreto”. “O ensinamento secreto”
significa que estamos tentando esconder algo de você. “O ensinamento do
secreto” significa que estamos tentando ensinar algo a você, abrir e revelar
algo oculto. Ora, você poderia dizer, se o segredo é ensinado, não é mais um
segredo. Um segredo revelado, poderia parecer, é uma contradição. Seria assim
se estivéssemos discutindo um segredo artificial, que é secreto apenas porque é
velado em segredo, porque outros não querem que você descubra. Os verdadeiros
segredos, uma vez revelados, explicados, ilustrados, analisados e integrados em
sua consciência, permanecem tão misteriosos quanto antes. Não – muito mais
misteriosos, pois à medida que a ilha de conhecimento se expande, assim também
sua praia sobre o infinito mar do desconhecido. A vida tem muito desses
mistérios: O que é amor? O que é mente? O que é vida? O que é existência? Como
acontecem? De onde emergem? O que é a sua alma, a pessoa dentro do seu corpo?
Você passa por todos esses a cada momento. Eles são você. E apesar disso,
quanto mais você contempla as profundezas de seus mistérios, mais profundas as
águas se tornam. Os segredos mais profundos são aqueles conhecidos de todos,
aqueles que aprendemos quando somos crianças pequenas, aceitamos como certo
pelo resto da nossa vida, vivenciamos diariamente – e mesmo assim jamais
conseguimos desvendar ou entender com nossa mente cognitiva. Existe. As coisas
existem. Eu existo. Estou vivo. A vida é a não morte. Escuridão não é luz.
Existe aquilo que é maior que eu. A Cabalá mergulha nesses segredos e traz suas
profundezas para a luz. Fornece metáforas para cura e crescimento na vida
diária. É por isso que a experiência de estudar Cabalá é “Sim! Eu sabia essa
verdade o tempo todo! Meu coração sabia, mas minha boca era incapaz de
expressá-la!” As verdades da Cabalá pertencem a todo ser que sente. Porém, acima
de tudo, a Cabalá proporciona uma sensação do além; o conhecimento daquilo que
não pode ser conhecido, a sabedoria do mistério, o entendimento daquilo que não
entendemos. A Cabalá é o conhecimento do assombro. POR QUE A CABALÁ É TÃO
SECRETA? Ensinar um segredo é perigoso. O aluno está em perigo, pois pode
acreditar que realmente entende. Um mistério jamais pode ser apresentado sem as
coberturas da metáfora e da parábola. Talvez o estudante entenda a capa mas não
consiga desvendar seu conteúdo, como aquele que mastiga a casca e descarta o
interior do fruto. O professor está em perigo, pois como pode saber se
realmente entendeu? Vai ensinar muitos alunos, suas ideias serão popularizadas,
a essência será perdida e seu significado será retorcido ao oposto da sua
intenção. A própria Cabalá está em perigo, pois uma vez que tenha perdido sua
integridade, imediatamente deixa de ser “a sabedoria recebida”. Pode ser sábia,
pode ser bela, porém não é mais Cabalá. É por isso que, na maior parte do
tempo, a Cabalá foi transmitida de mestre para alunos selecionados e de
confiança, na maior confiabilidade. Quando foi escrita, os textos eram
propositadamente crípticos e misteriosos, em enigmas sussurrados, parábolas e
alusões obscurecidas. Às vezes, as restrições tinham de ser reafirmadas para
impedir todos, exceto alguns poucos, de estudar Cabalá. Somente nas últimas
centenas de anos os mestres começaram a revelar abertamente estas verdades. Os
mestres chassídicos revelaram uma luz e forneceram um conjunto de metáforas que
permite a todos abordarem aquela luz, trazendo a Cabalá ao domínio até da alma
mais simples. Mas mesmo assim, um guia é indispensável, e deve-se tomar muito
cuidado para preservar a pureza dos ensinamentos. Quem é este guia? Como você
sabe que está recebendo águas puras, direto da fonte original? Por um lado,
água pura reflete claramente. Se a vida do professor não reflete seus
ensinamentos, suas águas são impuras. Depois, saiba que até Mashiach chegar, o
caminho interior nunca é sem conflito. Se o ensinamento vem facilmente, não é o
ensinamento interior. E em terceiro: É verdade que você não precisa ser judeu
para se embeber no doce vinho da Cabalá ou para aprender seus caminhos de cura.
Mas a alma da Cabalá é diferente de uma alma humana – jamais pode ser arrancada
de seu corpo, pois o casamento de alma e corpo é completo. A prática judaica e
a Cabalá são uma só. Se você ouvir “Não tem nada a ver com o Judaísmo”, está
ouvindo uma mentira. COMO O ESTUDO DA CABALÁ PODE ME AJUDAR? Cabalá é
um aspecto da Torá, e Torá significa “orientação” ou “instruções”. Tudo na
Cabalá é para ser uma instrução na vida. Estudamos Cabalá não apenas para
atingir um ponto alto, mas porque precisamos de sua inspiração na vida
cotidiana, e porque nos fornece direção e orientação prática. A Cabalá
proporciona uma dimensão cósmica aos assuntos da vida humana de todos os dias.
A doença é um reflexo da doença de amor da divina presença para a Luz Infinita.
Os desafios da vida são as centelhas perdidas no ato primitivo da criação,
vindas a você para serem consertadas e elevadas. Sua vida é uma missão, na qual
você é direcionado para as centelhas divinas que pertencem unicamente à sua
alma, pelas quais sua alma tem retornado muitas vezes a este mundo até que
sejam todas reunidas. Entender a dimensão cósmica significa que nada na vida é
trivial. Tudo tem significado. Tudo se move rumo a um só propósito, com uma
única meta. O entendimento permite que você aceite estes desafios e complete a
jornada da sua alma. COMO A CABALÁ DIFERE DE OUTROS ENSINAMENTOS ESPIRITUAIS? Há muitos
ensinamentos espirituais sábios de pessoas em toda parte do globo. Em sua
prática, as pessoas encontram transcendência do mundo material, esclarecimento
e serenidade. O foco da Cabalá não é a serenidade. Também não é o esclarecimento
transcendental. Proporciona estes também, mas como um meio, não como meta. A
meta da Cabalá é a ação inspirada. Qualquer que seja a sabedoria que o
cabalista adquire, qualquer que seja o estado de êxtase ou união mística ao
qual ele ascende, o resultado será sempre um ato de beleza no mundo físico.
Falando de outra forma: muitos mestres dirão a você para praticar boas ações e
atos de bondade porque esta é uma pedra ao longo do caminho da consciência mais
elevada. O cabalista lhe dirá que no momento da boa ação, você já está ali. O
ato em si é a sua meta, à qual uma consciência mais elevada deve levar você.
Para o cabalista, o supremo paraíso é aqui agora, porque a Luz Infinita está
aqui agora, e mais que qualquer reino espiritual, é onde a Luz Infinita anseia
por ser descoberta. Nosso trabalho é descascar o fruto para revelar aquela luz
dentro de cada artefato físico do mundo. Para iluminar não apenas a nós mesmos,
mas todo ser vivo, e até a matéria inerte do nosso mundo. QUANDO USAR A CABALÁ? As histórias
dos ancestrais são pintadas com uma paleta de visões místicas, revelações
divinas e comunicação com seres não-físicos. Porém a Torá, incluindo a Cabalá,
não é definida por aquelas visões. O evento central da narrativa judaica é a
revelação em massa no Monte Sinai, quando “todo o povo viu os sons e a
iluminação”. Digamos que você viveu pouco tempo depois do evento. Digamos que
você perguntou às pessoas que tinham estado lá: “Diga-me o que aconteceu.” O
que elas diriam a você? “Fomos instruídos a não ter outros deuses”. “Fomos
instruídos a honrar nossos pais, a não roubar nem matar”. Não creio nisso. Mais
provavelmente, a resposta deles seria algo assim: “Vimos todos os segredos do
cosmos abertos à nossa frente. Vimos como cada coisa é gerada para ser a todo
momento, vimos como não há realmente nada exceto um Criador, e tudo o mais são
articulações de Sua vontade”. Os próprios mandamentos – não ter outros deuses,
honrar os pais, não roubar ou matar – são apenas o conteúdo daquela
experiência. O meio, a experiência – isto foi o âmago da mensagem. Foi naquela
experiência mística que nosso povo nasceu – a experiência de um mundo no qual
“de toda direção, D'us falou com eles.” Eles viram toda a realidade como nada
exceto as palavras de uma única, incognoscísvel origem de todas as coisas. E
eles entraram em comunhão com aquela Fonte. Por cerca de mil anos após o Sinai,
a experiência judaica permaneceu definida pela profecia. A sabedoria era
conhecida às pessoas através de videntes e profetas, homens e mulheres que se
afastaram dos desejos e vaidades humanas para atingir uma visão clara dos
reinos interiores. Porém nenhuma dessas visões forneceu uma nova revelação,
acrescentando ou subtraindo coisa alguma da Torá. Estavam simplesmente
afirmando, esclarecendo e sustentando a visão partilhada do Sinai. A era de
profecia acabou no início do período do Segundo Templo, mas a revelação Divina
e a visão mística nunca partiram. Nem os receptores daquela sabedoria se
sentaram à beira da tradição judaica. Muitos, se não a maioria, dos mais
conhecidos mestres da alma da Torá foram também os mestres estabelecidos sobre
o corpo da prática da Torá. Rabi Akiva (50-137) é considerado o pai da Mishná,
e o Talmud e Sefer HaBahir descrevem suas jornadas místicas. Seu aluno, Rabi Shimon
bar Yochai, foi responsável pela clássica obra cabalística, o Zohar, e suas
opiniões permeiam toda seção do Talmud. Às vezes, e em determinados lugares, a
inquirição filosófica deixou de lado a tradição recebida para dominar o
pensamento judaico. Porém raramente foi considerada a teologia nativa, mas sim
uma espécie de enxerto vindo de vinhas estranhas. As obras de filosofia
ascendentes, lutando para criar uma única visão a partir de partes
disparatadas. A Cabalá faz a conversão, começando com uma visão vívida,
holística, e tentando transmitir aquela visão a outros. Apesar disso,
especialmente após a expulsão da Espanha, o racionalismo e grande parte da
terminologia dos filósofos se integrou à sabedoria holística da Cabalá. O
resultado foi um florescimento e uma popularidade sem precedentes do pensamento
cabalístico. Na era crítica quando a Halachá foi codificada e estabelecida (a
partir da expulsão espanhola até a metade do Século 17), quase todos os
eruditos sérios estavam mergulhados na Cabalá. Rabi Yosef Caro, autor do código
padrão da Lei Judaica, o Shulchan Aruch; Rabi Moshê Isserles, cujos retoques
tornaram aquele código aceitável ao Judaísmo askenazita; bem como a maioria dos
comentaristas padrão daquele código, escreveram obras cabalísticas também. Até
o popular sermão na sinagoga com frequência era revestido e enfeitado com
referências cabalísticas. Para a maior parte dos judeus de países muçulmanos, o
Zohar é tão sagrado quanto o Livros dos Salmos. O Movimento Chassídico cresceu
diretamente a partir da Cabalá. Os oponentes originais ao Movimento Chassídico,
como Rabi Elijah de Vilna (1720-1797), foram mestres da Cabalá. Muitos dos
comentários padrão estudados atualmente sobre os Cinco Livros de Moshê estão
repletos de referências a ideias cabalísticas. É por isso que tentar entender a
experiência judaica sem entender a Cabalá é o mesmo que analisar o
comportamento de uma pessoa sem saber o que se passa em sua mente. Os judeus
notáveis das eras passadas que não provaram a Cabalá sentiam aquela alma
interior intuitivamente dentro da Torá que eles estudavam, dentro de suas
preces e dentro da prática das mitsvot. Em todas essas coisas, suas almas
brilhavam vibrantemente. No decorrer dos séculos, à medida que o mundo se
tornava mais estéril, materialista e confuso, aquela alma se tornou cansada e
sentiu-se adormecida. Hoje, o caminho cecrto para uma pessoa que raciocina
sentir a alma da experiência judaica é provar seus segredos íntimos. Hoje, o
Judaísmo privado da Cabalá é um corpo privado de sua alma. Hoje o estudo da
cabala é vital por um motivo ainda mais importante – como um estágio essencial
para a evolução definitiva da humanidade. Abordaremos isto depois. VOCÊ PODE SER CRIATIVO
COM A CABALÁ? Uma sabedoria recebida pareceria não deixar espaço para
originalidade ou criatividade. O Zohar nos diz que aquele que cria as próprias
ideias e as chama de Torá está criando um ídolo. A comparação é significativa:
como um ídolo é uma falsa representação de D'us, também essa ideia é uma falsa
representação da sabedoria Divina, e “Ele e Sua sabedoria são um”. Porém, como
em outros campos da Torá, a Cabalá ferve com pensamento criativo e
originalidade. Eis como Rabi Moshê Cordovero (1522-1570), um professor líder do
Século 16 da escola racionalista-cabalista de Tzfat, explicava a necessidade e
os parâmetros de originalidade na Cabalá: O Livro da Formação diz: “Entenda com
sabedoria; seja sábio com entendimento”. “Entender com sabedoria” significa
investigar bem tudo que seu mestre ensinou a você na sabedoria das modalidades.
Afinal, nesses assuntos transmitimos apenas um mero esboço. A partir deste
esboço, cada pessoa deve entender uma ideia a partir de outra. Você pode ver
isto nas palavras de nossos Sábios quando eles disseram: “Este assunto é falado
somente a um sábio que entende com sua própria mente.” A partir disto, você vê
que uma pessoa deve usar a própria mente para comparar uma coisa com outra, e
assim extrair uma ideia de dentro da outra. Dessa maneira ele terá uma mente
pro-criativa e não uma estéril. E ainda diz; “Seja sábio com entendimento”.
Isso significa que quando você origina e analisa com o próprio intelecto para
que possa entender, deve tomar cuidado para conceber a ideia e explicá-la
dentro da estrutura da tradição dos rabinos e suas palavras verdadeiras. As
ideias originais devem estar incluídas naquilo que você adquiriu, seja pouco ou
muito. Os cabalistas podem ter visões, mas eles não encontraram seus
ensinamentos naquelas revelações. Sejam quais forem as visões que eles tiveram,
veem aquelas como meras iluminações dos textos sagrados e dos ensinamentos que
já receberam. Nesta maneira, a Cabalá permanece uma árvore da vida, com
profundas raízes segurando-a firmemente no lugar, enquanto dá doces frutos
novos a cada estação. QUAIS SÃO ALGUMAS IDEIAS BÁSICAS DA CABALÁ? Embora
todos se estendam a partir de uma só visão unificada, os temas que a Cabalá
aborda são vastos e variados. Aqui estão alguns dos principais: LUZ INFINITA: Uma
metáfora para D'us. D'us é incognoscível e sem forma, porém todas as formas se
expandem a partir Dele. A ideia de luz ilimitada ajuda a comunicar essa ideia.
Porém a essência de D'us está além até do infinito. E D'us é encontrado nas
trevas assim como é encontrado na luz. LUZ E RECIPIENTES: Similar à
ideia moderna de energia e matéria. O ato da criação é sustentado através de
uma dinâmica de luz infinita comprimida em estados definidos de ser chamados
“recipientes”, que então projetam a luz para criar uma infinidade de seres. DEZ SEFIROT: A conexão
entre a Luz Infinita e uma criação finita deveria ser intransponível, e mesmo
assim aqui estamos nós, decididamente projeções finitas daquela Luz Infinita.
Este é o mistério das dez sefirot: como o Infinito interage com os mundos que
gerou através de dez modalidades luminosas, A ordem das sefirot se move a
partir do domínio intelectual através da emoção e desce até o âmbito do
“domínio” – a esfera de realmente conseguir algo feito. Esta é a “divina
imagem” na qual o ser humano é criado. Ao nos conhecermos como seres humanos,
portanto, podemos descobrir o divino. E ao entender o divino, somos mais
capazes de curar e nutrir o ser humano. O MISTÉRIO DO ALFABETO
HEBRAICO: Em hebraico, não há coisas, somente palavras. O nome hebraico de
cada coisa contém sua força de vida essencial. O poder infinito do Criador é
encontrado dentro de cada exemplo e objeto da criação; nada está fora dessa luz
e nada é vazia dela. As vinte e duas letras do alfabeto hebraico expressam as
articulações específicas daquela força criativa. Aquele que domina seus mistérios
tem a chave para entender a natureza de cada coisa. UNIÃO DOS OPOSTOS: O universo
inteiro é uma união dinâmica de macho e fêmea. A alma-vida do universo,
conhecida como Shechiná, e a Luz Infinita, anseiam por se reunir, como a alma
humana anseia por se reunir com sua origem dentro de D'us. O estudo de Torá e o
cumprimento das mitsvot provocam essas uniões, permitindo assim que a luz nova
e transcendental penetre no cosmos. Tikun:O mais notável dos cabalistas, Rabi
Yitschak Luria (1534-1572), conhecido como “o Ari” (o leão), conseguiu explicar
muitas passagens arcanas do Zohar por meio de uma doutrina de tikun, que
significa “conserto”. Revertendo o modelo padrão, o Ari explicou que o mundo
foi criado num estado quebrado, e o ser humano foi colocado nele para recolher
as peças espalhadas e consertar sua integridade. O resultado eventual é a união
da existência finita com a Luz Infinita, além até daquilo que era no início da
criação. COMO
A CABALÁ SE ENCAIXA NO MUNDO MODERNO? Nos últimos cem anos, a ciência
desnudou a complicada e pura vastidão do mundo físico numa maneira antes
inconcebível. Descobrimos uma impressionante harmonia pela qual todo o universo
físico é visto como uma singularidade, toda partícula integralmente relacionada
a toda outra partícula, uma harmonia pela qual até a matéria e a energia em si
mesmas são essencialmente uma única dinâmica. A tecnologis nos deu meios para
partilhar e examinar este conhecimento que era inimaginável há uma geração.
Programar nossos próprios ambientes virtuais nos enriquece com uma metáfora
pela qual podemos imaginar o que significa criar um mundo e sustentar sua
existência a cada momento. A humanidade deveria ser tomada por reverência e
assombro, mas em vez disso temos sido deixados no frio. Ironicamente, em nossa
busca pela unidade da lei física, temos nos afastado daquela unidade, cavando
um vácuo devastador entre o mundo difícil e material que nos cerca e o mundo
suave e humano que arde no interior. Ao mediar este divórcio, nos mesmos nos
tornamos órfãos. A Cabalá cura esta ferida. Descreve o mundo ao redor na
linguagem da nossa psique. Ela nos põe em contato com um mundo composto não de
matéria crua, mas de mente inimaginável. O cientistas descreve o universo
dentro das dimensões de tempo e espaço, em termos que ele pode contar e
mensurar. Porém nem tudo que conta pode ser contado. Uma das obras mais antigas
da Cabalá, o Livro da Formação, descreve ainda outra dimensão: aquela da vida,
consciência e alma. Tudo que existe no tempo e no espaço, aprendemos, é
primeiro encontrado no fundo daquela dimensão interior. É uma dimensão com a
qual estamos intimamente familiarizados. O artista olha para uma árvore e vê
não uma estrutura celular de carbono, mas beleza, vida e magnificência. O
amante da música escuta num quarteto de cordas não as vibrações das cordas de
nylon e sua série de tons, mas a luta pela resolução dentro da alma do
compositor. O crítico literário lê dentro das palavras do romance os
pensamentos do autor, dentro dos pensamentos as atitudes, dentro das atitudes a
percepção do mundo que gera tais atitudes, e dentro daquela percepção a persona
do próprio autor. Assim também, o cabalista vê dentro de cada exemplo da
realidade não sua presença palpável e definida, mas uma energia divina
sustentando toda a existência, sempre nova como a água da cachoeira é renovada
a cada momento, gerando e regenerando cada detalhe do vácuo absoluto, imbuindo
cada coisa com suas propriedades particulares e com vida, cada instante da
existência em sua maneira particular. E dentro daquela dinâmica da criação, o
cabalista vê o próprio D'us. Como resultado, temos uma afinidade com este
universo ao redor. Assim como sentimos dentro de nós mesmos camada sobre camada
de personalidade, mais profundamente cada extrato da consciência, e ainda
dentro de tudo isso uma indefinível essência do ser, também podemos perceber
profundamente dentro do universo uma sentença infinitamente maior que a nossa,
e uma essência que transcende o conhecimento e o saber juntos. Na verdade,
somos os filhos daquela essência incognoscível, nossas mentes um pálido reflexo
de sua luz dentro das águas barrentas do mundo material, nossas almas seu
próprio sopro dentro daqueles limites corpóreos. POR QUE PRECISAMOS
AGORA DA CABALÁ? O franco estudo da Cabalá atualmente não é apenas porque
precisamos da inspiração que ele fornece, mas porque este é um estágio vital na
evolução do mundo. A suprema fase deste mundo é uma era messiânica na qual “a
ocupação do mundo inteiro será apenas conhecer a D'us”. Isso não significa
simplesmente saber que há um D'us, mas conhecer Seu universo como Ele o
conhece, e a sabedoria por trás disso como aquela sabedoria é uma com Ele. A
preparação para este tempo já começou, e estamos nela. A obra principal da
Cabalá, o Zohar, descreve uma era que espelhará o dilúvio de Nôach – dessa vez
com um mundo inundado com sabedoria em vez de água: “No seiscentésimo ano da
vida de Nôach (…) todos os mananciais da grande profundeza se abriram, e as
janelas do céu ficaram abertas…” – Bereshit, 7:11. Sobre isto, o Zohar declara:
“No 6º século do 6º milênio os portões da sabedoria sobrenatural serão abertos,
como as fontes de sabedoria terrena, preparando o mundo para ser elevado ao
sétimo milênio”. O sexto século do sexto milênio do calendário judaico corresponde
ao período de 1740-1840, na verdade um período de explosivos avanços em
tecnologia e ciência. Ao mesmo tempo, os portões da sabedoria sobrenatural
foram abertos através dos mestres chassídicos da Cabalá. Agora é hora de
partilhar ambas as sabedorias, a terrena e a celestial, para fundi-las como uma
só e inundar o mundo até que seja cumprida a promessa do profeta: “A terra
ficará repleta com a consciência de D'us como a água cobre o oceano”. -
Yeshayahu 11:9. ONDE
ENCONTRAR A CABALÁ AUTÊNTICA? Fale com seu rabino. Talvez ele
esteja dando aulas sobre Cabalá, ou algum tópico a partir de uma perspectiva
cabalística. www.pt.chabad.org.br.
Abraço. Davi
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