Espiritualidade.
www.oshobrasil.com.br. Texto de
Rajneesh Chandra Mohan Jain – O Mestre Osho. EGO - O FALSO CENTRO. O primeiro ponto a ser
compreendido é o ego. Uma criança nasce sem qualquer
conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança
nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a
primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural,
porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam
os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses
sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso. Nascimento significa vir a
esse mundo: o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse
mundo. Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu.
Ela primeiro se torna consciente da mãe.
Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também
é o 'outro', também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o
corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa
maneira que a criança cresce. Primeiro
ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando
com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela
não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do
que ela pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se
diz 'você é bonita', se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a
respeito de si mesma. Assim, um ego começa a nascer. Através da
apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela sente que tem
valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro
é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela
é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito. E esse é o ego:
o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma
utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego
nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se
inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo. Primeiro
a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe,
e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se
torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas. O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do
viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará
a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal.
Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não. O
verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma
necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só
pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade
diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro.
Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna
capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade
nascerá em você. O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um
subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não
você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos
refletem. Você irá à escola e o professor refletirá quem você é. Você fará
amizade com as outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco,
todos estarão adicionando algo ao seu ego, e todos estarão tentando
modificá-lo, de modo que você não se torne um problema para a
sociedade. Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na
sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser.
Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor
de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo
da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim, estão interessados
em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade.
Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se você for
imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro (...). Moralidade
significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade
estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma
moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda
criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é
tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade
não está interessada no fato de que você deveria chegar ao autoconhecimento.
A sociedade cria um ego porque o ego pode ser
controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se
ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível.
E a criança necessita de um centro; a criança
está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um
centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o
ego dado pela sociedade. Uma criança volta para casa. Se ela foi o
primeiro lugar de sua sala, a família inteira fica feliz. Você a abraça e
beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda
criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para
ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um
fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a
aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima
vez, porque o centro se sente abalado. O ego está sempre abalado, sempre à
procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está
continuamente pedindo atenção. Você
obtém dos outros a ideia de quem você é. Não é uma experiência
direta. É dos outros que você obtém a ideia de quem você é. Eles modelam o
seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está
dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o
modela. Você vem com ele. Você nasce com ele. Assim, você tem dois
centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência.
Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo
falso - é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando
você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a
sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem
que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma
moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o
fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe
onde está, você já não sabe quem você é. Os outros deram-lhe a ideia. E
essa ideia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele
tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de
alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e
você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário,
um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem
você é, quando você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se
dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos. Devido a esse
caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar
através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o
período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente
começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas
podem ser desperdiçadas (...). Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a
sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma
conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade
conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser (...). É o mesmo que penetrar
numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra,
você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim,
um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas
aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo. Foi assim que aconteceu. A
sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma
pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas
universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam
apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa. E
então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo. Além da cerca
você é, tal como você é dentro da cerca - e sua mente consciente é apenas
uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no
escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro
está oculto. Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo
para o desconhecido. Por um certo tempo, todos os limite ficarão perdidos.
Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai
se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um
terremoto. Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não
voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro
de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua
alma, o eu. Uma vez que você se
aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse
assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não
um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a
própria ordem da existência. É o que BUDA chama de Dhamma, LAO
TZE chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita
pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a
ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo
homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiura delas, isso é
tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas (...). O ego tem
uma certa qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito
fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por
ele; a busca não é necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador
à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é
simplesmente mais um na multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um
centro autêntico, como pode ser um indivíduo? O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a
sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na
sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade
de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com
uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma
vida falsa? E esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre
que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você
descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue
encontrando motivos para sofrer (...). E assim as pessoas se tornam
dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um
escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela
primeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo. Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não
nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir
infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade
está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com
alguém. Você esperava algo e isso não
aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica
estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz,
tente descobrir a razão. As causas não
estão fora de você. A causa básica está
dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem
está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está
causando a minha angústia?' Se você
olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe
para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está
oculta dentro de você, é o seu ego. E se você encontrar a origem, será
fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa
problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a
origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido. Mas lembre-se, não
há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar
abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz:
'tornei-me humilde' (...). Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem
que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como
falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria -
então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele
desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe
que esse é o inferno, ele desaparece. E então você nunca diz: 'eu
abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada,
pois você era o criador de toda essa infelicidade (...). É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego
nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar. Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.
Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente
o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um
dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por
si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra
maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma
folha seca. Quando você tiver amadurecido
através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o
ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha
seca caindo (...) e então o verdadeiro centro surge. E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a
verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que
preferir." www.oshobrasil.com.br.
Abraço. Davi
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