segunda-feira, 10 de abril de 2017

RENASCIMENTO



Espiritualidade. Texto de Sri Prem Baba (1951-  ). Capítulo Quatro. RENASCIMENTO. VOLTANDO-SE PARA DENTRO. TENHO RECEBIDO muitas pessoas, de todos os tipos, em meio a uma crise existencial, estão em busca de alguma direção. Algumas delas são muito bem sucedidas. Outras conquistaram fama, poder e muito dinheiro. No que diz respeito a bens materiais e sociais, elas conquistaram tudo que um ser humano gostaria e poderia conquistar neste mundo, mas ainda assim sentem-se vazias e insatisfeitas. Recebo a todos, independentemente da história de vida, honrando a sua atitude, pois há que se ter a disposição para voltar-se para dentro, assim como houve a disposição de mover-se para fora. Estando no ponto em que nada satisfaz; ou suficientemente frustrado com o mundo (assim como Sidharta Gautama, o Budha, se frustrou com o seu palácio e toda a sua riqueza), você está próximo de uma grande mudança. Somente quando se está cansado do mundo é possível mover-se do irreal para o real, pois é preciso muita coragem e disposição para fechar os olhos e desligar-se do mundo externo. A jornada é interna. Quando digo que o real nasce da plenitude, quero dizer que isso acontece quando, de fato, encontramos esse ponto dentro de nós. Ou seja, quando o propósito da alma (interno) se manifesta. Enquanto não tocamos esse núcleo dentro de nós, tudo aquilo que produzimos é para fugir ou nos proteger. COMANDOS DO CORAÇÃO. AQUELE QUE, de alguma forma, são chacoalhados e passam a questionar o sentido da vida começam a voltar-se para dentro. Tendo sido realmente tocado pelo Mistério da vida, cuja essência é a constante transformação e a expansão da consciência, você se sente impelido a mover-se em direção a ele. É como se você ouvisse um chamado misterioso que o leva a buscar algo maior, algo que está além da realização material. Quando isso acontece, inicia-se uma longa jornada de autoconhecimento que o conduz ao reencontro com sua verdadeira identidade e, consequentemente, à revelação do seu propósito. Muitos, porém, passam pela vida sem ouvir esse chamado interno que está sempre convidando para seguir o caminho do coração. A verdade é que a maioria se encontra completamente surda, sem conseguir ouvir os comandos do coração. Está hipnotizada e anestesiada, em busca de dinheiro e de poder; muito concentrada em viver a vida que a mente condicionada acredita ser uma boa vida. E muitos daqueles que puderam ouvir o chamado não terão coragem para segui-lo. Alguns buscadores da verdade já estão no caminho, mas não têm coragem para mudar. Eles querem ter uma experiência do real, mas não tem a disposição de renunciar pequenos hábitos, não tem ânimo de abrir mão de um vício. Desejam a realização, mas além de não buscar se conhecerem têm medo da transformação necessária para que ela aconteça. Então a vida passa, e eles continuam apenas sonhando com isso. Entretanto, a realização não é possível no plano do sonho. Realização é sinônimo de acordar, significa parar de sonhar. No mais profundo, estamos falando de um trânsito do medo para a confiança. O medo nos enraíza em determinado lugar e gera um senso de segurança, mas o preço que pagamos por essa segurança é muito alto. Pagamos com a nossa alegria, com a nossa vida. Muitos não conseguirão seguir os comandos do coração, pois preferem manter essa falsa ideia de segurança. Seguir o coração envolve riscos, pois é verdade que algumas coisas estão em jogo. Isso depende da configuração que você escolheu para a sua vida. Por exemplo, se você tem uma família, algumas leis precisarão ser respeitadas. Alguns precisarão fazer o sacrifício de abrir mão de um comando interno para cumprir certos acordos feitos durante a encarnação. E nesse caso preferirão nem saber o que diz o coração. Para essas pessoas, o autoconhecimento pode ser um grande perigo. Porque ao conhecer a si mesmo você, inevitavelmente, entra em contato com as suas insatisfações e seus medos, o que gera um impulso de mudança. Mas é muito mais fácil e, aparentemente, seguro deixar tudo como está do que ter que desmontar um sistema já estruturado. É mais cômodo viver a mesma vidinha de sempre, esperando a morte chegar, do que se movimentar para algo novo. Mas o que elas não sabem é que, por trás desse comando do coração, existe um tesouro nos esperando. O autoconhecimento é o mapa do tesouro. E o pior é que muitos dos que sabem disso renunciam o tesouro, mesmo tendo uma ideia do que há dentro dele. No nível mais profundo, esse tesouro representa os presentes que temos a entregar ao mundo, é um símbolo daquilo que viemos fazer aqui, um símbolo da meta da alma. SABEDORIA DA INCERTEZA. PARA REALIZAR a meta, ou seja, o propósito da alma, é preciso estar disposto a navegar na sabedoria da incerteza, o que significa aprender a ouvir e seguir os comandos do coração, mesmo sem saber para onde ele quer leva-lo. Você age e entrega o resultado da sua ação para o Mistério, você renuncia as expectativas em relação ao desfecho das situações. Dessa forma, a vida se torna uma grande aventura, uma experiência na qual a mente condicionada, inevitavelmente, será desconstruída. Nessa aventura, não há garantias – tudo pode acontecer. Ao se permitir viver essa aventura, você se abre para o campo da potencialidade pura, um espaço onde tudo é possível. Você se permite estar nesse lugar onde tudo aquilo de que precisa se manifesta, pois entra em contato com a fonte da abundância e do poder que o habita. Aqui estou me referindo ao poder verdadeiro, aquele que nasce da plenitude do seu Ser, e não da carência do ego. Ao permitir-se confiar na sabedoria da incerteza, você acessa esse espaço no qual nós somos um com o Mistério. Esse espaço de Unidade, no qual as suas necessidades são naturalmente supridas pelo Universo. Eu sei que para muitos isso pode parecer mais um conto de fadas do que realidade, até porque estão longe de se permitir viver uma experiência como essa. Para aqueles que ainda está muito identificados com o medo da escassez, esse trânsito do medo para a confiança pode ser quase impossível, mas a única maneira de saber se é possível é tentando, é correndo o risco. Você pode escolher fazer uma transição suave. Então se programa para isso, o que pode trazer um conforto. Porque nem sempre é possível simplesmente deixar tudo para trás e seguir o comando. Se você tem compromissos e acordos a serem cumpridos, não seria sábio abandoná-los. O coração sempre o levará a agir com sabedoria e compaixão. Se você sente que precisa se mover, mas que esse movimento poderá gerar pendências, atente para a possibilidade de não ser a voz do seu coração, mas sim da mente condicionada. O coração está levando-o para a realização do seu propósito, da sua meta, do seu sonho maior. E para isso você precisa se libertar das pendências. O coração fala através das sincronicidades, dos misteriosos sinais ou das aparentes coincidências que você não consegue explicar. Mas às vezes o condicionamento mental é tão profundo que você não consegue entender os sinais. Você desprendeu a linguagem do coração e já não é capaz de compreender o que ele diz. Nesse caso, talvez seja necessário um tempo no qual você se permita não tomar nenhuma decisão, um tempo de respiro que serve para você relaxar e reaprender a linguagem dos sinais do seu coração. ARMADILHA DA DÚVIDA. VAMOS SUPOR que você tenha ouvido um comando, prestado atenção aos sinais da vida e decidido seguir por determinado caminho. Naquele momento, sentiu que todo o Universo estava a seu favor, porque tudo começou a acontecer de maneira fluida e fácil, sem esforço. Então você teve certeza de que esse era o caminho certo. Mas, no meio desse caminho, acontece algumas coisa. Um acidente ou algo que o deixa abatido. Nessa hora você se questiona: será que eu escolhi o caminho errado? Não necessariamente. É natural que, estando no caminho do coração, alguns obstáculos e desafios surjam, e isso não significa que a sua escolha tenha sido equivocada. E a prova disso é justamente o fato de, no início, todo o Universo ter conspirado a seu favor. Como disse há pouco, para realizar o propósito da sua alma, se faz necessário estar liberado, pelo menos até certo ponto, de pendências. Se o coração nos leva às vezes para a direita, às vezes para a esquerda, é porque num desses caminhos há algum aprendizado para nós. Naquele lugar existe algo para ser integrado, compreendido e curado. O coração nos guia por determinada estrada exatamente para que as purificações necessárias aconteçam e possamos estar prontos para a realização da meta maior. Mas esse processo de liberação pode ser bastante desagradável, então você se revolta, se fecha e cai na armadilha da dúvida. O que ocorre é que, para ter coragem de seguir um caminho desconhecido, você precisa juntar todas as forças disponíveis. Precisa de toda a confiança e disposição para ir além do medo. Então nesse momento, se você estiver realmente pronto, o Universo o ajuda a dar o primeiro passo, e você vive um momento luminoso, no qual tudo fluiu da forma mais perfeita possível. Até que um processo de purificação se inicia, e, novamente, você se sente inseguro, confuso e perdido. Tudo parece estar errado e você é tomado por um profundo ceticismo (dúvida). Nesse momento, você fecha até que possa amadurecer o suficiente para compreender que essa situação que causou dúvida e sofrimento faz parte da purificação. E ao chegar nessa compreensão, você sente todo o Universo a seu favor. E mais uma vez se sente abençoado e tudo flui. Com esse processo, você se aproxima um pouco mais do baú de diamantes, mas logo chega um novo desafio. Assim é a vida. O momento mais escuro da noite é aquele que antecede a chegada da luz. O momento mais frio da noite é aquele que antecede a chegado do Sol. É assim que funciona neste plano. Mas tudo isso é uma conspiração amorosa do Universo para fortalecer a sua confiança e a sua vontade. Lembro-me agora da época em que eu saia muito cedo para meditar e esperar o sol nascer. Então o frio e uma nuvem de pernilongos chegavam com força, e tudo o que eu queria era sair correndo dali. Mas eu ia insistindo, ia ficando, até que o esplendor do nascer do sol vinha para levar o frio e os pernilongos embora. Valeu a pena! RENÚNCIA OU REFÚGIO. OUTRO EXEMPLO que descreve bem os altos e baixos do percurso do caminho do coração é quando você passa por uma profunda crise existencial e com isso tem o ímpeto de se entregar para a vida espiritual. Você observa que a maneira como está vivendo não faz mais sentido  e resolve deixar tudo para ir viver num ashram – uma comunidade espiritual. Ao chegar nesse lugar dedicado ao espírito, você percebe a luz, o amor e a paz que vibram no local. Sente que encontrou seu lugar. Então começa a se dedicar às práticas espirituais, sente-se em paz, encaixado e até decide tornar-se celibatário (característica de alguém que não se casou; que se encontra solteiro; que possui uma certa idade, mas não pretende se casar). Mas, com o tempo, os desafios de relacionamento começam a surgir e você começa a ter vontade de fazer outras atividades. Isso o leva a um conflito interno. Você achou que já estava pronto para renunciar o mundo, mas ainda tem desejos, ainda tem dificuldade de se relacionar de forma construtiva. O ashram é, sobretudo, uma casa da Verdade. Isso significa que, estando num lugar como esse, em algum momento você terá que entrar em contato com ela. Caso esteja nesse lugar para fugir de alguma coisa, cedo ou tarde o motivo pelo qual está fugindo irá se manifestar de uma forma ainda mais intensa, porque nesse lugar tudo fica mais definido – o preto fica mais preto, e o branco fica mais branco. Com isso quero dizer que não importa do que esteja fugindo, você só se liberta quando pode olhar de frente. Você só se livra dos seus fantasmas internos se puder encará-los, porque quanto mais você corre, mais eles correm atrás de você. Eles começam a aparecer onde você menos espera. Onde quer que esteja, pode ser no escritório trabalhando ou no ashram rezando, você terá que lidar com esses fantasmas que te impedem de se relacionar de uma forma construtiva. Inevitavelmente, terá que superar a dificuldade que tem de sustentar a presença enquanto se relaciona. Inevitavelmente, terá que superar os seus medos. E talvez, para aprender isso, você tenha que voltar para o mundo. Não importa o que você está fazendo, mas como está fazendo. O que conta é a ação ser movida pelo coração e ser realizada com presença, com alma. E fazer com alma significa estar consciente do propósito da ação. Ao agir a partir da presença, mesmo sabendo que o seu lugar é o ashram, você entende que a sua lama o está conduzindo de volta para  o mundo a fim de resolver pendências. Se você tem a consciência do propósito da sua alma, não importa onde você esteja, qualquer lugar é um espaço ideal para a sua realização. Mas se você está na fase de afirmação do ego, ou seja, se o seu ego ainda precisa crescer e construir coisas no mundo, não se preocupe tanto com a renúncia. Trate de realizar os seus desejos e conquistar aquilo de que precisa. Vá atrás do dinheiro que acha que precisa ganhar e da fama que precisa ter. Está tudo certo! Não caia na armadilha do ego espiritual, que acredita que o correto é renunciar tudo isso. Você só pode renunciar aquilo que tem. Portanto, não se engane. Livro Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário