Cristianismo.
Texto de Geoffrey Hodson (1886-1983). Capítulo V. A CURA. O princípio
subjacente pelo qual toda cura espiritual produz seus resultados parece ser que
para haver uma saúde perfeita é essencial que haja uma perfeita relação entre o
homem natural e o espiritual. Em vários graus, de acordo com a capacidade
responsiva dos sofredores, um serviço de curas remove dos veículos de
consciência as obstruções que impedem ou deformam a perfeição daquela relação.
Depois do serviço o homem natural e o espiritual estão num estado de sintonia
tão harmonioso e perfeito quanto possível. O grau em que isto se consegue
depende em grande parte da perfeição e compreensão com que a cerimonia é
celebrada, da colocação do sofredor na escala evolutiva, de seu carma e de suas
tendências mental, emocional e física, inerentes. Em todos os casos,
entretanto, sua consciência superior é definidamente iluminada e fortalecida;
esta elevação ajuda-o a continuar mais efetivamente o processo de ajustamento
em que já esteve empenhado e a suprir as deficiências de caráter que, pelas
transgressões, possibilitam o carma. Este efeito é, em grande extensão, obtido
por uma descida do poder do mais elevado princípio, no interior do suplicante,
para a graça da cura. No indivíduo normal o poder de princípio espiritual mais
elevado, o da divina vontade do homem, muito raramente, se alguma vez, atinge a
personalidade. A razão disso é que a Consciência Crística ou o amor divino no
homem, não está suficientemente desperta a desenvolve a vida, no atual período
da evolução humana, para transmitir este poder. Nas cerimônias da igreja e
especialmente na Santa Comunhão, entretanto, Nosso Senhor, em Seu terno amor e
carinho pela humanidade, aproxima-se e unifica-se tão intimamente com seu povo,
que Ele próprio se torna o Princípio Crístico ativamente desperto nele. Por
esta “expiação” Ele lhe proporciona um contato intermediário com os mundos
espirituais mais elevados que do nascimento do infante Cristo no coração humano
e torna imediatamente possível a descida do poder e bênção dos aspectos mais
elevados e mais divinos da natureza humana, uma ocorrência que tende
grandemente a modificar o carma adverso. Em casos de santificação súbita e
completa, o carma adverso é inteiramente neutralizado. O efeito imediato destas
influências é naturalmente muito mais evidente nos níveis mais elevados de
consciência que no corpo físico. O homem espiritual recebe todo o poder do
santo ofício e a exaltação de espírito que isto produz torna-o apto a liberar
forças que modificam enormemente suas responsabilidades cármicas. Durante o
período em que está apto a manter este estado de exaltação, está adicionando
carma favorável e neutralizando o adverso, porque libera forças beneficentes e
com o decorrer do tempo se torna a corporificação das virtudes que se opõem à
transgressão e erros que dão origem ao carma. Muito depende, entretanto, da
profundeza de realização do suplicante bem como da duração de tempo durante o
qual o homem natural e espiritual está
apto a manter o estado de exaltação ao qual foi alçado por Nosso Senhor e pela
cerimônia da igreja. A fim de obter os maiores resultados possíveis, a
participação nos ofícios deve ser sempre precedida de uma preparação especial
tanto do corpo como da mente: deve ser também acompanhada de um período de
meditação até o final para que sua “Graça possa assim impregnar tão intimamente
nosso corações e possa ser manifestada continuamente em nossas vidas”. Durante
o resto do dia o adorador deverá manter viva na memória esta experiência,
diligenciando tornar permanente a expansão de consciência produzida.
Consideremos agora em detalhe o serviço de curas da Igreja Católica Liberal,
pondo em relevo os efeitos produzidos em cada parte do ritual. ORAÇÃO DA
ABERTURA: “Suplicamos-te, ó Pai Celeste, que envies teu anjo límpido refletor
do teu poder e a imagem de tua bondade. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém”. O
Confiteor, se repetido com sinceridade e coração contrito, é a submissão do
homem natural ao homem espiritual. Os interesses e motivos materiais que
normalmente tendem a dominar a vida diária são transcendidos, e o adorador
volta-se para seu Criador em profunda humildade. Como um resultado disto, duas
das maiores barreiras entre Deus e o homem – a cegueira espiritual e o orgulho
– são temporariamente abatidos. O homem natural torna-se receptivo e responsivo
às influências altamente espirituais, que estão prestes a fluir através de sua
própria natureza íntima. A ABSOLVIÇÃO: “Deus Pai, Deus Espírito Santo, vos
abençoe, preserve e santifique; o Senhor em seu Amor e Bondade vos contemple e
encha de graças; o Senhor vos absolva de todas as vossas culpas e vos conceda a
graça e o conforto do Espírito Santo. Resposta. Amém”. A absolvição traz em si
uma caudal transbordante de bênção, que liga o homem natural ao espiritual;
corrige o alinhamento dos veículos da consciência e restaura todos seus ritmos
alterados, de forma à vida divina poder palpitar livremente através deles: além
disso, tende a expulsar pensamentos e sentimentos desarmoniosos e impuros.
Durante algum tempo, a aura é pura e os corpos perfeitamente alinhados e o eu
inferior melhor iluminado pela luz do superior. O VENI CREATOR SPIRITUS (Vem
Espírito Criador): No Veni Creator, é invocada uma orça adicional e colocada
nas mãos dos anjos curadores e do sacerdote. É principalmente a do Terceiro
Aspecto, e pode ser considerado o material ou energia com que os anjos
trabalham. O EXORCISMO: “Oh! Senhor, que
deste ao homem saúde e vigor físicos para te servir! Rogamos a ti livrar teus
servidores de suas doenças tanto quanto possa ser conveniente para eles, e pelo
poder de tua bênção restitui-lhes saúde completa, tanto externamente em seus
corpos como internamente em suas almas. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém”. O povo
senta-se. Os que desejam ser ungidos são trazidos ao sacerdote um a um e
ajoelham-se sobre uma almofada. O sacerdote então diz para cada um: “No nome
que está acima de todo nome, no poder do Pai e do Filho e do Espírito Santo”,
eu exorcizo todas as influências do mal, de forma que possas ser realmente
purificado para receber este Sacramento da Santa Unção”. O SERVIÇO DA CURA. A
Resposta à prece que precede o exorcismo adiciona a força do segundo aspecto da
Santíssima Trindade àquele já presente, e estas se combinam temporariamente
para formar um reservatório de poder que os anjos preservam até o momento de
seu emprego na unção e na prece que a acompanha. A força especial pela qual o
exorcismo é realizado, desce do reino da vontade espiritual com o poder
procedente do nível da consciência Crística como uma influência associada.
Neste ponto, pela operação da lei de correspondência espiritual que une os
princípios mais elevados e menos elevados do homem, o duplo etérico do paciente
é diretamente afetado, bem como os outros dois veículos da personalidade. O
duplo etérico de uma pessoa doente inevitavelmente contém áreas congestionadas
e agregações de matéria etérica impura e mesmo venenosa, que impedem a
circulação das forças vitais. O exorcismo, se eficaz, instantaneamente reduz o
grau de congestão e tende a expulsar o material venenoso do duplo etérico,
permitindo desta forma um fluxo muito mais livre das forças vitais por todo o
corpo. Se entidades indesejáveis tais como moléstias ou outros elementos
obsedantes (importuno) estiverem presentes, serão instantaneamente exorcizados dos veículos
emocional e etérico. Isto também proporciona temporariamente ao eu mais elevado
do sofredor um contato livre e ininterrupto com seu corpo físico. Uma
oportunidade única é então propiciada ao homem espiritual para liberar suas
próprias forças curadoras e corretivas internas – agora enormemente aumentadas
e reforçadas pelo serviço – e para transformar a atitude de sua personalidade
numa outra mais intimamente harmonizada com a lei divina. Sem esta iluminação
interior e mudança da atitude para com a vida, assim produzida, nenhuma cura,
seja espiritual ou física, pode ser permanentemente eficaz. A não ser que o
sofredor tenha aprendido sua lição e dominado em grande parte a fraqueza de
caráter, haverá sempre o perigo de se repetir o mal produtor da transgressão –
o verdadeiro “curador” deve ao mesmo tempo educar e curar. O efeito final do
serviço de cura, ou de qualquer outra forma de cura espiritual, depende em
grande parte da habilidade do paciente na plena utilização do privilégio que
recebeu: se ele tiver completo sucesso, estará habilitado a estabelecer um
livre fluxo de força-vida através de todos os seus corpos e tornar permanentes
as diversas transformações temporárias que a cerimônia produziu. A UNÇÃO:
Tomando sobre seu polegar um pouco do santo óleo para doenças, o sacerdote unge
a pessoa em forma de uma cruz na testa, dizendo: “Em nome de Nosso Senhor, o
Cristo, e invocando o auxílio do Santo Arcanjo Rafael eu te unjo com óleo para
que tenhas alívio na alma e no corpo”. Na unção o Arcanjo Rafael é
definidamente atraído, e pode assistir pessoalmente ou manifestar seu poder e
sua presença através dos anjos de sua hierarquia, que estão já em função. Isto
naturalmente, aumenta a soma de poder utilizável e ajuda os anjos a aplica-lo.
Os centros de força no paciente, que estão situados onde o óleo é aplicado,
começam a girar com mais rapidez e a executar com mais perfeição sua dupla
função como poder e consciência super físicos. Isto une o eu superior ao eu
inferior ainda mais intimamente, e torna possível ao primeiro uma participação
maior no trabalho de cura. A PRECE. O sacerdote continua a ungir, da mesma
forma anterior, mas em silêncio, o centro no alto da cabeça, a frente da
garganta e a nuca. Coloca então, ambas as mãos sobre a cabeça da pessoa, com
definido intento de curar, dizendo: “Cristo, o Filho de Deus, vê a tua aflição
e cura-te de todas as tuas enfermidades. Possa a Luz do seu amor, envolver-te
para sempre”. Uma descida do poder verdadeiramente curador ocorre do nível da
consciência Crística através de todos os veículos enquanto se profere esta bela
prece, fazendo-os brilhar com a maravilhosa luz amarela, que é a característica
desse nível. Ao mesmo tempo o poder que foi recebido durante a primeira parte
do serviço é agora liberada, inundando o homem natural. Na linda sentença final
da prece, um fluído maior de poder e vida adicionais se derrama através do
oficiante. Esta influência maravilhosa impregna e amplia a aura do sofredor;
envolve-o numa atmosfera de bênção e amor o mais espiritual, tornando-o
temporariamente insensível às vibrações desarmoniosas do mundo externo. Isto o
auxilia a manter o estado de exaltação ao qual foi alçado, e a permanecer no
êxtase de comunhão e união íntimas com seu Senhor. Como previamente sugerido,
deve-se fazer um esforço definido para manter este estado de consciência e
resistir à tendência da aura de retornar à sua medida original de vibração.
Repetidas preces e meditações combinadas com auto recolhimento serão excelentes
meios auxiliares para conseguir isso. A BÊNÇÃO: O sacerdote volta-se para o
povo: Ao amor e proteção de Deus, cheios de graça, nós vos entregamos; o Senhor
vos abençoe e guarde; que o Senhor faça sua face resplandecer sobre vós e seja
cheio de graça para convosco; que o Senhor eleve a luz de seu semblante sobre
vós e vos dê sua paz, agora e para todo o sempre. Amém”. Na bênção os
adoradores são finalmente entregues à proteção do Senhor. Um adicional fluxo de
poder desce ainda sobre eles, fazendo suas auras aumentarem bastante em tamanho
e luminosidade, e alçando seus “eus” superiores a um estado de exaltação
espiritual. Como vimos, o grau em que todas estas influências afetam
efetivamente o corpo físico depende em grande parte dos próprios pacientes. Se
eles já estabeleceram contato estreito com seus eus superiores, por meio de
preces e meditação preparatórias, a personalidade receberá um poderoso e rico
fluxo dos poderes e bênçãos que então jorram abundantemente. Se não conseguiram
isto, o serviço os auxiliará nesse sentido, e a cura será proporcional à sua
receptividade àquele auxílio. O grau de extrema sinceridade com que o confiteor
(o cristão se confessar pecador) é pronunciado determina consideravelmente o
grau em que o poder curativo se torna manifesto. O valor de executar um serviço
curativo depois da celebração da Santa Eucaristia se torna aqui evidente; não
poderá haver um meio melhor de preparar sofredores para a descida do santo amor
curativo e de habilitá-los de maneira mais integral às forças empregadas na
administração do Bendito Sacramento. O efeito principal do serviço produz-se
nos veículos mais sutis e muito particularmente no corpo astral. Variam as
pessoas grandemente no grau em que conseguem esquecer de si mesmas e manter-se
receptivas ao poder curativo do Senhor. O método cerimonial de treinamento
espiritual é do máximo auxílio na obtenção do auto esquecimento que é a base da
verdadeira espiritualidade. Uma fé sublime na compaixão e sabedoria de Deus,
uma convicção absoluta de seu poder e uma completa submissão à sua vontade,
tanto da parte do curador como dos curados, serão essenciais ao êxito completo
na cura espiritual. O próprio Nosso Senhor não poderá curar se estas condições
estiverem ausentes, pois lemos que “Ele não fez ali muitas maravilhas por causa
da incredulidade deles, Mateus 13,58”. Tais qualidades são sumamente raras na
atualidade e é, portanto, natural que, em sua maior parte, o serviço de cura
parece produzir maiores resultados nos mundos invisíveis do que no visível.
Tais qualidades são sumamente raras na atualidade e é, portanto, natural que,
em sua maior parte, o serviço de cura parece produzir maiores resultados nos
mundos invisíveis do que no visível. Livro O Lado Interno do Culto na Igreja.
Abraço. Davi.
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