Espiritualidade. Querido Osho. Você nos fala para sermos conscientes em
tudo, o que significa ser um observador de todas as coisas, de todo ato. Quando
eu decido estar consciente no trabalho, eu perco a consciência, e quando eu me
torno consciente de que eu não estava consciente, eu sinto culpa. Eu sinto que
eu cometi um engano. Você poderia explicar? Texto de Osho (1931-1990).
"Esse é um dos problemas enfrentados por todo mundo que está tentando
estar consciente enquanto trabalha, porque o trabalho exige que você deve se
esquecer de si próprio completamente. Você deve estar envolvido nele tão
profundamente como se você estivesse ausente. A não ser que esse total
envolvimento esteja presente, o trabalho permanece superficial. Tudo que é
grandioso, criado pelo homem, na pintura, na poesia, na arquitetura, na
escultura, em qualquer dimensão da vida, necessita que você esteja totalmente
envolvido. E se você estiver tentando estar consciente ao mesmo tempo, seu
trabalho nunca será de primeira classe, porque você não estará nele. Assim, consciência,
enquanto se está trabalhando, necessita de um tremendo treinamento e disciplina
e a pessoa tem que começar com ações bem simples. Caminhar, por exemplo. Você
pode caminhar e pode estar consciente de que está caminhando, cada passo pode
ser cheio de consciência. Comendo. exatamente do jeito que se toma chá nos
mosteiros Zen. Eles chamam de 'cerimônia do chá' porque bebendo chá, aos
poucos, a pessoa tem que permanecer alerta e consciente. Essas são pequenas
ações, mas para começar elas são perfeitamente boas. A pessoa não deveria
começar com alguma coisa como pintura, dança, pois esses são fenômenos muito
profundos e complexos. Comece com pequenas ações da rotina diária da vida. Na
medida em que você se tornar mais e mais acostumado a estar consciente, a
consciência vai se tornar exatamente como a respiração, você não terá que fazer
qualquer esforço por ela, ela terá se tornado espontânea e, então, em qualquer
ato, em qualquer trabalho você poderá estar consciente. Mas lembre-se da
condição: isso tem que ser sem esforço, isso tem que vir espontaneamente. A
partir daí, pintando ou compondo música, ou dançando, ou mesmo lutando espada
contra um inimigo, você poderá permanecer absolutamente consciente. Mas essa
consciência não é a consciência que você está tentando alcançar. Ela não é o
começo, ela é a culminação de uma longa disciplina. Algumas vezes ela pode
acontecer sem disciplina também. Pelo menos de uma história eu me lembro (...).
Um grande espadachim, um grande guerreiro, voltou para casa e descobriu que o
seu servo estava fazendo amor com sua esposa. De acordo com o costume ele
desafiou o servo, deu a ele uma espada e chamou-o para fora da casa, para que a
situação fosse decidida: aquele que permanecesse vivo seria o marido da mulher.
O servo não sabia nem mesmo como segurar uma espada, ele era um pobre servo e
nunca tinha sido treinado em esgrima. Ele disse: ' Mestre, embora você esteja
seguindo uma convenção, e respeitando até mesmo um servo e lhe dando uma
oportunidade, isso para você é apenas um jogo. Eu nada sei a respeito de
esgrima. Pelo menos me dê alguns minutos para que eu possa ir ao maior dos
mestres, um monge Zen que vive na vizinhança, num mosteiro, para obter alguma
indicação'. O homem concordou e disse: 'Você pode ir. E se for preciso, eu
esperarei por você algumas horas ou alguns dias, ou até meses alguns meses
para que você possa aprender a disciplina’. Ele foi ao grande guerreiro, o
mestre Zen. O mestre Zen lhe disse: 'Mesmo anos de treinamento não irão
ajudá-lo. O seu patrão é exatamente o segundo, depois de mim, em todo o país.
Você não pode ter a esperança de competir com ele. Minha sugestão é que este é
o momento certo para a luta'. O servo não conseguia entender. Ele disse: 'Que
tipo de quebra-cabeças você está me dando, este momento é o momento certo?' E
ele disse: 'Sim, porque você só tem uma coisa que é certa, a sua morte. E
agora, você nada mais tem a perder, a não ser ela. O seu mestre tem muitas
coisas a perder, sua esposa, seu prestígio, sua respeitabilidade como guerreiro,
todo o seu dinheiro, pois ele é um grande senhor (...). A mente dele não pode
ser total enquanto ele estiver lutando. Mas você pode ser total. Você tem que
ser total, bastará um momento sem consciência e você estará acabado. Você terá
que estar totalmente alerta. Este é o momento certo. Não se preocupe com
qualquer disciplina. Simplesmente pegue uma espada e vá'. O servo estava de
volta em poucos minutos. Seu patrão lhe disse: 'Você aprendeu tudo?' Ele disse:
'Não há necessidade de aprender coisa alguma. Venha para fora da casa!' E a
maneira como ele gritou, 'Venha para fora da casa!' (...). O patrão não podia
acreditar que uma transformação mágica tivesse ocorrido com seu servo. Assim
que ele saiu da casa, o servo, de acordo com a convenção, curvou-se diante do
patrão, o patrão curvou-se diante do servo. No Japão, isso é parte da cultura
deles, mesmo diante do inimigo, você tem que respeitar a sua dignidade, sua
humanidade, sua divindade. E o servo começou golpeando o guerreiro, nada
sabendo a respeito de esgrima. O guerreiro estava perdido, porque onde qualquer
perito teria golpeado, o servo não iria golpear, porque ele não sabia. Ele
golpeava em algum lugar onde nenhum perito jamais iria golpear. E ele estava
lutando com tal totalidade que o guerreiro começou a recuar, e na medida em que
o guerreiro recuava, o servo ficava com mais coragem. Ele movimentava a sua
espada sem saber porque, para qual propósito, ou mesmo onde ele estava
golpeando. E uma vez que a sua morte já era tida como certa, agora não havia
mais nenhuma preocupação. Todas as preocupações pertencem à vida. Rapidamente
ele encurralou o mestre num canto. Atrás estava o muro que cercava o jardim do
mestre. Ele não podia recuar mais. Ele estava com muito medo da morte, pela
primeira vez em sua vida, e então disse, 'Espere! Você pode ficar com minha
esposa, você pode ficar com minhas propriedades. Eu estou renunciando ao mundo,
eu vou me tornar um monge'. Ele estava tremendo de medo. Mesmo ele não
conseguia entender o que havia ocorrido. De onde essa coragem surgiu? De onde
essa totalidade? De onde essa consciência? Mas isso só pode acontecer em tais
situações especiais, quando sem qualquer disciplina, simplesmente a situação
pode criar tamanha consciência em você. Sempre que eu leio essa história eu me
lembro de Adolf Hitler (1889-1945). Por cinco anos continuamente ele estava
vencendo a guerra em todas as frentes, sozinho, lutando contra o mundo inteiro.
E o motivo para ele estar vencendo a guerra era porque ele não ouvia os
generais, de maneira alguma. Lutar é uma arte, na carreira militar você passa
por um longo treinamento. Os conselheiros de Hitler não eram generais, nem
peritos na ciência militar. Seus conselheiros eram palpiteiros. Eles diziam a
ele onde atacar e onde não atacar, enquanto o outro lado estava seguindo a
ciência militar, e essa foi a razão para ele estar vencendo por cinco anos. Se
ele tivesse ouvido também aos seus generais, então não haveria qualquer
possibilidade para cinco anos de contínuas vitórias. Você ficará surpreso em
saber que no final Churchill chamou astrólogos da Índia para descobrir onde ele
iria atacar. É normal, é do senso comum que você ataque naquele ponto, onde o
inimigo está fraco, e que você evite aquele ponto, onde o inimigo está
forte, até o último momento. Mas os astrólogos nada têm a ver com exército ou
com luta, eles consultam as estrelas. Os inimigos estavam seguindo a
ciência militar e estavam se preparando nos pontos mais fracos, sabendo que
aqueles deveriam ser os pontos onde os generais de Adolf Hitler decidiriam
atacar. E Adolf Hitler atacava os pontos mais fortes dos inimigos, onde eles
estavam dormindo profundamente nem mesmo se preocupando, porque nenhum
cientista militar jamais iria sugerir atacar os pontos mais fortes. Lá, eles
não estavam preparados, eles estavam preparados nos pontos fracos.Tudo
acontecia de maneira totalmente imprevisível os inimigos estavam atordoados:
O que fazer diante disso? Ele nada sabia sobre exército, ele nada sabia sobre
ciência militar. Mas esse seu não saber foi imensamente útil por cinco anos até
que Winston Churchill decidiu, apesar de suas próprias resistências, sabendo que isso
era uma estupidez, que os astrólogos da Índia deveriam vir para Londres. E a
partir daquele dia, começou a queda da Alemanha, porque agora eram astrólogos
contra astrólogos, não seria mais uma guerra entre exércitos. Winston Churchill
(1874-1965) encontrou na Índia idiotas ainda maiores do que o estúpido Adolf Hitler. As
coisas mudaram e dentro de apenas dois meses, Adolf Hitler começou a recuar. Sempre
que eu entro em contato com a história do mestre Zen e seu servo, eu tenho
sempre que lembrar do Adolf Hitler. Ele tinha absoluta certeza na astrologia e
ele estava total em sua ação. Nem mesmo uma simples dúvida passava pela sua
cabeça, nunca. O mesmo deve ter acontecido com o servo. Quando a morte é certa,
o medo desaparece. O medo somente surge por causa da morte. Mas quando a morte
é certa e não há maneira alguma de evitá-la, qual o motivo para ficar com medo?
Ele quase se tornou um homem de total integridade. Ele nada sabia, mas derrotou
o mestre que tinha sido um homem vitorioso em muitos combates. Mas só raramente
isso pode acontecer, em condições extremas. Na vida diária, você deve seguir o
curso normal. Primeiro, torne-se consciente das ações que não necessitam de seu
envolvimento. Você pode caminhar e seguir pensando, você pode comer e seguir
pensando. Substitua o pensar pela consciência. Siga comendo, e permaneça alerta
de que você está comendo. Caminhe e substitua o pensar pela consciência. Continue
caminhando e talvez o seu caminhar fique um pouco mais vagaroso e mais
gracioso. Mas, a consciência é possível com esses pequenos atos. E na medida em
que você se torne mais e mais capaz, use as atividades mais complicadas. Um dia
chegará em que não haverá atividade no mundo na qual você não possa permanecer
alerta e ao mesmo tempo agir com totalidade. Você está dizendo, 'Quando eu
decido estar consciente no trabalho, eu perco a consciência'. Isso não tem que
ser uma decisão sua, isso tem que ser uma longa disciplina sua. E a consciência
tem que vir espontaneamente, você não pode pedir por ela, você não pode
forçá-la E quando eu me torno consciente de que eu não estava consciente, eu
sinto culpa.' Isso é uma estupidez absoluta. Quando você se torna consciente de
que não estava consciente, sinta-se feliz, pois pelo menos agora você está
consciente. Em meus ensinamentos não há lugar para o conceito de culpa. Culpa é
um dos cânceres da alma. E todas as religiões têm usado a culpa para destruir a
sua dignidade, seu orgulho, para fazer de você um simples escravo. Não há
necessidade alguma de sentir culpa, isso é natural. Consciência é uma coisa tão
grandiosa que mesmo se você puder estar consciente por poucos segundos, fique
alegre. Não dê atenção àqueles momentos em que você perde a consciência. Preste
atenção àquele estado quando você de repente se lembra, ' eu não estava
consciente'. Sinta-se afortunado pois, pelo menos depois de algumas horas, a
consciência retornou. Não faça disso um arrependimento, uma culpa, uma
tristeza, porque ao se sentir culpado e triste, no fundo você estará sentindo
um fracasso, e isso não irá ajudá-lo. Pois, uma vez que o sentimento de
fracasso se estabeleça em você, a consciência se tornará ainda mais
difícil.Mude todo o seu foco. É grandioso que você tenha se tornado consciente
de que havia esquecido de estar consciente. Agora não se esqueça pelo maior
tempo possível. De novo você esquecerá e de novo você se lembrará, mas cada
vez, o período de esquecimento se tornará menor e menor. Se você puder evitar a
culpa, que é basicamente cristã, os seus períodos de inconsciência se tornarão
ainda mais curtos, e um dia eles irão simplesmente desaparecer. A consciência
se tornará exatamente como a respiração ou a batida do coração, ou a circulação
do sangue em você, dia vem, dia vai. Assim, esteja observando, para que você
não sinta culpa. Não há motivo para sentir culpa. É imensamente significante
que as árvores não escutam aos seus padres católicos. Senão eles iriam fazer
com que as rosas se sentissem culpadas. 'Por que você tem espinho?' E a rosa
dançando no vento, na chuva, no sol, de repente se tornaria triste. A dança
desapareceria, a alegria desapareceria, a fragrância desapareceria. Agora, o
espinho se tornaria sua única realidade, uma ferida. ' Por que você tem
espinhos?' Mas porque não existem roseiras tão tolas para ouvir quaisquer
padres de quaisquer religiões, as rosas seguem dançando e com as rosas, os
espinhos também seguem dançando. Toda a existência é sem culpa. E o homem, no
momento em que ele se torna sem culpa, ele se torna parte do fluxo universal da
vida. Isso é iluminação, uma consciência sem culpa, alegrando-se com tudo o que
a vida coloca à disposição, a luz é bela, assim como é a escuridão. Para mim,
quando você não conseguir encontrar qualquer coisa para se sentir culpado a
respeito, você terá se tornado um homem religioso. Para aqueles que se auto
denominam religiosos, você só é considerado religioso se você sentir culpa.
Quanto mais culpa você sentir, mais religioso você é. As pessoas estão
torturando a si mesmas com punições, com penalidades. As pessoas fazem jejum,
as pessoas estão batendo em seus próprios peitos com os seus punhos até o
sangue começar a escorrer. Para mim, essas pessoas são psicopatas, elas não são
religiosas. Aqueles a quem eles chamam de religiosos, lhes têm ensinado que se
eles fizerem qualquer coisa errada, será melhor que punam a si próprios, do que
esperar para serem punidos por Deus no Dia do Juízo Final, porque então a
punição será atirá-los na escuridão do abismo do inferno por toda a eternidade.
Não há como escapar, não tem saída. Uma vez que você entra no inferno, você não
tem como sair.Toda a humanidade, de alguma maneira, tem se sentido culpada.
Isso tem apagado o brilho de seus olhos, isso tem tirado a beleza de sua face,
isso tem tirado a graça de seu ser. Isso tem reduzido você a um criminoso,
desnecessariamente. Lembre-se de que o homem é frágil e fraco e errar é humano.
As pessoas que inventaram o provérbio ' errar é humano' devem também ter
inventado o provérbio 'perdoar é divino'. Eu não concordo com a segunda
parte. Eu digo, errar é humano e perdoar também é humano. E perdoar a si
mesmo é uma das maiores virtudes, porque se você não puder perdoar a si mesmo,
você não poderá perdoar a ninguém mais no mundo, será impossível. Você está tão
cheio de feridas, de culpas, como você poderá perdoar o outro? Aquelas pessoas
que são chamadas de santos seguem dizendo que você será atirado ao inferno. Na
verdade eles é que estão no inferno! Eles não permitem que você seja perdoado
nem por Deus. Qualquer coisa que você fizer, se não for correto, não faça
novamente. Se você sentir que isso machuca alguém, não faça novamente. Mas não
há qualquer necessidade de se sentir culpado, não há qualquer necessidade de se
sentir arrependido, não há qualquer necessidade de se penalizar e torturar. Eu
quero mudar o seu foco completamente. Mais do que contar quantas vezes você se
esqueceu de lembrar de estar consciente, passe a contar aqueles poucos belos
momentos em que você era um cristal claro e consciente. Aqueles poucos momentos
são o suficiente para salvar você, são suficientes para curá-lo, para
cicatrizá-lo. E se você prestar atenção neles, eles irão crescer e se espalhar
em sua consciência. Devagar, devagar, toda a escuridão da inconsciência irá
desaparecer. No começo, muitas vezes, você irá concluir que talvez não seja
possível estar trabalhando e estar consciente ao mesmo tempo. Mas eu lhe digo
não apenas que isso é possível, eu lhe digo que isso é possível muito
facilmente. É só começar da maneira certa. É só não começar com XYZ. Comece com
ABC. Na vida, nós perdemos muitas coisas porque começamos errado. Tudo deve ser
iniciado a partir de seu próprio princípio. Nossas mentes são impacientes, nós
queremos fazer tudo rapidamente. Nós queremos alcançar o ponto mais alto sem
passar por todos os degraus da escada. Mas isso significa fracasso absoluto. E
uma vez que você fracasse em alguma coisa como consciência, isso não é um
fracasso pequeno, talvez você não tente nunca mais. O fracasso machuca. Assim,
qualquer coisa que seja tão valiosa quanto consciência, você deve começar
muito cuidadosamente, e desde o princípio, porque a consciência pode abrir
todas as portas dos mistérios da existência, ela pode trazer você ao verdadeiro
templo de Deus. E vá se movendo muito vagarosamente. É só ter um pouco de
paciência pois a meta a ser alcançada não está muito longe. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.
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