terça-feira, 27 de dezembro de 2016

RENÚNCIA DAS OBRAS.



Bhagavad Gita. Neste quinto capítulo do Bhagavad Gita, se expõe como o homem exterior e terreno não pode, de própria vontade e própria força, fazer qualquer coisa boa ou santa, porque todo o bem procede de Deus. Para poder-se agir sabiamente, é necessário possuir sabedoria; e quem possui sabedoria, não age por si mesmo, mas serve apenas de instrumento à Vontade Divina. “Então falou Arjuna, o príncipe de Pându, a Krishna, o Senhor Bem Aventurado, dizendo: Oh! Senhor, ora louvas a renúncia das obras, ora a prática das obras. Dize-me, de ambas qual é a superior? Fala-me claramente, para que em mim não haja mais dúvida nem confusão. O Verbo Divino: Oh! Arjuna, tanto a renúncia como a prática das obras têm grande mérito; ambos conduzem ao alvo supremo. Entretanto, é preferível a prática das obras à sua renúncia; a reta ação é muito melhor do que a inação. Para não caíres em confusão, discerne bem o uso destes termos. Só se abstém verdadeiramente, aquele que não odeia a ação, nem por ela se apaixona; assim é que ele pratica a renunciação, nada odiando e nada desejando. Quem está acima dos contrastes e conserva-se calmo e contente, sempre pronto a cumprir a sua tarefa e, contudo, sem apegar-se à obra, facilmente se liberta dos vínculos da ilusão. Os inexperientes  que principiam a estudar a Verdade, costumam designar o conhecimento e as obras, ou a abstenção da ação e a prática da reta ação como duas coisas diferentes; mas os sábios as reconhecem como uma coisa só. Pois quem tem o conhecimento, há de ter também as obras, e quem tem as obras, terá igualmente o conhecimento. Ambos estes caminhos conduzem ao mesmo fim, e os que seguem um deles, chegam ao mesmo ponto que os que vão pelo outro. Quem tem a reta percepção, vê que o conhecimento e a atividade, ou, por outras palavras, a renúncia e a prática são uma coisa só, em sua essência. Abster-se e renunciar é muito difícil para quem não tem experiência das ações; abençoado, porém, é aquele que sabe harmonizar os dois caminhos; o seu espírito dirige-se ao Eterno e une-se com Deus, entrando na Paz do Nirvana. Quem é firme na prática da Reta Ação e, ao mesmo tempo, domina a si mesmo, subjugando à Vontade Divina os seus sentidos e desejos, sente-se uno com tudo o que existe e não é influenciado pelas obras que pratica. Ele conhece a Vida Universal e o que dela procede, e sabe que não é ele, como espírito, quem age, mas é a sua natureza que vê, cheira, sente, come, caminha e respira. Em verdade, pode ele dizer: Os sentidos fazem a sua parte no mundo sensual, deixemo-lo agir, eu não sou vinculado nem iludido por eles, porque sei qual é o seu fim. Quem encara suas ações como obra dos sentidos, e as executa sem apego, não é maculado pelo egoísmo, tal qual a flor de lótus, que não é poluída pelas águas que a rodeiam. O iogue, tendo-se libertado de todo o apego, executa as ações do corpo, da mente e do intelecto, até dos sentidos, sempre com o fim de purificar a mente, sem qualquer motivo egoísta. Vivendo em harmonia com a Natureza, tendo abandonado o desejo e a esperança de recompensa pelas ações, alcança a Paz. Ao contrário, o homem que não vive em tal harmonia e que nutre desejos de recompensa por suas ações, é turbado, inquieto e descontente. A alma do sábio que, no fundo de sua vontade, renunciou a toda ação e inação própria, e não procura recompensa, habita o corpo, que é o Templo do Espírito (1), conserva-se quieta em paz, sem desejo de agir ou sem causar ação, e, entretanto, está sempre pronta a executar a sua parte da ação, quando o dever o chama. Porque o sábio sabe que ainda que o seu corpo, essa cidade com as nove portas, se ocupe de ações, o Eu Real permanece imperturbado. (1). I Coríntios 6:19,20 “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmo? Porque fostes comprado por bom preço, glorificai, pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”. O Senhor do Mundo, o Eu Real, não engendra nem a atividade, nem as ações, nem as relações entre a causa e o efeito. Em tudo isto age apenas a natureza dos seres. O Senhor do Mundo não interfere nem nos pecados nem nas boas ações de ninguém. A luz da sabedoria, está obscurecida pela fumaça da ignorância, e o homem ilude-se com isso e pensa que a fumaça é a chama, não podendo enxergar esta detrás daquela. Mas aqueles que são capazes de transpor a fumaça, percebem a clara luz do Espírito que brilha, como uma infinidade de sóis, livre e sem o véu da fumaça que a esconde às vistas da maior parte dos homens. Meditando sobre o Altíssimo, que é o Eu Real, unindo-se a file, conhecendo-o e amando-o, passa o sábio aos estados superiores, aos planos mais altos, dos quais não volta mais para os degraus inferiores da existência. O conhecimento da Verdade consumiu todos os seus pecado, os erros.  E o elo entra no reino da Bem aventurança. A sua vista, sondo livro da fumaça do erro e da ilusão, reconhecendo um Ser em tudo; igual sentimento e respeito tem ele para os homens eruditos, reverendos, nobres e iluminados; com para os pobres, ignorantes e desprezados. E até para as vacas, os elefantes e os cães. Porque, tendo vencido as ilusões, vê que as personalidades de todas as formas de vida são irreais, comparadas com o Eu Real, de maneira que, contempladas do alto, desaparecem até as maiores distinções mundanas. Os que conservam a equanimidade (imparcialidade, modo de julgar neutro), já neste mundo se unem com Brahma, o Deus Criador, porque Ele é imutável e eternamente o mesmo. Não te deixes arrebatar, quando te acontece algo desagradável, nem percas o ânimo, quando tens má sorte. Levanta o teu pensamento â claridade limpa da esfera divina, imerge-te em Deus e Nele vive. Em delícias eternas vive a alma que em si mesma encontra a fonte da felicidade, sendo unida com Deus e desapegada dos objetos do mundo exterior. Os prazeres nascidos do contato dos sentidos externos, e a que chamam satisfação, são fontes de sofrimentos, porque têm princípio e fim. O sábio não procura neles a sua felicidade. Feliz é aquele que, nesta terra, ainda antes de deixar o corpo, pode resistir aos impulsos do desejo e da ira. Quem em si mesmo encontra o céu, quem em si mesmo encontra a luz da iluminação, é um iogue, um arhant, um santo; a sua vida conflui com a vida de Brahma, e são lhe abertas as portas do Nirvana. Assim os Rishis (2), tendo-se libertado dos pecados, tendo vencido toda ideia de dualismo e separação; e vendo que toda a vida é uma, que toda ela emana de Um, e sentindo que o bem estar de todos é o bem estar de cada um, unificaram-se com o Todo e entraram no Nirvana (3). (2). Sábios. Santos e “videntes”. (3). Estado de verdadeira paz no qual o praticante alcança a cessação  do sofrimento e da insatisfação, e o fim dos renascimentos no Samsara, que é a existência cíclica. Assim todos os homens que seguem o seu exemplo, vivendo em humildade e na luz da fé, controlando as ações e dominando o eu inferior, aproximam-se da Paz Divina. O verdadeiro iogue, deixando os objetos exteriores influenciar só o seu exterior e não a sua alma, abre as vistas interiores à Luz Eterna e une o sua respiração com a interior, em ritmo de harmonia. Todos os seus sentidos obedecem à vontade  Espiritual, todo o seu pensar tem as raízes em Deus; nada para si deseja, nada receia; a ele não tem acesso nem ódio nem ira; a sua salvação está realizada. Ele Me conhece como Sou, sabe que Me agrada o domínio de si mesmo, reconhece-Me como Senhor do Universo, e amante de todas as almas, e une-se comigo. Pois Eu Sou o amparo de todos os que em Mim se refugiam. Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Tradução Francisco Valdomiro Lorenzo. Abraço. Davi.

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