Texto da
psicóloga jungiana Juliana Pereira dos Santos. A mística da gravides. O natal
como símbolo do renascimento da nossa criança interior. Em tempos de atitudes
polarizadas a necessidade de transformação e renovação se faz presente. Algumas
datas específicas são um convite para que algumas reflexões e mudanças possam
ser feitas. O natal é uma delas. Segundo a tradição cristã, o natal marca o
nascimento de Jesus, o filho de Deus. Independente de ser ou não cristão, a
encarnação do Verbo simboliza psicologicamente para toda a humanidade a síntese
dos símbolos fundamentais do universo: o céu e a terra, que une divino e
humano. O Cristo, por sua totalidade pode ser considerado o arquétipo do Si
mesmo, o centro regulador da psique. Aquele que vem para promover a mudança,
restabelecer o equilíbrio e oferecer um novo padrão de consciência, mais
adequado às necessidades de amor e preservação. A estrela que guiou os reis
magos até o menino, certamente é o símbolo do espírito, farol projetado na
noite do inconsciente (Chevalier, 2009). Assim, não seria o natal tempo
oportuno para seguirmos a estrela rumo ao nosso interior? Mais do que nos
preocuparmos com os presentes ou nos deixarmos seduzir pelas brilhantes
estratégias comerciais que querem a todo custo lucrar e lucrar, poderíamos
aproveitar deste momento para, assim como os reis magos, levarmos presentes à
nossa criança interior. A nossa criança é o lugar da origem onde tudo já
existe. Olhar para ela é como voltar onde tudo começou, não no sentido de
regressão, mas para se encontrar com a verdade esquecida ou negligenciada por
conta de nossos tropeços e falta de consciência. Assim como Maria, é como se
estivéssemos todos grávidos, no sentido místico, gerando a criança que nos
trará coisas novas. “Eis que faço nova todas as coisas”. Apocalipse 21:6. O
local singelo onde ocorreu o nascimento simboliza que precisamos resgatar em
nós aqueles aspectos mais simples e para os quais, muitas vezes, não damos o
valor devido. Alguns estudos sobre Jesus dizem que ele nasceu numa gruta. Ela
simboliza um útero materno. Portanto é o lugar da iniciação. Nas tradições do
extremo oriente, a caverna é o símbolo do mundo, a imagem do centro do coração.
Simbolicamente, o coração é onde homens e mulheres podem gerar todas as coisas
(Chevalier 2009). Há temo para nascer e tempo para morrer. Esta é a proposta do
natal. Celebramos com nossos familiares o que pudemos viver, e desejamos um ano
novo cheio de sonhos e expectativas. Apesar de em nosso calendário celebramos o
dia 25 de dezembro, todos os dias pode ser natal dentro de nós. http://www.psiqueemequilibrio.com.br. Redator do Mosaico.
Nesse texto da Juliana, a meu ver, podemos refletir numa perspectiva humanista
dentro da subjetividade (algo trabalhado pelo ser individualmente envolvendo
sua sensação, emoção e percepção) espiritual, que sinto devemos
singularizar em nossa experiência. A objetividade (o lado do ser marcado pela
teleologia, finalidade como o principal fator de motivação existencial. Os
ganhos e perdas se misturam num emaranhado do cientificismo e tecnicismo duma
praticidade estressante e entediante) que vivenciamos representando nossa
fascinação no entendimento embotado. Onde a compreensão é obstaculizada
pelo que enxergamos do todo, e ficamos com o fracionamento, um quebra cabeça
que geralmente não conseguimos montar. Abordagem diferente costuma abrir nossos
olhos para outros panoramas, quebrando nossos paradigmas, tornando-nos
maleáveis e em sintonia com o Universo. Não fugimos do princípio da natividade
(o nascimento virginal do Cristo) e ganhamos contextualizando o tema para um
humanismo contemporâneo. Geralmente tendemos a pensar o natal de fora pra
dentro nos preocupando em oferecer algo (presentes) aos nossos queridos
familiares e amigos. Além da tradicional festa, com jantar e mesa farta regada a bebidas e outras guloseimas. Completamente fugindo do conceito original, que espiritual, deveria levar-nos a reflexão do nascimento de Jesus, sua condição humilde e vida de privação e sofrimento. Sua entrega a missão divina e seu propósito cumprido à nos resgatar da mundanidade passageira. Isso faz com que percamos de vista o verdadeiro sentido
dessa data, que é apresentar ao nosso consciente o caminho da mudança interior,
valorizando pela meditação a busca pelo divino e conhecendo maneiras seguras e
firmes de produzir nosso desenvolvimento espiritual. Grifarei alguns pontos que
a psicóloga compartilhou em sua dissertação. As atitudes polarizadas mencionada
é uma realidade que enfrentamos. O eu e o objeto se contrapõem numa dualidade
que encerra um materialismo de forte egocentrismo narcisista. Expressamos
emoções e sensações distorcidas, pois estão embasadas em apegos e futilidades
mundanas. O nascimento de Jesus como a síntese dos símbolos denota o
arquétipo universal em todas as tradições espirituais da união do divino
com o humano. A divindade sem forma se humanizou em forma precária e temporária
dando-nos a lição de que todos os seres existentes possuem a partícula do Logos
Eterno indivisível e indestrutível em sua substância. O Cristo é o princípio do
Si mesmo, aquele capaz de trazer a harmonia e equilíbrio ao nosso ser tão
envolto em turbulências e inquietação. Efésios 5:18 “(...) enchei-vos do
Espírito”. Essa é a medida recomendada à que saiamos da condição de desarmonia
interior e assumamos uma rotação condizente com o eixo no qual devemos está
fixados. Mas na experiência diária não é fácil desenvolvermos esse processo em
nossa convivência. Ora estamos abaixo do nível permitido ora estamos acima
dele. Penso ser recorrente a simbologia da estrela com o espírito. Ao olharmos
os astros no céu temos a impressão que estão bem perto, não estando
imensuravelmente distantes. Ao continuar olhando o espaço sideral, em nosso
inconsciente, não diferenciamos perceptivelmente o tempo do espaço. As vezes tendemos a um passado infinito ou um presente infinito, como se fossem a mesma coisa, estando no mesmo plano. Engano grosseiro pois "na relatividade geral postulada por Einstein, tempo e espaço não existem independentemente do Universo ou um do outro. Eles são definidos por medições dentro do Universo, como o número de vibrações de um cristal de quartzo em um relógio ou o comprimento de uma régua. É totalmente concebível que o tempo, dentro do Universo, deva ter um valor mínimo ou máximo, em outras palavras, um início ou um fim. Não faria sentido perguntar o que aconteceu antes do início ou o que acontecerá após o fim, porque tais tempos não seriam definidos". Assim é o espírito que na sua
infinitude acoplou-se na finitude humana, sendo um guia em nossos momentos de
escuridão. Levar presentes a nossa criança interior passa pela valorização do
ser “in natura”, seu estado puro como substancia desarraigada da forma e
característica mundana impregnada da sócio cultura moderna. Esse conceito de
limpeza espiritual é trabalhado quando assumimos uma postura de desapego a
dogmas, crenças e superstições. Chamando para nós a responsabilidade pelo
crescimento rumo a uma experiência mística com o Espírito crístico em nossa
alma. A criança é a origem onde tudo já existe. Esse conceito é da filosofia
orienta, onde é mostrado que em nosso ser interior temos as resposta para todos
os questionamento, e caminhos para nos desvencilharmos das coisas que
trazem apegos: desejo, vontade e prazer acima do padrão saudável da vida. Como
se estivéssemos todos grávidos, aqui podemos fazer um paralelo com o que a
Juliana falou, introduzindo a passagem bíblica de Gálatas 4:19 “Meus filhinhos
por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja gerado em vós”.
Essa criança precisa ser formada em nosso interior em cada experiência humana e
espiritual, simbolizando nossa mudança e transformação até a plenitude de
Cristo. Inferimos que o verdadeiro proselitismo (discipulado) deve ser
realizado conosco mesmo; devemos formar Cristo em nós que é a esperança
da glória é não necessariamente nos outros, pois todos os seres humanos tem
Cristo como princípio, bastando ter consciência disso para aprender a gera-lo,
transparecendo essa glória a outros. Nossa espirituosidade baseada em supostas
verdades e conceitos exclusivistas fecham nossa mente e coração para aqueles
que pensam e praticam conceitos diferentes dos nossos. Isso bloqueou nossa
comunicação e sintonia em relação aos desiguais em termos de espiritualidade.
Perdemos o rico acervo místico depositado em outras culturas e religiosidades.
O resgate dos aspectos simples dito pela psicóloga começam, imagino, a partir
do momento que conciliamos nossas diferenças com as divergências de noções e
pressupostos contrários aos nossos. Esse conceito é um arquétipo da visita dos
três reis magos ao menino Jesus, onde os astrólogos Melchior, Gaspar e Baltazar
como símbolos do consciente coletivo representam as principais religiões
monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo. Todas de comum acordo em
sintonia, se respeitando e proclamando a divindade suprema, em sua
característica e peculiaridade própria com nomes diferentes como Jesus (Cristo), Maome (Mohammad) ou Messias (Masiach). Entretanto tendo o mesmo Espírito de Luz e revelação para o
mundo. Esse trabalho de interação e
prolongamento da “verdade”, visto na revelação de outras culturas pressupõe tempo, mas devemos ter isso em mente. Esta aproximação leva-nos a praticar
a fraternidade, coerência e harmonia com os desiguais. Certos de que Cristo,
Budha, Aláh e o Messias nascem diariamente em nossos corações nos trazendo
felicidade e compaixão para com todos os seres humanos e não humanos. Feliz Natal a todos os amigos do Mosaico. Abraço. Davi.
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