Judaísmo.
IMORTALIDADE E A ALMA. O homem é uma combinação de dois elementos diversos:
corpo e alma. A alma é a verdadeira razão de nossa existência. É esta centelha
Divina que se constitui na essência de nossa vida interior. Apesar de ser o
homem composto de matéria e espírito, seu corpo é somente o invólucro material
dessa faísca Divina. Além disso, é a alma que reflete diretamente nossa relação
com D'us, pois, como está escrito, "a chama de D'us é a alma do
homem" (Provérbios, 20:27). Podemos comparar a alma à chama de uma vela.
Quando acesa, sobe, percorre o ar, mas o pavio a puxa de volta à terra. Da
mesma forma, enquanto a alma está em constante movimento ascendente, em direção
a D'us, o corpo, com suas exigências físicas, a retém neste plano físico. Uma
pessoa íntegra e saudável é aquela em quem alma e corpo convivem unidos, em
perfeita sintonia; é aquela que consegue atingir uma harmonia entre o seu lado
material e o espiritual, alguém que consegue levar uma vida espiritualmente
significativa e, ao mesmo tempo, produtiva.TIPOS DE ALMA. O homem tem dois tipos de alma: a
"alma animal" (NEFESH HABEHAMIT), faísca de D'us contida no sangue, a
dizer, nos processos da vida químico-fisiológica, é responsável pelos
sentimentos e pela inteligência natural do ser humano. Está escrito na Toráh:
"A força vital da carne está no sangue" (Levítico, 17:11). Como está
"alma animal", para atender suas necessidades materiais, afasta o
homem do plano espiritual, é chamada no Talmud, de "má inclinação"
(Yetzer HaRá). Este tipo de alma não existe somente no homem, mas em todas as
criaturas vivas. Transmitida através do material genético no momento da
concepção, expande-se constantemente à medida que a criatura amadurece.
Consequentemente, a inteligência das diversas espécies animais varia muito de
uma espécie a outra. O intelecto do ser humano é muito diferente do intelecto
dos animais, e sua "alma animal" é responsável por atributos e
faculdades distintos como: imaginação, memória, inteligência e vontade. Além
desse "eu" material, o homem possui também uma alma que é única entre
todas as criações Divinas. Ao descrever a criação de Adão, diz a Toráh:
"D'us formou o homem da poeira da terra, e depois soprou em suas narinas a
alma da vida – Nishmat Chaim". O homem, então, tornou-se uma criatura viva
– NEFESH CHAYÁ (Gênese 2:7). A Toráh está nos indicando que a alma humana veio
diretamente da Essência mais íntima de D'us. O restante da Criação, por sua
vez, foi criado por D'us através da Palavra Divina, que é de um nível inferior,
pois assim como as ondas sonoras são geradas por uma pessoa mas não constituem
a própria pessoa, da mesma forma o restante da Criação emana do Poder de D'us,
mas não de Sua Essência. Este segundo tipo, a "alma divina", é uma
entidade espiritual muito diferente e mais elevada que a alma
"animal". É a "divina" que dirige a "animal” – nosso
lado material – e é através dela que a alma, como um todo, cumpre suas funções
e sua missão na terra. Em cada momento da vida do homem neste mundo físico,
interagem o lado espiritual e material, um influenciando o outro. O contato e a
atração mútua entre o corpo e a alma criam uma contingência, uma situação
única, gerando a pessoa humana, que não é nem só corpo nem só alma, mas uma
fusão dos dois. A "alma divina" é frequentemente denominada
"entidade singular" por ser única em sua missão. Pois, apesar de
todos os laços que unem cada alma individual à sua Fonte Superior, cada uma
dessas é única e especial em sua essência, em sua capacidade e naquilo que
delas se exige. Não há duas almas que coincidam quanto aos atos, funções e
caminhos que percorrem. OS CINCO
NÍVEIS DA ALMA. A alma não é algo concreto; está além daquilo que o intelecto consegue
compreender por si próprio. A Cabalá explica que o que comumente chamamos da
"alma" de um homem consiste, de fato, de várias "almas".
Não é um ponto único no espaço e deve ser entendida não como uma única
"existência" que tem uma qualidade ou caráter, mas como muitas
"existências", de vários níveis espirituais. Podemos dizer que, na
realidade, em cada homem há um determinado número de níveis de almas, unidas
como os elos de uma corrente que se estende do corpo da pessoa até a Fonte de
todas as almas. A ligação entre corpo e alma pode ser comparada com o que
acontece na extremidade de um raio de luz, ao iluminar um corpo escuro. O
"eu" que surge da relação entre o corpo e a alma não é algo constante
de uma essência especifica, é diferente em cada estágio da vida de um homem.
Por exemplo, no início de nossa existência, o "eu" concentra-se quase
que totalmente no corpo e em suas necessidades. Com o amadurecimento, a pessoa
se torna cada vez mais consciente da essência mais elevada de sua alma. Segundo
a Cabalá, o que chamamos de alma humana é composto por cinco partes: 1) NEFESH
– “alma animal", é a alma humana em seu nível mais primário. Anima a
existência dando-lhe força de vida, de movimento e propagação das espécies,
também capacitando o homem a pensar, divagar e sonhar. A palavra deriva da raiz
NAFASH, que significa repouso, como no verso, "No sétimo dia, (D'us)
cessou o trabalho e descansou (Nafash)" (Êxodo 31:17). 2) RUACH –
que significa vento, é o Espírito, a "alma divina". 3) NESHAMÁ
– literalmente "sopro", é a Respiração, a "alma superior",
mais pura ainda. 4) CHAYÁ – a Essência vivente. 5) YECHIDÁ –
a Essência única, pode ser considerada o ponto de contato entre a alma e a
própria essência do Divino. Esta alma só se manifesta ao término do YOM KIPUR,
durante a Neilá. Essas almas mais elevadas referem-se à verdadeira essência
humana e sua associação com D'us, Raiz Suprema, e com os mundos espirituais.
Este conceito inclui também a alma adicional, que chega no início do SHABAT e
se vai, ao seu término. Nossos sábios ensinam que o ato de D'us, ao insuflar a
alma em um corpo, pode ser comparado ao do artesão que sopra o vidro para dar
forma a um recipiente. A alma, NESHAMÁ, deixa os lábios d'Ele, viaja como o
vento, RUACH, até finalmente descansar, NEFESH. Dos três níveis, a NESHAMÁ é o
mais elevado e, portanto, mais próximo a D'us. Enquanto NEFESH é aquele aspecto
da alma que reside no corpo, RUACH fica entre os dois, vinculando o homem à sua
Fonte Espiritual. É por essa razão que a Inspiração Divina é chamada RUACH HAKODESH,
em hebraico. A NESHAMÁ é movida apenas pelo pensamento; RUACH pela fala e NEFESH
pela ação. A
IMORTALIDADE DA ALMA. Um dos fundamentos do judaísmo é a crença na imortalidade da alma, na
vida após a morte. Se acreditamos na Justiça Divina, consequentemente
acreditamos também na imortalidade da alma. De que outra forma poder-se-ia
conciliar o fato de tantas pessoas justas sofrerem nesta vida? Da mesma forma
que, antes de seu nascimento, uma criança já possui muitas qualidades que não
lhe são úteis no ventre materno, mas indicam que nascerá em um mundo onde virão
a ser utilizadas, o ser humano possui muitas qualidades que lhe são de pouca
valia durante esta vida. Isto indica que após sua morte física, o homem
renascerá em uma dimensão superior. Detalhes da imortalidade não são
mencionados na Toráh, já que a Revelação trata apenas do mundo atual. No
entanto, quando o profeta Isaías fala sobre o Mundo Vindouro, diz: "Porque
em tempo algum se ouviu, jamais os ouvidos se aperceberam nem os olhos viram outro
D'us além de Ti, que realizas em favor daqueles que em Ti acreditam"
(Isaías 64:3). Isto significa que nem mesmo aos maiores profetas foi dada
permissão de antever a recompensa dos justos. A PARTIDA DA ALMA. Ensinam nossos sábios que todas as
almas foram criadas no início dos tempos e estão armazenadas como parte do
"tesouro celestial" até o momento de um nascimento. A alma é
vinculada ao corpo desde o momento da concepção e nele permanece até o final da
vida física desse corpo. Por isso, em hebraico, fala-se da morte como a
"partida da alma" (Yetziat haNeshamá). Nesse momento, após ter
completado sua jornada terrena, a alma procura retornar à sua Fonte. No
judaísmo o corpo do homem não é meramente um objeto, mas parte da própria
pessoa. Por isso, temos a obrigação de enterrar e honrar o corpo, mesmo após a
alma o ter deixado. Nossos sábios ensinam que imediatamente após a morte, a
alma encontra-se em um estado de grande confusão. Daí o costume de se
permanecer ao lado de uma pessoa em seus últimos momentos: para que não esteja
sozinha ao enfrentar a derradeira partida. A Cabalá ensina que nesse momento de
desligamento, a alma está totalmente ciente das limitações físicas de seu
corpo. Isto ocorre mais intensamente antes do enterro. A alma, então,
literalmente vela por aquele corpo que era "seu", durante sete dias.
Isto foi dito por Jó, no verso (...)" E só por ele sofre sua alma"
(14: 22). O julgamento da alma - de fato a avaliação espiritual de sua atuação
durante a vida na esfera terrena - ocorre durante o primeiro ano após a
"partida". É este o motivo pelo qual os homens recitam o Kadish no
primeiro ano após a morte do pai ou mãe. Pela mesma razão, quando é mencionado
o nome dessa pessoa, durante o primeiro ano do luto, deve-se dizer: "Que
eu possa servir de expiação por seu descanso final" (Hareni Kaparat
Mishkavó-á). O julgamento principal após a morte ocorre em Gehinam, esfera
onde, para poder receber a recompensa eterna, a alma é "branqueada" e
purificada em "fogo espiritual". Sabemos que a ideia de inferno
eterno não é um conceito judaico, mas cristão. Somente as almas dos tzadikim,
os justos, têm condições de ascender rapidamente pela dimensão espiritual e
atingir níveis espirituais elevados. Neste tocante foi dito ao profeta:
"Se andares nos Meus caminhos e observares os Meus preceitos, também tu
julgarás (...) e Te darei livre acesso entre os anjos que aqui se
encontram" (Zacarias 3:7). Com isto, D'us fazia ver ao profeta a visão dos
anjos como estacionários e dizia que ele poderia mover-se entre eles. Isto está
mencionado também no verso, "E o pó retorne à terra, de onde veio, e o
espírito retorne a D'us, que o concedeu" (Eclesiastes12: 7). Ademais,
enquanto os anjos estão limitados a seu próprio nível, os homens, através de
seus atos, podem "mover-se" e ascender espiritualmente. Algumas
autoridades religiosas afirmam que aquilo que os Sábios chamam de Olam HaBá, ou
Mundo Vindouro, refere-se à dimensão espiritual à qual a alma ascende após deixar
o corpo. A maioria entretanto considera Olam HaBá, um estágio novo e completo
da vida terrena, ao qual o homem será conduzido somente após a Era Messiânica e
a Ressurreição dos Mortos. Todas as almas dos falecidos passam, após a morte,
para uma dimensão intermediária chamada Olam HaNeshamot, "Mundo das
Almas". É lá que são julgados e permanecem até a Ressurreição e o Juízo
Final. A
REENCARNAÇÃO: RETIFICANDO OS ERROS. Quando uma alma deixa seu corpo,
adentra esse Mundo das Almas, onde permanece, em estado de repouso. Durante
esse período, experimenta um sublime deleite. Seu nível, no Mundo das Almas,
também é determinado por suas realizações, da mesma forma como o será em sua
recompensa final. No entanto, a verdadeira perfeição destinada aos que desta são
dignos, não é atingida somente pelo corpo ou pela alma, mas por ambas as
partes, em conjunto, após a Ressurreição. Uma mesma alma humana pode ser
reencarnada várias vezes, em corpos diferentes, tendo dessa maneira
oportunidade de retificar danos feitos em encarnações anteriores ou de atingir
a perfeição não alcançada previamente. Em sua origem, a alma é parte da
Essência Divina, sendo totalmente pura. Mas, em sua vida terrestre, pode
desviar-se. Será, pois, necessário voltar para retificar os erros ou para
tentar ascender a níveis espirituais mais elevados. Ao cabo de todas essas
encarnações, a alma é, finalmente, julgada. E esse julgamento depende de tudo o
que aconteceu em suas várias encarnações, ou seja, de sua condição como ser
vivente em cada uma destas. É extremamente rígido o julgamento Divino de cada
indivíduo. Abrange todos os aspectos de sua natureza e de sua exata situação.
Porém, no Mundo Vindouro, o do Bem verdadeiro, cada indivíduo terá que arcar
apenas com a responsabilidade por sua missão e ação neste mundo - e não pelo
que não resulte de seus próprios atos. Contudo, o ponto crucial é o fato que
tudo ser verdadeiro e justo, como afirma a Torá (Deuteronômio 32: 7): "A
obra do Criador é perfeita, todos os Seus caminhos são justiça". Nada que foi
criado pode englobar os pensamentos de D'us, nem a infinita profundidade do Seu
plano. Sabemos apenas que o princípio da reencarnação, como uma das
experiências humanas, também segue a regra do julgamento imparcial, determinado
por D'us, para aperfeiçoar a humanidade como um todo. O princípio da
reencarnação é o da continuidade, de maneira que uma obra não seja aniquilada
pelo desaparecimento de um "ser". A reencarnação pode ser explicada
por uma bela analogia de Rabi Moshé Cordovero (1522-1570): é como a chama de
uma vela, que pode acender muitas outras sem que sua própria flama se veja
diminuída (...). www.morasha.com.br.
Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário