De
acordo com o Niddesa, um dos livros da seção Khuddaka Nikāya do
cânone pali, hindu, o Budha Śākyamuni teve 500 vidas passadas antes de atingir
o despertar. O monge peregrino chinês Fa Hsien (337-422), ao visitar o Sri
Lanka no início do século V, também encontrou representações artísticas de 500
renascimentos do futuro Budha. Já o Saketa Jātaka afirma que o Budha
teve 1.500 vidas passadas. As histórias sobre estas vidas são registradas em
contos chamados Jātaka. Para atingir o despertar, o Buddha levou 300.000
mahākalpas, ou grandes eras (mahākappa), mesclados com 20 asaṃkhyeyakalpas,
ou períodos de tempo incalculável (asaṅkheyyakappa). Cada grande era é
subdividida em quatro eras, dissolução do mundo (saṃvattakappa), continuação
do caos (saṃvattatthāyikappa), formação do mundo (vivattakappa) e continuação
do mundo formado (vivatatthāyikappa). Para nos situarmos, segundo as
escrituras sagradas budista e hindu, 1 mahakalpa corresponde a 311 trilhões e
40 bilhões de anos. Cada uma destas eras é subdividida em 20 ou 64 períodos
chamados antokappas. Atualmente, estamos em uma era de continuação do mundo
formado. Há mais de 300.000 mahākalpas e 20 asaṃkhyeyakalpas atrás, o
futuro Buddha Śākyamuni era um homem pobre que salvou sua mãe viúva de um
naufrágio. Sua mãe fez a aspiração de que ele pudesse salvar os outros seres do
sofrimento. Ele pensou nisso e se tornou um bodhisattva, ou ser do
despertar (bodhisatta), alguém que cultiva as perfeições que
conduzem ao estado iluminado de um Budha. I. A era da aspiração mental. Há
300.000 mahākalpas e 20 asaṃkhyeyakalpas atrás, o futuro Buddha Śākyamuni era
conhecido como o rei Atideva. Na presença do Budha Brāhmadeva, ele fez
mentalmente a aspiração de atingir o despertar, isto é, em pensamento, declarou
o seu compromisso (abhinihara karana, mulanidhana) de
atingir o estado de Buddha. O rei ofereceu jasmins a Brāhmadeva e construiu um
monastério para ele e seus monges. Começou então a era da aspiração mental
(mano panidhāna kāla), que durou 100.000 mahākalpas mesclados com 7 asaṃkhyeyakalpas.
Depois do Buddha Brāhmadeva, em todas as suas vidas, o bodhisattva acumulou
méritos e fez mentalmente a aspiração de atingir o despertar, na presença de
cada um dos 125.000 Budhas daquele período. Em seguida houve um período de
muitos mahakalpas em que nenhum Budha apareceu. O bodhisattva nasceu como um
humano, atingiu um profundo nível de absorção meditativa (dhyana), renascendo
nos reinos divinos. Depois disso, em todas as vidas seguintes, o bodhisattva
proferiu verbalmente a sua aspiração de atingir o despertar, diante de todos os
38.700 Buddhas daquele período. II. A era da aspiração verbal. Há 200.000
mahākalpas e 13 asaṃkhyeyakalpas atrás, o bodhisattva era conhecido como o
príncipe Sagāra. Na presença do Buddha Purāṇagautama, ele fez verbalmente a
aspiração de atingir o despertar com o nome de Gautama, prestou homenagem a
Purāṇagautama e construiu um monastério para ele. Começou então a era da
aspiração verbal (vaci-panidhana-kāla), que durou 100.000 mahākalpas
mesclados com 9 asaṃkhyeyakalpas. III. A era da aspiração corporal. Há 100.000
mahākalpas e 4 asaṃkhyeyakalpas atrás, o bodhisattva era conhecido como o
asceta Sumedha, e na presença do Buddha Dīpaṃkara recebeu a profecia definitiva
de seu despertar. Dīpaṃkara ofereceu a Sumedha oito punhados de flores de
jasmim, representando o nobre caminho óctuplo (āryāṣṭaṅgamārga).
Então ele anunciou a profecia (vyakarana) de que, num futuro
distante, Sumedha renasceria no clã dos Śākyas e atingiria o despertar como o
Buddha Gautama. O bodhisattva poderia ter abandonado a existência cíclica (saṃsāra)
e ter se tornado um ser santo (arhat ou arahant), mas
preferiu continuar até completar as perfeições que levam ao estado de Buddha.
Como escolheu a sabedoria como caminho para o despertar (kāya
panidhāna kāla) durou 4 asaṃkhyeyakalpas e 100.000 mahākalpas. Se tivesse
escolhido a fé como caminho, esta era teria durado 8 asaṃkhyeyakalpas. Há cem mil
eras, um brâmane rico, ilustre e honrado, chamado Sumedha, vivia na grande
cidade de Amaravati. Um dia ele se sentou, refletindo sobre a miséria do
renascimento, da velhice e da doença, e exclamou: "Há, deve haver uma
salvação! É impossível que não haja! Procurarei e encontrarei o caminho que me
libertará da existência cíclica." Assim, ele se retirou para as montanhas
do Himalaya e como ermitão viveu numa choupana, onde alcançou grande sabedoria.
Enquanto estava ali, mergulhado no êxtase, nasceu um vitorioso, um Buddha
chamado Dīpaṃkara. Aconteceu que, prosseguindo seu trajeto, esse Buddha foi
perto de onde vivia Sumedha; ali havia homens preparando um caminho para seus
pés pisarem. Sumedha juntou-se aos outros nesse trabalho e quando o Buddha Dīpaṃkara
se aproximou, ele se deitou na lama dizendo para si mesmo: "Por eu apenas
protegê-lo da lama, grande mérito resultará para mim". Enquanto estava
deitado ali lhe veio à mente: "Por que não expulso todo o mal que me
permanece dentro de mim e não entro no nirvāṇa? Mas que eu não faça isso só em
meu benefício; será melhor que algum dia eu também adquira onisciência e em
segurança conduza uma multidão de seres no barco da doutrina, sobre o oceano do
renascimento, até a praia mais longínqua". Budha Dīpaṃkara, conhecedor de
tudo, parou ao seu lado e proclamou-o para a multidão como alguém que mais
tarde iria tornar-se um Buddha, especificando o lugar de seus nascimento, sua
família, seus discípulos e seus descendentes. As pessoas se rejubilam com isso,
ponderando que, ensinadas por esse outro Buddha, teriam novamente uma boa
oportunidade de aprender a verdade, pois a doutrina de todos os Buddhas é a
mesma. Toda a natureza, então, mostrou sinais e presságios em testemunho da
iniciativa e da dedicação de Sumedha; todas as árvores deram frutos, os rios
ficaram tranqüilos, uma chuva de flores caiu do céu, as chamas do inferno se
apagaram. Não volte para trás, disse Dīpaṃkara. Vamos! Para a frente! Sabemos
disso com o máximo de certeza; seguramente serás um Buddha. Sumedha decidiu,
então, satisfazer as condições de um Buddha, perfeição nas dádivas, na
observação dos preceitos, na renúncia, na sabedoria, na coragem, na paciência,
na verdade, na determinação, na boa vontade e na indiferença. Começando, então,
a cumprir essas dez condições da busca, Sumedha voltou para a floresta e viveu
lá até a morte. Depois disso ele nasceu de incontáveis formas, como homem, como
deus, como animal, e em todas essas formas ele não saiu do caminho planejado, e
assim se diz que não existe uma partícula do planeta onde Buddha não tenha
sacrificado sua vida em benefício das criaturas. Mitos Hindus e Budistas.
Amanda K. Coomaraswany (1877-1947). Na presença dos Buddhas seguintes, o
bodhisattva novamente recebeu a profecia definitiva de que atingiria o
despertar. Depois de um asaṃkhyeyakalpa, na época do Buddha Kauṇḍinya (Koṇḍañña),
ele foi um monarca universal (cakravartin) chamado Vijitavi.
Depois de mais um asaṃkhyeyakalpa, na época do Buddha Maṅgala, ele foi o
brâmane Suruci; na época do Buddha Sumana, foi o rei Nāga Atula; na época do
Buddha Revata, foi o brâmane Atideva; e na época do Buddha Sobhita, foi o
brâmane Ajita. No período negro do asaṃkhyeyakalpa em que não houve nenhum
Buddha, o bodhisattva cometeu graves erros, matando seu irmão para herdar a
riqueza da família. Por causa disso, depois de mais um asaṃkhyeyakalpa, na
época do Buddha Anomadassi o bodhisattva foi um líder de semideuses
(sânscrito e pāli asura), e na época do Buddha Paduma ele foi um leão. O
bodhisattva só voltou a renascer como humano na época do Buddha Nārada,
tornando-se um asceta. Depois de mais um asaṃkhyeyakalpa, na época do Buddha
Padumuttara, o bodhisattva foi Jatila. Depois de 70.000 mahākalpas, na época do
Buddha Sumedha, o bodhisattva foi Uttara. Depois de 12.000 mahākalpas, na época
do Buddha Sujata, o bodhisattva foi um monarca universal; na época do Buddha
Piyadassi, foi o brâmane Kaśyapa; na época do Buddha Atthadassi, foi o asceta
Susima; na época do Buddha Dhammadassi, foi um deus (deva)
chamado Śakra; na época do Buddha Siddhārtha, foi o asceta Maṅgala; na época do
Buddha Tissa, foi o rei Sujata que se tornou um asceta; na época do Buddha
Phussa, foi o rei Vijitavi que se tornou monge; na época do Buddha Vipaśyin,
foi o rei Nāga Atula; na época do Buddha Śikhin, foi o rei Arindama; na época
do Buddha Viśvabhu, foi o rei Sudassana que se tornou monge; na época do Buddha
Krakuccanda, foi o rei Sema; na época do Buddha Kanakamuni, foi o rei Pabbata;
e na época do Buddha Kaśyapa, foi o brâmane Jotipāla. IV. As perfeições. O
bodhisattva praticou as perfeições (pāramitā) durante muitas
eras, e foi durante a nossa era presente que ele as completou. Desta forma, ele
concluiu as três nobres práticas (kariya): a prática pelo
benefício de todos os seres; a prática pelo benefício de seus parentes; e a
prática de se tornar um ser completamente iluminado, que pode liberar os seres
do sofrimentos da existência cíclica. Como o rei Saṅkhapāla, completou a
perfeição da moralidade; como o rei Sutasoma, completou a perfeição da
renúncia; como o erudito Senaka, completou a perfeição da sabedoria; como o rei
Mahājanaka, completou a perfeição do esforço; como o asceta Khantivādia,
completou a perfeição da paciência; como o príncipe Sutasoma, completou a
perfeição da verdade; como o príncipe Temiya, completou a perfeição da
determinação; como o rei Ekarāja, completou a perfeição da bondade amorosa;
como o asceta Lomahāmsa, completou a perfeição da compaixão. Depois de
completar a perfeição da generosidade, o bodhisattva renasceu no paraíso de Tuṣita,
como um deus chamado Śvetaketu. A convite dos deuses, quando as condições de
período, continente, lugar, clã e mãe foram encontradas, o bodhisattva nasceu
no jardim de Lumbinī como o príncipe Siddhārtha Gautama, filho da Māyā Devī e
Śūddhodana do clã guerreiro dos Sakyas. Este foi o último renascimento do
bodhisattva. Siddhārtha Gautama renunciou à realeza, estudou com os maiores
professores do seu tempo, gerou a intenção de alcançar o despertar, acumulou
mérito e sabedoria, finalmente atingiu o estado de Buddha, girou a roda do
Dharma, isto é, deu ensinamentos, e atingiu a liberação final (parinirvāṇa).
Ele seria conhecido como o Sábio dos Śākyas (Sakyamuni). Diz-se
que o nosso tempo é uma era afortunada (bhadrakalpa) porque cinco
Buddhas (ou mil Buddhas, segundo algumas tradições) aparecerão para ensinar o
caminho da iluminação. Destes Buddhas, Śākyamuni foi o quarto. Dez bodhisattvas
receberam dele uma profecia definitiva e certamente atingirão o despertar no
futuro: Maitreya, Rāma, Pasenadikosaka, Abhidhu, Dīghasoni, Samkacca, Subha,
Todeyya, Nalāgiri e Paraleyya. Todos eles estão completando as perfeições, com
exceção de Maitreya , que já as completou e será o quinto Buddha desta era.
Maitreya aparecerá em nosso mundo quando não houver mais praticantes com
realizações espirituais; quando os métodos que conduzam ao despertar (absorções
meditativas, insights, caminhos espirituais, frutos espirituais e preceitos)
tiverem desaparecido; quando o aprendizado das três seções do cânone buddhista
tiver desaparecido; quando os símbolos da comunidade budista (mantos e votos
monásticos) tiverem desaparecido; e quando as relíquias do Buddha Śākyamuni
tiverem desaparecido. No momento em que surgirem as condições necessárias para
renascer neste mundo, o bodhisattva Maitreya descerá do paraíso de Tuṣita, e
aparecerá como o filho do rei Saṅkha de Ketumati (atual cidade de Vārāṇasī,
Índia). Diz-se que os ensinamentos de Śākyamuni devem durar 5.000 anos;
portanto, Maitreya deve aparecer daqui a aproximadamente 2.500 anos. Segundo o Anāgata
Vamasa Desanā, serão incapazes de ver Maitreya aqueles que tiverem
renascido no inferno Avīci como resultado das cinco não virtudes hediondas
(matar a própria mãe, matar o próprio pai, matar um ser santo, ferir um Buddha
ou causar uma divisão na comunidade buddista). Depois de Maitreya, aparecerá o
Budha Rāma, mas somente depois de 100.000 mahākalpas. Rāma será sucedido pelos
Buddhas Pasenadikosaka, Abhidhu, Dīghasoni, Samkacca, Subha, Todeyya, Nalāgiri
e Paraleyya. Extraído do site: http://harmonizaçaoquantica.com.br.
Esse texto As Vidas Passadas do Budha, lembrou-me da escritura cristã no
evangelho de Mateus 1:1-25. Nele vemos a genealogia de Jesus, desde os primórdios
de sua ascendência até seu nascimento. Leiam e percebem o escopo da forma
escrita, fatos e eventos relacionados no passado remoto e “presente” de Jesus
pouco antes de seu aparecimento na terra. Parece que, como a escritura pali
hindus é bem anterior (88 AC 76), ao canon da Vulgata cristã (Bíblia completa
na língua latina) concluída por São Jerônimo (347-420) em 390 de nossa
era, pelo menos a forma apresentada desse capítulo, é particularmente
semelhante a seção do livro Khuddaka Nikaya. Os dois iluminados Christo e Budha
passaram por singulares processos de encarnação. Abraço. Davi.
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