sexta-feira, 13 de maio de 2016

Upanishad. Sopro Vital do Universo. Prefácio.



De acordo com a versão inglesa de Swami Prabhavananda (1893-1976) e Frederick Manchester (1942-  ). PARECEU-ME adequado que esta tradução dos Upanishads fosse acompanhada de algumas palavras com relação ao seu autor principal, Swami Prabhavananda. O primeiro indício de que o futuro Swami iria seguir a vida religiosa surgiu aos treze anos quando ele leu O Evangelho de Sri Râma krishna (1836-1886),  um vasto volume no qual um discípulo do grande santo do século XIX relatou detalhada e fielmente a vida do dia a dia do Mestre e suas palestras. 0 fato de o garoto ter ficado fortemente impressionado pelo que leu ali sobre Swami Brahmananda foi profético, em parte devido a algo que o atraía até no nome monástico do Swami, e em parte em virtude da posição reconhecida de Swami Brahmananda como sendo, num sentido especial, o filho espiritual do santo. Pouco tempo depois dessa primeira leitura do Evangelho, Swami Prabhavananda conheceu um discípulo, e também a viúva de Sri Râma krishna, conhecida pelos devotos como Mãe Sagrada. Alguns anos depois, quando estava com dezoito anos, encontrou-se pela primeira vez com o próprio Swami Brahmananda. Eu me senti imediatamente atraído por ele, diz Swami Prabhavananda, como se ele fosse um amigo muito próximo e querido que eu não via há muito tempo. Eu nunca havia sentido tal amor antes na minha vida; era o amor dos pais e o amor de um amigo, tudo num só. Nos três meses seguintes a esse encontro, o chamado da religião tornou-se premente, e o jovem respondeu com a resolução esperada do Kshatriya que ele era. Somente uma coisa importava para ele: ir imediatamente ter com Swami Brahmananda, que na ocasião estava residindo num mosteiro no sopé do Himalaia, no extremo norte da Índia. Haviam dito a ele que o santo homem não acolhia com prazer visitantes não esperados, mas ele não se importava com isso. Com o dinheiro originalmente destinado às taxas da universidade e aos seus gastos, enquanto estudasse, realizou o longo percurso de Calcutá até as montanhas. Eram quatro horas da manhã e ainda estava escuro quando penetrou nas terras do mosteiro e se encontrou no meio de inúmeros bangalôs, num dos quais - mas em qual? poderia esperar encontrar o objeto da sua jornada. Caminhou diretamente para uma varanda, a fim de esperar ao lado de uma porta, mas, antes que pudesse sentar-se, o próprio Swami Brahmananda saiu exatamente por essa porta, e seu secretário por outra. Ao ver o garoto, Swami Brahmananda disse simplesmente: Olá! Você está aqui. E, virando-se para o seu secretário: Providencie um lugar para ele. Ele vai ficar.  Swami Prabhavananda foi iniciado como discípulo de Swami Brahmananda. Ele queria juntar-se imediatamente ao mosteiro, porém isso não era permitido. Ao final de um mês, seu mestre espiritual enviou-o de volta à universidade para que concluísse sua educação. Seguiu-se então um período de dois anos, nos quais os interesses religiosos cederam lugar em sua mente a pensamentos políticos. Pela primeira vez em Bengala, Índia, estava-se organizando uma revolução contra o domínio britânico e, com ardor patriótico e coragem característica, Swami Prabhavananda forneceu o apoio que sua juventude e aparente ingenuidade mais o habilitavam a dar. Pareceu-lhe então, que o grande dever dos hindus era lutar pela liberdade e, consequentemente, retirar-se do mundo para a vida monástica era, pelo menos para ele, injustificável. Aos vinte anos, graduou-se no City College of Calcutta e ingressou imediatamente num estudo posterior de seis meses no departamento de filosofia do Calcutta University College. Foi durante umas curtas férias que sua sorte finalmente foi selada. Com o objetivo de estudar Shankara com Swami Shuddhananda, um especialista em sânscrito de grande reputação e discípulo do mundialmente famoso Swami Vivekananda (1863-1902), ele foi morar em Belur Math, o grande mosteiro no Ganges, perto de Calcutá. Nesse local, diariamente, Swami Shuddhananda discutia com ele a respeito da vida monástica, e insistia com ele para que se tornasse um monge. A vigorosa oposição de Swami Prabhavananda continuou, mas não por muito tempo, pois uma outra influência compulsiva estava em ação. Swami Brahmananda estava hospedado no mosteiro, na ocasião, e Swami Prabhavananda estava freqüentemente com ele. Uma manhã, conta o Swami, falando a respeito do momento decisivo, quando fui prostrar-me como de costume perante Maharaj como Swami Brahmananda era chamado um circunstante perguntou: Quando é que este garoto vai se tornar um monge?. Maharaj olhou-me de cima a baixo e respondeu, calmamente: Quando Deus quiser. E, quando ele disse essas palavras e olhou para mim, com uma inesquecível doçura nos olhos, todas as minhas ideias revolucionárias sofreram repentinamente uma transformação, e então desci e disse a Swami Shuddhananda: Acabo de entrar para o mosteiro. Falando a respeito de Swami Brahmananda, quando este ainda era jovem, Sri Râmakrishna disse, certa vez: Rakhal tem a inteligência penetrante de um rei. Se ele o desejasse, poderia governar um grande reino. Essa observação teve um resultado apropriado. No decorrer dos últimos vinte anos da vida de Swami Brahmananda, ele serviu, com grande sucesso, como líder da Ordem de Râma krishna. Suas aptidões de executivo estavam à altura da sua excelência espiritual. Na ocasião da partida de Swami Prabhavananda da índia, quando foi escolhido por seus superiores como representante da religião hindu na América, um discípulo de Sri Râma krishna lhe disse, referindo-se a Swami Brahmananda: Nunca se esqueça de que você viu um Filho de Deus. Você viu Deus. Esse, então, foi o homem de quem Swami Prabhavananda foi discípulo, e sob cuja orientação passou cerca de doze anos de sua vida. Durante quatro ou cinco meses desse período, mestre e discípulo viveram na maior intimidade; e ouvir o Swami falar a respeito dessa experiência é perceber que, na formação de um monge, do modo como esse processo era concebido por Swami Brahmananda, entrava tanto o amargo como o doce sendo o amargo, entretanto, apenas a última e mais segura prova da doçura. Aquele a quem Deus ama, ele castiga. Em determinada ocasião, Swami Prabhavananda estava tão deprimido com as censuras do seu mestre que decidiu desertar o mosteiro e se esconder para sempre. Com esse pensamento, foi prostrar-se perante Maharaj e, silenciosamente, despedir-se dele. Maharaj disse-lhe que se sentasse e continuou durante algum tempo com suas sérias advertências, lembrando seu discípulo de todos os seus erros; então, com uma súbita mudança no seu procedimento, perguntou: Você pensa que pode fugir de mim? As suaves palavras que o Mestre falou dispersaram toda a mágoa do jovem. Em nenhum momento antes disso, diz Swami Prabhavananda, eu tinha estado tão profundamente consciente do seu amor e da sua proteção. Todo pensamento de fugir foi esquecido. Suas palavras acalmaram o meu coração ardente. Ele disse então: Nosso amor é tão profundo que não deixamos você saber quanto o amamos. A síntese do que estou tentando dizer é o seguinte: que Swami Prabhavananda introduz na sua interpretação dos Upanishads não somente uma familiaridade erudita com os textos sânscritos, mas também o conhecimento intuitivo que pôde ser extraído da sua íntima associação com alguém que personificava em sua mente e espírito, no mais elevado grau, a grande tradição intelectual e espiritual da Índia. Ele foi discípulo do discípulo de uma pessoa que veio a ser considerada na índia como o último da sua lista de autênticos Avatares. Nossa meta nesta tradução não foi realizar uma interpretação literal e, sim, permitindo-nos tanta liberdade quanto julgamos desejável, transpor para um inglês simples e claro o sentido e o espírito do original. Com frequência, por exemplo, quando tivemos de escolher entre seguir exatamente o texto e explicá-lo posteriormente através de uma nota, ou então ampliar o texto para incluir as explicações necessárias, adotamos a segunda alternativa. No começo de determinados Upanishads, onde uma tradução literal poderia ter resultado em aspereza desagradável ou em pobreza, acrescentamos acreditamos que discretamente algumas palavras. Além disso, de modo geral, nos sentimos livres para recorrer à paráfrase, para alterar a ordem dos detalhes, para omitir eventualmente palavras ou frases, talvez até mesmo uma oração, desde que tivéssemos certeza de estar preservando fielmente a substância e a intenção do original. Em resumo, dirigimos esta tradução mais para o público em geral, que se aproxima dos Upanishads para obter alimento espiritual, do que para o especialista profissional em sânscrito. Com poucas exceções, os textos originais aqui traduzidos estão em verso. Com raras exceções, na tradução usamos a prosa. Apesar do que possa ter sido uma tentação natural, não fizemos nenhum esforço no sentido de utilizar a linguagem usada na King James Version of the Bible, mas exatamente o oposto, sentindo que agindo assim preservaríamos melhor o caráter especial da escritura hindu. O Atman, do sânscrito, que significa o Deus interior, foi traduzido sempre por Eu, embora o equivalente verbal desse termo não apareça em nenhum lugar na filosofia hindu. Achamos melhor nos beneficiarmos da associação cujo emprego já enriqueceu a palavra inglesa do que tentarmos naturalizar uma expressão estrangeira para os ocidentais, totalmente despida de conotação espiritual. A sílaba OM símbolo de Brahman, ou Deus é, para o hindu, divina; e em seus rituais é pronunciada com uma ressonância solene, indefinidamente prolongada. Nossa forma tipográfica para essa saudação ou bênção que é repetida várias vezes pretende sugerir o mais aproximadamente possível o modo como é entoada. Os desvios da prosa são leves. Nos cânticos que precedem os vários Upanishads, e especialmente no hino com o qual o Swetasvatara é concluído, utilizamos uma forma que não é prosa, e talvez nem mesmo verso, a não ser por cortesia, mas que nos pareceu produzir um realce que não pode ser imediatamente obtido na prosa habitual. Esse realce parece ser particularmente desejável para um hino, pois nele tanto a substância quanto a forma alcançam uma qualidade poética que os Upanishads não alcançam em nenhum outro lugar. Realmente, a forma que utilizamos foi mais o resultado de um acidente do que de um projeto. Uma passagem como Vós sois o fogo, Vós sois o Sol, Vós sois o ar, Vós sois a Lua, Vós sois o firmamento estrelado, Vós sois o Brahman Supremo: Vós sois as águas vós, O Criador de tudo! essa passagem, colocada na maneira sóbria da prosa, pareceria tolhida, confinada ela pedia asas, não importa quão fracas fossem; e, uma vez que tínhamos optado pelo uso de letras maiúsculas e de linhas curtas rítmicas, achamos melhor completar o hino da melhor forma possível no mesmo estilo. Os sumários acrescentados aos títulos não são realmente sumários, pois não fornecem um epítome proporcional das partes que precedem. Eles apenas indicam os temas dominantes. Resta falar a respeito da minha participação no livro. Ela é secundária. Sendo o inglês a minha língua nativa, fiz o que era possível para ajudar Swami Prabhavananda em seu empreendimento. Ele sozinho assume a responsabilidade por todas as idéias e opiniões, por todas as interpretações e declarações. Abraços. Davi.

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