De
acordo com a versão inglesa de Swami Prabhavananda (1893-1976) e Frederick
Manchester (1942- ). PARECEU-ME adequado
que esta tradução dos Upanishads fosse acompanhada de algumas palavras com
relação ao seu autor principal, Swami Prabhavananda. O primeiro indício de que
o futuro Swami iria seguir a vida religiosa surgiu aos treze anos quando ele
leu O Evangelho de Sri Râma krishna (1836-1886), um vasto volume no qual um discípulo do
grande santo do século XIX relatou detalhada e fielmente a vida do dia a dia do
Mestre e suas palestras. 0 fato de o garoto ter ficado fortemente impressionado
pelo que leu ali sobre Swami Brahmananda foi profético, em parte devido a algo
que o atraía até no nome monástico do Swami, e em parte em virtude da posição
reconhecida de Swami Brahmananda como sendo, num sentido especial, o filho
espiritual do santo. Pouco tempo depois dessa primeira leitura do Evangelho,
Swami Prabhavananda conheceu um discípulo, e também a viúva de Sri Râma
krishna, conhecida pelos devotos como Mãe Sagrada. Alguns anos depois, quando
estava com dezoito anos, encontrou-se pela primeira vez com o próprio Swami
Brahmananda. Eu me senti imediatamente atraído por ele, diz Swami
Prabhavananda, como se ele fosse um amigo muito próximo e querido que eu não via
há muito tempo. Eu nunca havia sentido tal amor antes na minha vida; era o amor
dos pais e o amor de um amigo, tudo num só. Nos três meses seguintes a esse
encontro, o chamado da religião tornou-se premente, e o jovem respondeu com a
resolução esperada do Kshatriya que ele era. Somente uma coisa importava para
ele: ir imediatamente ter com Swami Brahmananda, que na ocasião estava
residindo num mosteiro no sopé do Himalaia, no extremo norte da Índia. Haviam
dito a ele que o santo homem não acolhia com prazer visitantes não esperados,
mas ele não se importava com isso. Com o dinheiro originalmente destinado às
taxas da universidade e aos seus gastos, enquanto estudasse, realizou o longo
percurso de Calcutá até as montanhas. Eram quatro horas da manhã e ainda estava
escuro quando penetrou nas terras do mosteiro e se encontrou no meio de
inúmeros bangalôs, num dos quais - mas em qual? poderia esperar encontrar o
objeto da sua jornada. Caminhou diretamente para uma varanda, a fim de esperar
ao lado de uma porta, mas, antes que pudesse sentar-se, o próprio Swami
Brahmananda saiu exatamente por essa porta, e seu secretário por outra. Ao ver
o garoto, Swami Brahmananda disse simplesmente: Olá! Você está aqui. E,
virando-se para o seu secretário: Providencie um lugar para ele. Ele vai
ficar. Swami Prabhavananda foi iniciado
como discípulo de Swami Brahmananda. Ele queria juntar-se imediatamente ao
mosteiro, porém isso não era permitido. Ao final de um mês, seu mestre
espiritual enviou-o de volta à universidade para que concluísse sua educação.
Seguiu-se então um período de dois anos, nos quais os interesses religiosos
cederam lugar em sua mente a pensamentos políticos. Pela primeira vez em
Bengala, Índia, estava-se organizando uma revolução contra o domínio britânico
e, com ardor patriótico e coragem característica, Swami Prabhavananda forneceu
o apoio que sua juventude e aparente ingenuidade mais o habilitavam a dar.
Pareceu-lhe então, que o grande dever dos hindus era lutar pela liberdade e,
consequentemente, retirar-se do mundo para a vida monástica era, pelo menos
para ele, injustificável. Aos vinte anos, graduou-se no City College of
Calcutta e ingressou imediatamente num estudo posterior de seis meses no
departamento de filosofia do Calcutta University College. Foi durante umas
curtas férias que sua sorte finalmente foi selada. Com o objetivo de estudar
Shankara com Swami Shuddhananda, um especialista em sânscrito de grande
reputação e discípulo do mundialmente famoso Swami Vivekananda (1863-1902), ele
foi morar em Belur Math, o grande mosteiro no Ganges, perto de Calcutá. Nesse
local, diariamente, Swami Shuddhananda discutia com ele a respeito da vida
monástica, e insistia com ele para que se tornasse um monge. A vigorosa
oposição de Swami Prabhavananda continuou, mas não por muito tempo, pois uma
outra influência compulsiva estava em ação. Swami Brahmananda estava hospedado
no mosteiro, na ocasião, e Swami Prabhavananda estava freqüentemente com ele.
Uma manhã, conta o Swami, falando a respeito do momento decisivo, quando fui
prostrar-me como de costume perante Maharaj como Swami Brahmananda era chamado
um circunstante perguntou: Quando é que este garoto vai se tornar um monge?.
Maharaj olhou-me de cima a baixo e respondeu, calmamente: Quando Deus quiser.
E, quando ele disse essas palavras e olhou para mim, com uma inesquecível
doçura nos olhos, todas as minhas ideias revolucionárias sofreram
repentinamente uma transformação, e então desci e disse a Swami Shuddhananda:
Acabo de entrar para o mosteiro. Falando a respeito de Swami Brahmananda,
quando este ainda era jovem, Sri Râmakrishna disse, certa vez: Rakhal tem a
inteligência penetrante de um rei. Se ele o desejasse, poderia governar um
grande reino. Essa observação teve um resultado apropriado. No decorrer dos últimos
vinte anos da vida de Swami Brahmananda, ele serviu, com grande sucesso, como
líder da Ordem de Râma krishna. Suas aptidões de executivo estavam à altura da
sua excelência espiritual. Na ocasião da partida de Swami Prabhavananda da
índia, quando foi escolhido por seus superiores como representante da religião
hindu na América, um discípulo de Sri Râma krishna lhe disse, referindo-se a
Swami Brahmananda: Nunca se esqueça de que você viu um Filho de Deus. Você viu
Deus. Esse, então, foi o homem de quem Swami Prabhavananda foi discípulo, e sob
cuja orientação passou cerca de doze anos de sua vida. Durante quatro ou cinco
meses desse período, mestre e discípulo viveram na maior intimidade; e ouvir o
Swami falar a respeito dessa experiência é perceber que, na formação de um
monge, do modo como esse processo era concebido por Swami Brahmananda, entrava
tanto o amargo como o doce sendo o amargo, entretanto, apenas a última e mais
segura prova da doçura. Aquele a quem Deus ama, ele castiga. Em determinada ocasião,
Swami Prabhavananda estava tão deprimido com as censuras do seu mestre que
decidiu desertar o mosteiro e se esconder para sempre. Com esse pensamento, foi
prostrar-se perante Maharaj e, silenciosamente, despedir-se dele. Maharaj
disse-lhe que se sentasse e continuou durante algum tempo com suas sérias
advertências, lembrando seu discípulo de todos os seus erros; então, com uma
súbita mudança no seu procedimento, perguntou: Você pensa que pode fugir de
mim? As suaves palavras que o Mestre falou dispersaram toda a mágoa do jovem.
Em nenhum momento antes disso, diz Swami Prabhavananda, eu tinha estado tão
profundamente consciente do seu amor e da sua proteção. Todo pensamento de
fugir foi esquecido. Suas palavras acalmaram o meu coração ardente. Ele disse então:
Nosso amor é tão profundo que não deixamos você saber quanto o amamos. A
síntese do que estou tentando dizer é o seguinte: que Swami Prabhavananda
introduz na sua interpretação dos Upanishads não somente uma familiaridade
erudita com os textos sânscritos, mas também o conhecimento intuitivo que pôde
ser extraído da sua íntima associação com alguém que personificava em sua mente
e espírito, no mais elevado grau, a grande tradição intelectual e espiritual da
Índia. Ele foi discípulo do discípulo de uma pessoa que veio a ser considerada
na índia como o último da sua lista de autênticos Avatares. Nossa meta nesta
tradução não foi realizar uma interpretação literal e, sim, permitindo-nos
tanta liberdade quanto julgamos desejável, transpor para um inglês simples e
claro o sentido e o espírito do original. Com frequência, por exemplo, quando
tivemos de escolher entre seguir exatamente o texto e explicá-lo posteriormente
através de uma nota, ou então ampliar o texto para incluir as explicações
necessárias, adotamos a segunda alternativa. No começo de determinados
Upanishads, onde uma tradução literal poderia ter resultado em aspereza
desagradável ou em pobreza, acrescentamos acreditamos que discretamente algumas
palavras. Além disso, de modo geral, nos sentimos livres para recorrer à
paráfrase, para alterar a ordem dos detalhes, para omitir eventualmente
palavras ou frases, talvez até mesmo uma oração, desde que tivéssemos certeza
de estar preservando fielmente a substância e a intenção do original. Em
resumo, dirigimos esta tradução mais para o público em geral, que se aproxima
dos Upanishads para obter alimento espiritual, do que para o especialista
profissional em sânscrito. Com poucas exceções, os textos originais aqui
traduzidos estão em verso. Com raras exceções, na tradução usamos a prosa.
Apesar do que possa ter sido uma tentação natural, não fizemos nenhum esforço
no sentido de utilizar a linguagem usada na King James Version of the Bible,
mas exatamente o oposto, sentindo que agindo assim preservaríamos melhor o
caráter especial da escritura hindu. O Atman, do sânscrito, que significa o
Deus interior, foi traduzido sempre por Eu, embora o equivalente verbal desse
termo não apareça em nenhum lugar na filosofia hindu. Achamos melhor nos
beneficiarmos da associação cujo emprego já enriqueceu a palavra inglesa do que
tentarmos naturalizar uma expressão estrangeira para os ocidentais, totalmente
despida de conotação espiritual. A sílaba OM símbolo de Brahman, ou Deus é,
para o hindu, divina; e em seus rituais é pronunciada com uma ressonância
solene, indefinidamente prolongada. Nossa forma tipográfica para essa saudação
ou bênção que é repetida várias vezes pretende sugerir o mais aproximadamente
possível o modo como é entoada. Os desvios da prosa são leves. Nos cânticos que
precedem os vários Upanishads, e especialmente no hino com o qual o
Swetasvatara é concluído, utilizamos uma forma que não é prosa, e talvez nem
mesmo verso, a não ser por cortesia, mas que nos pareceu produzir um realce que
não pode ser imediatamente obtido na prosa habitual. Esse realce parece ser
particularmente desejável para um hino, pois nele tanto a substância quanto a
forma alcançam uma qualidade poética que os Upanishads não alcançam em nenhum
outro lugar. Realmente, a forma que utilizamos foi mais o resultado de um
acidente do que de um projeto. Uma passagem como Vós sois o fogo, Vós sois o
Sol, Vós sois o ar, Vós sois a Lua, Vós sois o firmamento estrelado, Vós sois o
Brahman Supremo: Vós sois as águas vós, O Criador de tudo! essa passagem,
colocada na maneira sóbria da prosa, pareceria tolhida, confinada ela pedia
asas, não importa quão fracas fossem; e, uma vez que tínhamos optado pelo uso
de letras maiúsculas e de linhas curtas rítmicas, achamos melhor completar o
hino da melhor forma possível no mesmo estilo. Os sumários acrescentados aos
títulos não são realmente sumários, pois não fornecem um epítome proporcional
das partes que precedem. Eles apenas indicam os temas dominantes. Resta falar a
respeito da minha participação no livro. Ela é secundária. Sendo o inglês a
minha língua nativa, fiz o que era possível para ajudar Swami Prabhavananda em
seu empreendimento. Ele sozinho assume a responsabilidade por todas as idéias e
opiniões, por todas as interpretações e declarações. Abraços. Davi.
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