quarta-feira, 25 de maio de 2016

Opus Dei ou Obra de Deus.



Cristianismo. Catolicismo Romano. A Obra de Deus, do latim, Opus Dei em latim, é uma organização católica composta por leigos e sacerdotes, cuja filosofia prega a "santificação da vida comum". Fundada pelo agora santo espanhol Josemaria Escrivá (1902-1975), a Opus Dei, tornou-se um fenômeno católico mundial, seja pela sua rápida ascensão e consolidação entre as organizações religiosas mundiais, seja pelas diversas polêmicas que envolvem sua história. De idolatrada a odiada, considerada desde seita católica a sociedade secreta, esta organização sem dúvida mudou e continua mudando os rumos do Catolicismo desde sua fundação, de um modo decisivo. Em 2 de outubro de 1928, é fundada a Opus Dei em Madrid. A proposta da então recém criada associação cristã era de resgatar os princípios do Catolicismo tradicional, que para Escrivá se traduzia no seu cumprimento estrito, até mesmo para leigos, o que mais tarde criaria a ideia da "santificação da vida comum", onde os homens em seus afazeres diários, cumpririam à risca a doutrina pregada pela Igreja. Durante a guerra civil espanhola (1936-1939), deflagrada no auge a Revolução Russa, criou-se um clima muito pesado de anti-clericalismo, influenciado principalmente pelos ataques ao Catolicismo na Espanha por parte do governo de esquerda. Essa perseguição criou um verdadeiro clima de conservadorismo dentro da congregação, que faria sua filosofia se apegar de modo radical à doutrina anti comunista da Igreja. Padres e leigos da Opus Dei participaram da Guerra Civil de modo a mais tarde apoiar o governo fascista de Francisco Franco (1892-1975) em oposição ao governo Comunista. Curiosamente nessa época de tensão, Escrivá publicou a obra mor do Opus Dei, a Bíblia da organização chama "Caminho". Pode-se dizer que além do exército, os católicos espanhóis, conduzidos sob a Opus Dei foram decisivos na resistência à República e na instauração da Ditadura Franquista. Com essa vitória sobre o Comunismo, em 1943 a organização receberia o status de "Sociedade de Direito Diocesano", o que já lhe conferia a ordenação de sacerdotes, assim como as demais ordens Católicas. Rapidamente durante a 2ª Guerra, devido ao seu ideal de resistência cristã, a Opus Dei se espalhou pela Europa. Com a Europa toda arrasada pela guerra, a filosofia de "reconstrução espiritual" pregada pelo Opus Dei tornava-se uma poderosa aliada da Igreja na reconstrução do continente. Uma onda de filiação varreu o mundo Católico de modo que antes, a organização voltada para leigos viu-se abarrotada de padres, de modo que Escrivá fundou a Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, a ala clerical da Opus Dei, que mais tarde se tornaria uma espécie de divisão administrativa da Obra. Na década de 60, o mundo Católico mudou de forma radical. Com o Concílio Vaticano II a Igreja Católica abria-se para o mundo moderno, de modo a alterar tanto a forma dos seus rituais, como fez uma verdadeira revisão na sua forma de compreender sua própria doutrina. Nesta época de mudanças, o Opus Dei viu-se num dilema, ou abria-se junto com as mudanças defendidas no Vaticano II e contradizia sua doutrina de profunda defesa das tradições e dos rituais milenares, ou seguia as demais ordens religiosas que mudaram profundamente sua maneira de conduzir a doutrina da Igreja. Nessa época, com o crescimento do Opus Dei, a Companhia de Jesus e a Ordem Franciscana tornaram-se verdadeiros rivais da Obra, uma vez que com o Vaticano II, os Jesuítas e os Franciscanos aderiram às transformações na doutrina, a ponto de patrocinarem os novos pensamentos defendidos pela ala liberal da Igreja dentre eles, a polêmica Teologia da Libertação, justamente de cunho Marxista. Com isso, uma verdadeira disputa política tomou conta da Igreja, onde de um lado, a ala conservadora representada pela Obra, defendia um rígido seguimento dos padrões tradicionais católicos, quer seja na religião, na moral ou na política, enquanto que os Jesuítas e os Franciscanos representavam a tendência da "Igreja Social", que ganhou bastante destaque na América Latina dos anos 60. Justamente nessa época, vários golpes foram dados nos países latino-americanos sendo justificados como sendo em nome da segurança contra a "ameaça comunista". A expansão da Guerra Fria com o conflito ideológico e político do Capitalismo x Comunismo causou um verdadeiro mal estar dentro da Igreja e entre suas várias organizações, a ponto de desesperadamente, após o medo de uma verdadeira abertura da Igreja por parte do falecido (talvez assassinado, e pela própria Igreja) Papa João Paulo I, Albino Luciani (1912-1978), que poderia fazer a Igreja (vulgo a sociedade Ocidental, vulgo sistema capitalista americano) perder sua identidade, seus líderes tentarem retomar a prática das tradições milenares como eram antes do Vaticano II. Com isso em 1978, para consolidar essa intervenção contra o próprio Vaticano II, a ala conservadora da Igreja elegeu o então desconhecido Karol Wojtyla, (1920-2005) que se tornaria o Papa João Paulo II. João Paulo II, cresceu na Polônia, na época da ascensão do Comunismo no Leste Europeu. Ser Católico naquela região significava resistência política-ideológica ao Comunismo pregado pela URSS. Com sua entrada no seminário, Wojtyla viu-se minado do conservadorismo pregado contra o Comunismo, neste caso, patrocinado pelo próprio Opus Dei, reconstrutor espiritual da Europa pós-guerra e organização vitoriosa da Guerra Civil Espanhola. Com isso, no seu pontificado, João Paulo II aos poucos assumiria uma postura altamente oposta ao Marxismo, a ponto de destruir as bases da Teologia da Libertação na América Latina, ação essa patrocinada pela Opus Dei. Não é coincidência que meses antes do golpe de Augusto Pinochet (1915-2006) no Chile, Escrivá esteve na América Latina, plantando literalmente as bases da organização em terras latino-americanas, plantando nos diversos países uma ideologia altamente conservadora nas elites locais, e com isso consolidando os governos militares ao redor do continente. Com isso, a Companhia de Jesus e a Ordem Franciscana perdiam espaço junto com a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base, não é atoa que durante uma visita à Nicarágua, justamente durante uma conferência da CEB's, o Papa João Paulo II foi drasticamente vaiado pela multidão, revoltada com a decisão do pontífice de calar de vez os teólogos da libertação considerando a filosofia cristã-marxista uma heresia dentro das paredes da Igreja, o que mais tarde seria concretizado na polêmica Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), no Chile, onde o atual Cardeal Juan Luis Cipriani Thome (1945-   ) foi o agente supressor do movimento da libertação na América Latina. Não é coincidência que justamente após a saída de bispos e arcebispos liberais, como Dom Hélder Câmara (1909-1999), estes foram substituídos por líderes altamente conservadores como Dom José Cardoso Sobrinho (1933-   ). Só um detalhe para tudo isso, na época dessa verdadeira cruzada contra o liberalismo, quem decidia pela substituição dos líderes locais era o presidente da Congregação para Doutrina da Fé (antigo Tribunal do Santo Ofício, Tribunal da Inquisição), que na época era o então Cardeal Joseph Ratzinger (1927-   ), Papa Bento XVI. Seu pontificado foi de (2005-2013) ano em que renunciou; por sinal sua eleição foi aos mesmos moldes do antecessor, um "desconhecido" com características centradas na tradição proposta pelas alas conservadoras da Igreja. Por isso nada mais hoje me espanta. Essa atitude significou uma anestesia nos movimentos sociais não só da América Latina, mas também nos países africanos como a África do Sul, que na época, via-se oprimida pelo sistema racista do Apartheid. Com isso, a expansão de governos conservadores moldados ao sistema político americano garantia não só os interesses de expansão das grandes corporações da época, como evitava uma possível expansão do Comunismo na América Latina que já tinha se iniciado em Cuba. Por mais incrível que pareça, o próprio Opus Dei tornou-se um dos agentes de repressão nos governos ditadoriais, como no Brasil, onde principalmente em São Paulo, as alas mais conservadoras da sociedade paulistana tinham membros da Opus Dei como militantes da campanha de repressão do Governo. Essa mesma elite, nessa época, foi o principal motor de expansão, nesse caso, econômica, do Opus Dei. Combinando todos os interesses possíveis que poderiam garantir a estabilidade social das elites da época, o Opus Dei, tornou-se um verdadeiro depositário dos dízimos mais gordos do mundo, uma vez que por seu caráter conservador, seus membros, muitos da elite europeia e americana, seguiam à risca a doutrina do dízimo, de modo que na época a Opus Dei possuía um patrimônio único de 20 milhões de euros. Voltando na época de João Paulo I, para ajudar na reconstrução da Europa, o Vaticano criou o Instituto para as Obras da Religião, o Banco do Vaticano. O Banco do Vaticano era um verdadeiro banco suíço nas terras pontifícias, que de modo discreto, servia de receptor e fiador de grandes empresas e empresários europeus. Durante o pontificado de João Paulo I, descobriu-se várias movimentações ilegais envolvendo importantes membros da sociedade europeia, assim como vários bispos e até cardeais da Igreja. Simplesmente, o então cardeal Jean-Marie Villot (1905-1979) era um dos envolvidos nesse escândalo. Curiosamente, Villot era do Opus Dei, que na época era uma das organizações acionistas no Banco. Com a súbita morte de João Paulo I em condições até hoje inexplicáveis, ainda mais considerando que ele era altamente progressista, e a favor do Catolicismo Social, não me impressiona que a Igreja Opus Dei Villot tenham supostamente atentado contra o Papa, considerando que o Camerlengo tinha acesso irrestrito ao pontífice e que por sinal, ambos eram ideologicamente opostos, para assim, evitar a ascensão de uma doutrina de abertura religiosa, social e política dentro da Igreja, que por milênios, manteve uma série de compromissos com as elites locais e com o sistema tradicional conservador pregado desde a sua fundação (qualquer semelhança com Anjos e Demônios é mera coincidência, ou não. Para maiores esclarecimentos leiam os textos do blog sobre o filme e sobre o Banco do Vaticano). Com todas essas absurdas "coincidências" se cruzando, não me impressiona que da noite para o dia Jose Maria Escrivá tenha sido canonizado, num dos processos mais polêmicos da história da igreja, devido à quebra total dos clássicos protocolos de processo canônico determinados nos códigos eclesiais. A enorme crítica a esse fato, vinda principalmente das ordens católicas dos Jesuítas e dos Franciscanos deve-se ao fato de que justamente na época da morte de João Paulo I, instaurou-se uma crise institucional na Igreja, onde o Banco do Vaticano era seu principal fator. Com a desconfiança em todo mundo pelo vazamento dessas informações, o Banco viu-se cada vez mais afundado em negociações, rendendo mais prejuízos à Igreja. De modo fantástico, a Opus Dei com uma "pequena" parte do seu patrimônio, soergueu o Banco do Vaticano, trazendo de volta sua influência na economia mundial (de modo a se envolver novamente mais tarde com o escândalo da Máfia Italiana nos anos 90). Depois dessa santa ajuda, não me impressiona que não só o fundador da Obra tenha se tornado um dos mais famosos e polêmicos santos da Igreja como também em 1982 o Papa instituiria a "prelatura" da Opus Dei, que ficaria conhecida popularmente como a "prelazia pessoal do Papa". Este termo, às vezes erroneamente entendido na verdade significava uma coisa, uma independência administrativa da ordem perante às cúrias locais. Em outras palavras, a Opus Dei, deixava de ser uma ordem religiosa subordinada às decisões das dioceses e arquidioceses locais para responder somente e diretamente para com o Vaticano. Desse modo, qualquer oposição advinda de órgãos secundários como ordens religiosas e a própria cúria local como a CNBB no Brasil, não seriam acatadas, cabendo somente ao Papa, neste caso, à Cúria Romana, decidir sobre as questões da Obra. Desse modo, não só a Opus Dei ficava blindada contra quaisquer ataques vindo das demais ordens como ao mesmo tempo serviria de uma verdadeira milícia vaticana, sendo o braço direito da Igreja quando a mesma precisasse suprimir qualquer oposição até mesmo dentro da mesma, como ocorreu durante o auge da Teologia da Libertação. Por isso a Opus Dei é tomada como uma Sociedade Secreta, mais precisamente a agência secreta do Vaticano, pois a mesma tem uma devoção tão grande à instituição quanto ao próprio Deus. E essa devoção se reflete nas práticas e na filosofia da Opus Dei, tão criticadas ao longo dos tempos. De livros a filmes, de depoimentos a investigações, a Opus Dei é fruto de uma série de polêmicas que envolve a Ordem quer desde sua fundação com o apoio à ditadura franquista e na América durante os anos 60, até as práticas pregadas pela Obra, que são criticadas até mesmo dentro da própria Igreja. Fundada na ideia de cumprir à risca os ensinamentos da Igreja, a congregação tornou-se altamente conservadora de modo a criar uma aura negra dentro dela própria. Os relatos e acusações de lavagem cerebral, fanatismo por parte dos seus membros e até mortificações com métodos medievais não são meras fantasias criadas em livros ou teorias da conspiração defendidas em fóruns pela internet. A crítica sobre todas as práticas da Opus Dei começou justamente no Vaticano II, onde após a revisão da doutrina Católica, várias ordens aboliram uma série de práticas, que constavam em suas Regras, devido ao típico hábito de evitar mudanças na Igreja. As Regras das ordens vinham passando séculos sem serem alteradas, como a Beneditina, que existia desde o tempo de São Bento (e bote tempo nisso) assim como os Dominicanos e Cartuxos, onde dependendo da congregação e da localidade, a utilização de rituais de mortificação assim como de extremos sacrifícios de outros tipos ainda eram realizados, doutrina essa, vinda da Idade Média, onde o sacrifício corporal era visto como uma atitude de purificação. Com o Vaticano II, essas práticas que já vinham sendo abolidas desde as revoluções liberais foram extintas de vez, criando uma nova modalidade de contemplação, esta, antes já defendidas pelas ordens já citadas dos Jesuítas e dos Franciscanos. Com uma filosofia totalmente oposta a isso desde a sua fundação, a Opus Dei, temendo uma desfiguração das tradições cristãs, manteve-se fiel à doutrina original ignorando em suma o Concílio da década de 60, de modo a intensificar essa prática como uma resposta à adaptação que a Igreja estava sofrendo nos tempos modernos. Com isso, a Opus Dei criava a partir de uma interpretação grosseira e conservadora da doutrina católica e do próprio Caminho de Escrivá, uma verdadeira filosofia sacrifical, onde os sacrifícios eram louvados através da frase de Escrivá que dizia que "a dor era boa". A dor, não era somente no contexto físico, mas na privação de várias coisas, como foi instituído nas doutrinas da Obra como o total celibato, até mesmo para casais, a utilização de cilícios e de autoflagelação por parte de membros especiais determinados dentro da ordem, e um rígido programa de vida espiritual que deveriam ser cumpridos quase que militarmente. Outro fator que agravava as críticas a Opus Dei era o envolvimento de vários membros em casos de corrupção, e a questão da espionagem dentro da própria Igreja, onde por meio da Confissão, padres da Opus Dei na época tornavam-se verdadeiros soldados na busca de informações de possíveis opositores da Igreja e dos governos (por sinal a função original da confissão era justamente política, saber segredos envolvendo o Estado e a Igreja). Com essa série de acusações por parte do próprio clero católico, era tida como uma verdadeira máquina alienadora no seio da Igreja Católica. O que por isso e por uma outra série de fatores, a congregação ainda é muito criticada nos dias atuais. De fato, a Opus Dei mudou e continua mudando os rumos não só da Igreja mas também da sociedade ocidental. Assentada sob os pilares do conservadorismo e do tradicionalismo, a Opus Dei tornou-se um verdadeiro Exército Católico, que aliado à ala conservadora da Igreja e da sociedade, torna-se um agente ativo no processo de estratificação e modelação social e político tecendo uma verdadeira rede de negociações que definem não só os rumos da religião, mas também da política e da economia em vários países. Se fosse uma ordem como outra qualquer, ela não receberia críticas tão pesadas de dentro da própria Igreja, e de ordens que antes foram altamente conservadoras e que agora são o braço do progresso e do diálogo da Igreja para com o mundo moderno. De mentiras a segredos, a Obra de Deus se revela tão falsa quanto sua filosofia pregada, que só visa garantir a perpetuação de uma sociedade opressora alienando cada vez mais seus membros e deturpando de modo irreversível a verdadeira mensagem de Jesus. Escrito por Rafael Vilaça. http://www.oiluminador.blogspot.com.br. Abraço. Davi.

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