segunda-feira, 30 de maio de 2016

Atos de Bondade.



Judaísmo. Atos de Bondade: Pilar do Judaísmo. Shimon, o Justo, um dos últimos participantes da Grande Assembleia, afirmava: "Sobre três coisas se sustenta o mundo: o estudo da Torá, o serviço Divino (a oração) e guemilut chassadim, os atos de bondade". (Pirkei Avot - A Ética dos Pais). O judaísmo ensina que o homem é o único ser que possui livre arbítrio e que pode, de forma consciente, beneficiar seus semelhante são praticar atos de bondade - guemilut chassadim, em hebraico. A Torá e nossos sábios ensinam que a bondade, a generosidade, a ética e a responsabilidade coletiva constituem parte integral dos mandamentos Divinos transmitidos para o povo judeu no deserto do Sinai. O mandamento de guemilut chassadim vai além da prática da tzedaká e inclui qualquer ato de bondade que é feito a outro. Mais especificamente, inclui emprestar dinheiro ou objetos, ser hospitaleiro, visitar e confortar os doentes, dar roupas a quem o necessita, auxiliar e alegrar noivas e noivos, enterrar os mortos, consolar os enlutados e promover a paz entre pessoas. Um simples sorriso, uma palavra bondosa e um ouvido atento em um momento de aflição são também atos de bondade. Cada vez que estendemos a mão a alguém que precisa de ajuda estamos cumprindo esse mandamento. Desde seus primórdios, o judaísmo e a prática de guemilut chassadim são inseparáveis e entrelaçados, pois sem compaixão, moralidade e justiça social não há como manter uma sociedade ou sustentar a humanidade. Ensinam nossos sábios: "Se Israel considerasse as palavras da Torá que lhe foi dada, nenhuma nação ou reinado teria domínio sobre esse povo. E o que a Torá pede que se faça? Que se aceite sobre si o jugo do Reinado Celestial e que os membros do povo de Israel pratiquem, uns com outros, atos de bondade". O Midrash vai mais longe e revela que a prática de atos de bondade é a pedra fundamental, o pilar sobre o qual se ergue todo o universo. O judaísmo ensinou ao mundo que o homem foi criado à "imagem de D'us". Isto significa que o ser humano é um microcosmo dos atributos e qualidades Divinas. Portanto, assim como a bondade, a generosidade e a compaixão do Todo Poderoso se estendem a todos, o homem deve buscar fazer o mesmo. A Torá nos ordena: "Deves seguir D'us e ser fiel a Ele" (Deuteronômio 13:5). Ao comentar este verso, nossos sábios afirmam que o ser humano só pode apegar-se a D'us e se aproximar Dele se emular Suas qualidades. D'us é Misericordioso e Generoso. De fato, um dos nomes de D'us mais usado no Talmud é Rachmaná - "O Misericordioso", então o homem também deve ser misericordioso, generoso e bondoso com todos. Portanto, afirmam nossos sábios, assim "como D'us veste os que não possuem roupa (...) visita os doentes (...) consolar os enlutados (...) cuidar dos mortos (...) alegrar os noivos e noivas (...) também tu deves assim proceder". Os rabinos do Talmud consideravam a bondade uma das três marcas singulares do judeu. Guemilut chassadim é tão fundamental no judaísmo que, se alguém não pratica atos de bondade, deve-se questionar se realmente faz parte da Nação Judaica, pois, está escrito que "Israel, o povo sagrado, é caracterizado por três qualidades: a modéstia, a misericórdia e a prática da bondade" (Yevamot, 79a). O Talmud vai além e afirma que alguém que só estuda Torá, mas não pratica a bondade, repudia a D'us e não adquire nem mesmo o mérito do estudo. Pois, como ensinou Rabi Akiva, o maior mestre do Talmud, o mandamento "Amarás a teu semelhante como a ti mesmo" (Levítico 19:18) é o princípio fundamental da Torá. Ser um ish chessed. Uma das principais metas do judaísmo é ajudar o homem a se aperfeiçoar espiritualmente para que ele se torne um ish chessed, um homem de bondade. Não surpreende, portanto, que o primeiro patriarca judeu, Avraham, personifique a Sefirá, o atributo Divino, de chessed - benevolência, generosidade e amor infinito. Bondoso e altruísta, Avraham estava sempre preocupado com o bem-estar dos outros, respeitando e amando todos os seres e cercando-os de atos de bondade e generosidade. Hospitaleiro, o primeiro judeu usou sua riqueza para acomodar os viajantes; as portas de sua tenda estavam sempre abertas a todos aqueles que por lá passavam. Qualquer um, anjo, mendigo ou mesmo idólatra, podia entrar em seu lar e comer à sua mesa, ou descansar em uma de suas tendas. Avraham também compartilhava com outros sua sabedoria e seu conhecimento. Para salvar alguém do sofrimento e da morte, não hesitava em tomar a medida necessária, mesmo arriscando a própria vida. Avraham é o paradigma do judeu ideal - bondoso com D'us e com os homens; o Talmud ensina que qualquer pessoa que tenha compaixão por outras certamente descende do patriarca. Na Cabalá, a Sefirá de Chessed, simbolizada por Avraham, representa a bondade, o altruísmo, o compartilhar, o dar incondicional, o amor. É o fluxo de energia que nos abre para o mundo e nos leva a estender a mão ao outro. Em hebraico, a palavra que significa "amar" é ohev e advém de hav, "dar". O verdadeiro amor, ensina o judaísmo, é constituído por atos de doação e bondade. Guemilut chassadim e tzedaká. Como vimos, guemilut chassadim é definido por qualquer ato realizado com o objetivo de beneficiar o outro. Um ato de bondade ocorre quando uma pessoa doa algo de si para outro, seja dinheiro, energia, tempo ou afeição. Em hebraico, o termo guemilut chassadim é sempre utilizado no plural, pois cada ato de bondade é recíproco, beneficiando o receptor e o doador também. Ensinam nossos sábios que cada ato de bondade tem dupla consequência: ajuda o que recebe e abençoa o que dá. A tzedaká é um dos sustentáculos do judaísmo. Mas nossos sábios ensinam que os atos de guemilut chassadim são, geralmente, superiores. O Talmud explica: "Os sábios ensinaram: de três maneiras os atos de bondade são maiores que a caridade. A caridade é realizada com dinheiro; a bondade é feita quando alguém dá de si. A caridade é dada ao pobre; a bondade pode ser feita tanto para o pobre quanto para o rico. A caridade é para os vivos; a bondade é para os vivos e para os mortos" (Sucá, 49b). O Maharal de Praga, Rabi Yehudá Loew (1520-1609), afirmava que por mais louvável e necessária que fosse a tzedaká, muitas vezes é impulsionada por um sentimento momentâneo de compaixão. É difícil não ajudar alguém quando somos defrontados com a dor ou fome de outro ser. Mas, explica o Maharal, para que o homem se "aproxime" de D'us, ele precisa ir além de momentos passageiros de compaixão; o homem que deseja elevar-se espiritualmente precisa se tornar um verdadeiro homem de chessed. Para tal homem, agir para beneficiar outros não é uma resposta frente a uma necessidade, mas uma qualidade intrínseca de sua personalidade. O coração e a mente de um homem de chessed estão sempre atentos, percebendo as necessidades dos que estão a sua volta e agindo para atendê-las. Maimônides (1135-1204), o maior dos filósofos judeus e codificador da Lei Judaica, explicou qual a diferença entre tzedaká e chessed. Tzedaká vem da palavra tzedek, cujo significado é justiça. Justiça quer dizer dar a alguém algo que é seu por direito - no judaísmo, a caridade é considerada uma forma de justiça e não bondade gratuita. Chessed, por sua vez, é uma atitude em relação àqueles que não necessariamente precisam de gestos de bondade - ou na proporção na qual são receptores. Assim, Maimônides conclui que enquanto a tzedaká está relacionada a um ato de generosidade, geralmente feito por alguém que deseja aperfeiçoar a sua própria alma, chessed aplica-se à realização da beneficência sem limites. Praticando o bem. A prática de atos de bondade é necessária para se constituir uma sociedade saudável e justa. Mas, para que a generosidade seja canalizada de forma positiva, deve incluir medidas de empatia, discernimento e respeito. Deve-se tomar, sempre, o maior cuidado para salvaguardar os sentimentos e o amor próprio de quem necessita de ajuda. A Torá ensina que se uma pessoa der a outra os mais valiosos presentes do mundo, porém de má-vontade, será como se não tivesse dado nada. Por outro lado, se um indivíduo for recebido com um sorriso de boas-vindas, ainda que não seja possível dar-lhe algo, será como se os presentes mais valiosos do mundo lhe tivessem sido ofertados. D'us nos ordena ser gentis não apenas com atos, mas também com palavras - falar gentilmente com os menos afortunados e estimulá-los. Na Torá, D'us promete abençoar aqueles que assim agem. Atos de bondade cobrem uma gama quase infinita de possibilidades, pois qualquer ser humano é "pobre" em relação ao que lhe falta. Alguns precisam de ajuda financeira, outros de afeição e outros, ainda, de conhecimento. Da mesma maneira que temos a obrigação de cuidar física e mentalmente dos outros, devemos fazer o mesmo em relação a seu espírito. É isto que D'us nos ordena na Torá: " (...) se há um necessitado entre vós (...) certamente deveis estender-lhe vossa mão e emprestar-lhe o suficiente para suas necessidades, seja o que for que lhe falte". (Deuteronômio,15:7-8). Este é um mandamento amplo, que não se limita às necessidades materiais do indivíduo. Guiar os outros, ensinando-lhes a Torá, é um elemento essencial de guemilut chassadim. Todo aquele que segue o mandamento de estudar a Lei tem também a obrigação de ensiná-la não apenas às crianças, mas a qualquer um. Nossos sábios ensinam que desviar alguém do caminho da Torá é pior do que feri-lo fisicamente, pois o dano espiritual é maior do que o físico. O dever de cuidar do bem-estar espiritual dos necessitados ultrapassa, muitas vezes, a obrigação de prover-lhes de bens materiais. Ensinam nossos sábios que o verdadeiro altruísmo, a verdadeira bondade, são realizados quando não se espera nada de volta. Frequentemente, mesmo se de forma inconsciente, ao darmos algo de nós mesmos para outro, temos a expectativa de receber algo em retorno. Mas o verdadeiro amor, a verdadeira bondade, devem ser dados incondicionalmente, sem esperar nada em troca. É por isso que o judaísmo considera que o verdadeiro ato de bondade, chamado de Chessed shel Emet, é feito aos mortos, pois os falecidos jamais poderão dar algo para aquele que tudo faz para que sejam enterrados com dignidade e respeito. A passagem de um ser humano desta vida terrena para a sua Morada Celestial é um dos ciclos de sua existência, não o seu fim. Portanto, o corpo do falecido deve ser enterrado com dignidade e conforme as leis judaicas e deve-se recitar o Kadish, estudar a Torá e realizar atos de tzedaká, para ajudar a elevar a alma do falecido. Mais do que um. No judaísmo, o conceito de guemilut chassadim não é uma sugestão ou uma convenção social desejável. É uma obrigação religiosa, uma ordem Divina. Guemilut chassadim literalmente quer dizer "devolver chessed". Cada um de nós recebe do Todo Poderoso, todos os dias, um fluxo inesgotável de bondade. Basta olhar em nossa volta e prestar atenção a todas as bênçãos que recebemos, dia após dia. A única maneira de pagar por este chessed é fazendo algo pelos outros. O judaísmo ensina que o homem é uma criatura que mantém hábitos; à medida que a prática da bondade se torna uma constante em sua vida ele vai-se elevando e se torna um ish chessed, um homem de bondade. Desta forma, realizará a missão Divina de consertar e santificar o mundo e torná-lo um reino de D'us. http://www.morasha.com.br. Abraço. Davi.

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