Judaísmo. www.morasha.com.br. O
SIGNIFICADO DE NOSSOS ATOS. “Tu Te recordas do que foi feito no mundo desde a
eternidade e Te recordas de todas as criaturas desde os tempos mais remotos.
Diante de Ti são desvendados todos os mistérios e os numerosos segredos desde o
começo da Criação; pois não há esquecimento ante o trono de Tua glória, nem há
segredo diante de Teus olhos. Tudo é revelado e conhecido por Ti, Eterno nosso
D’us (…). Pois Tu decretaste o momento da recordação para que sejam lembrados toda
alma e todo espírito, para que sejam recordadas as múltiplas ações e as
inúmeras criaturas de maneira infinita... (Oração de Mussaf em Rosh Hashaná). Rosh
Hashaná – o Ano Novo judaico – é um momento de Julgamento Divino.
Durante os dois dias dessa festividade, D’us inicia o processo de julgamento –
que perdura até o final da festa de Sucot – que determinará o
destino de cada ser humano para o ano que se inicia. Nossos Sábios empregam
várias metáforas para transmitir a ideia de que a Corte Celestial julga todos
os seres humanos em Rosh Hashaná. Uma dessas metáforas descreve a
maneira como o “arquivo” de cada pessoa é levado perante D’us. Falando de forma
metafórica, D’us “abre” esses arquivos, lê e analisa seu conteúdo e, então, faz
seu julgamento, decidindo o destino de cada pessoa para o novo ano. Muitos se
esquecem do fato de que Rosh Hashaná é o momento em que D’us
inicia seu julgamento. Essas pessoas estão felizes, com a falsa impressão de
que Rosh Hashaná é o dia 1o de janeiro do
Judaísmo: um feriado alegre no qual mergulhamos a maçã no mel e nos reunimos
com os familiares e amigos para comer e beber, a nosso bel prazer. Esse
conceito é comum, mas errôneo e perigoso, pois muitas pessoas não
celebram Rosh Hashaná com a seriedade de corpo e alma que a
data exige: estão totalmente desligadas do fato de que todos nós estamos diante
da Corte Celestial e talvez não estejamos preparados para essa solene
intimação. A realidade é que os dois dias de Rosh Hashaná são
a antítese do dia 1o de janeiro. Não são um momento de folia,
mas sim, os dois dias mais sérios do ano. Em Rosh Hashaná, o
destino do mundo e de cada um dos indivíduos está pendurado na balança. E se
estamos infelizes com a situação em que se encontra o mundo, temos de agir
em Rosh Hashaná da maneira como o Juiz Supremo espera que nos
comportemos. Rosh Hashaná não é, apenas, um momento em que todos os
povos e o mundo inteiro são julgados, coletivamente, para o novo ano. Como
deixa claro a oração de Mussaf de Rosh Hashaná, o
Julgamento Divino é individual. A Corte Celestial julga os atos, bons ou ruins,
que cada um de nós cometeu no ano que se encerra. Mas a ideia de que D’us julga
cada um de nós individualmente, e que Ele escrutiniza todos os nossos
pensamentos, palavras e atos, traz à tona uma pergunta teológica: Estará D’us
de fato interessado nos atos de cada ser humano? Serão nossas palavras –
inclusive nossas orações – e nossas ações diárias dignas de Sua atenção? Relacionando-se
com um D’us Infinito. Muitas pessoas, inclusive as com alto grau de
moralidade, têm uma determinada noção sobre as “coisas pequenas” da vida – os
detalhes do cotidiano e os atos menores que todo ser humano realiza, com
regularidade. E costumam perguntar: “Você acredita que D’us realmente se
preocupa com esses detalhes pequenos? Você acredita que D’us se importa com o
que acontece na intimidade de nosso lar, nossa cozinha e nosso trabalho?” O
conceito de “pequenas coisas” obviamente é muito subjetivo: o que uma pessoa
considera “pequeno” ou “grande” depende do ambiente cultural e social da
pessoa. Contudo, ainda que as pessoas costumem discordar sobre o que é
importante e o que não o é, podemos generalizar que a maioria dos seres humanos
acredita que, na vida, as “coisas grandes” importam, ao passo que as “coisas
pequenas” não importam tanto – se é que importam. Os pequenos detalhes que as
pessoas costumam deixar de lado não são, necessariamente, coisas às quais se
opõem, em princípio. Os pequenos detalhes podem também ser coisas que causam
indiferença, na pessoa, ou mesmo que elas considerem benéficas; contudo, não
são especialmente importantes. Essas “pequenas coisas” são parte de qualquer
religião – e certamente do Judaísmo. Podem ser atos positivos, tais como
colocar algumas moedas em uma caixa de Tzedacá, ou podem ser
negativos, como contar uma mentira branca. Em muitos casos, a atitude de não se
preocupar com as “pequenas coisas” na vida pode apenas ser uma fachada para a
preguiça. Mas a questão se D’us se importa ou não com os pequenos detalhes é
uma pergunta religiosa válida. E merece ser feita. De fato, essa pergunta está
no cerne do que trata a festividade de Rosh Hashaná – quando,
metaforicamente, o Tribunal Celestial examina o “arquivo” de cada ser humano e
o julga, segundo seus atos. A liturgia de Rosh Hashaná nos
conta que D’us examina e julga todos os nossos atos. Mas, por que razão o Todo
Poderoso deveria se importar com nossas ações cotidianas, os pequenos detalhes,
bons ou maus, da vida? Pode-se argumentar que D’us poderia se importar com o
que é notícia – guerras e terrorismo, uma pandemia mundial, eleições em Israel
– eventos que afetam a vida de milhões ou bilhões de pessoas. Mas por que Ele
deveria se importar se um único indivíduo come casher? Por que Ele
deveria se preocupar se a pessoa diz uma bênção antes de comer um pedaço de
chocolate, cumpre os mandamentos do Shabat, coloca Tefilin, ouve o
toque do Shofar em Rosh Hashaná ou come
na sucá durante a festa de Sucot? Por que Ele
deveria se importar se uma pessoa jejua ou não em Yom Kipur?
Afinal, D’us é o Senhor do universo, onde corpos imensos, planetas e estrelas,
movimentam-se como meros pontinhos dentro de uma miríade de galáxias. Cada um
de nós, na Terra, é apenas um indivíduo entre bilhões de outros, e mesmo o
planeta e a galáxia onde habitamos são minúsculos se comparados ao restante do
universo. Dentro de nossa estrutura, muito limitada – nossa família, amigos e
talvez nossa comunidade –, cada um de nós pode ser importante. Mas quando
olhamos para o mundo a partir de uma perspectiva mais ampla de tempo e espaço,
nossas atividades diárias e mesmo nossa própria existência parecem
insignificantes. Portanto, não faz sentido crer que o Senhor do Universo
pudesse ou devesse se importar com cada um de nós e com os pequenos detalhes de
nossa vida – nossos pequenos atos, bons ou ruins. Por que razão D’us, que
dirige e supervisiona o universo todo, deveria se preocupar com um detalhe como
se um indivíduo vai à sinagoga, faz doações para um necessitado ou anima um
amigo deprimido? Essa pergunta é igualmente válida no tocante à oração. Quando
uma pessoa invoca a D’us, quais as chances de ser ouvido? Não seria presunçoso
crer que o Senhor do Universo pode-se dedicar a ouvir as palavras e pedidos de
cada um de nós? A pergunta se D’us presta atenção a cada pessoa – e
especialmente aos detalhes de sua vida – é um problema teológico fundamental e
profundo. Muitos optam por ignorar essa pergunta, enquanto outros agem como se
não houvesse respostas à mesma. Em quase todos os casos, a origem dessa
pergunta teológica – e toda a confusão que gera – é a imagem infantil de D’us
que os adultos geralmente “pintam” para as crianças e que, por sua vez,
permanece conosco mesmo depois de crescermos. Essa imagem infantil de D’us é
alguém com uma longa barba branca, sentado em algum lugar dos Céus, milhares de
quilômetros acima de nós, com relâmpagos em uma mão e um saco de balas na
outra. Quando adultos, muitos de nós substituem essa imagem, compreendendo que
é infantil e até uma blasfêmia, com a ideia de que D’us é como o diretor de uma
grande empresa. Em grandes empresas, um funcionário mediano tem pouco ou nenhum
contato com o diretor. Os funcionários são apenas uma pequena peça em uma
grande engrenagem. O funcionário teria de fazer algo extraordinariamente bom ou
ruim para ter a atenção do diretor. Na falta de qualquer dos dois cenários, é
provável que o diretor nunca vá a ter contato com o funcionário, mesmo que este
trabalhe para ele. À medida que subimos a cadeia hierárquica, esse padrão é
amplificado. Por exemplo, o Primeiro Ministro de Israel é responsável pela
segurança e bem-estar de todos os cidadãos do país, ainda que não os conheça
pessoalmente nem se importe com a vida pessoal deles. Quando um cidadão escreve
uma carta ao Primeiro Ministro, é algum secretário quem responde. Talvez apenas
pessoas muito famosas, excepcionais, recebam às vezes uma resposta pessoal. E
pode-se entender a razão para ser assim. Se o Primeiro Ministro fosse responder
a cada uma das cartas que lhe são enviadas, não teria tempo nem forças para
executar seu trabalho. Os Chefes de Estado desempenham um papel vital e têm o
poder de impactar a vida de milhões de pessoas. No entanto, até eles funcionam
dentro de uma esfera limitada de poder e influência, comparada ao universo
inteiro. Evidentemente, nenhum deles pode ser comparado a D’us – Criador e
Mestre de tudo o que existe. Mas pode-se conjeturar que se um Chefe de Estado
não pode relacionar-se com os cidadãos de seu país individualmente – e muito
menos preocupar-se com os detalhes da vida de cada um – imaginem o quanto mais
essa ideia se aplica a D’us, o responsável não apenas por nosso planeta, mas
por todo o universo. Se um Chefe de Estado é inacessível aos cidadãos, como
pode o Senhor de todo o universo estar acessível a cada um de nós? Aqueles que
imaginam D’us como um líder muito poderoso julgam que assim fazendo estão
expressando profundo respeito pelo Altíssimo. Desdenham a ideia de que D’us não
tenha nada melhor a fazer do que intrometer-se nos mínimos detalhes da vida de
cada ser humano. Pois mesmo um pai, o quanto ele sabe da vida de seus filhos, o
quanto isso o preocupa? São tantos os mínimos detalhes sobre coisas que
desconhecemos totalmente. De modo geral, os seres humanos se preocupam com o
que é grande e ao pensar na vastidão do universo, imaginam que D’us, que é
incomparavelmente mais importante do que o ser humano mais poderoso, certamente
não tem como preocupar-se com detalhes. Mas quando dizemos que D’us não está
interessado ou envolvido com detalhes – com as “coisas pequenas” que fazemos ou
deixamos de fazer, na realidade, estamos imaginando o Altíssimo de acordo com
as nossas medidas. Independentemente do quão aumentemos a concepção Divina,
continua sendo a nossa concepção, a nossa medida. Podemos ver D’us como sendo
particularmente importante. No entanto, por maior que seja a nossa concepção de
D’us, continua sendo uma projeção muitíssimas vezes aumentada de nossa figura
humana finita. Em nossas orações e bênçãos, referimo-nos a D’us como Melech
haOlam, Rei do Mundo. E, de fato, o reinado Divino é um dos principais
temas de Rosh Hashaná. Contudo, precisamos ter cuidado para não
interpretar erroneamente essa metáfora. Há uma diferença fundamental entre D’us
e qualquer ser humano, por mais importante e poderoso que seja – um Chefe de
Estado, ou até mesmo um rei. A razão para um Chefe de Estado não estar a par
das preocupações diárias dos cidadãos de seu país é por ele ter uma mente
limitada, além de tempo e energia limitados. Independentemente de quão
talentoso e cheio de energia seja, há um limite no que ele consegue fazer em um
dia limitado a 24 horas. Por essa razão, ele precisa saber fazer suas escolhas.
O líder de um país, ou qualquer pessoa que esteja no alto de uma cadeia
hierárquica, só consegue concentrar-se em questões macro – no que é mais
importante; ele não se pode dar ao luxo de dedicar seu tempo e sua mente a
detalhes pequenos, senão seu funcionamento será prejudicado. Qualquer líder,
até o mais capaz e batalhador, deve delegar os assuntos importantes a seus
ministros ou pessoas de confiança – sozinho não consegue fazer tudo. No
entanto, diferentemente de Chefes de Estado, D’us é Infinito. A infinitude é um
conceito difícil de ser entendido, mesmo na Matemática. O infinito não tem
limites: é ilimitado o número de detalhes que pode conter. Além disso,
uma constatação matemática básica prova que em relação ao infinito, qualquer
outro número é zero e qualquer outro tamanho é igual. Um ou um trilhão, se
comparados com o infinito, são exatamente iguais a zero. Sob o ponto de vista
teológico, o fato de que D’us é Infinito significa que para Ele, todos os
detalhes são iguais em importância ou falta de importância, independentemente
de seu tamanho. Comparada ao Infinito, uma galáxia, com todas as suas estrelas,
é exatamente igual às menores partículas de um átomo. Assim sendo, não faz
sentido algum que D’us se preocupe com o que ocorre em uma galáxia e não com o
que ocorre a um tufo de grama. Comparado a D’us Infinito, sua magnitude é
exatamente igual. Se D’us se preocupa com todo o universo, – que, por maior que
seja, é finito e limitado –, pode-se dizer que todas as suas partes mais
ínfimas têm igual importância para Ele. O conceito de que, para um D’us
Infinito, não há o grande e o pequeno, é um dos temas das orações de Rosh
Hashaná: quando o Chazan repete a oração de Mussaf,
ele recita um trecho que afirma que D’us “trata na igual medida o grande e o
pequeno”. Essa é uma das maneiras de expressar a ideia de que as diferenças
entre grande e pequeno, importante e sem importância, são insignificantes para
Aquele que é Infinito, que está além de todas as limitações, Aquele para Quem
as limitações nada representam. De forma semelhante, diz o Salmo 139: “Tu perscrutas
meu íntimo e me conheces totalmente. Sabes quando me sento ou levanto e
antecipas meu pensamento onde quer que eu esteja. Estás comigo quando repouso
ou caminho, e Te são conhecidos todos os meus passos.... Se aos céus eu
ascendesse, lá Te encontraria, e se às profundezas me lançasse, também lá
estarias”. Esse Salmo indica que D’us está ciente de onde estamos e de tudo o
que fazemos, e que para Ele, os Céus e as profundezas, o distante e o próximo,
a escuridão e a luz, é tudo igual. O Rabi Avraham Ibn Ezra (1089-1164) – um dos
maiores poetas e filósofos da Idade Média – escreveu que esse salmo é o mais
importante que há no Livro dos Salmos. O Salmo 113, o primeiro da oração
de Hallel, expressa uma ideia similar. Por um lado, declara: “Muito
acima de todas as nações está o Eterno, e acima dos céus Sua glória”. A noção
de que D’us está acima e além de tudo é indiscutível: não pode haver semelhança
ou comparação entre D’us e Suas criações. Mas, o Salmo continua: “Quem é como o
Eterno, nosso D’us, que habita nas Alturas e vê o que se passa nos Céus e na
Terra?”. O que esse Salmo nos diz é que, por mais elevado que seja D’us, Ele
está ciente de tudo o que transpira nos Céus e na Terra. Algumas pessoas querem
louvar D’us dizendo que Ele é tão vasto e tão santificado que Sua glória está
nos Céus. Contudo, ao afirmar isso, eles também deixam implícito que D’us se
encontra apenas nos Céus, e, portanto, aqui na Terra e especialmente na
privacidade de nosso lar e nosso trabalho, podemos fazer o que bem quisermos.
Se fosse verdade que D’us se encontra apenas nos Céus e se preocupa apenas com
as questões macro do universo, nós poderíamos facilmente fazer pequenas coisas
erradas, “por trás de suas costas”, de forma escondida, pois esse grande D’us,
que é tão ocupado com as coisas importantes, pode não me ouvir, mas tampouco
Ele irá me repreender. Mas esse Salmo desfaz, em pedacinhos, a ilusão de que
D’us é grande demais para estar ciente e envolvido nos detalhes mínimos do
universo. O Salmo nos diz que D’us cuida dos Céus e da Terra. O Infinito está
em toda parte. Portanto, Céu e Terra são iguais para Ele. Comparado a D’us
Infinito, um camundongo não é menos importante que um arcanjo. Mas para nós,
criaturas pequenas e limitadas que somos, há uma diferença tremenda entre uma
galáxia e um átomo. Para D’us, essa diferença e todas as demais são
insignificantes. Em outras palavras, a capacidade de ver todos os detalhes é
parte da Infinitude: constitui uma das definições de ser Infinito. Assim como
nada é grande demais para D’us, nada é pequeno demais para Ele. Nada é
insignificante ou pequeno demais para passar despercebido, pois D’us tem uma
visão plenamente abrangente, que contém tudo que se possa imaginar. Assim
sendo, a crença de que algo é tão insignificante que pode escapar da atenção
Divina é pior do que uma blasfêmia – é um absurdo total. Mas o fato de que para
um D’us Infinito tudo é igualmente significativo ou sem significado, levanta
uma questão fundamental: será possível que tudo seja igualmente sem significado
para D’us? Em outras palavras, será que D’us chega a se importar? E por que Ele
o faria? A resposta é que se D’us se preocupou em criar o mundo, com regras tão
elaboradas – às quais chamamos de “leis da natureza” – para que esse mundo
pudesse funcionar, então isso significa que sim, D’us deve se importar. Mesmo
se desconsiderássemos a Revelação Divina no Sinai e a entrega da Torá – que nos
permitiu ter um vislumbre da Sabedoria e Vontade Divinas, o simples fato de que
D’us criou e mantém o universo é uma forte indicação de que Ele se preocupa com
toda a existência. Portanto, se o universo tem significado e importância para
D’us, todos os seus detalhes têm igual significado. Assim sendo, D’us está
igualmente ciente até do ato mais ínfimo de cada um dos seres humanos, seja ele
positivo ou negativo. D’us está atento a cada ato negativo, por menor que seja,
mas também a cada uma das boas ações, independentemente de seu tamanho. O choro
de uma criancinha é ouvido por D’us e Lhe é tão importante quanto o que um Chefe
de Estado possa dizer em público, sendo ouvido por milhões de pessoas. É
somente a idolatria de reduzir D’us a um tamanho finito, com conhecimento
finito – vendo-o como um tipo de Chefe de Estado celestial – o que dá origem à
pergunta “será que D’us se importa?”. São conceitos errôneos sobre D’us como
este ou similares a este o que gera tanta confusão na mente e no coração dos
seres humanos. O fato de se ter uma noção mais madura e mais abstrata sobre
D’us não O distancia de nós. Pelo contrário, aproxima-nos d’Ele. Ao aceitarmos
a premissa de que D’us tudo sabe e tudo ouve, torna-se evidente que Ele está
ciente de todos os nossos pensamentos, palavras e atos. E isso, obviamente,
inclui todas as orações que recitamos e os mandamentos da Torá que cumprimos. Muitas
pessoas que vão às sinagogas em Rosh Hashaná e participam das
longas orações desses dias, podem pensar: “Será que D’us realmente ouve minhas
preces e meus pedidos? Será que Ele se preocupa com o que sente o meu
coração?”. Tais perguntas estão na base da religião. Todas as preces se resumem
a um ponto básico que é o fato de nos estarmos dirigindo a D’us com a convicção
de que Ele está presente e nos ouve. Se temos Alguém com quem falar, podemos
rezar. Se não tivermos com quem falar – se D’us está distante de nossa vida ou
se Ele não se importar, então de que valem todas as orações e todos os
mandamentos? A base do Judaísmo, portanto, é a consciência da presença Divina e
o entendimento de que Ele vê tudo o que fazemos, ouve tudo o que dizemos e sabe
tudo o que pensamos. A dificuldade que muitas pessoas encontram em se
relacionar com D’us advém de um entendimento errôneo sobre Sua grandeza. A
pessoa que pensa que D’us é muito ocupado com assuntos grandiosos e não se
preocupa com uma criança que clama por Ele ao recitar os Salmos, não vê, de
fato, a grandeza Divina. Para a Onisciência Divina não há grande nem pequeno,
significativo ou insignificante na infinitude do universo. Para o Altíssimo,
não há diferença entre os mundos. Assim sendo, para D’us não há orações que
passem sem ser ouvidas, nem atos, bons ou ruins, que passem despercebidos. Devemos
ter isso em mente não apenas em Rosh Hashaná, mas em todos os dias
de nossa vida. O entendimento de que D’us está diante de cada um de nós
deve-nos forçar, sempre, a sermos mais atentos a nossos pensamentos, palavras e
ações. Essa percepção da constante Presença Divina é primordial para o
progresso espiritual e moral. Portanto, a abordagem correta à vida é viver como
se todo dia fosse Rosh Hashaná. Diariamente, em qualquer dia do ano,
antes de realizar uma ação – mesmo que seja uma ação comum, rotineira -, a Torá
nos alerta para que lembremos que estamos diante do Altíssimo. D’us não está,
como muitos acreditam, em um outro mundo ou nos Céus, tampouco em um reino
espiritual invisível aos seres humanos. Ele está aqui e em toda parte,
preenchendo toda a existência com Sua Essência Divina. www.morasha.com.br. Abraço. Davi
BIBLIOGRAFIA. Rabi Adin (Even Israel) Steinsaltz,.Simple Words – Thinking About
What Really Matters in Life. Simon & Schuster. Pebbles of Wisdom
from Rabbi Adin Steisaltz – Collected and with Notes by Arthur Kurzweil –
Jossey-Bass.
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