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SÍNODO DA AMAZÔNIA – A IGREJA ESTÁ COMPROMETIDA EM SER ALIADA DA AMAZÔNIA.
Cinco capítulos, mais uma introdução e uma breve conclusão: este é o Documento
Final da Assembleia Especial para a Região Pan-amazônica, divulgado na noite
deste sábado, 26 de outubro de 2019, por desejo do Papa. Dentre os temas, missão, inculturação,
ecologia integral, defesa dos povos indígenas, rito amazônico, papel das
mulheres e novos ministérios, sobretudo nas áreas de difícil acesso à
Eucaristia. Vatican News – Cidade do Vaticano. Conversão: esse é o tema do documento final do
Sínodo Pan-amazônico. Uma conversão que tem diferentes significados: integral,
pastoral, cultural, ecológica e sinodal. O texto é o resultado do “intercâmbio
aberto, livre e respeitoso” desempenhado durante as três semanas de
trabalhos do Sínodo, para relatar os desafios e o potencial da Amazônia, o “coração
biológico” do mundo, espalhado por nove países e habitado por mais de 33
milhões pessoas, incluindo cerca de 2,5 milhões de indígenas. No entanto, esta
região, segunda área mais vulnerável do mundo devido às mudanças climáticas
provocadas pelo homem, está “numa corrida frenética rumo à morte” e isso exige
urgentemente, reitera o Documento, uma nova direção que permita que seja salva,
sob pena de impacto catastrófico em todo o planeta. Capítulo I.
Conversão Integral. O
Documento exorta desde o início a uma “verdadeira conversão integral”, com uma
vida simples e sóbria, no estilo de São Francisco de Assis, comprometida em
relaciona-se harmoniosamente com a “Casa comum”, obra criativa de Deus. Essa
conversão levará a Igreja a ser em saída, para entrar no coração de todos os
povos amazônicos. De fato, a Amazônia tem uma voz que é uma mensagem da vida e
se expressa através de uma realidade multiétnica e multicultural, representada
pelos rostos variados que a habitam. “Bom viver” e “fazer bem” é o estilo de
vida dos povos amazônicos, ou seja, viver em harmonia consigo mesmo, com os
seres humanos e com o ser supremo, numa única intercomunicação entre todo o
cosmo, a fim de forjar um projeto de vida plena para todos. As
dores da Amazônia: o grito da terra e o grito dos pobres. Todavia o texto não
reprime as muitas dores e violências que hoje ferem e deformam a Amazônia,
ameaçando sua vida: a privatização de bens naturais; modelos de produções
predatórias; desmatamento que atinge 17% de toda a região; a poluição das
indústrias extrativistas; mudanças climáticas; narcotráfico; alcoolismo;
tráfico de seres humanos; a criminalização de líderes e defensores do
território; grupos armados ilegais. É extensa a página amarga sobre migração,
que na Amazônia articula-se em três níveis: mobilidade de grupos indígenas em
territórios de circulação tradicional; deslocamento forçado de populações
indígenas; migração internacional e refugiados. Para todos esses grupos, é
necessário um cuidado pastoral transfronteiriço capaz de incluir o direito à
livre circulação. O problema da migração, lê-se, deve ser enfrentado de maneira
coordenada pelas Igrejas de fronteira. Além disso, um trabalho pastoral
permanente deve ser pensado para, migrantes vítimas do tráfico de pessoas. O
Documento sinodal convida a prestar atenção ao deslocamento forçado de famílias
indígenas nos centros urbanos, sublinhando como esse fenômeno requer uma “pastoral
conjunta nas periferias”. Daí a exortação à criação de equipes missionárias
que, em coordenação com as paróquias, cuidem desse aspecto, oferecendo
liturgias inculturadas e favorecendo a integração dessas comunidades nas
cidades. Capítulo
II – Conversão Pastoral. A referência à natureza missionária da Igreja também é
central: a missão não é algo opcional, lembra o texto, porque a Igreja é missão
e a ação missionária é o paradigma de toda obra da Igreja. Na Amazônia, ela
deve ser “samaritana”, ou seja, ir ao encontro de todos; “Madalena”, ou
seja, amada e reconciliada para anunciar com alegria o Cristo ressuscitado; “Mariana”,
ou seja, geradora de filhos para a fé e “inculturada” entre os povos a que
serve. É importante passar de uma pastoral “de visita” a uma pastoral “de
presença permanente” e, para isso, o Documento sinodal sugere que as
Congregações religiosas do mundo estabeleçam pelo menos um posto missionário em
um dos países da Amazônia. O sacrifício dos missionários mártires. O Sínodo não esquece os muitos missionários que
deram a vida para transmitir o Evangelho na Amazônia, cujas páginas mais
gloriosas foram escritas pelos mártires. Ao mesmo tempo, o Documento lembra que
o anúncio de Cristo na região realizou-se muitas vezes em conivência com os
poderes opressores das populações. Por esse motivo, hoje a Igreja tem “a
oportunidade histórica” de se distanciar das novas potências colonizadoras,
ouvindo os povos amazônicos e exercendo sua atividade profética “de forma
transparente”. Diálogo
ecumênico e inter-religioso. Nesse
contexto, foi dada grande importância ao diálogo ecumênico e inter-religioso: “Caminho
indispensável da evangelização na Amazônia”, afirma o texto sinodal, ele deve
partir, no primeiro caso, da centralidade da Palavra de Deus para iniciar
verdadeiros caminhos de comunhão. No âmbito inter-religioso, o Documento
incentiva um maior conhecimento das religiões indígenas e dos cultos
afrodescendentes, a fim de que cristãos e não cristãos possam agir juntos em
defesa da Casa comum. Por esse motivo, são propostos momentos de encontro,
estudo e diálogo entre as Igrejas na Amazônia e os seguidores das religiões
indígenas. Urgência
de uma pastoral indígena e de um ministério juvenil. O Documento também recorda a urgência de uma
pastoral indígena que tenha um lugar específico na Igreja: é necessário criar
ou manter, de fato, “uma opção preferencial pelas populações indígenas”, dando
também maior impulso missionário às vocações autóctones, porque a Amazônia
também deve ser evangelizada pelos amazônicos. Depois, dar espaço aos jovens
amazônicos, com suas luzes e sombras. Divididos entre tradição e inovação,
imersos numa intenda crise de valores, vítimas de realidades tristes como a
pobreza, violência, desemprego, novas formas de escravidão e dificuldade de
acesso à educação, muitas vezes acabam na prisão ou em mortos por suicídio. E,
no entanto, os jovens amazônicos têm os mesmos sonhos e as mesmas esperanças
que os outros jovens do mundo e da Igreja. Chamada a ser uma presença
profética, deve acompanhá-los em seu caminho, para impedir que sua identidade e
sua autoestima sejam prejudicadas ou destruídas. Em particular, o Documento
sugere “um renovado e ousado ministério juvenil”, com uma pastoral sempre ativa
e centrada em Jesus. De fato os jovens, lugar teológico e profetas da
esperança, querem ser protagonistas e a Igreja na Amazônica quer reconhecer o
seu espaço. Por isso, o convite a promover novas formas de evangelização também
através das mídias sociais e ajudar os jovens indígenas a alcançar uma interculturalidade
saudável. Pastoral
urbana e as famílias. O texto conclusivo
do Sínodo se detém no tema da pastoral urbana, com um foco particular nas
famílias: nas periferias da cidade, elas sofrem pobreza, desemprego, falta de
moradia, além de vários problemas de saúde. Torna-se, portanto, necessário
defender o direito de todos à cidade como desfrute justo dos princípios de
sustentabilidade, democracia e justiça social. É preciso lutar, lê-se no texto,
a fim de que os direitos fundamentais básicos sejam garantidos nas “favelas” e
nas “villas misérias”. Central deve ser também o estabelecimento de um “ministério
de acolhimento” para uma solidariedade fraterna com migrantes, refugiados e
sem-teto que vivem no contexto urbano. Nesse âmbito, uma ajuda válida vem das
Comunidades Eclesiais de Base, “um presente de Deus para as Igrejas locais da
Amazônia”. Ao mesmo tempo, as políticas públicas são convidadas a melhorar a
qualidade de vida nas áreas rurais, a fim de evitar a transferência
descontrolada de pessoas para a cidade.
Capítulo III: Conversão cultural. A inculturação
e a interculturalidade são instrumentos importantes, prossegue o Documento,
para alcançar uma conversão cultural que leva o cristão a ir ao encontro do
outro para aprender com ele. Os povos amazônicos, de fato, com seus “perfumes
antigos” que contrastam o desespero que reina no continente e com seus valores
de reciprocidade, solidariedade e senso de comunidade, oferecem ensinamentos de
vida e uma visão integrada da realidade, capaz de entender que toda a criação
está interligada e, portanto, garantir uma gestão sustentável. A Igreja
compromete-se a ser aliada das populações indígenas, reitera o texto sinodal,
sobretudo para denunciar os ataques perpetrados contra suas vidas, os projetos
de desenvolvimento predatórios etnocidas e ecocidas e a criminalização dos
movimentos sociais. Defender
a terra é defender a vida. “A defesa da
terra”, lê-se no documento, “não tem outro objetivo a não ser a defesa da vida”
e se baseia no princípio evangélico da defesa da dignidade humana. Portanto,
devemos respeitar os direitos à autodeterminação, à delimitação dos territórios
e à consulta prévia, livre e informada dos povos indígenas. Um ponto específico
é dedicado às populações indígenas em isolamento voluntário (Piav) ou em Isolamento
e contato inicial (Piaci) que hoje, na Amazônia, somam cerca de 130 unidades e
são muitas vezes vítimas de limpeza étnica: a Igreja deve empreender dois tipos
de ação, pastoral e outra “de pressão”, para que os Estados protejam os
direitos e a inviolabilidade dos territórios dessas populações. Teologia
indígena e piedade popular. Na
perspectiva da inculturação, isto é, da encarnação do Evangelho nas culturas
indígenas, é dado espaço à teologia indígena e à piedade popular, cujas
expressões devem ser valorizadas, acompanhadas, promovidas e às vezes "purificadas",
pois são momentos privilegiados de evangelização que devem conduzir ao encontro
com Cristo. O anúncio do Evangelho, de fato, não é um processo de destruição,
mas de crescimento e consolidação daquela semeadura Verbos presente nas
culturas. Daí a clara rejeição de uma "evangelização colonial" e do "proselitismo",
em favor de um anúncio inculturado que promova uma Igreja de rosto amazônico,
em pleno respeito e igualdade com a história, a cultura e o estilo de vida das
populações locais. A este respeito, o Documento sinodal propõe que os centros
de pesquisa da Igreja estudem e recolham as tradições, as línguas, as crenças e
as aspirações dos povos indígenas, encorajando o trabalho educativo a partir da
sua própria identidade e cultura.
Criar uma Rede de Comunicação
Eclesial. Panamazônica. Também na área da
saúde - continua o Documento - este projeto educativo deverá promover o
conhecimento ancestral da medicina tradicional de cada cultura. Ao mesmo tempo,
a Igreja se compromete a oferecer assistência de saúde lá onde o Estado não
chega. Há também um forte apelo a uma educação à solidariedade, baseada na
consciência de uma origem comum e de um futuro partilhado por todos, assim como
a uma cultura da comunicação que promova o diálogo, o encontro e o cuidado da "casa
comum". Concretamente, o texto sinodal sugere a criação de uma Rede de
comunicação eclesial pan-amazônica, de uma rede escolar de educação bilíngue e
de novas formas de educação também à distância.
Capítulo IV - Conversão ecológica.
Diante de "uma crise social e ambiental sem precedentes", o Sínodo
apela a uma Igreja amazônica capaz de promover uma ecologia integral e uma
conversão ecológica segundo a qual "tudo está intimamente conectado". Ecologia
integral, único caminho possível. A
esperança é que, reconhecendo "as feridas causadas pelo ser humano" ao
território, sejam procurados "modelos de desenvolvimento justo e
solidário". Isto traduz-se numa atitude que colega o cuidado pastoral da
natureza à justiça para com as pessoas mais pobres e desfavorecidas da terra. A
ecologia integral não deve ser entendida como um caminho extra que a Igreja
pode escolher para o futuro, mas como a única forma possível para salvar a
região do extrativismo predatório, do derramamento de sangue inocente e da
criminalização dos defensores da Amazônia. A Igreja, como "parte de uma
solidariedade internacional", deve promover o papel central do bioma
amazônico para o equilíbrio do planeta e encorajar a comunidade internacional a
fornecer, novos recursos econômicos para sua proteção, fortalecendo os
instrumentos da Convenção-Quadro sobre Mudança Climática. Defesa
dos direitos humanos é uma necessidade de fé. Defender e promover os direitos humanos, além de
ser um dever político e uma tarefa social, é uma exigência de fé. Diante deste
dever cristão, o Documento denuncia a violação dos direitos humanos e a
destruição extrativista; assume e apoia, também em aliança com outras Igrejas,
as campanhas de desinvestimento das empresas extrativistas que causam danos
sociais e ecológicos à Amazônia; propõe uma transição energética radical e a
busca de alternativas; propõe também o desenvolvimento de programas de formação
para o cuidado da "casa comum". Pede-se aos Estados que deixem de
considerar a região como uma dispensa inesgotável, ao mesmo tempo que apelam a
um "novo paradigma de desenvolvimento sustentável" socialmente
inclusivo que combine conhecimentos científicos e tradicionais. Os
critérios comerciais, é a recomendação, não devem estar acima dos critérios
ambientais e dos direitos humanos.
Igreja aliada das comunidades
amazônicas. O apelo é à responsabilidade: todos
somos chamados à custódia da obra de Deus. Os protagonistas do cuidado, proteção
e defesa dos povos são as próprias comunidades amazônicas. A Igreja é sua
aliada, caminha com eles, sem impor um modo particular de agir, reconhecendo a
sabedoria dos povos sobre a biodiversidade contra todas as formas de
biopirataria. Pede-se que os agentes pastorais e os ministros ordenados sejam
formados a esta sensibilidade socioambiental, seguindo o exemplo dos mártires
da Amazônia. A ideia é criar ministérios para o cuidado da casa comum. Defesa
da vida. O Documento reafirma o empenho da
Igreja em defender a vida "desde a concepção até o seu fim" e em
promover o diálogo intercultural e ecumênico para conter as estruturas de
morte, pecado, violência e injustiça. Conversão ecológica e defesa da vida na
Amazônia se traduzem para a Igreja em um chamado a "desaprender, aprender
e reaprender para superar qualquer tendência a assumir modelos coloniais que
tenham causado danos no passado".
Pecado ecológico e direito à água
potável. Proposta a definição de "pecado
ecológico" como "ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a
comunidade, o meio ambiente", as futuras gerações e a virtude da
justiça. Para reparar a dívida ecológica que os países têm com a
Amazônia, sugere-se a criação de um fundo mundial para as comunidades
amazônicas, a fim de protegê-las do desejo predatório das empresas nacionais e
multinacionais. O Sínodo recorda "a necessidade urgente de desenvolver
políticas energéticas que reduzam drasticamente as emissões de dióxido de
carbono (CO2) e de outros gases ligados à mudança climática", promove as
energias limpas e chama a atenção para o acesso à água potável, ao direito
humano básico e condições para o exercício de outros direitos humanos. Proteger
a terra significa incentivar a reutilização e a reciclagem, reduzir o uso de
combustíveis fósseis e plásticos, mudar hábitos alimentares como o consumo
excessivo de carne e peixe, adotar estilos de vida sóbrios, plantar árvores.
Neste contexto, está incluída a proposta de um Observatório Social Pastoral
Amazônico que trabalhe em sinergia com CELAM, CLAR, CARITAS, REPAM,
episcopados, igrejas locais, universidades católicas e atores não eclesiais.
Também foi proposta a criação de um escritório amazônico dentro do Dicastério para
o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
Capítulo V – Novos caminhos de
conversão sinodal. Superar o clericalismo e as imposições arbitrárias, reforçar
uma cultura do diálogo, da escuta e do discernimento espiritual, responder aos
desafios pastorais. São essas as características sobre as quais se deve fundar
uma conversão sinodal à qual a Igreja é chamada para avançar em harmonia, sob o
impulso do Espírito vivificante e com audácia evangélica. Sinodalidade,
ministerialidade, papel ativo dos leigos e vida consagrada. O desafio é
interpretar à luz do Espírito Santo os sinais dos tempos e identificar o
caminho a seguir a serviço do desenho de Deus. As formas de exercício da sinodalidade
são várias e deverão ser descentralizadas, atentas aos processos locais, sem
enfraquecer o elo com as Igrejas irmãs e com a Igreja universal. Sinodalidade se
traduz, em continuidade com o Concílio Vaticano II, em corresponsabilidade e ministerialidade
de todos, participação dos leigos, homens e mulheres, considerados “atores
privilegiados”. A participação do laicato, seja na consulta, seja na tomada de
decisões na vida e missão da Igreja – explica o Documento Final – deve ser
reforçada e ampliada a partir da promoção e concessão de “ministérios a homens
e mulheres de modo équo”. Evitando personalismos, talvez com encargos em
rodízios, “o bispo pode confiar, com um mandato com prazo determinado, na
ausência de sacerdotes, o exercício do cuidado pastoral das comunidades a uma
pessoa não imbuída do caráter sacerdotal, que seja membro da própria
comunidade”. A responsabilidade desta última, especifica-se, permanecerá a
cargo do sacerdote. O Sínodo aposta ainda numa vida consagrada com rosto
amazônico, a partir de um reforço das vocações autóctones: entre as propostas,
se destaca o caminhar junto aos pobres e excluídos. Pede-se ainda que a
formação seja centralizada na interculturalidade, inculturação e diálogo entre
as espiritualidades e as cosmovisões amazônicas.
A hora da mulher. O Documento dedica amplo espaço à presença e à hora
das mulheres. Como sugere a sabedoria dos povos ancestrais, a mãe terra tem um
rosto feminino e no mundo indígena as mulheres são “uma presença viva e
responsável na promoção humana”. O Sínodo pede que a voz das mulheres seja
ouvida, que sejam consultadas, participem de modo mais incisivo na tomada de
decisões, contribuam para a sinodalidade eclesial, assumam com maior força sua
liderança dentro da Igreja, nos conselhos pastorais ou “também nas instâncias
de governo”. Protagonistas e custódias da criação e da casa comum, as mulheres
são com frequência “vítimas de violência física, moral e religiosa, inclusive
de feminicídio”. O texto reitera o empenho da Igreja em defesa dos seus
direitos, de modo especial em relação às mulheres migrantes. Enquanto isso, se
reconhece a “ministerialidade” confiada por Jesus à mulher e se auspicia uma “revisão
do Motu Proprio Ministeria quædam de São Paulo VI, para que também as
mulheres adequadamente formadas e preparadas possam receber os ministérios do
leitorado e do acolitato, entre outros que podem ser desempenhados”. No
específico, nesses contextos em que as comunidades católicas são guiadas por
mulheres, se pede a criação do “ministério instituído de mulher dirigente de
comunidade”. O Sínodo evidencia que de inúmeras consultas na Amazônia foi
solicitado “o diaconato permanente para as mulheres”, tema muito presente
durante os trabalhos no Vaticano. O desejo dos participantes da Assembleia é
compartilhar experiências e reflexões emergidas até agora com a “Comissão de
estudo sobre o diaconato das mulheres”, criada em 2016 pelo Papa Francisco e “aguardar
seus resultados”. Diaconato
permanente. Foram definidos como urgentes a
promoção, a formação e o apoio aos diáconos permanentes. O diácono, sob a
autoridade do bispo, está a serviço da comunidade e deve hoje promover a
ecologia integral, o desenvolvimento humano, a pastoral social e o serviço a
quem se encontra em situações de vulnerabilidade e pobreza, configurando-o a
Cristo. Portanto, é importante insistir numa formação permanente, marcada pelo
estudo acadêmico e prática pastoral, na qual sejam envolvidos também esposas e
filhos do candidato. O currículo formativo, explica o Sínodo, deverá incluir
temas que favoreçam o diálogo ecumênico, inter-religioso, intercultural, a
história da Igreja na Amazônia, a afetividade e a sexualidade, a cosmovisão
indígena e a ecologia integral. A equipe dos formadores será composta por
ministros ordenados e leigos. Deve ser encorajada a formação de futuros
diáconos permanentes nas comunidades que habitam às margens dos rios indígenas. Formação
dos sacerdotes. A formação dos sacerdotes deve ser inculturada:
a exigência é preparar pastores que vivam o Evangelho, conheçam as leis
canônicas, sejam compassivos como Jesus: próximos às pessoas, capazes de
escuta, de curar e consolar, sem buscar se impor, manifestando a ternura do
Pai. Também no âmbito da formação ao sacerdócio, se auspicia a inclusão de
disciplinas como a ecologia integral, a ecoteologia, a teologia da criação, as
teologias indígenas, a espiritualidade ecológica, a história da Igreja na
Amazônia, a antropologia cultural amazônica. O Sínodo recomenda que os centros
de formação sejam preferencialmente inseridos na realidade amazônica e que seja
oferecida a jovens não amazônicos a oportunidade de participar de sua formação
na Amazônia. Participação
à Eucaristia e ordenações sacerdotais. Para
a comunidade cristã, é central a participação à Eucaristia. E mesmo assim – destaca
o Sínodo – muitas comunidades eclesiais do território amazônico têm enormes
dificuldades em ter acesso a ela. Podem passar meses e até mesmo anos para que
um sacerdote volte a uma comunidade para celebrar a missa ou oferecer os
sacramentos da reconciliação e da unção dos enfermos. Reforçando o apreço pelo
celibato como dom de Deus na medida em que permite ao presbítero
dedicar-se plenamente ao serviço da comunidade e renovando a oração “para que
haja muitas vocações” que vivam o celibato, mesmo que “esta disciplina não seja
requisitada pela própria natureza do sacerdócio” e considerando a vasta
extensão do território amazônico e a escassez de ministros ordenados, o
Documento final propõe “estabelecer critérios e regras por parte da autoridade
competente, para ordenar sacerdotes homens idôneos e reconhecidos pela
comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo e recebam uma formação
adequada para o presbiterado, permitindo ter uma família legitimamente
constituída e estável, para promover a vida da comunidade cristã através da
pregação da Palavra e da celebração dos sacramentos nas áreas mais remotas da
região amazônica”. Deve-se especificar que “a propósito, alguns se expressaram
a favor de uma abordagem universal ao argumento”.
Organismo eclesial regional
pós-sinodal e Universidade Amazônica. O
Sínodo propõe projetar novamente a organização das Igrejas locais de um ponto
de vista pan-amazônico, redimensionando as vastas áreas geográficas da diocese,
reagrupando Igrejas particulares presentes na mesma região e criando um Fundo
amazônico para a promoção da evangelização a fim de enfrentar o “custo da
Amazônia”. Nesta ótica, se insere a ideia de criar um Organismo eclesial
regional pós-sinodal, articulado com a Repam e o Celam, a fim de assumir muitas
das propostas que emergiram no Sínodo. Em âmbito formativo, se invoca a
instituição de uma Universidade Católica Amazônica baseada na pesquisa
interdisciplinar, na inculturação e no diálogo intercultural e fundada
principalmente na Sagrada Escritura, no respeito dos costumes e das tradições
das populações indígenas. Rito
amazônico. Para responder de modo autenticamente
católico ao pedido das comunidades amazônicas de adaptar a liturgia valorizando
a visão do mundo, as tradições, os símbolos e os ritos originários, se pede a
este Organismo da Igreja na Amazônia de constituir uma comissão competente para
estudar a elaboração de um rito amazônico que “expresse o patrimônio litúrgico,
teológico, disciplinar e espiritual da Amazônia”. Este se acrescentaria aos 23
ritos já presentes na Igreja Católica, enriquecendo a obra de evangelização, a
capacidade de expressar a fé numa cultura própria, o sentido de
descentralização e de colegialidade que a Igreja Católica pode expressar. Também
se faz a hipótese de acompanhar os ritos eclesiais com o modo com os quais os
povos cuidam do território e se relacionam com as suas águas. Por fim, com a
finalidade de favorecer o processo de inculturação da fé, o Sínodo expressa a
urgência de formar comitês para a tradução e a elaboração de textos bíblicos e
litúrgicos nas línguas dos diferentes locais, “preservando a matéria dos
sacramentos e adaptando-os à forma, sem perder de vista o essencial”. Também
deve ser encorajado em nível litúrgico a música e o canto. No final do
Documento, se invoca a proteção da Virgem da Amazônia, Mãe da Amazônia,
venerada com vários títulos em toda a região. www.vaticannews.va/pt/vatican.
Abraço. Davi
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