Budismo. www.sotozencuritiba.org. O SERMÃO DA
GRANDE DESCOBERTA. Se alguém está determinado a alcançar a iluminação, qual o
método mais essencial a ser praticado? O método mais essencial, o qual inclui
todos os outros métodos, é contemplar a mente. Mas como pode um método
incluir a todos os outros? A mente é a raiz da qual todas as coisas
crescem. Se você pode entender a mente, tudo o mais está incluído. É como a
raiz de uma árvore. Todas as frutas e flores de uma árvore, galhos e folhas
dependem desta raiz. Se você alimenta a raiz da árvore, a árvore multiplica-se.
Se você corta a raiz da árvore, ela morre. Aqueles que entendem a mente
alcançam a iluminação com esforço mínimo. Aqueles que não entendem a mente
praticam em vão. Todas as coisas boas e más vêm de sua própria mente. Achar algo
além da mente é impossível. Mas como pode contemplar a mente ser chamado de
entendimento? Quando um grande bodhisattva penetra profundamente na
sabedoria perfeita (76), ele imagina que os quatro elementos e
cinco trevas são destituídos de natureza própria. E ele percebe que a atividade
de sua mente tem dois aspectos: puro e impuro (77). Por sua verdadeira natureza, esses dois
estados mentais estão sempre presentes. Eles alternam-se como causa ou efeito
dependendo das condições, a mente pura deliciando-se em bons atos, a mente
impura pensando no mal. Aqueles que não são afetados pela impureza são sábios.
Eles transcendem o sofrimento e experimentam a felicidade do nirvana. Todos os
outros, enganados pela mente impura e enredados pelo seu própria carma, são
mortais. Eles deixam-se levar através dos três reinos e sofrem incontáveis
aflições, e tudo porque suas mentes impuras obscurecem seu eu verdadeiro.
O Sutra da Dez Etapas diz: "No corpo dos mortais está a
natureza de buda indestrutível. Como o Sol, sua luz preenche o espaço sem fim.
Mas uma vez ocultado pelas nuvens escuras das cinco trevas, é como a luz dentro
de um jarro, escondido da vista. E o Sutra do Nirvana (78) diz: "Todos os mortais têm
natureza de buda. Mas ela está encoberta pela escuridão da qual não podem
esquecer. Nossa natureza de buda é consciência: estar consciente e fazer os
outros conscientes. Perceber a consciência é liberação "Tudo que é bom tem
consciência por raiz. E desta raiz de consciência cresce a árvore de todas as
virtudes e o fruto do nirvana. Contemplar a mente assim é entender. O Senhor
diz que nossa verdadeira natureza de buda e todas as virtudes têm consciência
como raiz. Mas qual é a raiz da ignorância? A mente ignorante, com suas
infinitas aflições, paixões e males, é enraizada nos três venenos: avidez,
raiva e ilusão. Esses três estados da mente venenosos por si mesmos incluem
inúmeros males, como árvores que têm um único tronco mas inúmeros galhos e
folhas. Cada veneno produz tantos milhões de males que o exemplo da árvore mal
é uma comparação apropriada. Os três venenos estão presentes em nossos seis
órgãos (79) dos sentidos como seis tipos de
consciência (80), ou ladrões. São chamados de ladrões
porque entram e saem pelos portais dos sentidos, cobiçam possessões sem
limites, enredam-se no mal, e mascaram sua verdadeira identidade. E porque os
mortais são desencaminhados em corpo e mente por esses venenos ou ladrões, eles
ficam perdidos na vida e na morte, perambulam pelos seis estados da
existência (81), e sofrem inúmeras aflições. Essas
aflições são como rios que correm por mil quilômetros devido ao constante fluxo
de pequenas fontes. Mas se alguém corta sua fonte, o rio seca. E se alguém que
procura a liberação pode transformar os três venenos nos três conjuntos de
preceitos e os seis ladrões nos seis paramitas, livra-se das aflições de uma
vez. Mas os três reinos e os seis estados da existência são infinitamente
vastos. Como podemos escapar de suas infindáveis aflições se tudo que fizermos
for contemplar a mente? O carma dos três reinos vem da mente somente. Se
sua mente não está dentro dos três reinos, ela está além deles. Os três reinos
correspondem aos três venenos: a avidez corresponde ao reino do desejo, a raiva
ao reino da forma e a ilusão ao reino sem forma. E porque o carma criado pelos
venenos pode ser leve ou pesado, esses três reinos são mais tarde divididos em
seis lugares conhecidos como seis estados da existência. E como o carma
desses seis difere? Os mortais que não entendem a prática verdadeira (82) e cegamente fazem boas ações nascem
nos três estados de existência dentro dos três reinos. E o que são esses três
estados mais altos? Aqueles que cegamente executam as dez boas ações (83) e tolamente buscam felicidade nascem
como deuses no reino do desejo. Aqueles que cegamente observam os cinco
preceitos(84) e tolamente amam e odeiam nascem
como homens no reino da raiva. E aqueles que cegamente atêm-se ao mundo
fenomenal, acreditam em falsas doutrinas e rezam por bênçãos nascem como
demônios no reino da ilusão. Esses são os três estados mais altos da
existência. E quais são os três estados mais baixos? Eles estão onde nascem
aqueles que persistem em pensamentos envenenados e más ações. Aqueles cujo
carma para avidez é maior tornam-se fantasmas famintos. Aqueles cujo carma para
raiva é maior tornam-se sofredores no inferno. E aqueles cujo carma para ilusão
é maior tornam-se bestas. Esses três estados mais baixos juntos com os três
estados mais altos anteriores formam os seis estados da existência. Com isso
você deveria perceber que todo o carma, doloroso ou não, vem de sua própria
mente. Se você puder concentrar sua mente apenas e transcender sua falsidade e
maldade, o sofrimento dos três reinos e seis estados de consciência
automaticamente desaparecerão. E uma vez livre do sofrimento, você está
verdadeiramente livre. Mas Buda disse: "Apenas após sofrer inumeráveis
sofrimentos por três asankhya kalpas (85) eu atingi a iluminação. "Por
que o Senhor diz que simplesmente observando a mente e superando os três
venenos está a liberação? As palavras de Buda são verdadeiras. Mas os três
asankhya kalpas referem-se aos três estados da mente envenenados. O que
chamamos de asankhya em sânscrito você chama de inumeráveis.
Dentre esses três estados envenenados da mente estão inúmeros maus pensamentos.
E cada pensamento dura um kalpa. Tal infinitude é o que Buda referiu-se como os
três asankhya kalpas. Uma vez que seu eu verdadeiro obscurece-se com os três
venenos, como você poderia ser chamado de liberado até que você supere seus
inúmeros maus pensamentos? Dizem que as pessoas que podem transformar os três
venenos da avidez, raiva e ilusão nas três liberações passam através dos três
asankhya kalpas. Mas as pessoas dessa idade final (86) são as mais estúpidas das tolas.
Elas não entendem o que o Tathagata realmente quis dizer com os três asankhya
kalpas. Elas dizem que a iluminação é atingida somente após kalpas sem fim e
assim fazem discípulos abandonarem o caminho da buditude. Mas os grandes
bodhisattvas atingiram a iluminação apenas observando os três conjuntos de
preceitos (87) e praticando os seis paramitas.
Agora você meramente diz aos discípulos para observarem a mente. Como pode
alguém atingir a iluminação sem cultivar as regras de disciplina? Os três
conjuntos de preceitos são para superar os três estados envenenados da mente.
Quando você supera esses três venenos, você cria três conjuntos de ilimitada
virtude. Um conjunto põe as coisas juntas - nesse caso, um número ilimitado de
bons pensamentos por toda a mente. E os seis paramitas são para purificar os
seis sentidos. O que nós chamamos de paramitas você chama
de meio de transporte para a outra margem (88). Pela purificação de seus seis sentidos
da poeira da sensação, os paramitas transportam você através do Rio das
Aflições para a Margem da Iluminação. De acordo com os sutras, os três
conjuntos de preceitos são: "Prometo terminar com todo o mal. Prometo
cultivar todas as virtudes. E prometo liberar todos os seres." Mas agora o
Senhor diz que eles existem apenas para controlar os três estados envenenados
da mente. Não é o contrário do significado das escrituras? Os sutras do
buda são verdadeiros. Mas há muito tempo, quando aquele grande bodhisattva
estava cultivando a semente da iluminação, foi para opor-se aos três venenos
que ele fez esses três votos. Praticando proibições morais para opor-se ao
veneno da avidez, ele prometeu terminar com todos os males. Praticando
meditação para opor-se ao veneno da raiva, ele prometeu cultivar todas as
virtudes. E praticando a sabedoria para opor-se ao veneno da ilusão, ele
prometeu liberar a todos os seres. Porque ele perseverou nessas três práticas
puras de moralidade, meditação e sabedoria, ele foi capaz de superar os três
venenos e alcançar a iluminação. Superando os três venenos varreu tudo que é
pecaminoso e assim terminou com o mal. Observando os três conjuntos de
preceitos ele nada fez além do bem e assim cultivou a virtude. E pondo um fim
ao mal e cultivando a virtude ele realizou todas as práticas, beneficiou a si
mesmo bem como aos outros, e resgatou mortais em todos os lugares. Assim ele
liberou seres. Você deveria perceber que a prática que você cultua não existe
separadamente de sua mente. Se sua mente é pura, todas as terras de buda são
puras. Dizem os sutras: "Se suas mentes são impuras, os seres são impuros.
Se suas mentes são puras, os seres são puros." E "Para alcançar uma
terra de buda, purifique sua mente. Uma vez que sua mente torne-se pura, as
terras-de-buda tornam-se puras" Assim, superando os três estados venenosos
da mente os três conjuntos de preceitos estão automaticamente satisfeitos. Mas
os sutras dizem que os seis paramitas são caridade, moralidade, paciência,
devoção, meditação e sabedoria. Agora o Senhor diz que os paramitas referem-se
à purificação dos sentidos. O que o Senhor quer dizer com isso? E por que eles
são chamados de balsas? Cultivar os paramitas significa purificar os seis
sentidos superando os seis ladrões. Abandonar o ladrão do olho abandonando o
mundo visual é caridade. Não deixar entrar o ladrão do ouvido não ouvindo os
sons é moralidade. Empobrecer o ladrão do nariz igualando todos os odores como
neutros é paciência. Controlar o ladrão da boca conquistando os desejos de
sabor, elogio e explicação é devoção. Reprimir o ladrão do corpo ficando imóvel
nas sensações de toque é meditação. E domar o ladrão da mente não cedendo às
ilusões, mas praticando consciência é sabedoria. Esses seis paramitas são os
transportes. Tais como botes ou jangadas, eles transportam seres parra a outra
margem Portanto, eles são chamados de balsas. Mas quando Shakyamuni era um
bodhisattva, ele consumiu três tigelas de leite e seis conchas de mingau (89) antes de atingir a iluminação. Se
ele tinha que beber leite antes de poder saborear o fruto da buditude, como
pode meramente contemplar a mente resultar em liberação? O que você diz é
verdadeiro. Foi como ele atingiu a iluminação. Ele teve que beber leite antes
de poder torna-se um buda. Mas há dois tipos de leite. Aquele que Shakyamuni
bebeu não era leite impuro comum mas o leite do puro Dharma. As três tigelas
eram os três conjuntos de preceitos. E as seis conchas eram os seis paramitas.
Quando Shakyamuni atingiu a iluminação, foi porque ele bebeu esse puro leite do
Dharma que ele saboreou o fruto da buditude. Dizer que o Tathagata bebeu a
mistura mundana de leite malcheiroso de vaca é calúnia. Aquilo que é
verdadeiro, indestrutível, o eu dármico livre de paixões, permanece livre das
aflições do mundo. Por que ele necessitaria do leite impuro para satisfazer sua
fome e sede? Dizem os sutras: "Esse boi não vive nas montanhas ou nos
vales. Ele não come grãos ou restos de grãos. E ele não pasta com vacas. O
corpo desse boi é da cor do ouro polido." O touro refere-se a Vairocana (90). Devido à sua grande compaixão por todos
os seres, ele produz dentro de seu corpo de Dharma puro o leite de Dharma
sublime dos três conjuntos de preceitos e dos seis paramitas para alimentar
todos aqueles que procuram liberação. O leite puro desse verdadeiramente puro
boi não somente habilita o Tathagata a atingir a buditude, mas também capacita
qualquer ser que o bebe a atingir a insuperável iluminação completa. Nos sutras
inteiros Buda diz para os mortais que eles podem atingir a iluminação fazendo
trabalhos meritórios tais como construção de mosteiros, fundição de estátuas,
queimar incenso, distribuição de flores, acender lâmpadas eternas, prática nos
seis períodos (91) do dia e noite, caminhar ao redor de
stupas (92), jejum e adoração. Mas se contemplar a
mente inclui todas as outras práticas, então tais trabalhos parecem
redundantes. Os sutras de Buda contêm inumeráveis metáforas. Devido ao fato dos
mortais terem mentes superficiais e não entenderem coisa alguma profundamente,
Buda usou o tangível para representar o sublime. As pessoas que buscam bênçãos
concentrando-se em trabalhos externos em vez de cultivo interno estão tentando
o impossível. O que vocês chamam de mosteiro nós chamamos de sangharama,
um local de pureza. Mas quem quer que negue entrada aos três venenos e mantém
as portas de seus sentidos puras, corpo e mentes calmos, interior e exterior
limpos, constrói um mosteiro. Fundir estátuas refere-se a todas as práticas
cultivadas por aqueles que buscam a iluminação. A forma sublime do Tathagata
não pode ser representada em metal. Aqueles que buscam a iluminação consideram
seus corpos como fornalhas, o Dharma como o fogo, a sabedoria como o ofício e
os três conjuntos de preceitos e seis paramitas como o molde. Eles fundem e
refinam a verdadeira natureza búdica dentro de si e derramam-na dentro do molde
formado pelas regras da disciplina. Atuando perfeitamente de acordo com o
ensinamento de Buda eles naturalmente criam uma semelhança perfeita. O corpo
sublime e eterno não está sujeito às condições ou decadência. Se você procura a
Verdade mas não aprende a fazer uma semelhança verdadeira, o que você usará no
lugar? E queimar incenso não significa incenso material comum, mas o incenso do
Dharma intangível, que leva embora a impureza, a ignorância e ações más com seu
perfume. Existem cinco tipos de tal incenso dármico (93). Primeiramente vem o incenso da moralidde,
que significa renunciar ao mal e cultivar a virtude. Em segundo lugar vem o
incenso da meditação, que significa acreditar profundamente no Mahayana com
determinação. Em terceiro está o incenso da sabedoria, que significa contemplar
o corpo e a mente, interna e externamente. Em quarto está o incenso da
liberdade, que significa romper os grilhões da ignorância. E em quinto está o
incenso do conhecimento perfeito, que significa estar sempre consciente e não
obstruído. Esses cinco são os tipos de incenso mais preciosos e eles são muito
superiores a qualquer coisa que o mundo tenha a oferecer. Quando Buda estava no
mundo, ele disse aos seus discípulos para acender tais incensos preciosos com o
fogo da consciência como uma oferenda aos budas das dez direções. Mas hoje as
pessoas não entendem o significado verdadeiro do Tathagata. Elas usam uma chama
ordinária para acender incenso material de sândalo e rezam por uma bênção
futura que nunca vem.` Acontece o mesmo com a distribuição de flores. Refere-se
à falar o Dharma, espalhar flores de virtude, com o objetivo de beneficiar os
outros e glorificar o eu verdadeiro. Essas flores da virtude são aquelas
louvadas por Buda. Elas duram para sempre e nunca murcham. E quem quer que
espalhe tais flores colhe bênçãos infinitas. Se você pensa que o Tathagata
disse para as pessoas fazer mal às plantas decepando suas flores, você está
errado. Aqueles que observam os preceitos não machucam qualquer uma das
miríades de formas do céu e da terra. Se você machucar algo por engano, você
sofre por isso. Mas aqueles que intencionalmente quebram os preceitos
machucando a vida pelo desejo ou bênçãos futuras sofrem ainda mais. Como
poderiam eles permitir bênçãos futuras virar sofrimentos? A lâmpada eterna
representa consciência perfeita. Comparando a iluminação da consciência com a
luz de uma lâmpada, aqueles que buscam a liberação vêm seus corpos como a
lâmpada, suas mentes como seu pavio, a adição de disciplina como o seu óleo, e
o poder da sabedoria como sua chama. Acendendo essa lâmpada de perfeita
consciência elas dissipam toda escuridão e ilusão. E passando esse Dharma para
os outros eles são capazes de usar uma lâmpada para acender milhares de
lâmpadas. E porque essas lâmpadas da mesma maneira acendem milhares de outras
lâmpadas, sua luz dura para sempre. Há muito tempo havia um buda chamado
Dipamkara (94), ou "Acendedor de Lâmpadas".
Esse era o significado de seu nome. Mas os tolos não entendem as metáforas do
Tathagata. Persistindo na ilusão e apegando-se ao tangível, eles acendem
lâmpadas de óleo vegetal comum e pensam que iluminando o interior de prédios
elas estão seguindo o ensinamento de Buda. Que tolice! A luz emitida por um
buda pela espiral (95) entre suas sobrancelhas pode
iluminar inúmeros mundos. Lâmpada de óleo não ajuda. Ou você pensa de outra
maneira? Praticar todos os seis períodos do dia e da noite significa
constantemente cultivar a iluminação entre os seis sentidos e perseverar em
cada forma de consciência. Nunca relaxar o controle sobre os seis sentidos é o
que significam os seis períodos. Por caminhar ao redor de stupas, entenda-se
que a stupa é seu corpo e mente. Quando sua consciência circunda seu corpo e
mente sem parar, diz-se "caminhar ao redor de uma stupa". Os sábios
de outrora seguiam esse caminho para nirvana. Mas hoje as pessoas não entendem
o que isso significa. Em vez de olhar dentro elas insistem em olhar fora. Elas
usam seu corpo físico para caminhar ao redor de stupas físicas. E elas ficam
nessa dia e noite, ficando exaustas em vão e não se aproximando de seu
verdadeiro eu. O mesmo acontece observando um jejum. É inútil a menos que você
entenda o que realmente significa. O jejum significa regular, regular seu corpo
e mente de maneira que eles não sejam distraídos ou perturbados. E observar
significa manter, manter as regra de disciplina de acordo com o Dharma. Jejuar
significa resguardar-se das seis atrações (96) externas e dos três venenos internos
e esforçar-se com muita contemplação para purificar seu corpo e mente. Jejuar
também inclui cinco tipos de comida. Primeiramente há o deleite com o Dharma.
Esse é o deleite que vem de agir de acordo com o Dharma. Em segundo está a
harmonia na meditação. Essa é a harmonia do corpo e mente que vem de ver
através de sujeito e objeto. Em terceiro está invocar, invocar budas tanto com
a sua boca e mente. Em quarto está a determinação, determinação de buscar a
virtude tanto caminhando, de pé, sentado ou deitado. E em quinto está a
liberação, liberação de sua mente de contaminação mundana. Esses cinco são os
alimentos do jejum. Exceto uma pessoa coma esses cinco alimentos puros, ela
está errada ao pensar que está jejuando. Além disso, ao parar de comer o
alimento da ilusão, se você a toca novamente você quebra o seu jejum. E uma vez
que você o quebre você não colhe bênçãos do jejum. O mundo está cheio de
pessoas iludidas que não vêem isso. Elas permitem ao seus corpos e mentes todos
os tipos de males. Elas não refreiam suas paixões e não têm vergonha. E quando
eles param de comer comida comum, elas chamam isso de jejum. Que absurdo! É o
mesmo com a adoração. Você tem que entender o significado e adaptar-se às
condições. O significado inclui ação e não-ação. Quem quer que entenda isso
segue o Dharma. Adorar significa reverência e humildade. Significa reverenciar
seu eu verdadeiro e atenuar as ilusões. Se você pode acabar totalmente com os
desejos e pode acalentar bons pensamentos, mesmo que não demonstre, isso é
adoração. Tal forma é a forma verdadeira. O Senhor Buda (97) quis que as pessoas mundanas
entendessem a adoração como exprimir humildade e dominar a mente. Então ele as
disse para prostrarem seus corpos para demonstrar sua reverência, para deixar o
externo expressar o interno, para harmonizar essência e forma. Aqueles que
falham no cultivo do significado interno, em vez disso concentrando-se na
expressão externa, nunca param de entregarem-se para a ignorância, ódio e ao
mal, exaurindo-se em vão. Eles podem enganar aos outros com posturas, não se
envergonham diante de sábios e são vaidosos diante dos mortais, mas eles nuca
escaparão da Roda, muito menos atingirão algum mérito. Mas o Sutra
da Casa de Banho (98) diz que "contribuindo para o
banho de monges, as pessoas recebem bênçãos ilimitadas." Isso
pareceria um exemplo de prática externa fazendo méritos. Como isso relaciona-se
com contemplar a mente? Aqui, o banhar dos monges não se refere ao lavar de
qualquer coisa tangível. Quando o Senhor Buda pregou o Sutra da Casa de
Banho ele queria que seus discípulos lembrassem do Dharma de lavar.
Então ele usou uma idéia do dia a dia para exprimir seu significado real, que
está expresso em sua explicação de mérito das sete oferendas. Dessas sete, a
primeira é água pura, a segunda fogo, a terceira sabão, a quarta amentilho de
salgueiro, a quinta cinzas puras, a sexta perfumaria, e a sétima roupas de
baixo (99). Ele usou essas sete para representar
sete outras coisas que limpam e realçam uma pessoa pela eliminação da ilusão e
impureza de uma mente envenenada. A primeira dessas sete coisas é a moralidade,
que lava o excesso tal como a água pura lava a impureza. Em segundo está a
sabedoria, que penetra sujeito e objeto, tal como o fogo esquenta a água. Em
terceiro está a discriminação, que livra das práticas más, tal como o sabão
livra do encardido. Em quarto está a honestidade, que depura as ilusões, tal
como mascar amentilho de salgueiro purifica o hálito. Em quinto está a fé pura,
que resolve todas as dúvidas, tal como esfregar cinzas puras no corpo previne
enfermidades. Em sexto está a paciência, que vence a resistência e desgraça,
tal como perfumarias amaciam a pele. E em sétimo está a vergonha, que remedia
más ações, tal como a roupa de baixo encobre um corpo feio. Essas sete coisas
representam o significado real do sutra. Quando ele proclamou esse sutra, o
Tathagata estava falando com seguidores do Mahayana prevenidos, e não para
gente bitolada de visão obscurecida. Não é de se surpreender que as pessoas de
hoje não entendam. A casa de banho é o corpo. Quando você acende a luz da
sabedoria, você aquece a água pura dos preceitos e banha a verdadeira natureza
búdica dentro de você. Mantendo essas sete práticas você aumenta sua virtude.
Os monges daquela época tinham sensibilidade. Eles entendiam Buda. Eles seguiam
seu ensinamento, aperfeiçoaram sua virtude, e experimentaram o fruto da
buditude. Mas atualmente as pessoas não podem compreender essas coisas. Elas
usam água comum para lavar um corpo físico e pensam que estão seguindo ao
sutra. Mas elas estão erradas. Nossa natureza búdica verdadeira não tem forma.
E a poeira da aflição não tem forma. Como podem as pessoas usar água comum para
lavar um corpo intangível? Não funciona. Quando elas despertarão? Para limpar
tal corpo você deve contemplá-lo. Uma vez que as impurezas provêem do desejo,
elas multiplicam-se até que elas lhe cubram interna e externamente. Mas se você
tenta lavar esse seu corpo, você vai ter que esfregar até que ele esteja quase
acabado para ficar limpo. Disso você deveria imaginar que lavar algo externo
não é o que Buda quis dizer. Dizem os sutras que alguém que invoque um Buda
de todo o coração certamente renascerá no paraíso oriental (100). Uma vez que essa porta leva à buditude,
por que procurar liberação em contemplação da mente? Se você invocar um
buda, você tem que fazer isso direito. Exceto você entenda o que significa
invocar, você está fazendo isso erradamente. E se você faz isso erradamente,
você nunca irá a parte alguma. Buda significa consciência, a
consciência de corpo e mente que evita o mal aparecer. E invocar significa ter
em mente, ter constantemente em mente as regras de disciplina e seguí-las com
toda a sua vontade. É isso que significa invocar. Invocar tem a ver com
pensamento e não com linguagem. Se você usa uma rede para pescar, uma vez que
você já pescou você pode esquecer a rede. E se você usa a linguagem para achar
significado, uma vez encontrado o significado você pode esquecer a linguagem.
Para invocar o nome de Buda você tem que entender o Dharma de invocar. Se não
está presente em sua mente, sua boca canta um nome vazio. Uma vez que você está
perturbado pelos três venenos ou por pensamentos pessoais, sua mente iludida
não vai lhe permitir de ver Buda e você vai apenas desperdiçar seu esforço.
Cantar e invocar são mundos distintos. Canta-se com a boca. Invoca-se com a
mente. E por que invocar vem da mente, chama-se porta da consciência. O canto é
centrado na boca e aparece como som. Se você atem-se às aparências enquanto
procura o significado, você não vai achar coisa alguma. Assim, os sábios do
passado cultivavam introspeção e não a fala. Essa mente é a fonte de todas as
virtudes. E essa mente chefia todos os poderes. A eterna felicidade de nirvana
vem da mente em descanso. O renascimento nos três reinos também provém da
mente. A mente é a porta para cada mundo e a mente é o vau para a outra margem.
Aqueles que sabem onde a porta está não se preocupam em alcançá-la. Aqueles que
sabem onde o vau está não se preocupam em atravessá-lo. As pessoas que encontro
atualmente são superficiais. Elas pensam no mérito como algo que tenha forma.
Elas desperdiçam sua saúde e carneiam criaturas da terra e do mar. Elas
tolamente preocupam-se consigo mesmas através de estátuas e stupas, dizendo
para as pessoas empilhar tábuas e tijolos, pintar isso de azul e aquilo de verde.
Eles forçam seus corpos e mentes, machucam-se e desencaminham os outros. E eles
não sabem o suficiente para envergonharem-se. Como que algum dia
iluminar-se-ão? Eles vêm algo tangível e instantaneamente apegam-se. Se você
lhes fala a respeito de não-forma, eles ficam lá confusos e imbecis. Ávidos
pelas pequenas bênçãos, eles ficam cegos para o grande sofrimento futuro. Tais
discípulos ficam exaustos em vão. Indo do verdadeiro para o falso, só falam de
bênçãos futuras. Se você pode simplesmente concentrar a luz interna de sua
mente e contemplar sua iluminação mais externa, você vai dispersar os três
venenos e manter afastados os três ladrões de uma vez por todas. E sem esforço
você vai ganhar posse de um número infinito de virtudes, perfeições e portas para
a verdade. Ver através do mundano e testemunhar o sublime está a menos do que
uma piscada. A realização é agora. Por que preocupar-se com cabelo grisalho?
Mas a porta verdadeira está escondida e não pode ser revelada. Apenas mencionei
contemplar a mente.
FIM.
Notas
76. Sabedoria perfeita. Esse é um parafraseamento da linha de abertura
do Sutra do Coração, no qual o bodhisattva é Avalokitesvara e no
qual a sabedoria perfeita, ou prajnaparamita, é nenhuma
sabedoria, pois a sabedoria perfeita "foi, foi além, foi completamente
além" de categorias de tempo e espaço, ser e não ser. 77. Puro e impuro. Para uma
explanação mais extensa sobre isso, veja O Despertar da Fé no Mahayana,
de Ashvaghosa, onde a pureza e a impureza são chamados de iluminação e não-iluminação. 78. Sutra das Dez Etapas ... Sutra do
Nirvana. Quando as traduções desses dois sutras apareceram no início do
Séc. V, elas tiveram um efeito profundo no desenvolvimento do budismo na China.
Dentre os seus ensinamentos estão a universalidade da natureza búdica e a
natureza de nirvana pura pessoal, alegre e eterna. Até então, a doutrina do
vazio ensinada pelos sutras prajnaparamita tinham dominado o
budismo chinês. O Sutra das Dez Etapas, o qual detalha os estágios
que os bodisatvas no seu caminho para a buditude, é uma versão do capítulo sob
o mesmo título no Sutra Avatamsaka. 79. Seis órgãos dos sentidos. Os
olhos, ouvidos, nariz, língua, pele e mente. 80. Seis tipos de consciência. A
variedade de consciências associadas com a visão, audição, olfato, gustação,
tato e pensamento. O Lankavatara traz à luz compreensão,
discriminação e memória (de Tathagata) para um total de oito formas de
consciência. 81. Seis estados de existência. As
variedades básicas de existência através das quais os seres movem-se, tanto
pensamento após pensamento ou vida após vida, até que elas atinjam a iluminação
e escapem da roda se sofrimento. O sofrimento nessa roda é relativo. Os deuses
no céu levam uma vida mais feliz, enquanto que os sofredores no inferno vão de
dor em dor. Os demônios e os homens experimentam mais sofrimentos que os deuses
mas menos que os fantasmas famintos e bestas. 82. Prática verdadeira. Prática que
leva diretamente à iluminação, em contraste à prática que leva para outro
estágio de prática. Aqui a prática verdadeira refere-se a contemplar a mente. 83. Dez boas ações. Incluem
evitar as dez más ações, a saber assassínio, roubo, adultério, falsidade,
calúnia, agressão verbal, maledicência, avareza, raiva e defesa de visões
falsas. 84. Cinco preceitos. São para
budistas leigos. São regras contra o assassínio, roubo, adultério, falsidade e
intoxicação. 85. Três asankhya kalpas. Um universo
é marcado por três fases: criação, duração e destruição. Cada uma dura inúmeros
(asankhya) kalpas. Uma quarta fase de vazio não está incluída aqui pois ela não
apresenta dificuldades. 86. Era final. O primeiro período da
era de um buda dura 500 anos, depois do qual a doutrina correta começa a
declinar. O segundo período dura 1.000 anos, durante o qual o entendimento da
doutrina declina ainda mais. O terceiro e final período, cuja duração é indefinida,
testemunha o desaparecimento final da mensagem de um buda. Outra versão designa
500 anos para cada um dos três períodos. 87. Três conjuntos de preceitos.
Existem cinco para budistas leigos comuns, oito para paras os membros leigos
mais devotos e dez para monges e monjas noviços. Os cinco primeiros são regras
os contra o assassínio, roubo, adultério, falsidade e intoxicação. A esses
cinco adicionam-se regras contra o adorno do corpo (guirlandas, joias e
perfume), conforto do corpo (cama macia) e comer demais (comer depois do
almoço). E a esses oito adicionam-se postulados contra o divertimento e a posse
de bens. Esses três conjuntos são resumidos pelos três votos. O voto de evitar
o mal é feito por todos os crentes. O voto de cultivar virtude é feito pelos
crentes leigos mais devotos. E o voto de salvar a todos os seres é feito por
todos os monges e monjas. 88. Paramitas ...meios de transporte para
a outra margem. Os seis paramitas começam com caridade e passam por
moralidade e paciência, devoção e meditação até sabedoria. Comparando os
paramitas a uma balsa que leva as pessoas para a outra margem, os budistas vêm
a caridade como o vazio sem o qual um barco não pode flutuar; a moralidade como
a quilha; a paciência como o casco; a devoção como o mastro; a meditação a vela
e a sabedoria como a barra do leme. 89. Leite ... mingau. Depois de
engajar-se em práticas ascéticas inutilmente por alguns anos, Shakyamuni
quebrou seu jejum tomando esse mingau de leite oferecido por Nandabala, filha
de um chefe vaqueiro. Depois de tomá-lo, ele sentou-se debaixo de uma árvore e
decidiu não levantar-se até atingir a iluminação. 90. Vairocana. Grande Buda Solar, que
personifica o eu-dármico ou o corpo verdadeiro de Buda. Como tal, Vairocana é a
figura central no panteão dos cinco budas dhyani, que inclui Akshobhya ao
Leste, Ratnasambhava ao Sul, Amitabha ao Oeste e Amogasiddhi ao Norte. 91. Seis períodos. Manhã, meio-dia,
tarde, noite, meia-noite e madrugada. 92. Stupas. Uma stupa é uma elevação
de terra ou qualquer estrutura erigida sobre os restos, as relíquias ou
escrituras de um buda. A caminhada ao redor de stupas se dá na direção dos
ponteiros do relógio, com o ombro direito sempre apontando a stupa.
93. Cinco tipos de incenso. Eles
correspondem aos cinco atributos do corpo de um tathagata. 94. Dipamkara. Shakyamuni encontrou
Buda Dipamkara ao final do segundo asamkhya kalpa e ofereceu-lhe cinco lótus
azuis. Dipamkara então predisse a futura buditude de Shakyamuni. Assim
Dipamkara aparece sempre que um buda recita o Dharma do Sutra do Lótus. 95. Espiral. Um dos sinais
auspiciosos de um buda é um espiral entre suas sobrancelhas que emite raios de
luz. 96. Seis atrações. Aquelas aos quais
os seis sentidos apegam-se. 97. Senhor Buda (no original em
Inglês, Lord). Uma tradução de bhagavan, um dos dez títulos de
buda. A tradução chinesa resulta em mundialmente honrado. 98. Sutra da Casa de Banho. Traduzido
por An Shih-Kao em meados do Séc. II. Esse breve sutra reconta o mérito ganho
em fornecer casas de banho para monges. 99. Vestimenta interna. Uma das três
vestimentas reguladoras de um monge. A vestimenta interna é vestida para
proteger contra o desejo. O robe de sete retalhos protege contra a raiva. E o
robe de 25 retalhos protege contra a ilusão. 100. Paraíso ocidental. Também
chamado de Terra Pura. Essa terra é governada por Amithaba, um dos cinco budas
dhyani, associado ao Ocidente. Invocar Amithaba de todo coração assegura ao
devoto renascimento na Terra Pura, que se diz estar a milhares de quilômetros
mas nem um pouco longe. Uma vez renascidos lá, os devotos têm menos problemas
para entender o Dharma e atingir liberação. www.sotozencuritiba.org.
Este
texto foi traduzido para o português por Shinzen,
que ofereceu sua tradução como presente ao Lama Samten
na sua ordenação em 14 de dezembro de 1996.
que ofereceu sua tradução como presente ao Lama Samten
na sua ordenação em 14 de dezembro de 1996.
texto
gentilmente cedido pelo site www.bodisatva.org.br
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