Budismo.
www.budismomoderno.org.br. Livro Budismo Moderno. Autor Geshe Kelsang Gyatso (1931 - ). O CAMINHO DE UMA PESSOA DE ESCOPO INICIAL. Neste contexto, uma
“pessoa de escopo inicial” refere-se a alguém que tem uma capacidade inicial
para desenvolver compreensão e realizações espirituais. A PRECIOSIDADE DA NOSSA
VIDA HUMANA. O propósito de compreender a preciosidade da nossa vida humana é
encorajarmo-nos a extrair o sentido da nossa vida humana e não desperdiça em
atividades sem significado. Nossa vida humana é muito preciosa e significativa,
mas somente se a usarmos para obter libertação permanente e a felicidade
suprema da iluminação. Devemos nos encorajar a realizar o verdadeiro
significado da nossa vida humana por meio de compreender e contemplar a
seguinte explicação. Muitas pessoas acreditam que o desenvolvimento material é
o verdadeiro sentido da vida humana, mas podemos ver que não importa quanto
desenvolvimento material exista no mundo, ele nunca reduz os sofrimentos e os
problemas humanos. Em vez disso, ele frequentemente faz com que os sofrimentos
e os problemas aumentem; portanto, ele não é o verdadeiro sentido da vida
humana. Devemos saber que, vindos das nossas vidas anteriores, alcançamos agora
o mundo humano por apenas um breve instante e que temos a oportunidade de obter
a felicidade suprema da iluminação praticando o Dharma. Essa é a nossa extraordinária
boa fortuna. Quando alcançarmos a iluminação, teremos satisfeito todos os
nossos desejos e poderemos satisfazer os desejos de todos os demais seres
vivos; teremos libertado a nós próprios permanentemente dos sofrimentos desta
vida e de incontáveis vidas futuras, e poderemos beneficiar diretamente todos e
cada um dos seres vivos, todos os dias. A conquista da iluminação é, portanto,
o verdadeiro sentido da vida humana. A iluminação é a luz interior de sabedoria
que é permanentemente livre de toda aparência equivocada e que atua concedendo
paz mental para todos e cada um dos seres vivos, todos os dias – essa é a
função da iluminação. Agora mesmo obtivemos um renascimento humano e temos a
oportunidade de alcançar a iluminação pela prática do Dharma; assim sendo, se
desperdiçarmos esta preciosa oportunidade em atividades sem significado, não
haverá maior perda nem maior insensatez do que essa. O motivo é que tal
oportunidade preciosa será extremamente difícil de ser encontrada no futuro. Em
um Sutra, Buda torna isso claro por meio da seguinte analogia. Ele pergunta aos
seus discípulos: “Imaginem que exista um vasto e profundo oceano do tamanho
deste mundo; que, em sua superfície, haja uma canga dourada flutuando; e que,
no fundo do oceano, viva uma tartaruga cega que vem à superfície apenas uma vez
a cada cem mil anos. Quantas vezes a tartaruga colocaria sua cabeça no meio da
canga?” Ananda, seu discípulo, respondeu que, certamente, isso seria
extremamente raro. Nesse contexto, o vasto e profundo oceano refere-se ao
samsara – o ciclo de vida impura que temos experienciado desde tempos sem
início, continuamente, vida após vida, sem-fim; a canga dourada refere-se ao
Budadharma, e a tartaruga cega refere-se a nós. Embora não sejamos fisicamente
como uma tartaruga, mentalmente não somos muito diferentes; e embora os nossos
olhos físicos possam não ser cegos, os nossos olhos de sabedoria o são. Na
maioria das nossas incontáveis vidas anteriores, permanecemos no fundo do
oceano do samsara, nos três reinos inferiores – no reino animal, no reino dos
fantasmas famintos e no reino do inferno – emergindo como ser humano apenas a
cada cem mil anos, mais ou menos. Mesmo quando alcançamos brevemente o reino
superior do oceano do samsara como um ser humano, é extremamente raro encontrar
a canga dourada do Budadharma: o oceano do samsara é extremamente vasto, a
canga dourada do Budadharma não permanece num único lugar, mas move-se de um
lugar a outro, e os nossos olhos de sabedoria estão sempre cegos. Por essas
razões, Buda diz que, no futuro, mesmo se obtivermos um renascimento humano,
será extremamente raro encontrar o Budadharma novamente; encontrar o Dharma
Kadam é ainda mais raro que isso. Podemos ver que a grande maioria dos seres
humanos no mundo, embora tenham brevemente alcançado o reino superior do
samsara como seres humanos, não encontraram o Budadharma. O motivo é que os
seus olhos de sabedoria não se abriram. O que significa “encontrar o
Budadharma”? Significa ingressar no Budismo buscando sinceramente refúgio em
Buda, Dharma e Sangha e, assim, ter a oportunidade de ingressar e fazer
progressos no caminho à iluminação. Se não encontrarmos o Budadharma, não
teremos oportunidade para fazer isso e, assim, não teremos oportunidade de
obter a felicidade pura e duradoura da iluminação, o verdadeiro sentido da vida
humana. Concluindo, devemos pensar: Agora eu alcancei, por um breve momento, o
mundo humano, e tenho a oportunidade de obter a libertação permanente do
sofrimento e a felicidade suprema da iluminação por meio de colocar o Dharma em
prática. Se eu desperdiçar esta preciosa oportunidade em atividades sem
significado, não haverá maior perda nem maior insensatez. Com esse pensamento,
tomamos a firme determinação de praticar agora o Dharma dos ensinamentos de
Buda sobre renúncia, compaixão universal e visão profunda da vacuidade,
enquanto temos esta oportunidade. Então, meditamos repetidamente nessa
determinação. Devemos praticar essa contemplação e meditação todos os dias em
muitas sessões e, desse modo, nos encorajarmos a extrair o verdadeiro sentido
da nossa vida humana. Devemos nos perguntar o que consideramos mais importante
– o que desejamos, pelo que nos dedicamos ou com o que sonhamos? Para algumas
pessoas são as posses materiais, como uma casa grande com os últimos requintes
de conforto, um carro veloz ou um emprego bem remunerado. Para outros é
reputação, boa aparência, poder, excitação ou aventura. Muitos tentam encontrar
o sentido de suas vidas em relacionamentos familiares e círculo de amigos.
Todas essas coisas podem nos fazer superficialmente felizes por pouco tempo,
mas elas também causam muita preocupação e sofrimento. Elas nunca irão nos dar
a verdadeira felicidade que todos nós, em nossos corações, buscamos. Já que não
podemos levá-las conosco quando morrermos, com certeza irão nos decepcionar se
tivermos feito delas o principal sentido da nossa vida. As aquisições mundanas,
tomadas como um fim em si mesmas, são ocas: elas não são o verdadeiro sentido
da vida humana. Com a nossa vida humana podemos, ao colocar o Dharma em
prática, obter a suprema paz mental permanente, conhecida como “nirvana”, e a
iluminação. Uma vez que essas aquisições são não enganosas e são estados
últimos de felicidade, elas são o verdadeiro sentido da vida humana. No
entanto, porque o nosso desejo por prazer mundano é tão forte, temos pouco ou
nenhum interesse pela prática de Dharma. Do ponto de vista espiritual, essa
ausência de interesse pela prática de Dharma é um tipo de preguiça denominado
“preguiça do apego”. A porta da libertação permanecerá fechada para nós
enquanto tivermos essa preguiça e, consequentemente, continuaremos a vivenciar
infortúnio e sofrimento nesta vida e em incontáveis vidas futuras. A maneira de
superar essa preguiça, o principal obstáculo para a nossa prática de Dharma, é
meditar sobre a morte. Precisamos contemplar a nossa morte e meditar sobre ela
repetidamente, até obtermos uma profunda realização sobre a morte. Embora, num
nível intelectual, todos nós saibamos que definitivamente iremos morrer, nossa
percepção sobre a morte permanece superficial. Na medida em que a nossa
compreensão intelectual da morte não toca o nosso coração, continuamos a pensar
todos os dias “eu não vou morrer hoje, eu não vou morrer hoje”. Mesmo no dia da
nossa morte, ainda estaremos pensando sobre o que faremos no dia ou na semana
seguintes. Essa mente que pensa todo dia “eu não vou morrer hoje” é enganosa –
ela nos conduz na direção errada e faz com que a nossa vida humana se torne
vazia. Por outro lado, meditando sobre a morte, substituiremos gradativamente o
pensamento enganoso “eu não vou morrer hoje” pelo pensamento não enganoso “pode
ser que eu morra hoje”. A mente que espontaneamente pensa todos os dias “pode
ser que eu morra hoje” é a realização sobre a morte. É essa realização que
elimina diretamente a nossa preguiça do apego e abre a porta para o caminho
espiritual. Em geral, podemos ou não morrer hoje – não sabemos. No entanto, se
pensarmos todos os dias “talvez eu não morra hoje”, esse pensamento irá nos
enganar porque vem da nossa ignorância; porém, se em vez disso pensarmos todos
os dias “pode ser que eu morra hoje”, esse pensamento não irá nos enganar
porque vem da nossa sabedoria. Esse pensamento benéfico impedirá a nossa
preguiça do apego e irá nos encorajar a preparar o bem-estar das nossas
incontáveis vidas futuras ou a aplicar grande esforço para ingressarmos no
caminho da libertação e da iluminação. Desse modo, tornaremos significativa
nossa vida humana atual. Até agora desperdiçamos, sem sentido algum, nossas incontáveis
vidas anteriores: não trouxemos nada conosco das nossas vidas passadas, exceto
delusões e sofrimento. www.budismomoderno.org.br.
Abraço. Davi
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