Budismo. www.maisbelashistoriasbudistas.com.br BUDISMO E A DOUTRINA DO CORAÇÃO. Texto de Greg
Martin (1984- ). Como foi criado o mundo, em outras palavras, o
universo? Esta interrogação tem mantido perplexos aos seres humanos através de
todos os tempos. A mitologia, a ciência e a religião nasceram dessa permanente
busca. Os dez primeiros capítulos da Bíblia, Gênesis 1-10 formam a pedra
angular das três principais tradições religiosas do ocidente, judaísmo,
cristianismo e islamismo. Eles nos relatam a história da Criação. Deus criou o
universo e tudo o que nele existe, incluindo a terra, o céu, a luz, as plantas e
os animais, em seis dias, descansando no sétimo dia. Ele criou o primeiro
homem, Adão, soprando a alma ao pó para depois dar-lhe como morada o Jardim do
Éden. Deus criou a primeira mulher, Eva, da costela de Adão, para
proporcionar-lhe uma companheira. Enganada por uma serpente, Eva desobedeceu às
ordens dadas por Deus ao comer a maçã da árvore do conhecimento do bem e do
mal. Ao mesmo tempo, ela convence Adão para que faça o mesmo. O castigo
infringido por Deus a condena ao alumbramento com dor e à servidão ao marido.
Deus expulsa ambos do Jardim. Transcorreram várias gerações e Deus não estava
feliz com os resultados de sua criação, particularmente porque a maldade
imperava no mundo. Disse-lhe a Noé que construísse uma grande embarcação, e
colocasse nela casais de todos os animais que habitavam a terra e a sua
família. Depois provocou uma grande inundação que exterminou todos os seres
vivos da face da terra. Após 150 dias as águas se retiraram e a embarcação de
Noé ficou depositada no topo do Monte Ararat. Um novo começo se inicia para a
humanidade a partir dos descendentes de Noé. Estes são os pontos básicos da
história da criação, tal como a relata o livro do Gênesis. Deus é o criador
original de tudo o que existe ex nihilo (criado do nada). Em
épocas anteriores esta história era aceita como um fato inquestionável e como a
palavra divina e irrefutável de Deus. Hoje em dia há os que ainda professam
esta crença. A captura e deportação do povo judeu à Babilônia
por parte de Nabucodonosor no ano 587 AC, onde permaneceram por cinquenta anos
(duas gerações), colocou o povo judeu em contato direto e de maneira frequente
com as influências do oriente revelada nos hindus, persas e babilônicos.
Durante este período, no seu exílio o povo judeu entrou em contato com mitos e
lendas do oriente, particularmente da Índia e do Irã, convertendo-se os mesmos
em parte da tradição judaica. Dentro destes encontram-se os mitos da criação e
a ideia tomada dos ensinamentos do zoroastrismo, particularmente a
profecia de um redentor ou salvador. A história da
criação não é original dos cristãos, ou dos judeus. Os elementos chaves datam
de fontes anteriores ao Antigo Testamento e provêm de áreas geográficas, tais
como a Índia, o Oriente Médio, e Grécia. A criação do universo, o mundo e os primeiros
seres humanos, partindo do conceito de uno que depois se
converte em dois, são temas comuns em algumas das tradições
mais antigas. As origens do mito do dilúvio são, também mais antigas.
Referências aos mesmos se encontram nos textos da escritura cuneiforme dos
sumérios ao redor dos anos 2000 – 1750 AC. Todos os elementos essenciais a
respeito da história sobre a criação do mundo encontram-se em fontes pagãs de
maior antiguidade. A ideia da criação ex
nihilo nem sempre foi parte da doutrina cristã. A comunidade dos
primeiros cristãos não tinha uma posição monolítica a esse respeito. Não foi
senão até o dia 20 de maio do ano 325 no Conselho de Niceia que esta doutrina,
tornou-se oficial sob a supervisão do imperador romano Constantino. É interessante notar que as famosas palavras de abertura do Evangelho de
João nos dão um ponto de partida ligeiramente diferente a respeito da criação:
“No início existia o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.
“Verbo” é uma tradução do grego logos, e refere-se a um princípio
integrador (lei) que cria a ordem no cosmos. A semelhança com o conceito
budista do Dharma, o que nós denominamos Lei Mística, é surpreendente. Tanto o oriente como o ocidente, compartilham histórias mitológicas
sobre a criação. Porém, por volta de 1500, quando os pensadores da Reforma
questionavam a veracidade destas histórias, os muçulmanos estudavam que o
paraíso e o inferno eram assuntos internos a cada indivíduo, os cabalistas
advertiam aos seus discípulos a não tomar a mitologia de maneira literal;
porém, a maioria dos cristãos ainda insisti que o narrado nesta história
ajustava-se aos fatos reais, ou seja, eram certos e verdadeiros em todos seus
detalhes e aspectos. Desta forma, inicia-se o longo
conflito entre o cristianismo e a ciência, ou com maior precisão, o conflito
entre dois pontos de vista científicos, separados por 6000 anos, uma data de
4000 AC e o outro de 2000 DC. A interpretação
literal do mito da criação em qualquer religião ou cultura tem a desafortunada
consequência de obrigar às pessoas a escolher entre o coração que anseia
acreditar, e o cérebro, que vê que o argumento não é consistente com a
observação objetiva dos fenômenos. Os mitos sobre a
criação no oriente, ainda quanto um tanto similares na superfície (a final de
contas, são a fonte de onde emanam os mitos do ocidente), porém, são essencial
e fundamentalmente diferentes dos do ocidente, num aspecto importante. Os
primeiros, geralmente não apresentam distinção entre Deus e o ser humano. O
divino encontra “aqui dentro”. No ocidente, porém, de acordo com a Bíblia, o
Criador é diferente, separado e “lá fora”, dando-se, assim, o caso de que
existe uma brecha intransponível entre ambos. O Budismo, porém, tem como
intenção ajudar aos fiéis a realizar a vivência de sua identidade original
na própria vida, aquela identidade que é una com a força criativa, ou Lei
Mística. Dentro do cristianismo, a igualdade com o Criador não é possível. O
cristianismo tem como propósito restaurar a relação com este
“outro” ser absoluto. Qual é o ponto de vista
budista a respeito de nossas origens? As antigas tradições da Índia indicam que
os budistas entendiam que o universo era ordenado por ciclos recorrentes de
mundos que se manifestavam e desapareciam. Cada ciclo tinha seu término em
dilúvio ou fogo. Estes ciclos de formações e destruições de mundos duravam
bilhões de anos e ocorriam em todo o universo. Das cinzas ou lodo que
resultavam da destruição, um novo ciclo nascia. Este ciclo não tem início nem fim.
Mundos e universos eram criados e destruídos como parte de um ciclo
interminável de nascimento e morte que operava em escala cósmica. Para os budistas, então, não existe uma criação no sentido da história
bíblica. O universo se formou quando as condições necessárias se deram,
baseadas na lei de causa e efeito inerente na própria natureza do universo. Da
mesma forma como surge, desaparece. Mas não há uma causa original, como não há
um final. O universo é infinito, sem limites de tempo e espaço. “O universo em
si mesmo é um ser vital que contém o potencial da vida que desenvolve de
diferentes formas; é, portanto, definido como a entidade de vida mais
grandiosa”. Os cosmólogos, hoje em dia, postulam a teoria de
um universo dinâmico, em fluxo constante. Onde, num ponto, o universo parece
ter nascido da causa do “big bang” original e encontra-se em constante
expansão, em tanto que, em outro ponto parece encontrar-se num processo de
contração e extinção. Mas o universo em si não tem começo ou fim. Este ponto está
de acordo com a perspectiva budista. A Lei Mística é o nome que
damos a esta lei de causalidade subjacente que opera eternamente através do
universo inteiro. Quando as condições são propícias, surgem planetas. Quando as
condições são adequadas, a vida evolui. O oceano gera ondas. O universo gera
vida. A vida evolui para o despertar e a iluminação. O potencial para a vida, para a vida iluminada, existe na própria
essência do universo, é uma lei mística natural. Dado que o ritmo universal
apoia a vida, podemos descrever a natureza do universo como benevolente. Há os
que dão, a esta capacidade inerente criadora para construir o mundo, ao
potencial de gerar o universo, o nome de Deus; nós o chamamos Lei Mística de
Nam myoho rengue kyo. Abraços. Davi.http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br.
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