Judaísmo. www.morasha.com.br. A
TORAH E OS PROFETAS. A Torá constitui a base do Judaísmo, sem a qual este não
existiria. Apesar da palavra ser usada, com frequência, em referência a todo o
corpo de textos judaicos sagrados – o Talmud, o Midrash e as obras da Cabalá,
sua definição precisa é Chamishá Chumshei Torá – os Cinco Livros da Torá:
Bereshit (Gênesis), Shemot (Êxodo), Vaicrá (Levítico), Bamidbar (Números) e
Devarim (Deuteronômio). Um dos pilares do Judaísmo é o fato de D’us ter
transmitido a Moshé cada uma das letras dos Chamishá Chumshei Torá.
Segundo o Talmud, negar a origem Divina de uma letra sequer dos Cinco Livros da
Torá equivale a rejeitar os princípios do judaísmo. Os Chamishá
Chumshei Torá se destacam em meio aos demais livros sagrados do
Judaísmo pelo fato de terem sido os únicos não escritos por seres humanos, mas
por D’us, Ele mesmo. Sendo assim, é um erro comum, mas muito grave, acreditar
que Moshé foi o autor dos Cinco Livros da Torá. Como nos ensina o Talmud e
também foi codificado por Maimônides, Moshé não teve participação alguma na
autoria da Torá; ele apenas a transcreveu, como um secretário a quem é ditado
um texto. A razão pela qual os Chamishá Chumshei Torá são
comumente chamados de Torat Moshé – a Torá de Moshé – é porque
somente ele, entre todos os homens, teve o mérito e a capacidade de recebê-los,
letra por letra, e transmiti-los e ensiná-los ao Povo Judeu. Como ensina
Maimônides, um dos pilares fundamentais do Judaísmo é o fato de Moshé ter sido
o maior dentre todos os profetas, passados e futuros. Nem o próprio Mashiach terá
igual grandeza profética. A Revelação Divina vivenciada por Moshé foi única, em
quantidade e qualidade. A Torá nos relata que “Moshé, o homem, era muito
humilde, mais que todos os homens na face da Terra” (Números 12:3). Devido a
essa humildade sem paralelo, ele foi o ser humano mais dotado de
espiritualidade, em todos os tempos, e fez uso de seus dons espirituais para se
anular completamente perante D’us. Como era um ser humano totalmente despido de
ego, sua existência física não constituía barreira entre ele e o Altíssimo.
Portanto, diferentemente dos profetas que o precederam e sucederam, ele
vivenciou a experiência direta com a Revelação Divina. Nossos Sábios ensinaram
que enquanto todos os profetas “viam através de um vidro fosco, Moshé via
através de um vidro translúcido e brilhante”. Ao contrário dos demais profetas,
ele recebeu a Revelação Divina com total transparência – e não mascarada por simbolismos.
D’us escreveu em Sua Torá: “Claramente falarei com ele (Moshé), e com palavras
claras, e não com enigmas (...). (Números 12:8). Diferente de outros profetas,
que vivenciaram alguma forma de Revelação Divina em seu sono ou em estado de
semiconsciência, Moshé foi o único que pôde comunicar-se com D’us plenamente
desperto e no pleno comando de seus sentidos. Pois D’us assim falou: “(…). Se
houver profeta entre vós, Eu, o Eterno, em visão a ele Me faço conhecer ou no
sonho falo com ele. Não é assim com meu servo Moshé (…).” (Números 12:6). E
pelo fato de Moshé ter vivenciado a Revelação Divina plenamente desperto, em
plena consciência, e de forma clara e transparente, lhe foi possível receber
os Chamishá Chumshei Torá com absoluta precisão – cada uma de
suas letras e palavras, bem como a Torá Oral, que explica e elucida o texto
escrito e seus mandamentos. Como ensina Maimônides, é essencial saber que não é
pelo fato de Moshé ter sido o canal Divino para a realização dos milagres mais
extraordinários – como as Dez Pragas que se abateram sobre o Egito e a Divisão
do Mar de Juncos – que julgamos que ele seja o maior profeta de todos os
tempos. Mais exatamente, cremos que as profecias de Moshé não têm paralelo nem
comparação com as demais porque D’us, Ele Próprio, foi testemunha de que Moshé
era o portador de Sua Palavra. Pois D’us disse a Moshé: “Eis que Eu venho a ti,
na espessura da nuvem, para que ouça o povo enquanto Eu falo contigo, e também
em ti crerão para sempre” (Êxodo 19:9). Portanto, não acreditamos na veracidade
da Torá graças a qualquer dos milagres que Moshé realizou. Pois o Judaísmo não
se baseia em milagres ou nas habilidades sobrenaturais e profecias de ninguém.
Na verdade, a própria Torá atesta o fato de que muitos seres humanos maus, como
os feiticeiros do Faraó e o famoso profeta de Midian, Bilaam, conseguiram
realizar feitos sobrenaturais. A autoridade do Judaísmo deriva exclusivamente
da Revelação Divina no Monte Sinai, testemunhada por milhões de pessoas, que
corroborou a origem Divina da Torá e o fato de Moshé ter falado em Nome de
D’us. Como os Chamishá Chumshei Torá são, literalmente, a
Palavra de D’us Infinito – tendo o Todo Poderoso, Ele Próprio, escrito cada
letra –, esses Cinco Livros da Torá são imutáveis e eternos. Assim como D’us é
perfeito, Sua Torá também o é. Assim como D’us não se modifica nem envelhece,
imutável também é a Sua Torá, que tampouco se torna anacrônica, sob aspecto
algum. Assim sendo, D’us nos impõe em Sua Torá: “Não acrescentareis sobre a
coisa que Eu vos ordeno, e não diminuireis dela, para que guardeis os preceitos
do Eterno, vosso D’us, que Eu vos ordeno” (Deuteronômio 4:2). Isso significa
que nenhum mandamento da Torá pode ser permanentemente anulado, modificado ou
manipulado, de forma alguma. Como a Torá revela a Vontade e Sabedoria Divinas
ao homem, ela foi transmitida letra por letra para evitar qualquer
interpretação errônea. Assim sendo, qualquer uma de suas frases, letras ou
palavras tem significado profundo. Mesmo seus versículos e passagens aparentemente
irrelevantes transmitem muitas lições àquele que deseja explorar suas
profundezas. No entanto, os Chamishá Chumshei Torá também são
uma obra extremamente hermética: ordenam ao Povo Judeu o cumprimento de uma
multiplicidade de mandamentos, mas não explicam como cumprir a grande maioria
deles. Por exemplo, ainda que nos ordenem “afligir-nos” em Yom Kipur,
nada dizem sobre a obrigação de jejuar nesse dia. A chave para o entendimento
dos Cinco Livros da Torá reside na Torá Oral – ensinada por D’us a Moshé e
transmitida de geração em geração. A Torá Oral, como indica seu nome, foi
transmitida oralmente. Após a destruição do segundo Templo Sagrado de Jerusalém
e o exílio do Povo Judeu da Terra de Israel, temia-se que a Torá Oral se
perdesse. Assim sendo, foi transcrita, constituindo o Talmud (Mishná e Guemará),
o Midrash e outros textos sagrados. É a Torá Oral que explica e elucida
os Chamishá Chumshei Torá e nos ensina como cumprir
adequadamente suas leis e seus mandamentos, inclusive os mais básicos dentre
eles, como ouvir o Shofar em Rosh Hashaná e
jejuar em Yom Kipur. Como os Cinco Livros da Torá são uma obra de
Autoria Divina, eles contêm informações que apenas um Ser Onisciente poderia
conhecer. Quem estuda esses Cinco Livros com diligência e seriedade intelectual
irá perceber que tais textos não podem ter sido concebidos por um ser humano. A
Divindade dos Chamishá Chumshei Torá é clara para aqueles que se
aprofundam nos mesmos. Além disso, assim como D’us é Infinito, também o é a Sua
Torá. Seu estudo, portanto, é uma tarefa sem fim, que requer uma devoção
constante. Os Profetas. Um dos princípios fundamentais do Judaísmo diz
respeito à profecia. A existência de profetas é um elemento necessário no
relacionamento entre D’us e o ser humano, pois é por meio desses homens e
mulheres que o Todo Poderoso se comunica conosco. Na verdade, a Torá nos ordena
dar importância às palavras dos verdadeiros profetas. Como está escrito,
“Profeta do meio de ti, (...) te fará surgir, o Eterno, em todas as gerações; a
ele ouvireis” (Deuteronômio 18:15). É importante observar que a capacidade de
um indivíduo de enxergar o futuro com exatidão ou de realizar milagres ou
feitos sobrenaturais não fazem dele, necessariamente, um verdadeiro profeta.
Para sê-lo, é preciso destacar-se em sabedoria, conhecimento da Torá e devoção
a D’us. Ademais, para ser aceito como verdadeiro profeta pelo Povo Judeu, era
necessário dar sinais disso perante o Sanhedrin – a Corte
Suprema Judaica –, sendo testado por seus juízes, que eram peritos em questão
de profecia e capazes de distinguir os verdadeiros profetas dos falsos. O ponto
a seguir tem importância crucial: a autoridade de todo profeta deriva exclusivamente
da Torá. Isso significa que nenhum profeta pode contradizer uma única de suas
palavras, independentemente de quantos sinais ou maravilhas ele produza.
Portanto, se um profeta tenta contradizer, de alguma maneira, a Torá, ele não
tem crédito; é um falso profeta, ainda que realize os milagres mais
assombrosos. É importante enfatizar que o falso profeta não é, necessariamente,
impostor ou trapaceiro. Ele pode, perfeitamente, prever o futuro e realizar
milagres com precisão. É natural, então, que perguntemos por que D’us permite a
existência de falsos profetas, concedendo-lhes poderes sobrenaturais. Temos a
resposta na própria Torá: D’us nos alerta que tais falsos profetas podem surgir
para testar nossa lealdade a Ele e à Sua Torá. Como está escrito, “Se um
profeta se levantar em teu meio, ou um sonhador, e te der um sinal do céu ou um
milagre da Terra, e realizar-se o sinal ou o milagre de que te falou, e te
disser: ‘Vamos atrás de outros deuses, que não conheceste, e
sirvamo-los!’(...), mesmo se o sinal ou milagre que ele previu se concretizar,
não obedecerás às palavras daquele profeta ou daquele sonhador; porque o
Eterno, teu D’us, te está experimentando para saber se amas o Eterno, teu D’us,
com todo o teu coração e com toda a tua alma” (Deuteronômio 13:2-4). D’us
permite a existência de falsos profetas porque deseja testar se o Povo Judeu
permanecerá fiel a Ele e à Sua Torá, ou se permitirá ser seduzido por
milagreiros. As palavras do verdadeiro profeta não podem contradizem a Torá
porque, como somente os Chamishá Chumshei Torá foram escritos
por D’us, eles são a única fonte verdadeira de Autoridade Divina obrigatória
por todo o sempre. Com a finalização da transcrição dos Cinco Livros da Torá e
a morte de Moshé, nenhuma outra lei ou mandamento bíblico novo pôde ser
introduzido por via profética. Os Chamishá Chumshei Torá são a
Constituição do Povo Judeu, e seu Autor, é o único Legislador. Os seres
humanos, ainda que sejam grandes profetas, nada podem fazer além de servir ao
Legislador e Juiz Supremo, interpretando e implementando Sua Lei com fidelidade
e honestidade, e seguindo a Lei Oral ensinada por D’us a Moshé. Como está
escrito, ... “Estes são os preceitos que ordenou o Eterno a Moshé, para os
Filhos de Israel, no Monte Sinai” (Levítico 27:33). Em outras palavras, tudo o
que está escrito nos Chamishá Chumshei Torá é intocável, como
explica a Torá Oral. O máximo que Profetas, Sábios e Rabinos podem fazer é
introduzir Leis Rabínicas, cujo único propósito é fortalecer o cumprimento das
Leis dos Cinco Livros da Torá ou celebrar eventos de importância histórica para
o Povo Judeu. Por exemplo, nossos Sábios instituíram – por razões que fogem ao
escopo deste trabalho – que os judeus na Diáspora devem adicionar um dia às
festas religiosas, os Yamim Tovim. Contudo, jamais ousariam anular
um Yom Tov ou decretar que devem ser guardados menos dias do
que ordena a Torá. Se um profeta contradissesse uma única lei da Torá, mesmo
que fosse uma aparentemente trivial, ele seria considerado falso profeta. Deve,
pois, ficar claro que o mandamento da Torá que reza que devemos obedecer às
palavras de um profeta não lhe dá autoridade de anular, inovar ou, de alguma
maneira, manipular as leis e mandamentos dos Chamishá Chumshei Torá.
Profeta algum tem autoridade para anular ou modificar lei alguma da Torá, como
as leis de Tefilin, Cashrut (leis alimentares) ou
do Shabat. D’us prometeu nunca enviar um profeta verdadeiro para
acrescentar, subtrair ou modificar qualquer mandamento da Torá. Ademais, um
verdadeiro profeta não interpretaria uma lei de maneira diferente do que dispõe
a Torá Oral. Assim, pois, qualquer profeta que alegue fazer qualquer dessas
ações é, por definição, um falso profeta. Bem verdade, a Torá permite, em
certos casos, que um profeta revogue, temporariamente, uma de suas leis ou
mandamentos. No entanto, ele deve ter uma razão irrefutável para fazê-lo. Por
exemplo, se um profeta instruísse o Povo Judeu a não jejuar durante
determinado Yom Kipur, ele deveria ser obedecido. Na
verdade, isso aconteceu uma só vez na História Judaica: quando foi inaugurado o
Primeiro Templo de Jerusalém. Mas, se o profeta alegar que recebeu uma
Revelação Divina no sentido de que Yom Kipur não deve mais ser
cumprido como tal, ele estará anulando uma lei da Torá e, definitivamente, é um
falso profeta. As leis referentes à idolatria, no entanto, não podem ser
revogadas nem por um instante sequer. Assim, pois, se um profeta der uma
instrução qualquer de adoração a um deus, ser humano, objeto ou imagem, ou
alegar ser mediador entre D’us e o homem, ainda que uma única vez, ele não deve
ser obedecido. Isso se aplica mesmo que ele realize milagres e maravilhas para
comprovar sua profecia. O profeta que tenta levar alguém à idolatria é culpado
de um delito capital. Pois a Torá ordena: “E aquele profeta ou sonhador será
morto, porquanto pregou falsidade em Nome do Eterno, teu D’us” (Deuteronômio
13:6). Além disso, o profeta que alega ser enviado por algum poder ou divindade
além do Eterno, ainda que em defesa da Torá, é culpado de pecado capital. Como
está escrito, “Mas o profeta que propositadamente falar alguma coisa em Meu
Nome que não lhe ordenei falar ou que falar em nome de outros deuses, este
profeta morrerá” (Deuteronômio 18:20). É proibido discutir com tal falso
profeta, nem mesmo pedir-lhe um sinal. Se ele produzir um sinal por si só, é
proibido acreditar nesse sinal ou lhe dar atenção. Pois está escrito: “(…) não
obedecerás às palavras daquele profeta ou sonhador” (Deuteronômio 13:4). É
importante observar que apesar da capacidade dos profetas de receber mensagens
Divinas, eles não tinham sequer a palavra final em questões ligadas à
interpretação da Lei da Torá e suas aplicações. Em outras palavras: ao dar a
Torá ao Povo Judeu, D’us estabeleceu um meio de autoridade baseado no julgamento
e na razão humana. Está escrito: “Porque este mandamento que Eu hoje te ordeno,
(...) não está nos Céus (...)” (Deuteronômio 30:11-12). As leis devem ser
estabelecidas por juízes e especialistas na Lei da Torá por meio do exercício
de raciocínio intelectual, não pela capacidade de se comunicar com os Céus.
Portanto, nenhuma questão da Lei da Torá pode ser decidida por profecias,
Inspiração Divina, vozes celestiais, Urim v’Tumim,
sonhos ou qualquer outro fenômeno sobrenatural. Em questões de Leis da Torá, o
profeta não é melhor nem pior que qualquer outro Sábio. Bem verdade, muitos
profetas dirigiam o Sanhedrin ou serviam como seus membros.
Nessa capacidade, tinham o direito de interpretar leis e iniciar legislação,
mas na exata medida dos demais juízes do Sanhedrin. Durante longo
período, os profetas foram os guardiães da Torá Oral; na verdade, muitas leis
encontradas em seus escritos baseiam-se na Tradição Oral dada por D’us a Moshé
no Sinai. Mas, em caso algum, eles introduziram uma lei baseada apenas em
profecia. Um profeta não pode alegar que seu dom profético o intitula a ditar
questões sobre a Lei Judaica. À luz do que discutimos acima, deve ficar claro
que como os Chamishá Chumshei Torá são exclusivamente um
trabalho de Autoria Divina, sua autoridade é suprema e final. Isso significa
que nada que esteja escrito em outros livros sagrados, como nos Livros dos
Profetas, pode suplantar o que contêm os Cinco Livros que D’us, Todo Poderoso,
ditou a Moshé. Através da História, muitos grupos religiosos tentaram converter
os judeus tentando convencê-los de que as leis dos Chamishá Chumshei
Torá já não se aplicavam. Em sua tentativa de converter os judeus às
suas respectivas religiões, esses grupos citavam versículos ou passagens dos
Livros dos Profetas, como a seguinte citação do Livro de Jeremias:
“Aproximam-se os dias quando estabelecerei um novo pacto com a Casa de Israel”
(...). (Jeremias 31:30). Independentemente de como se quiser interpretar essa
citação – e outras semelhantes nos Livros dos Profetas –, nada tem poder acima
dos mandamentos dos Chamishá Chumshei Torá e da obrigação do
Povo Judeu de cumpri-los. Dentro de seu contexto, fica claro que esse versículo
do Livro de Jeremias não fala de um novo testamento ou legislação que viria a
substituir a Torá transmitida por D’us a Moshé, mas sim, de uma renovação da
devoção a seus ensinamentos. O profeta Jeremias assim conclui, em nome de D’us,
“Pois este é o pacto que Eu farei com a Casa de Israel: farei com que
internalizem Minha Torá em todo o seu ser e a gravarei em seu coração...”
(Jeremias 31:32). É nefasto usar os versículos dos Livros dos Profetas fora de
contexto na tentativa de convencer o Povo Judeu a abandonar a Torá. Além do
mais, como vimos acima, profecia alguma pode anular as palavras dos Chamishá
Chumshei Torá, assim como profeta algum jamais teve ou terá mais autoridade
do que Moshé. Unicamente os Cinco Livros da Torá são obra de pura Autoria
Divina e, portanto, nenhum outro livro pode a eles se comparar, desafiar ou
contradizer, de maneira alguma. As palavras dos Profetas apenas fortalecem e
corroboram os ensinamentos dos Cinco Livros da Torá, jamais a eles se opondo.
Portanto, nem é tão relevante a maneira como se interpretam os versículos e
passagens dos Livros dos Profetas. Apesar de servirem a diversos propósitos
religiosos e serem, sem sombra de dúvida, sagrados, não constituem fonte da Lei
da Torá e não podem anular ou modificar algo que esteja escrito nos Chamishá
Chumshei Torá. É absurdo sugerir que um verdadeiro profeta contradiria ou
buscaria anular uma única letra de um livro composto por D’us. Alguém que
alegue ser um profeta e critique ou questione uma única letra dos Cinco Livros
da Torá se está rebelando contra o Seu Mestre – e é, portanto, e por definição,
um falso profeta. A missão de vida do verdadeiro profeta é fortalecer o
relacionamento do Povo Judeu com D’us e Sua Torá. Quando alguém estuda os
Livros dos Profetas com honestidade intelectual, sem subtrair versículos ou
passagens de contexto, esse alguém percebe que a principal mensagem dos
Profetas foi ordenar ao Povo Judeu que seguisse D’us com toda a fé, mediante o
cumprimento de todos os mandamentos de Sua Torá. Por exemplo, o Profeta Isaías
falou não apenas de nossas obrigações diante do fraco e do necessitado, mas também
sobre a importância de guardar o Shabat. É digno de nota – e
certamente não uma coincidência – que as últimas palavras de D’us ao último dos
Profetas tivessem sido: “Lembrai-vos da Torá de Moshé, Meu servo, a quem
ordenei, em Horev (Sinai) estatutos e preceitos para todo Israel” (Malachi
3:22). Os 24 Livros do Tanach e sua Autoria. Ainda que tenham havido muitos profetas na
História do Povo Judeu e muitas palavras de profecia tenham sido ditas e
gravadas, apenas foram registradas no Tanach, aBíbliaHebraica, aquelas
que seriam necessárias para as futuras gerações. O Tanach é
dividido em três partes principais: a Torá (Chamishá Chumshei Torá), os
Livros dos Profetas (Neviim) e os Escritos (Ketuvim). A
palavra Tanaché um acrônimo dessas três palavras: Torá, Neviim, Ketuvim.
Em sua forma final, o Tanach foi composto pela Grande
Assembleia (Anshei Knesset HaGuedolá), sob a liderança de Ezra, pouco
antes de deixarem de existir as profecias. A Grande Assembleia era composta por
120 anciãos, inclusive o último dos profetas (Malachi). Hoje, o Tanach é
um cânone pronto, ao qual nada pode ser acrescentado ou subtraído. Como está
escrito: “Cada palavra de D’us é verdadeira (...). Não acrescentes nada às Suas
palavras...” (Provérbios 30:5-6). O Tanach consiste de 24 livros.
Destes, cinco estão na Torá, oito nos Profetas e 11 nos Escritos. Como
mencionamos acima, repetidamente, a Torá - os Chamishá Chumshei Torá – é
singular, pois foi composta por D’us e ditada a Moshé, que a transcreveu. Os
Livros dos Profetas foram revelados através de profecias. Os Escritos foram
escritos por intermédio de Inspiração Divina, sem visão profética. Os Neviim (Livros
dos Profetas) consistem de oito livros, e são: Iehoshua (Josué), Shoftim (Juízes), Shmuel (Samuel
1 e 2), Melachim (Reis 1 e 2), Ieshaiáhu (Isaías), Irmiáhu (Jeremias), Iechezkel (Ezequiel)
e Trei Assar (Doze Profetas Menores): Hoshêa, Ioel, Amós,
Ovádia, Ioná, Michá, Nachum, Chavacuc, Tsefaniá, Hagai, Zehariá e Malachi.
Os Ketuvim (Escritos) consistem de 11 livros: Tehilim (Salmos), Mishlê (Provérbios), Ióv (Jó), Shir
HaShirim (Cântico dos Cânticos), Ruth, Eichá (Lamentações), Cohelet (Eclesiastes),
Esther, Daniel, Ezra e Neemias (Ezra) e Divrei Haiamim (Crônicas,
1 e 2). O Livro de Josué foi escrito por ele. Contudo, os versículos que nos
contam sua morte (Josué 23:20-32), bem como a morte de Elazar (Josué 24:33)
foram escritos por Pinchás. O Livro dos Juízes foi escrito pelo profeta Shmuel.
A primeira parte do Livro de Shmuel até sua morte (Shmuel 1, 25:1) também foi
escrita por ele. O restante de Shmuel 1 e todo Shmuel 2 foram escritos pelos
profetas Gad e Natan. Como está escrito: “E os atos do Rei David… estão
registrados nas Crônicas de Shmuel, o vidente, nas Crônicas do profeta Natan e
nas Crônicas de Gad, o vidente (Crônicas 1 – 29:29). Os dois livros dos Reis
foram escritos pelo profeta Irmiáhu (Jeremias), sendo que
incluíam também material escrito por profetas anteriores. O Livro de
Isaías foi escrito pela Escola do Rei Ezequias. Era costume os profetas
registrarem suas profecias pouco antes de sua morte. No entanto, suas profecias
públicas eram transmitidas ao Sanhedrin e registradas por
eles. Como Ieshaiáhu (Isaías) foi morto pelo Rei Menashé, ele
não teve chance de deixar suas profecias por escrito. Posteriormente, isso foi
feito pelo Sanhedrin. O Livro de Irmiáhu (Jeremias)
foi escrito por ele mesmo e terminado pela Grande Assembleia. Apesar de que,
sob certas condições, revelações proféticas podiam ocorrer fora da Terra de
Israel, nenhuma profecia podia ser publicada fora dela. Portanto, como o
profeta Ezequiel vivia fora da Terra Santa, ele não publicou suas profecias,
que foram preservadas pelo Sanhedrin, que finalmente as
publicaram. A Grande Assembleia publicou os Trei Assar (Doze
Profetas Menores), primeiramente em um único rolo. Individualmente, os livros
eram tão pequenos que se teriam perdido se publicados em separado. O Rei David
publicou seus Salmos. Contudo, alguns deles já tinham sido compostos e
transmitidos por gerações anteriores. O Livro dos Provérbios, o Eclesiastes (Cohelet)
e o Cântico dos Cânticos (Shir haShirim) foram escritos pelo Rei
Salomão, filho do Rei David. Mas, já no final de sua vida, o Rei Salomão estava
muito envolvido com afazeres de seu reino para poder publicá-los. Quem o fez
foi a Escola do Rei Ezequias. Como está escrito, “Também estes são os
provérbios de Salomão, copiados pelos homens de Hizquiá (Ezequias),
rei de Judá” (Provérbios 25:1). O Livro de Jó foi escrito por Moshé. O Livro de
Ruth, que se lê durante a festa de Shavuot, foi escrito pelo
profeta Shmuel. O Livro das Lamentações (Eichá), lido
em Tisha b’Av, foi escrito pelo profeta Irmiahú (Jeremias).
O Livro de Esther, que lemos em Purim, foi escrito originalmente
por Mordechai, como uma carta às várias comunidades judaicas da época,
contando-lhes acerca do milagre. Mas surgiu uma dúvida se essa carta deveria ou
não ser incluída no Tanach. Mesmo após se ter decidido incluí-la,
havia a proibição de publicá-la fora da Terra de Israel, até que acabou sendo
publicada pela Grande Assembleia. As profecias de Daniel ocorreram na
Babilônia, não na Terra de Israel. Sendo assim, não poderiam ser publicadas de
imediato. Por essa razão, o Livro de Daniel também foi publicado pela Grande Assembleia.
Ezra escreveu os Livros de Ezra e Neemias. O primeiro Livro de Crônicas e o
segundo livro até o versículo 21:2 foram escritos por Ezra. O restante de
Crônicas 2, por Neemias. Outros livros, como os Livros Apócrifos, também contêm
sabedoria, mas não foram escritos por Inspiração Divina, e, por isso, não foram
incluídos no Tanach. Apesar de o Tanach ter sido
dado, originalmente, apenas ao Povo Judeu, hoje é aceito por grande parte da
humanidade, constituindo uma das bases da Civilização Ocidental. Portanto, D’us
utiliza o Tanach para conduzir o mundo inteiro em direção à
verdade, preparando a humanidade para a vinda do Mashiach. BIBLIOGRAFIA. Rabbi Kaplan, Aryeh - Handbook of Jewish Thought -
Maznaim Publishing Corporation. Rabbi Kaplan, Aryeh – Maimonides’
Principles: The Fundamentals of Jewish Faith - Mesorah Publications
Ltd. www.morasha.com.br. Abraço. Davi
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