quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

RENUNCIAR NÃO É SUFICIENTE


Bhagavad Gita – A Ciência Suprema. www.vrinda.vaisnava.hu/vrindastudio. Compilado por Swami B. A. Paramadvaiti e Sripad Atulananda Acharya. RENUNCIAR NÃO É SUFICIENTE. ATUAR COM Capítulo Três. DEVOÇÃO TRANSCENDENTAL NOS CONDUZ À LIBERAÇÃO 1. Arjuna disse: Ó Krishna! (Ó Janardana! Ó Keshava)! Por que me impele a participar nesta guerra horrível se considera que a inteligência é melhor que o trabalho lucrativo? 2. Minha inteligência está confusa por Suas instruções ambíguas. Assim por favor, diga-me de forma definitiva, o que é melhor para mim. 3. O bem-aventurado Senhor disse: Ó impecável Arjuna! Já expliquei que há duas classes de pessoas que compreendem o eu. Algumas se inclinam a compreendê-lo mediante a especulação filosófica empírica, e outros se inclinam a conhecê-lo mediante o trabalho devocional. 4. A pessoa não pode se liberar da reação simplesmente por se abster do trabalho, nem pode alcançar a perfeição unicamente pela renúncia. 5. Todas pessoas estão irremediavelmente forçadas a atuar conforme os impulsos nascidos das modalidades da natureza material; portanto, ninguém pode se abster de fazer algo, nem sequer por um momento. 6. Aquele que restringe os sentidos e os órgãos da ação, mas cuja mente mora nos objetos dos sentidos, certamente engana a si mesmo e é chamado farsante. 7. Por outro lado, aquele que controla os sentidos com a mente e ocupa sem apego seus órgãos ativos em trabalhos devocionais, é muito superior. 8. Execute seu dever prescrito, pois a ação é melhor que a inação. Sem o trabalho, a pessoa nem sequer pode manter seu corpo físico. TODO SACRIFÍCIO DEVE SER OFERECIDO A VISHNU 9. O trabalho deve ser executado como um sacrifício a Deus (Vishnu), de outro modo, o trabalho ata a pessoa a este mundo material. Portanto, ó Arjuna (filho de Kunti), execute seus deveres prescritos para a satisfação dele, e dessa forma, sempre permanecerá desapegado e livre do cativeiro. Meditação: O trabalho lucrativo prende o ser condicionado. Todas as atividades materiais estão motivadas pelo conceito de "eu" e "meu". Devemos aprender a trabalhar com consciência divina. O trabalho para ajudar a missão de Sri Cheitanya Mahaprabhu (1486-1534) não é um trabalho egoísta, não é para o próprio benefício. Como é um trabalho para Deus mesmo, os únicos beneficiados são os seres condicionados. Trabalhar para esta causa, sem interesse pessoal e sob as ordens do mestre espiritual, pode nos liberar do cativeiro material. Muitas pessoas pensam que os devotos de Krishna trabalham para seus interesses egoístas de forma oculta, mas este verso esclarece que aquele que trabalha para si mesmo, não pode ser uma pessoa avançada, ainda que vista o hábito de renunciante. 10. No princípio da criação, o Senhor de todas as criaturas manifestou gerações de homens e semideuses junto com sacrifícios para Vishnu, e os abençoou ao dizer: "Sejam felizes com este sacrifício, porque sua realização proporcionará a vocês todas as coisas desejáveis". Meditação: Srila Prabhupada (1896-1918) nos ensina: Esta criação material, feita pelo Senhor das criaturas (Vishnu), é uma oportunidade que se oferece aos seres vivos para regressar ao lar, regressar a Deus. Todos os seres vivos dentro da criação material estão condicionados pela natureza material, devido ao esquecimento de sua relação com Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Os princípios védicos são para nos ajudar a compreender essa relação eterna, tal como se estabelece no Bhagavad-gita: "Eu sou o que deve ser conhecido em todo conteúdo dos Vedas". 11. Os semideuses satisfeitos com os sacrifícios, também os satisfarão. Dessa forma, com a nutrição recíproca, reinará a máxima prosperidade para todos. 12. Os semideuses que estão a cargo das diversas necessidades da vida, ao estarem satisfeitos com a execução do sacrifício, abastecem os seres vivos com tudo o que necessitam. Mas aquele que aproveita esses dons sem oferecê-los de volta aos semideuses, certamente é um ladrão. Meditação: De acordo com os Vedas, os semideuses são assistentes da Suprema Personalidade de Deus para os assuntos materiais. Eles provêm luz, água, ar, etc., sempre sob a ordem de Krishna. Na Antiguidade se ofereciam sacrifícios aos semideuses como agradecimento pelos bens recebidos, mas isso não é necessário se a pessoa agradece a Krishna, que é o Supremo Controlador e raiz do universo. 13. Os devotos do Senhor se liberam de toda classe de pecados porque comem alimentos que se oferece primeiro em sacrifício. Os demais, que preparam alimentos para o seu próprio prazer dos sentidos, na verdade comem somente pecados. Meditação: Este é um verso muito importante do Bhagavad-gita que marca um regulamento diário na vida dos devotos do Senhor. Eles, antes de comer, oferecem seus alimentos com amor e devoção a Deus. O alimento é aceito por Krishna e se espiritualiza, assim se torna um agente purificador para quem o come. Assim o mesmo fato de comer se torna uma meditação, uma ajuda em nosso avanço espiritual. Quem pelo contrário não faz isso, come somente pecado, pois só quer saber de aproveitar separadamente de Deus. 14. Todos os corpos vivos subsistem de grãos alimentícios, que se produzem das chuvas. As chuvas se produzem pela execução de sacrifício, e o sacrifício nasce dos deveres prescritos. Meditação: Neste verso, Krishna resolve a maior parte do problema econômico do mundo. Se as pessoas fazem sacrifícios, haverá chuva, e a chuva fará crescer cereais suficientes, frutas e verduras para todos. O sacrifício nasce do dever prescrito. Esse dever é social e espiritual. A pessoa deve cumprir seus deveres sociais de forma honesta e constante. Nosso dever espiritual, especialmente nesta era, é o de cantar os santos nomes de Krishna: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, e servir ao Senhor na companhia dos devotos. Dessa forma, pela satisfação do Senhor Supremo, a humanidade poderá gozar abundantemente de todos os bens desejáveis sem nenhuma ansiedade. 21. Nos Vedas se prescrevem atividades reguladas, e os Vedas se manifestam diretamente da Suprema Personalidade de Deus. Em consequência, a transcendência toda-penetrante se situa eternamente nos atos de sacrifício. 16. Meu querido Arjuna, a pessoa que não segue o sistema de sacrifício prescrito nos Vedas, leva na verdade uma vida de pecado, porque aquele que se deleita unicamente nos sentidos, vive em vão. 17. No entanto, não há dever para aquele que se deleita no eu, que está iluminado no eu, que se regozija e que, plenamente saciado, se satisfaz unicamente no eu. Meditação: Srila Prabhupada diz: O Supremo é, para os devotos, a Personalidade de Deus, e para os impersonalistas é a liberação. Portanto, uma pessoa que atua para Krishna, ou seja, em consciência de Krishna, sob uma guia adequada e sem apego ao resultado do trabalho, certamente progride até a meta suprema da vida. Arjuna recebeu a ordem de lutar na batalha de Kurukshetra pelo interesse de Krishna, pois Krishna queria que ele lutasse. Ser uma pessoa boa ou uma pessoa não violenta é um apego pessoal, mas atuar pelo Supremo é atuar sem apego ao resultado. Essa é a ação perfeita do grau mais elevado que recomenda Sri Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Os rituais védicos, tais como os sacrifícios prescritos, são levados a cabo para purificar as atividades ímpias realizadas com o fim da satisfação pessoal. Mas a atividade em consciência de Krishna é transcendental às reações do trabalho bom ou mau. Uma pessoa em consciência de Krishna não tem apego pelo resultado, senão que atua unicamente para Krishna. Ela se ocupa em todo tipo de atividades, mas está completamente desapegada. 18. A pessoa auto realizada não tem nenhum propósito para satisfazer enquanto desempenha seus deveres prescritos, nem tem algum motivo para deixar de executar tal trabalho, nem tem necessidade de depender de nenhum outro ser vivo. 19. Portanto, a pessoa deve atuar como uma questão de dever, sem se apegar aos frutos das atividades, porque se trabalhar sem apego, a pessoa alcança o Supremo. Meditação: Antes de tudo temos que investigar qual é nosso dever. Isso aprendemos de Krishna no Bhagavad-gita, e é servi-Lo, e dedicar o resultado de nossas atividades a Ele. Ao avançar mais, a pessoa poderá encontrar o mestre espiritual que o guiará na consciência de Krishna e indicará deveres mais específicos. OS LÍDERES DEVEM ATUAR SEMPRE COMO UM EXEMPLO PARA OS DEMAIS 20. Inclusive reis como Janaka e outros alcançaram a etapa da perfeição mediante a execução dos deveres prescritos. Portanto, deve executar seu trabalho unicamente para educar as pessoas em geral. 21. As pessoas comuns seguem os passos de um grande homem, qualquer que seja a ação que este execute, e quaisquer que sejam as normas que ele estabeleça mediante seus atos exemplares, serão seguidas por todo mundo. 22. Ó Arjuna! Não há trabalho prescrito para Mim dentro dos três sistemas planetários. Nem necessito nada, nem tenho que obter nada; ainda assim, Eu Me ocupo no trabalho. 23. Pois se Eu não Me ocupasse no trabalho, ó Arjuna (Partha), certamente todas pessoas seguiriam meus passos. 24. Se Eu deixasse de trabalhar, então todos estes mundos iriam à ruína. Eu também seria a causa de população não desejada e, por conseguinte, destruiria a paz de todos os seres conscientes. Meditação: Krishna se faz diretamente responsável se os seres vivos se desviam. Por isso, o Senhor descende e corrige a sociedade quando há um descuido geral dos princípios reguladores. Krishna, junto dos Vedas e de Seus devotos, prescreve regras e regulamentos mediante os quais a população pode progredir de forma automática, pacífica e organizada na vida espiritual. 25. Assim como os ignorantes executam seus deveres com apego aos resultados, de forma similar, os sábios devem atuar também, mas sem apego, a fim de conduzir as pessoas pelo caminho correto. 26. Os sábios não devem perturbar a mente dos ignorantes que estão apegados à ação lucrativa. Não se deve incitá-los a se abster do trabalho, senão a trabalhar com espírito de devoção. 27. Por estar sob a influência dos três modos da natureza material, o ser vivo confuso se crê o executor das atividades, que na realidade são levadas a cabo pela natureza. Meditação: Os três modos da natureza material serão explicados em detalhes nos capítulos posteriores, como Quatorze e Dezoito. Os três modos são bondade, paixão e ignorância. Os seres vivos condicionados estão sempre subjugados por estes modos. Também devemos entender que nossas atividades estão muito condicionadas pelos arranjos da natureza material e por vontade do Senhor Supremo; portanto, não devemos nos orgulhar se sair algo bem, nem nos desesperar se sair algo mal. Ao atuar sempre com boa fé, sob as sábias instruções de Krishna, a pessoa deve tratar de satisfazê-Lo, sem se apegar ao resultado nem nunca se desanimar. 28. Ó Arjuna de braços poderosos! Aquele que conhece a Verdade Absoluta não se ocupa nem nos sentidos, nem na satisfação desses, pois conhece bem a diferença entre o trabalho devocional e o trabalho pelos resultados lucrativos. 29. Os ignorantes, iludidos pelos modos da natureza material, se ocupam totalmente em atividades materiais e se apegam. Mas os sábios não devem perturbá-los, ainda que esses compromissos sejam inferiores devido à falta de conhecimento da parte dos executores. 30. Portanto, ó Arjuna, entregue-Me todas suas ações, com sua mente absorta em Mim, sem desejo de ganho, livre de egoísmo e letargia, lute. 31. Aqueles que executam seus deveres de acordo com Minhas ordens e que seguem estes ensinamentos fielmente, sem inveja, se liberam do cativeiro das ações lucrativas. 32. Mas aqueles que devido à inveja fazem caso omisso destes ensinamentos e não os praticam regularmente, devem ser considerados desprovidos de todo conhecimento, enganados e condenados à ignorância e ao cativeiro. 33. Mesmo a pessoa com conhecimento atua de acordo com sua própria natureza pois cada qual segue sua natureza de acordo as três modalidades adquiridas. Que pode se alcançar com a repressão? 34. Os seres corporificados sentem atração e repulsão pelos objetos dos sentidos, mas não se deve cair sob o controle dos sentidos e dos objetos dos sentidos, pois eles são obstáculos no caminho da auto realização. 35. É muito melhor executar os próprios deveres prescritos, ainda que seja de forma defeituosa, do que executar o dever de outro. É preferível a destruição enquanto se executa os deveres próprios, que se ocupar nos deveres alheios, já que é perigoso seguir o caminho de outro. A LUXÚRIA, O GRANDE INIMIGO DO MUNDO. 36. Arjuna disse: Ó Krishna (descendente de Vrisni)! O que faz a pessoa cometer atos pecaminosos, ainda que involuntariamente, como se fosse obrigada pela força? 37. O bem-aventurado Senhor disse: É unicamente a luxúria, Arjuna, que nasce do contato com as modalidades materiais da paixão. Esta luxúria logo se transforma em ira, devora tudo e constitui o inimigo pecaminoso deste mundo. 38. Assim como a fumaça encobre o fogo, ou como o pó encobre um espelho, ou como o ventre encobre o embrião, de forma similar, o ser vivo é encoberto por diferentes graus desta luxúria. 39. Assim a consciência pura do ser vivo está coberta por seu inimigo eterno, na forma da luxúria, que nunca se satisfaz e arde como o fogo. 40. Os sentidos, a mente e a inteligência são os lugares onde se situa a luxúria, que cobre o verdadeiro conhecimento do ser vivo e o confunde. 41. Portanto, ó Arjuna, o melhor dos Bharatas! Refreie desde o princípio esse grande símbolo do pecado (a luxúria) mediante a regulação dos sentidos, e mate esse destruidor do conhecimento e da auto realização. 42. Os sentidos de trabalho são superiores à matéria inerte, a mente é superior aos sentidos, a inteligência é ainda mais elevada que a mente; e ela (a alma), é superior inclusive à inteligência. 43. Dessa maneira, sabendo-se transcendental aos sentidos, à mente e à inteligência materiais, a pessoa deve controlar o eu inferior por meio do eu superior, e assim, mediante a força espiritual, conquistar esse insaciável inimigo conhecido como luxúria. Meditação: Srila Prabhupada nos instrui: Este Terceiro Capítulo do Bhagavad-gita dirige conclusivamente à consciência de Krishna, ao se conhecer a si mesmo como servente eterno da Suprema Personalidade de Deus, sem considerar o vazio impessoal como o fim último. Na existência material, a pessoa certamente está sob a influência da luxúria e o desejo de dominar os recursos da natureza material. Os desejos de assenhorear-se e de gratificar os sentidos são os piores inimigos do ser condicionado; mas graças ao poder da consciência de Krishna, a pessoa pode controlar os sentidos materiais, a mente e a inteligência. Não se pode abandonar repentinamente o trabalho e os deveres prescritos, mas com desenvolvimento gradual da consciência de Krishna, a pessoa pode se situar em uma posição transcendental sem estar influenciada pela mente nem pelos sentidos materiais; e pode desenvolver uma inteligência firme e encaminhada para a própria identidade pura. Essa é a conclusão do presente capítulo. Na etapa imatura desta existência, nem as especulações filosóficas, nem as tentativas artificiais para controlar os sentidos mediante a suposta prática das posturas de yoga, poderão ajudar uma pessoa na vida espiritual. Tal pessoa deve treinar a consciência de Krishna com o uso de uma inteligência superior. www.vrinda.vaisnava.hu/vrindastudio. Abraço. Davi

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