Teosofia.
Extraído da Revista Esotérica – Inverno de 2015. Texto de Cynthia Trasi. O
SERVIÇO COMO TRABALHO SAGRADO. Quando vi a palavra TRABALHO no título, minha
mente imediatamente começou a se demorar sobre o TRABALHO de parto que ocorre
em toda a natureza, a respiração forçada, trabalhosa, os vários campos de
TRABALHO forçado, o TRABALHO infantil e os TRABALHOS de Hércules. O TRABALHO
SAGRADO, aquele que é divino, dedicado, consagrado, soa muito mais doce;
contudo, envolve também TRABALHO difícil, sofrimento, e até mesmo sacrifício. A
Senda é longa e trabalhosa, com muitas armadilhas. O Mestre Kut Humi disse-nos
que todos os nossos corpos, tanto os sutis quanto o físico, têm de estar fortes
e saudáveis para a jornada. Temos de ter a determinação e a vontade, como John
Bunyan (1628-1688), que escreveu: “Aquele que quiser ser valente contra todo
desastre, que em constância siga o Mestre. Não temerei o que dizem os homens,
trabalharei dia e noite para ser um peregrino”. No mundo da mitologia, Hércules
pode ser visto como o Deus Sol, que passa pelos Doze Trabalhos, que estão
ligados aos doze signos do Zodíaco. Isso é verdadeiramente serviço a tudo que
esteja sob o sol, pois o que podemos fazer sem isso? Mas, como escreve Geoffrey
Hodson (1886-1983), a história da vida de Hércules (Heráclito) pode ser
interpretada como uma descrição das experiências de todo neófito que é
bem-sucedido ao trilhar a Senda. OS TRABALHOS são uma série de penitências
consideradas impossíveis de realizar. Cada trabalho descreve alegoricamente uma
tarefa interior, que ajudará na evolução espiritual ao superar e transmutar em
poder toda qualidade indesejável. O primeiro TRABALHO é matar um Leão de
Nemeia. O leão representa todas as qualidades animalescas que adquirimos no
reino animal. Eles são atributos menos desejáveis, mas os mais difíceis de
transformar nas qualidades espirituais opostas. O quinto TRABALHO é a limpeza
dos Estábulos de Augean. Geoffrey Hodson diz: “olha para dentro, evocando a
vontade mais recôndita, sabiamente, habilidosamente, dirige os poderes
purificadores – as novas e claras águas do rio – da Seidade Superior.
Espiritual para o interior e através de todo pensamento, sentimento e ação do
“estábulo” da natureza pessoal inferior e mortal, para limpá-los de todas as
impurezas”. Mas a tarefa do auto aperfeiçoamento jamais é empreendida pelo
aspirante para benefício próprio, e sim para o atingimento de maior eficácia no
serviço aos outros. O herói é cada um de nós e devemos servir tanto aos
indivíduos quanto a toda a humanidade. Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891)
escreve em a Voz do Silêncio que “viver para beneficiar a humanidade é o
primeiro passo”. Meu Deus! Isso não me permite muita desculpa para deixar o
serviço para depois. Oh, bem, pelo menos sou uma teósofa, e Mestre Koot Hoomi
escreveu: “Nenhum de vós pode ser tão cego a ponto de supor que esta é a
primeira vez que lidais com a Teosofia”. Mas o que foi que Blavatsky escreveu
no seu livrinho “Ocultismo Prático”? Ao comparar Teosofia com ciência oculta
ela diz que “é fácil tornar-se um teósofo. Qualquer pessoa de capacidades
intelectuais medianas, e uma tendência à metafísica; de vida pura, altruísta,
que encontra mais prazer em ajudar o seu próximo do que em receber ela mesma
ajuda. Alguém que está sempre pronto a sacrificar sus próprios prazeres pelo
bem de outras pessoas; e que ama a verdade, a bondade e a sabedoria para por
amor a essas coisas, e não para o benefício que possam conferir – é um
teósofo”. Essa descrição me faz sentir envergonhada de que Mestre Koot Hoomi
tivesse de dizer: “Lembrai-vos de que sois teósofos”. Isso me faz compreender
que ser um verdadeiro teósofo é viver uma vida de serviço, uma vida de TRABALHA
SAGRADO. A doutora Annie Besant (1847-1933) disse que “Ninguém é realmente um
verdadeiro membro de uma sociedade como a nossa, a não ser que tenha assumido
algum tipo de serviço aos outros. A vida do espírito consiste em dar
continuamente. Você não pode esperar que a vida espiritual derrame do alto
sobre você, a não ser que a vida que você está recebendo derrame-se de você em
todas as direções”. O serviço exigido é de serviço altruísta que dá tudo e nada
pede em troca. Consideremos mais uma vez a bela poesia em A Voz do Silêncio de
Blavatsky: “Que tua alma dê ouvidos a cada grito de dor como o Lótus abre seu
coração para absorver o sol da manhã. Que não seja o sol a secar a lágrima de
dor antes que tu mesmo a tenhas enxugado do olho de quem sofre. Mas permite que
cada ardente lágrima humana caia em teu coração e lá permaneça, e jamais a
tires de lá, até que a dor que a causou seja removida. Essas lágrimas, ó tu de
coração misericordioso, essas são as correntes que irrigam os campos da
caridade imortal”. Parece-me que muito é exigido de nós, mas não estamos
sentindo auxílio. Os personagens da mitologia e dos contos de faldas, e grandes
almas que se foram antes de nós, todos ensinam pelo exemplo. Um Mestre ou
Adepto é alguém que é criado de todos, sem buscar recompensa. Ele usa seu
conhecimento para auxiliar a humanidade. Os Mestres mostram-nos o que é
possível, e isso nos encoraja. Clara Codd (1876-1971) escreveu que como aprendizes
devemos estudar e observar a técnica das grandes almas. A medida que avançamos
e criamos novos valores para nós, mais prontamente reconhecemos aqueles que são
exemplos vivos. Mas Clara adverte que haverá estagnação, a não ser que o
resultado de nosso estudo e meditação seja aplicado no serviço. Os passos ao
longo da Senda são passos em compreensão, expressos em ação. Nosso campo de
serviço deveria ser toda a vida, incluindo os reinos mineral, vegetal e animal.
Nossos corações têm de ser suficientemente grandes para absorver tudo. Qualquer
que seja a situação em que nos encontremos é uma oportunidade para o serviço.
Clara diz-nos que Santa Catarina de Siena (1347-1380) orava para que lhe fosse
concedido o favor de espiritualmente ver a beleza de toda alma humana.
Disseram-lhe que ela precisaria banir de seu coração todos os pensamentos
ansiosos com referência a ela mesma e à sua salvação, para que não se
distraísse no serviço aos outros. Esta é uma obrigação muito difícil. T. Subba
Row (1856-1890) chamou isto de abnegação que não está presa ao tempo, mas deve
ser eterna, e cujo objetivo deve ser a iluminação espiritual da raça humana.
Ora, essa é a mais elevada de todas as obrigações! E como escreveu o dramaturgo
inglês Tom Stppard (1937- ): “Eternidade
é um pensamento terrível. Quero dizer, onde tudo isso irá terminar”? Subba Row
continua: assim, o motivo é muito importante. Se você não dá espaço para os
seus próprios problemas, você tem espaço suficiente para os problemas alheios.
Este insight divino é o maior poder de serviço que o ocultista pode obter; a
tal poder devemos todos aspirar, estando perceptivos de que devemos querer
auxiliar os outros à sua própria maneira. N. Sri Ram (1889-1973) lembrava-nos
que não podemos escolher demais a quem desejamos servir. Minha própria
experiência diz que muitas vezes é alguém a quem os outros não consideram digno
de auxílio e amizade. Ou a pessoa com quem eu tenho de lutar para ter
paciência, que me confere a honra da amizade pela gentileza e pelo serviço. Sri
Ram escreveu, lindamente: “Quando toda a vida tornar se um poema de serviço, no
sentido verdadeiro, puro, interno, então toda a vida torna-se excessivamente
bela; desabrocha como uma flor”. Assim, me parece que SERVIÇO É TRABALHO
SAGRADO E TRABALHO SAGRADO É SERVIÇO. Eu não tenho as palavras para expressar o
que sinto, por isso terminarei com as palavras de Ramana Maharshi (1879-1950):
“Corrigir a si próprio é corrigir o mundo inteiro. O sol simplesmente é
brilhante. Ele não corrige ninguém. Por que ele brilha o mundo inteiro está
pleno de luz. Transformar-se é um meio de dar luz a todo o mundo”. Revista
Teosófica – As Coisas Transitórias. Abraço. Davi
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