quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

VISÃO DOS EXÉRCITOS NO CAMPO DE BATALHA.


Bhagavad Gita – A Ciência Suprema. www.vrinda.vaisnava.hu/vrindastudio. Compilado por Swami B. A. Paramadvaiti e Sripad Atulananda Acharya. CAPÍTULO UM. VISÃO DOS EXÉRCITOS NO CAMPO DE BATALHA EM KURUKSHETRA. 1. Dhritarastra disse: Ó Sanjaya! Que fazem meus filhos e os filhos de Pandu, depois de se reunirem no lugar sagrado chamado Kurukshetra, todos com muito desejo de lutar? Meditação: Talvez você fique assombrado ao saber que Krishna, Deus, deu Suas instruções num campo de batalha, justamente antes do começo de uma guerra. Mais ainda, maior será seu assombro ao ver que Krishna incentiva essa guerra, pois entusiasma seu devoto Arjuna a matar inclusive seus parentes que estavam do lado da injustiça. Ninguém quer morrer e, a nosso parecer e sentir, é difícil ver a morte como algo bom, criado por Deus. O significado da vida e da morte é a substância principal dos ensinamentos de Krishna, em que podemos aprender a atuar corretamente neste mundo. Estamos na escola da vida e cada lição começa com o nascimento e termina com a morte. O livre arbítrio nos permite atuar a favor ou contra a vontade divina e a lei de ação e reação (karma), criada pelo Senhor Krishna mesmo, faz que os malfeitores sofram os mesmos males que infligiram a outros, seja nesta mesma vida com enfermidades ou morte prematura, ou na próxima, com um nascimento desafortunado. Em troca, aqueles que se esforçam pelo bem são recompensados pela mesma lei do karma, com nascimentos opulentos em planetas superiores. Mas a meta de tudo é entender que não somos este corpo material e que podemos retornar ao mundo transcendental quando recordarmos nossa relação eterna com o Senhor Krishna. A doce vontade de Krishna está por cima de todos, por cima das leis deste mundo, que foram criadas por Ele. Também está por cima da vida e da morte, que são parte da retificação dos seres desviados. Se o mal não fosse castigado, ninguém entenderia o que é o mal; por isso Krishna diz a seu devoto Arjuna que mate os malfeitores que cometeram uma larga lista de atrocidades contra a lei, a moral e o povo em geral. Por razões políticas, inclusive os amigos, parentes e mestres de Arjuna se uniram ao lado mau, e não têm perdão pois a vontade de Deus está acima de tudo. A posição de Arjuna é de guerreiro. Irmão do herdeiro legal da coroa da Índia, e tanto ele como seus quatro irmãos são todos grandes devotos da Suprema Personalidade de Deus, Krishna, que apareceu na Terra como parente deles (primo), e foi inclusive, nessa época, reconhecido como o próprio Deus na Terra. Queremos e devemos evitar a violência de acordo com a lei de Deus, mas os ensinamentos védicos dizem que em certos momentos é necessário aplicá-la. Segundo os preceitos védicos existem seis classes de agressores que podem ser mortos imediatamente sem acarretar pecado: 1) o que dá veneno; 2) o que incendeia a casa; 3) o que ataca com armas mortais; 4) o que rouba as riquezas; 5) o que ocupa a terra de outro; 6) o que rapta a esposa de outro. Os guerreiros nos tempos védicos (kshatriyas) tinham a responsabilidade de proteger os cidadãos dos malfeitores e exploradores. A guerra simboliza o mais indesejável que podemos encontrar neste mundo. Mas os devotos do Senhor Krishna não estão desamparados em nenhum momento, e por isso, as imortais instruções de Sri Krishna ao devoto guerreiro Arjuna também representam as dificuldades que cada um deve enfrentar na luta da vida neste mundo. Krishna explica a situação da violência neste mundo e muitas celebridades mundiais ofereceram os mais altos respeitos a suas palavras: Humboldt (1769-1859), Kant (1724-1804) e Schopenhauer (1788-1860), para somente mencionar alguns, assim como também o famoso pacifista Mahatma Gandhi (1869-1948), que lia diariamente o Bhagavad-gita. 2. Sanjaya disse: Ó rei! Depois de observar o exército reunido pelos filhos de Pandu, o rei Duryodhana se aproximou de seu mestre e lhe dirigiu as seguintes palavras: Meditação: Arjuna é um dos cinco filhos de Pandu, e Duryodhana é o rei mau que encabeça o partido dos Kurus. Sanjaya é o secretário do velho pai cego de Duryodhana, Dhritarastra, e relata ao velho rei tudo o que acontece em Kurukshetra antes e durante a batalha. Duryodhana agora se dirige a seu mestre Dronacharya, o general comandante de seu exército. 3. Ó mestre! Aí está o grande exército dos filhos de Pandu, disposto de maneira excelente por seu inteligente discípulo, o filho de Drupada (Dhristadyumna). 4. Aqui neste exército há muitos arqueiros heroicos, iguais na luta a Bhima e Arjuna; há também grandes guerreiros como Juyudhana, Virata e Drupada. 5. Também, há grandes guerreiros heroicos e poderosos como Dhristaketu, Chekitana, Kasiraja, Purujit, Kuntibhoja e Saibya. 6. Estão o magnífico Judhamanyu, o poderosíssimo Uttamauya, o filho de Subhadra e os filhos de Draupadi. Todos esses guerreiros são grandes lutadores em quadriga. 7. Ó melhor dos brahmanas! Para tua informação, vou descrever os capitães que estão especialmente qualificados para dirigir minha força militar. 8. Há personalidades como você mesmo, como Bhisma, Karna, Kripa, Asvatthama, Vikarna e o filho de Somadatta chamado Bhurisrava, que sempre se saem vitoriosos na batalha. 9. Há muitos outros heróis que estão dispostos a dar sua vida por mim. Todos eles estão bem equipados com diversas classes de armas e todos possuem experiência na ciência militar. 10. Nossa força é incomensurável e estamos perfeitamente protegidos pelo avô Bhisma, enquanto que a força dos Pandavas, cuidadosamente protegida por Bhima, é limitada. 11. Agora todos vocês devem dar seu apoio total ao avô Bhisma, e permanecer cada qual em seu respectivo posto estratégico dentro da falange do exército. 12. Então Bhisma, o grande e valente patriarca da dinastia Kuru, o avô dos guerreiros, soprou seu búzio com grande estrépito, como o rugido de um leão, que produziu júbilo em Duryodhana. 13. Depois disso, soaram subitamente todos os búzios, clarins, trombetas, tambores e chifres, e o som combinado foi tumultuoso. 14. No partido oposto, o Senhor Krishna junto com Arjuna, situados em uma grande quadriga (carro de quatro rodas) puxada por cavalos brancos, soaram seus búzios transcendentais. 3 O Bhagavad-gita: A Ciência Suprema 15. Assim, o Senhor Krishna soprou seu búzio chamado Panchajanya, Arjuna soprou o seu, Devadatta, e Bhima, comedor voraz e executor de tarefas hercúleas, soprou seu terrível búzio chamado Paundra. 16-18. O rei Yudhisthira, filho de Kunti, soprou seu búzio, Anantavijaya, e Nakula e Sahadeva sopraram Subhosa e Manipuspaka. Ó rei! O grande arqueiro, rei de Kasi, e grande guerreiro Sikhandi, Dhristadyumna, Virata e o invencível Satyaki, Drupada, os filhos de Draupadi e os demais como o filho de Subhadra, de braços poderosos, todos sopraram seus búzios respectivos. 19. O som desses búzios diversos se tornou estrondoso, e vibrou tanto no céu como na terra, assim destroçou os corações dos filhos de Dhritarastra. Meditação: Quando Bhisma e os demais da parte de Duryodhana sopraram seus búzios respectivos, não houve angústia da parte dos Pandavas, mas neste verso específico se diz que os corações dos filhos de Dhritarastra sim, foram destroçados pelos sons vibrados pelos Pandavas. Isso por causa do poder dos Pandavas e da sua confiança no Senhor Krishna. Quem se refugia no Senhor Supremo não tem nada a temer, nem mesmo em meio a maior calamidade. Isto é o que Srila Prabhupada nos ensina. 20. Ó rei! Nesse momento, Arjuna, o filho de Pandu sentado em sua quadriga que tem um estandarte com Hanuman observava os filhos de Dhritarastra, levantou seu arco e se preparou para disparar suas flechas. Ó rei! Arjuna falou então as seguintes palavras a Hrishikesha (Krishna). 21-22. Arjuna disse: Ó infalível! Por favor, coloca minha quadriga entre os dois exércitos de maneira que eu possa ver quem está presente aqui, quem deseja brigar e com quem devo lidar nesta grande tentativa de batalha. Meditação: Srila Prabhupada (1869-1977) nos instrui: Ainda que o Senhor Krishna seja a Suprema Personalidade de Deus, em virtude de Sua misericórdia sem causa, estava ocupado no serviço a Seu amigo. Ele nunca falha em dar afeto a Seus devotos, e por isso, aqui Ele é chamado Infalível. Como cocheiro, tinha que executar as ordens de Arjuna, e como não vacilou em fazê-lo, é chamado de Infalível. Ainda que havia aceitado a posição de cocheiro de Seu devoto, Sua posição suprema não se desafia. Em qualquer circunstância, Ele é a Suprema Personalidade de Deus, Hrishikesha, o Senhor dos sentidos. A relação entre o Senhor e Seservidor é muito doce e transcendental. O servidor sempre está disposto a prestar algum serviço ao Senhor e, da mesma maneira, o Senhor sempre procura uma oportunidade para servir a Seu devoto. Ele Se deleita muito mais quando Seu devoto puro assume a vantajosa posição de ordená-Lo, do que ser Ele quem dá as ordens. Krishna é amo e Senhor, todos estão sob suas ordens e ninguém está por cima Dele. Mas quando Ele vê que um devoto puro lhe dá ordens, obtém prazer transcendental, mesmo por ser Ele o infalível Senhor em todas as circunstâncias. ARJUNA, AFLIGIDO, RECUSA LUTAR E EXPLICA SUAS RAZÕES. 23. Deixe-me ver os que vieram lutar com desejo de satisfazer o malévolo filho de Dhritarastra. 24. Sanjaya disse: Ó descendente de Bharata, assim, a pedido de Arjuna, o Senhor Krishna conduziu a excelente quadriga, e parou no meio dos exércitos de ambas as partes. 25. Diante da presença de Bhisma, Drona e todos os demais chefes do mundo, Krishna (Hrishikesha), o Senhor, disse: Observe, Arjuna (Partha), os Kurus que se encontram aí reunidos! 26. Ali, no meio dos exércitos de ambos partidos, Arjuna pôde ver seus pais, avós, mestres, tios maternos, irmãos, filhos, netos, amigos e igualmente seu sogro e benquerentes como Kritavarma, e outros. Pôde ver também os exércitos que incluíam muitos de seus amigos. 27. Quando o filho de Kunti, Arjuna, viu todas essas diversas classes de amigos e parentes, sentiu-se tomado pela compaixão e falou assim. 28. Arjuna disse: Meu querido Krishna, ao ver diante de mim meus amigos e parentes com vontade de lutar, sinto tremer os membros de meu corpo e minha boca se seca. 29. Meu corpo treme e meus pêlos se arrepiam. Meu arco Gandiva escorrega de minhas mãos e minha pele arde. 30. Sinto-me incapaz de permanecer aqui por mais tempo. Esqueço-me de mim mesmo e minha mente dá voltas. Ó destruidor do demônio Keshi! Prevejo somente o mal. 31. Não vejo como pode resultar bem algum em matar meus próprios parentes nesta batalha; nem posso, meu querido Krishna, desejar nenhuma vitória, nem reino, nem felicidade subsequente. 32-35. Ó Krishna (Govinda)! De que nos servem os reinos, a felicidade, ou ainda a própria vida, quando todos aqueles que desejamos se encontram agora dispostos neste campo de batalha? Ó Krishna (Madhusudana)! Quando mestres, pais, filhos, avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e outros parentes estão dispostos a dar suas vidas e pertences, e estão presentes diante de mim, então, por que hei de desejar matá-los, ainda que eu sobreviva? Ó sustentador de todas as criaturas! Não estou disposto a lutar contra eles, nem sequer em troca dos três mundos, muito menos por esta Terra. 36. Se matarmos tais agressores, o pecado nos vencerá. Portanto, não é correto que matemos os filhos de Dhritarastra e nossos amigos. Ó Krishna, esposo da deusa da fortuna! Que ganharíamos e como poderíamos ser felizes por matar nossos próprios parentes? 37-38. Ó Krishna (Janardana)! Ainda que estes homens dominados pela cobiça, não vejam falta em matar sua própria família, nem em lutar com seus amigos, por que nós, que temos conhecimento do pecado, temos que nos ocupar nestes atos? Meditação: As razões até aqui expostas por Arjuna podem nos parecer muito morais e corretas, mas como se verá na resposta que Sri Krishna lhe dá no Segundo Capítulo, sua posição corresponde à de uma pessoa que está confusa devido ao apego pelo corpo material. Como explicamos anteriormente, uma guerra nunca é desejável, mas às vezes se faz necessária para castigar as pessoas empenhadas em violar a vontade de Deus. Arjuna, apesar de ser um devoto puro e estar realmente situado em uma plataforma transcendental, toma agora o papel de uma pessoa comum que se aflige diante da desgraça de uma luta fratricida. Mas como neste caso os oponentes estiveram sempre do lado do pecado e por muitos anos não escutaram aos bons conselhos de Krishna e de pessoas santas, é a vontade do Senhor que sejam castigados definitivamente para o bem de todos, inclusive deles mesmos. Como se verá, Arjuna encontrará alívio para sua angústia ao seguir a ordem do Senhor. 39. Com a destruição da dinastia, se destrói a eterna tradição familiar, e assim, o resto da família incorre em práticas irreligiosas. 40. Ó Krishna! Quando a irreligião predomina na família, as mulheres da família se corrompem, e da degradação da mulher se origina a prole não indesejada, ó descendente de Vrisni! Meditação: Tristemente, este verso encontra uma evidência prática no mundo atual. As ruas do mundo inteiro estão cheias de crianças pequenas abandonadas por seus pais e a prostituição delas é algo que não falta em nenhuma grande cidade. Os matrimônios não têm nenhuma estabilidade e a escura cifra de assassinato de crianças, ou seja, abortos, já cresceu para mais de 60 milhões por ano. 41. Quando há um aumento de população não desejada se cria uma situação infernal tanto para a família como para aqueles que destroem a tradição familiar. Em tais famílias corruptas não se oferecem oblações de alimento e água aos antepassados. 42. Devido aos atos malévolos dos destruidores da tradição familiar, destrói-se toda classe de projetos da comunidade e atividades para o bem-estar da família. Meditação: O matrimônio sagrado é parte da cultura védica e o divórcio é totalmente condenado. 43. Ó Krishna, sustentador dos povos! Ouvi através da sucessão discipular, que aqueles que destroem as tradições familiares moram sempre no inferno. 44. Ai de mim! Muito estranho é que estamos preparados para cometer atos tão pecaminosos, impelidos pelo desejo de desfrutar a felicidade régia! 45. Eu consideraria melhor que os filhos de Dhritarastra me matassem desarmado e sem resistir, antes de lutar contra eles. 46. Sanjaya disse: Após falar assim no campo de batalha, Arjuna, com sua mente afligida pela angústia, jogou de lado seu arco e flechas, e se sentou na quadriga. www.vrinda.vaisnava.hu/vrindastudio. Abraço. Davi

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