quarta-feira, 26 de julho de 2017

II. MAÇONARIA.

Maçonaria. Texto de Lourivaldo Perez Baçan. A CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON. Capítulo Quatro. Publicada em 1723, a Constituição de Anderson, ou Constituição dos Francos-Maçons, marcou a divisa entre a Maçonaria operativa e a especulativa. Seu subtítulo é bastante significativo: "Constituição, História, Leis, Obrigações, Ordens, Regulamentos e Usos de Muito Respeitável Fraternidade dos Maçons-Livres aceitos, coligida dos seus Registos Gerais e das suas fiéis tradições de muitas épocas." Foi escrita por James Anderson (1679-1739), um Maçom inglês, com dedicatória de Jean-Théophile Desaguliers (1683-1744), filósofo natural francês, que oferece a obra: À Sua Graça o Duque de Montagu. Na sequência da dedicatória, detalha o trabalho feito pelo autor: "Não necessito dizer a Vossa Graça o trabalho que se tomou nosso erudito Autor para compilar e codificar este Livro dos Antigos Arquivos, e com quanta escrupulosidade comparou e expôs tudo o concernente a História e a Cronologia, afim de que estas Novas Constituições sejam uma justa e exata descrição da Maçonaria desde o princípio do mundo até o Grão-Mestrado de Vossa Graça, conservando todo o verdadeiramente autêntico nas antigas; porque alegrará a obra a todo Irmão que saiba que Vossa Graça a leu e aprovou, e se imprime agora para uso das Lojas, depois de aprovada pela Grande Loja, quando Vossa Graça era Grão-Mestre." A obra apresenta uma breve história da arte da construção, baseada nas tradições, os antigos deveres ou leis fundamentais que regiam a arte e as antigas obrigações ou Regulamentos Gerais. Na Constituição de Anderson ficam DEFINIDOS OS PRINCÍPIOS BÁSICOS que, daquela época em diante, disciplinariam a prática da nova Maçonaria, como se percebe nos breves resumos a seguir. Capítulo I - Respeitando a Deus e à Religião "Um Maçom é obrigado, pela sua condição, a obedecer à lei moral. E, se compreende corretamente a Arte, nunca será um ateu estúpido nem um libertino irreligioso." Capítulo II - Do Magistrado Civil supremo e subordinado "Um Maçom é um súdito tranquilo do Poder Civil, onde quer que resida ou trabalhe e nunca deve imiscuir-se em planos e conspirações contra a paz e o bem-estar da nação, nem se comportar indevidamente para com os magistrados inferiores." Capítulo III - Das Lojas "Uma Loja é o local onde se reúnem e trabalham os Pedreiros." (...) "As pessoas admitidas como membros de uma Loja devem ser homens bons e leais, nascidos livres e de idade madura e discreta, nem escravos, nem mulheres, nem homens imorais ou escandalosos, mas de boa reputação." Capítulo IV - Dos Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes "Toda a promoção entre Pedreiros é baseada apenas no valor real e no mérito pessoal, a fim de que os senhores possam ser bem servidos, os irmãos não expostos à vergonha e a arte real não seja desprezada." (...) "Fiquem apenas sabendo os candidatos que nenhum mestre deve tomar aprendiz a menos que tenha ocupação bastante para ele e a menos que se trate de um jovem perfeito, sem mutilação nem defeito no corpo que o torne incapaz de aprender a arte, de servir o Senhor do seu Mestre, e de ser feito Irmão e depois Companheiro em tempo devido, mesmo após ter servido o número de anos consoante requeira o costume do país; e que ele provenha de pais honestos; de maneira que, quando qualificado para tal, possa ter a honra de ser Vigilante, depois Mestre da Loja, Grande Vigilante e, por fim, Grão-Mestre de todas as Lojas, conforme o seu mérito." Capítulo V - Da Gestão do Ofício no Trabalho "Todos os Maçons trabalharão honestamente nos dias úteis para que possam viver honradamente nos dias santos; e observar-se-á o tempo prescrito pela lei da terra ou confirmado pelo costume. O mais apto dos Companheiros será escolhido ou nomeado Mestre ou inspetor do trabalho do Senhor; e será chamado Mestre por aqueles que trabalham sob ele. Os Obreiros devem evitar toda a linguagem grosseira e não se tratar por nomes descorteses, mas sim por Irmão ou Companheiro; e devem comportar-se com urbanidade dentro e fora da Loja." Capítulo VI - Da Conduta "Nenhum outro trabalhador será empregado no trabalho próprio da Maçonaria; nem os Maçons-Livres trabalharão com aqueles que não forem livres, salvo necessidade urgente; nem ensinarão trabalhadores e Maçons não aceitos como ensinariam um Irmão ou um Companheiro." 1. Na Loja, enquanto constituída Não organizareis comissões privadas nem conversações separadas sem permissão do Mestre; nem falareis de coisas impertinentes nem indecorosas; nem interrompereis o Mestre nem os Vigilantes nem qualquer Irmão que fale com o Mestre; nem vos comportarei jocosamente nem em zombaria enquanto a Loja estiver ocupada com assuntos sérios e solenes; nem usareis de linguagem indecente sob qualquer pretexto que seja; mas antes manifestareis o respeito devido aos vossos Mestre, Vigilantes e Companheiros e venerá-los-eis. Se surgir alguma queixa, o Irmão reconhecido culpado ficará sujeito ao juízo e à decisão da Loja."(...) 2. Conduta depois de a Loja ter encerrado e antes dos irmãos terem partido "Podeis divertir-vos com alegria inocente, convivendo uns com os outros segundo as vossas possibilidades. Evitai, porém, todos os excessos, sem forçar um Irmão a comer ou a beber para além dos seus desejos, sem o impedir de partir quando o chamarem os seus assuntos e sem dizer ou fazer qualquer coisa ofensiva ou que possa tolher uma conversação afável e livre." 3. Conduta quando Irmãos encontram-se sem estranhos, mas não em Loja formada "Deveis cumprir. 4. Conduta quando Irmãos encontram-se sem estranhos, mas não em Loja formada "Deveis cumprimentar-vos uns aos outros de maneira cortês, como vos ensinarão, chamando-vos uns aos outros `Irmãos', dando-vos livremente instrução mútua quando tal parecer conveniente, sem serdes vistos nem ouvidos e sem vos ofenderdes uns aos outros nem vos afastardes do respeito que é devido a qualquer Irmão, mesmo que não fosse Maçom." 5. Conduta na presença de estranhos não Maçons "Sereis prudentes nas vossas palavras e atitudes, a fim de que o mais penetrante dos estranhos não seja capaz de descobrir ou achar o que não convém sugerir; por vezes desviareis a conversa e conduzi-la-eis com prudência, para honra da augusta Fraternidade." 6. Conduta em casa e para com os vizinhos "Deveis proceder como convém a um homem moral e avisado; em especial, não deixeis família, amigos e vizinhos conhecer o que respeita à Loja etc." 7. Conduta para com um Irmão estranho "Deveis examiná-lo com cuidado, da maneira que a prudência vos dirigir de forma que não vos deixeis enganar por um ignorante e falso pretendente, a quem rejeitarei com desprezo e escárnio, evitando dar-lhe quaisquer sinais de reconhecimento." Seguem-se os Regulamentos Gerais, em número de 39, e o subtítulo é elucidativo desse conteúdo: "Compilados inicialmente pelo Sr. George Payne (1799-1860), no ano de 1720, quando era então Grão-Mestre, e aprovados pela Grande Loja no dia de São João Batista, ano 1721, na Stationer's Hall, Londres, quando o grande e nobre Príncipe John, Duque de Montagu, foi unanimemente escolhido nosso Grão-Mestre para o ano seguinte; ele escolheu John Beal (1909-1997) M. D., seu Deputado Grão-Mestre, e o Senhor Josiah Villeneau e o Senhor Thomas Morris, escolhidos pela Loja como Grandes-Vigilantes. E agora, sob o comando de nosso dito Mui Venerável Grão-Mestre Montagu, o autor deste livro os comparou aos antigos Arquivos e Usos Imemoriais da Fraternidade, e os ordenou segundo esse novo método, com muitas explicações apropriadas, para o uso das Lojas dentro e fora de Londres e Westminster. LANDMARKS. Capítulo Cinco. A tradução mais compreensível da palavra "landmark" talvez seja mesmo "marco territorial" ou, explicando melhor, marcos que separam terrenos distintos. Em Maçonaria, foi citada pela primeira vez em 1720, nos Regulamentos Gerais compilados por George Payne. A partir de 1721, eles passaram a ser usados como lei orgânica. Na Constituição de Anderson ela é o último quesito dos Regulamentos Gerais: `XXXIX - Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em beneficio desta Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarks."(..) Um dos princípios fundamentais dos Landmarks é sua imutabilidade, mas isso não impediu que mais de 60 versões surgissem ao longo do tempo, gerando inúmeras controvérsias na Maçonaria. Nessas versões, o número de Landmarks varia entre três e 54. Uma dessas controvérsias pôs em confronto dois Maçons norte-americanos, Albert Pike (1809-1891) e seu discípulo, Albert Mackey (1807-1881). A versão de Pike é considerada a mais sensata dentre elas. Pike reconhecia apenas cinco Landmarks, enquanto que Mackey, 25, versão, inclusive, adotada pela maioria das potências da América Latina. LANDMARKS DE PIKE 1. A necessidade dos Maçons reunirem-se em Lojas. 2. O governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes. 3. A crença no Grande Arquiteto do Universo (não necessariamente Deus, mas afigura divina em que acredita o participante) em uma vida futura. 4. A cobertura dos trabalhos da Loja, ou seja, o trabalho a portas fechadas. 5. A proibição da divulgação dos segredos da Maçonaria, isto é, o sigilo maçônico. LANDMARKS DE MACKEY. 1. Os processos de reconhecimento são os mais legítimos e inquestionáveis de todos os Landmarks. Não admitem mudança de qualquer espécie, pois, sempre que isso se deu, funestas consequências vieram demonstrar o erro cometido. 2. A divisão da Maçonaria Simbólica em três Graus é um Landmark que, mais do que nenhum, tem sido preservado de alterações, apesar dos esforços feitos pelo daninho espírito inovador. Certa falta de uniformidade sobre o ensinamento final da Ordem, no grau de Mestre, foi motivada por não ser o terceiro grau considerado como finalidade. 3. Lenda do Terceiro Grau é um Landmark importante, cuja integridade tem sido respeitada. Nenhum Rito existe na Maçonaria, em qualquer país ou em qualquer idioma, em que não sejam expostos os elementos essenciais dessa Lenda. 4. O governo da Fraternidade por um Oficial que a preside, denominado Grão Mestre, eleito pelo povo maçônico, é o quarto Landmark da Ordem. 5. A prerrogativa do Grão-Mestre de presidir a todas as reuniões maçônicas realizadas onde e quando se fizerem é o quinto Landmark. 6. A prerrogativa do Grão-Mestre de conceder licença para conferir graus em tempos anormais é outro importantíssimo Landmark. Os estatutos maçônicos exigem um mês, ou mais, para o tempo em que deva transcorrer entre a proposta e a recepção de um candidato. O GrãoMestre, porém, tem o direito de permitir a Iniciação imediata de qualquer candidato. 7. A prerrogativa que tem o Grão-Mestre de autorização para fundar e manter Lojas é outro importante Landmark. Em virtude dele, pode o Grão-Mestre conceder, a número suficiente de Mestres Maçons, o privilégio de se reunirem e conferirem graus. 8. A prerrogativa do Grão-Mestre deformar Maçons, por sua deliberação, é outro importante Landmark, que carece ser explicado, controvertida como tem sido a sua existência. 9. Outro Landmark é o que afirma a necessidade de os Maçons se congregarem em Lojas. Sempre se prescreveu que os Maçons deviam congregar-se com o fim de se entregarem a tarefas operativas e que a essas reuniões fosse dado o nome de "Loja". 10. Governo da Fraternidade, quando congregado em Lojas, por um Venerável e dois Vigilantes é também um Landmark. A presença de um Venerável e dois Vigilantes é tão essencial que, no dia da congregação, é considerada como uma Carta Constitutiva. 11. A necessidade de estar uma Loja `a coberto" quando reunida é um importante Landmark, que não deve ser descurado. O cargo de Guarda do Templo que vela para que o lugar das reuniões esteja absolutamente vedado à intromissão de profanos, independe, em absoluto, de qualquer lei de Grande Loja ou de Lojas subordinadas. 12. Direito representativo de cada Irmão nas reuniões gerais é um importante Landmark. Nas reuniões gerais, outrora chamadas de Assembleias Gerais, todos os Irmãos, mesmo os simples Aprendizes, tinham o direito de tomar parte. Na Grande Loja só tem direito de assistência os Veneráveis e os Vigilantes, na qualidade de representantes de todos os Irmãos da Loja. 13. Direito de recurso de cada Maçom das decisões de seus Irmãos, em Loja, para a Grande Loja ou Assembleia Geral dos Irmãos é um Landmark essencial para a preservação da justiça e para prevenir a opressão. 14. Direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja é um inquestionável Landmark da Ordem. É o consagrado direito de visitar, que sempre foi reconhecido como um direito inerente que todo Irmão exerce, quando viaja pelo Universo. É a consequência de encarar as Lojas como meras divisões por conveniência da Família Maçônica Universal. 15. Nenhum visitante, desconhecido dos Irmãos de uma Loja, pode ser admitido à visita, sem que, antes de tudo, seja examinado, conforme os antigos costumes. Esse exame só pode ser dispensado se o Maçom for conhecido de algum Irmão do Quadro que por ele se responsabilize. 16. Nenhuma Loja pode intrometer-se em assuntos que digam respeito a outras, nem conferir graus a Irmãos de outros Quadros. 17. Todo Maçom está sujeito às Leis e Regulamentos da jurisdição maçônica em que residir, mesmo não sendo membro de qualquer Loja. A falta de filiação já é, em si, uma falta maçônica. 18. Por este Landmark os candidatos à Iniciação devem ser isentos de defeitos físicos ou mutilações, livres de nascimento e maiores. Uma mulher ou um escravo não pode ingressar na Ordem. 19. A crença no Grande Arquiteto do Universo é uma dos mais importantes Landmarks da Ordem. A negação desta crença é impedimento absoluto e insuperável para Iniciação. 20. Subsidiariamente a esta crença é exigida a crença na prevalência do espírito sobre a matéria e em uma nova vida. 21. É indispensável a existência, no Altar, de um Livro da Lei - o Livro que, conforme a crença, supõe-se conter a Verdade Revelada pelo G. A. D. U. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas peculiaridades de fé religiosa de seus membros, esses livros podem variar de acordo com os credos. 22. Todos os Maçons são absolutamente iguais dentro da Loja, sem distinções de prerrogativas profanas, de privilégios que a sociedade confere. A Maçonaria a todos nivela nas reuniões maçônicas. 23. Este Landmark prescreve a conservação secreta dos conhecimentos havidos por Iniciação, tanto dos métodos de trabalho como de suas Lendas e Tradições, que só podem ser comunicadas a outros Irmãos. O sigilo dos trabalhos em Loja é perpétuo. 24. A fundação de uma ciência especulativa, segundo métodos operativos, o uso simbólico e a explicação dos ditos métodos e dos termos neles empregados, com propósito de ensinamento moral, constitui outro Landmark. A preservação da Lenda do Templo de Salomão é o fundamento deste Landmark. 25. Último Landmark é o que afirma a inalterabilidade dos anteriores, nada podendo ser-lhes acrescido ou retirado, nenhuma modificação podendo ser-lhes introduzida. Assim como de nossos antecessores os recebemos, assim os devemos transmitir aos nossos sucessores. Nolonun Leges Mutari. O MANUSCRITO DE COOK. Capítulo Seis. O documento conhecido como Manuscrito de Cook foi descoberto por Matthew J. Cook e impresso em 1861. Desconhece-se sua autoria e a data em que foi redigido. Contém 930 linhas em prosa, com 19 itens que descrevem a história da Geometria e da Arquitetura, deveres, história da Maçonaria e regulamentos do trabalho e da organização dele, conselhos de ordem moral e religiosa e regras da vida social dos Maçons. No texto, pela primeira vez é utilizado o termo "especulativo", referindo-se a um aparentado do rei Athelstan, o mesmo citado no Poema Regius. Estima-se que tenha sido escrito na primeira metade do século XV. O Manuscrito inicia-se com uma louvação a Deus que "fez todas as coisas para ser obedecido, e muitas delas em benefício da Humanidade. Ordenou a essas coisas que se submetessem ao homem, porque todas as coisas que são comestíveis e de boa qualidade servem para sustentar o homem. Também deu ao homem inteligência e habilidade em diversas coisas, e a Arte, por meio da qual podemos viajar por este Mundo para procurarmos a subsistência, para fazer muitas coisas para a Glória de Deus e também para nossa tranquilidade e proveito." Na continuação, o autor propõe-se a narrar de que maneira começou a Ciência da Geometria e quem foram seus criadores. Para isso, discorre sobre as sete Ciências Liberais, assim chamadas porque delas derivam as demais ciências e artes do mundo. Define Geometria como "a medida da Terra" e explica sua importância: `Não te maravilhes de que eu tenha dito que todas as Ciências vivem só pela Ciência da Geometria." Dentro da Geometria, insere a Arte da Construção como a de maior importância, pois foi a primeira a ser criada. Para isso, cita Gênesis 4:17 (`E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e teve a Enoque: e ele edificou uma cidade..."). Nesse capítulo da Bíblia há, também, a menção à fundação de outras artes, como a dos Metais, dos Tecidos e da Música. O texto avança pelo Dilúvio, a Torre da Babilônia, chegando até Euclides. A Arte da Construção é situada na França e, dali, na Inglaterra, com o rei Athelstan. Nesse ponto a narrativa é semelhante à do Poema Regius quanto à organização da Maçonaria, fornecendo mais detalhes, no entanto. Difere, porém, na quantidade de Artigos e de Pontos fixados na Assembleia convocada pelo Rei. Importante, também, destacar neste texto o entendimento da palavra Vigilante, com que são denominados os dois membros mais importantes da Loja, abaixo do Mestre, usado na Maçonaria operativa e incorporado pela especulativa. OS ARTIGOS. Primeiro Artigo. Cada Mestre desta arte deve ser sábio e leal para com o Senhor a quem serve e não pagar a nenhum obreiro mais do que pensa que ele mereça, distribuindo seus benefícios verdadeiramente como gostaria que fossem distribuídos os seus, tendo em vista a escassez de grãos e de víveres no país, não outorgando nenhum favor, para que todos sejam recompensados segundo seu trabalho. Segundo Artigo, Cada mestre desta arte deve ser informado antes de entrar em sua Comunidade; que sejam recebidos como convém; que não podem ser perdoados pela ausência, senão por algum motivo válido. Se forem julgados rebeldes pela Comunidade, ou culpados, de algum modo, de dano a seus Senhores, não serão perdoados de modo algum e serão julgados e se fará sua expulsão. Caso se encontrem em perigo de morte ou enfermos, sem risco de morte, o mestre que preside a Assembleia de julgamento deverá ser avisado. Terceiro Artigo. Nenhum Mestre tomará um Aprendiz por um período menor de sete anos, pelo menos, porque em prazo menor não dominará propriamente a sua Arte e, por conseguinte, será incapaz de servir lealmente a seu Senhor e de compreender a Arte como deve um Maçom. Quarto Artigo. Nenhum mestre tomará para instruir sem proveito um aprendiz que esteja preso por vínculos de sangue (um servo), já que a causa de seu Senhor, à qual está ligado, o distrairá de sua Arte e este poderá chama-lo diante de si, fora de sua Loja e do lugar onde trabalha. Talvez seus companheiros o ajudem e combatam por ele, o que poderia terminar em um homicídio, e é proibido. E também porque sua Arte iniciou-se com os filhos dos grandes Senhores nascidos livres, como já foi dito. Quinto Artigo. Nenhum mestre enviará seu aprendiz, durante o tempo de sua aprendizagem, a outro, pois nenhum proveito pode resultar disso. Ainda que pense que possa agradar seu novo Senhor, mais importante é o proveito que poderá tirar do Senhor do local onde foi adestrado em sua aprendizagem. Sexto Artigo. Nenhum Mestre, por cobiça ou proveito, tomará Aprendizes para ensinar-lhes coisas imperfeitas nem aqueles mutilados, que não possam trabalhar realmente como deveriam. Sétimo Artigo. Nenhum Mestre será visto ajudando, protegendo ou sustentando algum ladrão noturno que, prejudicados por seu furto, seus Companheiros não possam cumprir o trabalho diário ou não possam organizar-se. Oitavo Artigo. Nenhum Maçom, que seja perfeito e hábil, busque trabalho e encontre um modo de ser imperfeito e incapaz. O Mestre do lugar acolherá o Maçom perfeito e despedirá o imperfeito para vantagem de seu Senhor. Nono Artigo. Nenhum mestre tomará o posto de outro, porque foi dito que, na Arte da Construção, ninguém deverá terminar um trabalho começado por outro, para vantagem de seu Senhor. Assim, quem começou tem o direito de terminar o trabalho a seu modo, sejam quais forem seus métodos. OS PONTOS. Primeiro Ponto. É necessário que todos aqueles que desejam ser membros da citada arte jurem por Deus, pela Santa Igreja e por todos os Santos, diante de seu Mestre e de seus Companheiros e Irmãos. Segundo Ponto. O Maçom deve cumprir seu trabalho diário na mesma medida com que é pago. Terceiro Ponto. O Maçom deve aceitar as resoluções de seus companheiros na Loja, na Câmara ou em qualquer outro lugar. Quarto Ponto. O Maçom não enganará sua arte, nem a prejudicará ou sustentará afirmações contra ela ou contra alguém dela e a manterá com dignidade. Quinto Ponto. Quando um Maçom receber seu pagamento, o fará humildemente, já que o mestre estabeleceu o tempo do trabalho e tudo que por ele foi ordenado será permitido. Sexto Ponto. Se surgir uma discórdia qualquer entre um Maçom e seus Companheiros, deverá obedecer humildemente e permanecer às ordens do Mestre ou, em sua ausência, do Vigilante designado pelo Mestre. Na próxima festa religiosa, ele se porá à disposição de seus Companheiros. Não o fará em dia de trabalho, prejudicando-o e ao seu Senhor. Sétimo Ponto. Um Maçom não deverá desejar a mulher nem a filha de seu Mestre ou de seus Companheiros. Se estiver casado, que não tenha concubina, porque isso poderia gerar discórdia. Oitavo Ponto. Se for nomeado Vigilante por seu Mestre, que seja um seguro transmissor entre seu Mestre e seus Companheiros. Na ausência do Mestre, que o substitua com empenho, pela honra dele e para vantagem do Senhor a quem ele serve. Nono Ponto. Se for mais sábio e arguto que o companheiro que trabalha com ela na Loja ou em qualquer outro lugar e se perceber que o outro deve deixar a pedra em que está trabalhando por falta de habilidade, e que pode ensiná-lo a corrigir a pedra, deverá instruí-lo para que o amor cresça entre eles e o trabalho do Senhor não se perca. ASSEMBLEIAS DE JUSTIÇA. Finalizando, o texto do Manuscrito de Cook discorre sobre o funcionamento da Assembleia de justiça, estabelecendo o que se poderia chamar de ritual, amplamente utilizado pela Maçonaria em suas Lojas. Dessas Assembleias deviam participar o Mestre e seus Companheiros, devidamente convidados. Com eles estavam presentes o Mestre da Assembleia, o xerife do condado, o prefeito da cidade e o Conselheiro mais velho da cidade para auxiliarem contra os acusados e preservar o direito do Reino. Eis o cerimonial do encontro: `Inicialmente, entram no recinto os jovens que nunca foram acusados, de forma que não sejam ladrões ou cúmplices deles, e que realizam seu trabalho diário pela recompensa que recebem de seu Senhor. Farão a seus Companheiros um verdadeiro resumo das coisas que devem ser explicadas e ouvidas e que o façam com amor. Devem ser fiéis ao rei da Inglaterra e ao reino, e aterem-se, com todas as suas forças, aos artigos mencionados. Depois disto, indagar-se-á se algum Mestre ou Companheiro, que tenha sido instruído, infringiu algum artigo e ali estabelecer-se- á se fez ou não tais coisas. Vale dizer que caso algum Mestre ou Companheiro, que tenha sido avisado da acusação antes de vir à Assembleia, rebele-se e não apareça, ou que tenha transgredido algum artigo, deverá renegar sua permanência na Maçonaria e não poderá jamais usar sua arte. Se ousar praticá-la, o xerife do país em que venha a ser encontrado deverá prendê-lo e pôr todos os seus bens nas mãos do Rei até que seja mostrada e concedida a graça. Por este motivo, os participantes desta Assembleia estabelecerão que tanto o mais baixo quanto o mais alto devem ser servidores leais de sua arte em todo o reino da Inglaterra." A MAÇONARIA NO BRASIL. Capítulo Sete. O GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Em 1815, estudantes brasileiros que voltavam da Universidade de Coimbra, em Portugal, onde haviam sido iniciados como Maçons, se comprometeram decididamente com a luta política pela independência das províncias de Portugal na América do Sul, que constituíam o reino do Brasil, cuja capital era o Rio de Janeiro. Nesta cidade, desde 1808, se havia refugiado a família real portuguesa, que tinha saído da Europa, no início da invasão napoleônica. Pelo menos desde 1797 haviam sido criadas algumas Lojas Maçônicas no Brasil. É importante citar a criação da Loja "Comércio e Artes", em novembro de 1815, por Maçons que estavam comprometidos com a independência política das províncias brasileiras. Em cumprimento ao Decreto Real de 30 de março de 1818, que proibia o funcionamento de sociedades secretas no Brasil, fechou-se essa Loja e queimaram-se seus arquivos, conforme consta na "Ata da Sessão de Reinstalação", que teve lugar em 24 de junho de 1821, quando a Loja foi rebatizada como "Comércio e Artes na Idade do Ouro". Esta Loja constitui a origem do Grande Oriente do Brasil, já que decidiu, na reunião de 17 de junho de 1822, criar outras duas Lojas, mediante a divisão, por sorteio, do total de seus membros. Assim foram criadas as Lojas "Esperança de Niterói" e "União e Tranquilidade". Com estas três Lojas metropolitanas, formou-se o Grande Oriente. Entre os integrantes daquela Loja se destacam as figuras de Joaquim Gonçalves Ledo e do sacerdote e maestro Januário da Cunha Barbosa, ambos ativistas no processo da independência política do Brasil. José Bonifácio de Andrada e Silva, o "Patrono da Independência", foi eleito Primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, contando com Joaquim Gonçalves Ledo como seu vice e com Januário da Cunha Barbosa como Orador. O motivo principal da criação do Grande Oriente foi o de comprometer a Maçonaria, como instituição, com a luta pela independência política do Brasil. Esta determinação consta, de maneira explícita, nas atas das primeiras reuniões da Organização que se estava criando, que somente admitia a iniciação ou a filiação, em suas Lojas, de pessoas que se comprometessem com o ideal da independência do Brasil. Em junho de 1822, a família real portuguesa já havia retornado a Lisboa e deixado, como Príncipe Regente, a Dom Pedro de Alcântara, filho de Dom João VI (1767-1826), rei de Portugal. O príncipe Dom Pedro, que era jovem e voluntarioso, viu-se rodeado por Maçons, que constituíam a elite intelectual e econômica da época. Por proposta do Grão-Mestre, José Bonifácio de Andrada e Silva, o príncipe foi iniciado em uma Assembleia Geral do Grande Oriente, em 2 de agosto de 1822, adotando o "nome heroico" de "Guatimozim", nome este do último imperador asteca, assassinado por Cortez, no México, em 1522. Dom Pedro integrou-se à Loja "Comércio e Artes". Na reunião seguinte do Grande Oriente, realizada em 5 de agosto, o príncipe foi elevado à categoria de Mestre Maçom, por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo, que ocupava a presidência. Numa jogada política, Gonçalves Ledo fez com que Dom Pedro fosse "eleito" Grão-Mestre do Grande Oriente, em lugar de Andrada e Silva, sendo instalado em 4 de outubro de 1822. Apesar de todas as pessoas influentes ao redor de Dom Pedro serem Maçons e membros do Grande Oriente, a única organização maçônica que existia nessa época, havia uma enorme rivalidade política entre eles. A disputa pelo poder provocou sérias lutas. Dom Pedro proclamou a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822 e assumiu o título de Imperador, com o nome de Dom Pedro I. Exatamente um mês e meio depois, em 21 de outubro, determinava, "primeiro como Imperador, depois como Grão-Mestre" o fechamento "temporário" do Grande Oriente. Esse fechamento se manteve em vigor durante todo o seu reinado, que acabou quando abdicou, em 7 de abril de 1831 e se dirigiu a Portugal para recuperar o trono português, que estava em poder de seu irmão Dom Miguel, coisa que acabou conseguindo, sendo coroado como Dom Pedro IV de Portugal. Desde 1830, os Maçons do Rio de janeiro tentavam reiniciar seus trabalhos, que estavam praticamente parados, e haviam fundado um novo Grande Oriente, que foi instalado em 24 de junho de 1831, com o nome de Grande Oriente Brasileiro, aquele que seria conhecido com o nome de Grande Oriente do Passeio, nome da rua onde estava localizado. Em outubro de 1831, um grupo de Maçons originários do primeiro Grande Oriente reinstalou aos integrantes das três Lojas metropolitanas primitivas e elegeu o primeiro Grão-Mestre, Andrada e Silva, para dirigi-lo. O Grande Oriente foi reinstalado em 23 de novembro de 1831. Em consequência, durante 30 anos funcionaram no Rio de janeiro dois Grandes Orientes. Em 1861, o Grande Oriente do Passeio deixou de existir e suas Lojas foram absorvidas pelo Grande Oriente do Brasil. O Grande Oriente do Brasil sofreu diversas secessões durante sua existência, a maioria delas como consequência de disputas durante as eleições de Grão-Mestre. Todas as secessões que ocorreram até 1927 terminaram por ser reabsorvidas ao longo do tempo e suas Lojas e Irmãos se reincorporaram ao Grande Oriente do Brasil. AS GRANDES LOJAS ESTADUAIS. Em 1927 teve lugar, no seio do Grande Oriente do Brasil, uma secessão que teria consequências históricas importantes. Desde 1854 e até 1951, o Grande Oriente do Brasil era uma "organização dupla", denominada Supremo Conselho e Grande Oriente do Brasil. Seu Grão-Mestre era o diretor da Maçonaria Simbólica e dirigia os "altos graus" já que era o "Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Rito Escocês". O Grão Mestre e Soberano Grande Comendador para o período de 1922 a 1925, Mário Marinho de Carvalho Behring - o cargo de "Supremo Grande Comendador" era exercido automaticamente pelo Grão-Mestre, sem que houvesse uma eleição específica-, renunciou no final de seu mandato, declarando, todavia, que se manteria como Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho. Vicente Neiva foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, tendo como adjunto Fonseca Hermes. Vicente Neiva morreu em 18 de fevereiro de 1926 sem haver podido resolver o problema criado por Mário Behring. Seu posto foi assumido por Fonseca Hermes, que era amigo de Behring e que firmou com ele um Tratado, em 22 de outubro de 1926, no qual se reconhecia a independência do Supremo Conselho. Em 21 de março de 1927, Octavio Kelly foi instalado como Grão Mestre Adjunto e em 6 de junho desse mesmo ano, pressionado, Fonseca Hermes se afastou de seu cargo e Octavio Kelly se tornou Grão-Mestre. Em 17 de junho de 1927, Mário Behring, que sabia que Octavio Kelly não dividiria o poder com ele, convocou uma reunião do Supremo Conselho com apenas 13 de seus 33 membros e o declarou separado do Grande Oriente do Brasil. Para apoiar seu Supremo Conselho do Rito Escocês, Behring estimulou a criação de Grandes Lojas nos Estados, que já vinham sendo instaladas sigilosamente e às quais outorgava Cartas Constitutivas emitidas por seu Supremo Conselho. Foi dessa maneira que se criaram as Grandes Lojas da Bahia, fundada em 22 de maio de 1927, do Rio de Janeiro, fundada em 18 de junho de 1927, e de São Paulo, em 2 de julho de 1927, às quais outras se seguiram. Estas Grandes Lojas dos Estados e as Lojas que as compõem existem até hoje como organizações independentes umas das outras. Para dar-lhe um caráter nacional, foi criada uma entidade denominada Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, que é presidida de forma rotativa anual pelos Grãos Mestres das diversas Grandes Lojas dos Estados. OS GRANDES ORIENTES INDEPENDENTES. Em 1973 se registrou a última cisão no seio do Grande Oriente do Brasil, com o surgimento, também por problemas eleitorais, dos Grandes Orientes Estaduais Independentes, que reuniam Lojas que não concordavam com o resultado das eleições para Grão-Mestre. A princípio a cisão teve grande repercussão, mas ao longo dos anos muitas Lojas que então se rebelaram acabaram retornando ao Grande Oriente do Brasil. Muitas das reclamações das Lojas em relação à estrutura de poder no Grande Oriente do Brasil foram superadas com as alterações que ocorreram posteriormente, especialmente a mudança de sede, em 1978, da cidade do Rio de janeiro para a nova capital federal, Brasília. Ainda assim, existem várias centenas de Lojas reunidas em torno desses Grandes Orientes Estaduais na maioria dos Estados Brasileiros. Como sua posição inicial eram contra a Federação Maçônica nacional, esses Grandes Orientes são independentes entre si. No entanto, dada a necessidade de ter um caráter nacional, terminaram constituindo uma entidade denominada Colégio de Grãos Mestres, que hoje em dia é chamada Confederação Maçônica Brasileira - COMAB, sob a presidência rotativa anual dos Grãos Mestres dos Grandes Orientes Independentes. O Livro Secreto da Maçonaria. Abraço. Davi.

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