Maçonaria.
Texto de Lourivaldo Perez Baçan. A CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON. Capítulo Quatro.
Publicada em 1723, a Constituição de Anderson, ou Constituição dos
Francos-Maçons, marcou a divisa entre a Maçonaria operativa e a especulativa.
Seu subtítulo é bastante significativo: "Constituição, História, Leis,
Obrigações, Ordens, Regulamentos e Usos de Muito Respeitável Fraternidade dos
Maçons-Livres aceitos, coligida dos seus Registos Gerais e das suas fiéis
tradições de muitas épocas." Foi escrita por James Anderson (1679-1739),
um Maçom inglês, com dedicatória de Jean-Théophile Desaguliers (1683-1744),
filósofo natural francês, que oferece a obra: À Sua Graça o Duque de Montagu.
Na sequência da dedicatória, detalha o trabalho feito pelo autor: "Não
necessito dizer a Vossa Graça o trabalho que se tomou nosso erudito Autor para
compilar e codificar este Livro dos Antigos Arquivos, e com quanta
escrupulosidade comparou e expôs tudo o concernente a História e a Cronologia,
afim de que estas Novas Constituições sejam uma justa e exata descrição da
Maçonaria desde o princípio do mundo até o Grão-Mestrado de Vossa Graça,
conservando todo o verdadeiramente autêntico nas antigas; porque alegrará a
obra a todo Irmão que saiba que Vossa Graça a leu e aprovou, e se imprime agora
para uso das Lojas, depois de aprovada pela Grande Loja, quando Vossa Graça era
Grão-Mestre." A obra apresenta uma breve história da arte da construção,
baseada nas tradições, os antigos deveres ou leis fundamentais que regiam a
arte e as antigas obrigações ou Regulamentos Gerais. Na Constituição de
Anderson ficam DEFINIDOS OS PRINCÍPIOS BÁSICOS que, daquela época em diante,
disciplinariam a prática da nova Maçonaria, como se percebe nos breves resumos
a seguir. Capítulo I - Respeitando a Deus e à Religião "Um Maçom é
obrigado, pela sua condição, a obedecer à lei moral. E, se compreende
corretamente a Arte, nunca será um ateu estúpido nem um libertino
irreligioso." Capítulo II - Do Magistrado Civil supremo e subordinado
"Um Maçom é um súdito tranquilo do Poder Civil, onde quer que resida ou
trabalhe e nunca deve imiscuir-se em planos e conspirações contra a paz e o
bem-estar da nação, nem se comportar indevidamente para com os magistrados
inferiores." Capítulo III - Das Lojas "Uma Loja é o local onde se
reúnem e trabalham os Pedreiros." (...) "As pessoas admitidas como
membros de uma Loja devem ser homens bons e leais, nascidos livres e de idade
madura e discreta, nem escravos, nem mulheres, nem homens imorais ou
escandalosos, mas de boa reputação." Capítulo IV - Dos Mestres,
Vigilantes, Companheiros e Aprendizes "Toda a promoção entre Pedreiros é
baseada apenas no valor real e no mérito pessoal, a fim de que os senhores
possam ser bem servidos, os irmãos não expostos à vergonha e a arte real não
seja desprezada." (...) "Fiquem apenas sabendo os candidatos que
nenhum mestre deve tomar aprendiz a menos que tenha ocupação bastante para ele
e a menos que se trate de um jovem perfeito, sem mutilação nem defeito no corpo
que o torne incapaz de aprender a arte, de servir o Senhor do seu Mestre, e de
ser feito Irmão e depois Companheiro em tempo devido, mesmo após ter servido o
número de anos consoante requeira o costume do país; e que ele provenha de pais
honestos; de maneira que, quando qualificado para tal, possa ter a honra de ser
Vigilante, depois Mestre da Loja, Grande Vigilante e, por fim, Grão-Mestre de
todas as Lojas, conforme o seu mérito." Capítulo V - Da Gestão do Ofício
no Trabalho "Todos os Maçons trabalharão honestamente nos dias úteis para
que possam viver honradamente nos dias santos; e observar-se-á o tempo
prescrito pela lei da terra ou confirmado pelo costume. O mais apto dos
Companheiros será escolhido ou nomeado Mestre ou inspetor do trabalho do
Senhor; e será chamado Mestre por aqueles que trabalham sob ele. Os Obreiros
devem evitar toda a linguagem grosseira e não se tratar por nomes descorteses,
mas sim por Irmão ou Companheiro; e devem comportar-se com urbanidade dentro e
fora da Loja." Capítulo VI - Da Conduta "Nenhum outro trabalhador
será empregado no trabalho próprio da Maçonaria; nem os Maçons-Livres
trabalharão com aqueles que não forem livres, salvo necessidade urgente; nem
ensinarão trabalhadores e Maçons não aceitos como ensinariam um Irmão ou um
Companheiro." 1. Na Loja, enquanto constituída Não organizareis comissões
privadas nem conversações separadas sem permissão do Mestre; nem falareis de
coisas impertinentes nem indecorosas; nem interrompereis o Mestre nem os Vigilantes
nem qualquer Irmão que fale com o Mestre; nem vos comportarei jocosamente nem
em zombaria enquanto a Loja estiver ocupada com assuntos sérios e solenes; nem
usareis de linguagem indecente sob qualquer pretexto que seja; mas antes
manifestareis o respeito devido aos vossos Mestre, Vigilantes e Companheiros e
venerá-los-eis. Se surgir alguma queixa, o Irmão reconhecido culpado ficará
sujeito ao juízo e à decisão da Loja."(...) 2. Conduta depois de a Loja
ter encerrado e antes dos irmãos terem partido "Podeis divertir-vos com
alegria inocente, convivendo uns com os outros segundo as vossas
possibilidades. Evitai, porém, todos os excessos, sem forçar um Irmão a comer
ou a beber para além dos seus desejos, sem o impedir de partir quando o
chamarem os seus assuntos e sem dizer ou fazer qualquer coisa ofensiva ou que
possa tolher uma conversação afável e livre." 3. Conduta quando Irmãos
encontram-se sem estranhos, mas não em Loja formada "Deveis cumprir. 4.
Conduta quando Irmãos encontram-se sem estranhos, mas não em Loja formada
"Deveis cumprimentar-vos uns aos outros de maneira cortês, como vos
ensinarão, chamando-vos uns aos outros `Irmãos', dando-vos livremente instrução
mútua quando tal parecer conveniente, sem serdes vistos nem ouvidos e sem vos
ofenderdes uns aos outros nem vos afastardes do respeito que é devido a
qualquer Irmão, mesmo que não fosse Maçom." 5. Conduta na presença de
estranhos não Maçons "Sereis prudentes nas vossas palavras e atitudes, a
fim de que o mais penetrante dos estranhos não seja capaz de descobrir ou achar
o que não convém sugerir; por vezes desviareis a conversa e conduzi-la-eis com
prudência, para honra da augusta Fraternidade." 6. Conduta em casa e para
com os vizinhos "Deveis proceder como convém a um homem moral e avisado;
em especial, não deixeis família, amigos e vizinhos conhecer o que respeita à
Loja etc." 7. Conduta para com um Irmão estranho "Deveis examiná-lo
com cuidado, da maneira que a prudência vos dirigir de forma que não vos
deixeis enganar por um ignorante e falso pretendente, a quem rejeitarei com
desprezo e escárnio, evitando dar-lhe quaisquer sinais de reconhecimento."
Seguem-se os Regulamentos Gerais, em número de 39, e o subtítulo é elucidativo
desse conteúdo: "Compilados inicialmente pelo Sr. George Payne (1799-1860),
no ano de 1720, quando era então Grão-Mestre, e aprovados pela Grande Loja no
dia de São João Batista, ano 1721, na Stationer's Hall, Londres, quando o
grande e nobre Príncipe John, Duque de Montagu, foi unanimemente escolhido
nosso Grão-Mestre para o ano seguinte; ele escolheu John Beal (1909-1997) M.
D., seu Deputado Grão-Mestre, e o Senhor Josiah Villeneau e o Senhor Thomas
Morris, escolhidos pela Loja como Grandes-Vigilantes. E agora, sob o comando de
nosso dito Mui Venerável Grão-Mestre Montagu, o autor deste livro os comparou
aos antigos Arquivos e Usos Imemoriais da Fraternidade, e os ordenou segundo
esse novo método, com muitas explicações apropriadas, para o uso das Lojas
dentro e fora de Londres e Westminster. LANDMARKS. Capítulo Cinco. A tradução
mais compreensível da palavra "landmark" talvez seja mesmo
"marco territorial" ou, explicando melhor, marcos que separam
terrenos distintos. Em Maçonaria, foi citada pela primeira vez em 1720, nos
Regulamentos Gerais compilados por George Payne. A partir de 1721, eles
passaram a ser usados como lei orgânica. Na Constituição de Anderson ela é o
último quesito dos Regulamentos Gerais: `XXXIX - Cada Grande Loja anual tem
inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo
em beneficio desta Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os
antigos Landmarks."(..) Um dos princípios fundamentais dos Landmarks é sua
imutabilidade, mas isso não impediu que mais de 60 versões surgissem ao longo
do tempo, gerando inúmeras controvérsias na Maçonaria. Nessas versões, o número
de Landmarks varia entre três e 54. Uma dessas controvérsias pôs em confronto
dois Maçons norte-americanos, Albert Pike (1809-1891) e seu discípulo, Albert
Mackey (1807-1881). A versão de Pike é considerada a mais sensata dentre elas.
Pike reconhecia apenas cinco Landmarks, enquanto que Mackey, 25, versão,
inclusive, adotada pela maioria das potências da América Latina. LANDMARKS DE
PIKE 1. A necessidade dos Maçons reunirem-se em Lojas. 2. O governo de cada Loja
por um Venerável Mestre e dois Vigilantes. 3. A crença no Grande Arquiteto do
Universo (não necessariamente Deus, mas afigura divina em que acredita o
participante) em uma vida futura. 4. A cobertura dos trabalhos da Loja, ou
seja, o trabalho a portas fechadas. 5. A proibição da divulgação dos segredos
da Maçonaria, isto é, o sigilo maçônico. LANDMARKS DE MACKEY. 1. Os processos
de reconhecimento são os mais legítimos e inquestionáveis de todos os
Landmarks. Não admitem mudança de qualquer espécie, pois, sempre que isso se
deu, funestas consequências vieram demonstrar o erro cometido. 2. A divisão da
Maçonaria Simbólica em três Graus é um Landmark que, mais do que nenhum, tem
sido preservado de alterações, apesar dos esforços feitos pelo daninho espírito
inovador. Certa falta de uniformidade sobre o ensinamento final da Ordem, no
grau de Mestre, foi motivada por não ser o terceiro grau considerado como
finalidade. 3. Lenda do Terceiro Grau é um Landmark importante, cuja
integridade tem sido respeitada. Nenhum Rito existe na Maçonaria, em qualquer
país ou em qualquer idioma, em que não sejam expostos os elementos essenciais
dessa Lenda. 4. O governo da Fraternidade por um Oficial que a preside,
denominado Grão Mestre, eleito pelo povo maçônico, é o quarto Landmark da
Ordem. 5. A prerrogativa do Grão-Mestre de presidir a todas as reuniões
maçônicas realizadas onde e quando se fizerem é o quinto Landmark. 6. A
prerrogativa do Grão-Mestre de conceder licença para conferir graus em tempos
anormais é outro importantíssimo Landmark. Os estatutos maçônicos exigem um
mês, ou mais, para o tempo em que deva transcorrer entre a proposta e a
recepção de um candidato. O GrãoMestre, porém, tem o direito de permitir a
Iniciação imediata de qualquer candidato. 7. A prerrogativa que tem o
Grão-Mestre de autorização para fundar e manter Lojas é outro importante
Landmark. Em virtude dele, pode o Grão-Mestre conceder, a número suficiente de
Mestres Maçons, o privilégio de se reunirem e conferirem graus. 8. A
prerrogativa do Grão-Mestre deformar Maçons, por sua deliberação, é outro
importante Landmark, que carece ser explicado, controvertida como tem sido a
sua existência. 9. Outro Landmark é o que afirma a necessidade de os Maçons se
congregarem em Lojas. Sempre se prescreveu que os Maçons deviam congregar-se
com o fim de se entregarem a tarefas operativas e que a essas reuniões fosse
dado o nome de "Loja". 10. Governo da Fraternidade, quando congregado
em Lojas, por um Venerável e dois Vigilantes é também um Landmark. A presença de
um Venerável e dois Vigilantes é tão essencial que, no dia da congregação, é
considerada como uma Carta Constitutiva. 11. A necessidade de estar uma Loja `a
coberto" quando reunida é um importante Landmark, que não deve ser
descurado. O cargo de Guarda do Templo que vela para que o lugar das reuniões
esteja absolutamente vedado à intromissão de profanos, independe, em absoluto,
de qualquer lei de Grande Loja ou de Lojas subordinadas. 12. Direito
representativo de cada Irmão nas reuniões gerais é um importante Landmark. Nas
reuniões gerais, outrora chamadas de Assembleias Gerais, todos os Irmãos, mesmo
os simples Aprendizes, tinham o direito de tomar parte. Na Grande Loja só tem
direito de assistência os Veneráveis e os Vigilantes, na qualidade de representantes
de todos os Irmãos da Loja. 13. Direito de recurso de cada Maçom das decisões
de seus Irmãos, em Loja, para a Grande Loja ou Assembleia Geral dos Irmãos é um
Landmark essencial para a preservação da justiça e para prevenir a opressão.
14. Direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja é um
inquestionável Landmark da Ordem. É o consagrado direito de visitar, que sempre
foi reconhecido como um direito inerente que todo Irmão exerce, quando viaja
pelo Universo. É a consequência de encarar as Lojas como meras divisões por
conveniência da Família Maçônica Universal. 15. Nenhum visitante, desconhecido
dos Irmãos de uma Loja, pode ser admitido à visita, sem que, antes de tudo,
seja examinado, conforme os antigos costumes. Esse exame só pode ser dispensado
se o Maçom for conhecido de algum Irmão do Quadro que por ele se
responsabilize. 16. Nenhuma Loja pode intrometer-se em assuntos que digam
respeito a outras, nem conferir graus a Irmãos de outros Quadros. 17. Todo
Maçom está sujeito às Leis e Regulamentos da jurisdição maçônica em que
residir, mesmo não sendo membro de qualquer Loja. A falta de filiação já é, em
si, uma falta maçônica. 18. Por este Landmark os candidatos à Iniciação devem
ser isentos de defeitos físicos ou mutilações, livres de nascimento e maiores.
Uma mulher ou um escravo não pode ingressar na Ordem. 19. A crença no Grande
Arquiteto do Universo é uma dos mais importantes Landmarks da Ordem. A negação
desta crença é impedimento absoluto e insuperável para Iniciação. 20. Subsidiariamente
a esta crença é exigida a crença na prevalência do espírito sobre a matéria e
em uma nova vida. 21. É indispensável a existência, no Altar, de um Livro da
Lei - o Livro que, conforme a crença, supõe-se conter a Verdade Revelada pelo
G. A. D. U. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas peculiaridades de fé
religiosa de seus membros, esses livros podem variar de acordo com os credos.
22. Todos os Maçons são absolutamente iguais dentro da Loja, sem distinções de
prerrogativas profanas, de privilégios que a sociedade confere. A Maçonaria a
todos nivela nas reuniões maçônicas. 23. Este Landmark prescreve a conservação
secreta dos conhecimentos havidos por Iniciação, tanto dos métodos de trabalho
como de suas Lendas e Tradições, que só podem ser comunicadas a outros Irmãos.
O sigilo dos trabalhos em Loja é perpétuo. 24. A fundação de uma ciência
especulativa, segundo métodos operativos, o uso simbólico e a explicação dos
ditos métodos e dos termos neles empregados, com propósito de ensinamento
moral, constitui outro Landmark. A preservação da Lenda do Templo de Salomão é
o fundamento deste Landmark. 25. Último Landmark é o que afirma a
inalterabilidade dos anteriores, nada podendo ser-lhes acrescido ou retirado,
nenhuma modificação podendo ser-lhes introduzida. Assim como de nossos
antecessores os recebemos, assim os devemos transmitir aos nossos sucessores.
Nolonun Leges Mutari. O MANUSCRITO DE COOK. Capítulo Seis. O documento
conhecido como Manuscrito de Cook foi descoberto por Matthew J. Cook e impresso
em 1861. Desconhece-se sua autoria e a data em que foi redigido. Contém 930
linhas em prosa, com 19 itens que descrevem a história da Geometria e da
Arquitetura, deveres, história da Maçonaria e regulamentos do trabalho e da
organização dele, conselhos de ordem moral e religiosa e regras da vida social
dos Maçons. No texto, pela primeira vez é utilizado o termo
"especulativo", referindo-se a um aparentado do rei Athelstan, o
mesmo citado no Poema Regius. Estima-se que tenha sido escrito na primeira
metade do século XV. O Manuscrito inicia-se com uma louvação a Deus que
"fez todas as coisas para ser obedecido, e muitas delas em benefício da
Humanidade. Ordenou a essas coisas que se submetessem ao homem, porque todas as
coisas que são comestíveis e de boa qualidade servem para sustentar o homem.
Também deu ao homem inteligência e habilidade em diversas coisas, e a Arte, por
meio da qual podemos viajar por este Mundo para procurarmos a subsistência,
para fazer muitas coisas para a Glória de Deus e também para nossa
tranquilidade e proveito." Na continuação, o autor propõe-se a narrar de
que maneira começou a Ciência da Geometria e quem foram seus criadores. Para
isso, discorre sobre as sete Ciências Liberais, assim chamadas porque delas
derivam as demais ciências e artes do mundo. Define Geometria como "a
medida da Terra" e explica sua importância: `Não te maravilhes de que eu
tenha dito que todas as Ciências vivem só pela Ciência da Geometria."
Dentro da Geometria, insere a Arte da Construção como a de maior importância,
pois foi a primeira a ser criada. Para isso, cita Gênesis 4:17 (`E conheceu
Caim a sua mulher, e ela concebeu, e teve a Enoque: e ele edificou uma
cidade..."). Nesse capítulo da Bíblia há, também, a menção à fundação de
outras artes, como a dos Metais, dos Tecidos e da Música. O texto avança pelo
Dilúvio, a Torre da Babilônia, chegando até Euclides. A Arte da Construção é
situada na França e, dali, na Inglaterra, com o rei Athelstan. Nesse ponto a
narrativa é semelhante à do Poema Regius quanto à organização da Maçonaria,
fornecendo mais detalhes, no entanto. Difere, porém, na quantidade de Artigos e
de Pontos fixados na Assembleia convocada pelo Rei. Importante, também,
destacar neste texto o entendimento da palavra Vigilante, com que são denominados
os dois membros mais importantes da Loja, abaixo do Mestre, usado na Maçonaria
operativa e incorporado pela especulativa. OS ARTIGOS. Primeiro Artigo. Cada
Mestre desta arte deve ser sábio e leal para com o Senhor a quem serve e não
pagar a nenhum obreiro mais do que pensa que ele mereça, distribuindo seus
benefícios verdadeiramente como gostaria que fossem distribuídos os seus, tendo
em vista a escassez de grãos e de víveres no país, não outorgando nenhum favor,
para que todos sejam recompensados segundo seu trabalho. Segundo Artigo, Cada
mestre desta arte deve ser informado antes de entrar em sua Comunidade; que
sejam recebidos como convém; que não podem ser perdoados pela ausência, senão
por algum motivo válido. Se forem julgados rebeldes pela Comunidade, ou
culpados, de algum modo, de dano a seus Senhores, não serão perdoados de modo
algum e serão julgados e se fará sua expulsão. Caso se encontrem em perigo de
morte ou enfermos, sem risco de morte, o mestre que preside a Assembleia de
julgamento deverá ser avisado. Terceiro Artigo. Nenhum Mestre tomará um
Aprendiz por um período menor de sete anos, pelo menos, porque em prazo menor
não dominará propriamente a sua Arte e, por conseguinte, será incapaz de servir
lealmente a seu Senhor e de compreender a Arte como deve um Maçom. Quarto
Artigo. Nenhum mestre tomará para instruir sem proveito um aprendiz que esteja
preso por vínculos de sangue (um servo), já que a causa de seu Senhor, à qual
está ligado, o distrairá de sua Arte e este poderá chama-lo diante de si, fora
de sua Loja e do lugar onde trabalha. Talvez seus companheiros o ajudem e
combatam por ele, o que poderia terminar em um homicídio, e é proibido. E
também porque sua Arte iniciou-se com os filhos dos grandes Senhores nascidos
livres, como já foi dito. Quinto Artigo. Nenhum mestre enviará seu aprendiz,
durante o tempo de sua aprendizagem, a outro, pois nenhum proveito pode
resultar disso. Ainda que pense que possa agradar seu novo Senhor, mais
importante é o proveito que poderá tirar do Senhor do local onde foi adestrado
em sua aprendizagem. Sexto Artigo. Nenhum Mestre, por cobiça ou proveito,
tomará Aprendizes para ensinar-lhes coisas imperfeitas nem aqueles mutilados,
que não possam trabalhar realmente como deveriam. Sétimo Artigo. Nenhum Mestre
será visto ajudando, protegendo ou sustentando algum ladrão noturno que,
prejudicados por seu furto, seus Companheiros não possam cumprir o trabalho
diário ou não possam organizar-se. Oitavo Artigo. Nenhum Maçom, que seja
perfeito e hábil, busque trabalho e encontre um modo de ser imperfeito e
incapaz. O Mestre do lugar acolherá o Maçom perfeito e despedirá o imperfeito
para vantagem de seu Senhor. Nono Artigo. Nenhum mestre tomará o posto de
outro, porque foi dito que, na Arte da Construção, ninguém deverá terminar um
trabalho começado por outro, para vantagem de seu Senhor. Assim, quem começou
tem o direito de terminar o trabalho a seu modo, sejam quais forem seus
métodos. OS PONTOS. Primeiro Ponto. É necessário que todos aqueles que desejam
ser membros da citada arte jurem por Deus, pela Santa Igreja e por todos os
Santos, diante de seu Mestre e de seus Companheiros e Irmãos. Segundo Ponto. O
Maçom deve cumprir seu trabalho diário na mesma medida com que é pago. Terceiro
Ponto. O Maçom deve aceitar as resoluções de seus companheiros na Loja, na
Câmara ou em qualquer outro lugar. Quarto Ponto. O Maçom não enganará sua arte,
nem a prejudicará ou sustentará afirmações contra ela ou contra alguém dela e a
manterá com dignidade. Quinto Ponto. Quando um Maçom receber seu pagamento, o
fará humildemente, já que o mestre estabeleceu o tempo do trabalho e tudo que
por ele foi ordenado será permitido. Sexto Ponto. Se surgir uma discórdia
qualquer entre um Maçom e seus Companheiros, deverá obedecer humildemente e permanecer
às ordens do Mestre ou, em sua ausência, do Vigilante designado pelo Mestre. Na
próxima festa religiosa, ele se porá à disposição de seus Companheiros. Não o
fará em dia de trabalho, prejudicando-o e ao seu Senhor. Sétimo Ponto. Um Maçom
não deverá desejar a mulher nem a filha de seu Mestre ou de seus Companheiros.
Se estiver casado, que não tenha concubina, porque isso poderia gerar
discórdia. Oitavo Ponto. Se for nomeado Vigilante por seu Mestre, que seja um
seguro transmissor entre seu Mestre e seus Companheiros. Na ausência do Mestre,
que o substitua com empenho, pela honra dele e para vantagem do Senhor a quem
ele serve. Nono Ponto. Se for mais sábio e arguto que o companheiro que
trabalha com ela na Loja ou em qualquer outro lugar e se perceber que o outro
deve deixar a pedra em que está trabalhando por falta de habilidade, e que pode
ensiná-lo a corrigir a pedra, deverá instruí-lo para que o amor cresça entre
eles e o trabalho do Senhor não se perca. ASSEMBLEIAS DE JUSTIÇA. Finalizando,
o texto do Manuscrito de Cook discorre sobre o funcionamento da Assembleia de
justiça, estabelecendo o que se poderia chamar de ritual, amplamente utilizado
pela Maçonaria em suas Lojas. Dessas Assembleias deviam participar o Mestre e
seus Companheiros, devidamente convidados. Com eles estavam presentes o Mestre
da Assembleia, o xerife do condado, o prefeito da cidade e o Conselheiro mais
velho da cidade para auxiliarem contra os acusados e preservar o direito do
Reino. Eis o cerimonial do encontro: `Inicialmente, entram no recinto os jovens
que nunca foram acusados, de forma que não sejam ladrões ou cúmplices deles, e
que realizam seu trabalho diário pela recompensa que recebem de seu Senhor.
Farão a seus Companheiros um verdadeiro resumo das coisas que devem ser explicadas
e ouvidas e que o façam com amor. Devem ser fiéis ao rei da Inglaterra e ao
reino, e aterem-se, com todas as suas forças, aos artigos mencionados. Depois
disto, indagar-se-á se algum Mestre ou Companheiro, que tenha sido instruído,
infringiu algum artigo e ali estabelecer-se- á se fez ou não tais coisas. Vale
dizer que caso algum Mestre ou Companheiro, que tenha sido avisado da acusação
antes de vir à Assembleia, rebele-se e não apareça, ou que tenha transgredido
algum artigo, deverá renegar sua permanência na Maçonaria e não poderá jamais
usar sua arte. Se ousar praticá-la, o xerife do país em que venha a ser
encontrado deverá prendê-lo e pôr todos os seus bens nas mãos do Rei até que
seja mostrada e concedida a graça. Por este motivo, os participantes desta
Assembleia estabelecerão que tanto o mais baixo quanto o mais alto devem ser
servidores leais de sua arte em todo o reino da Inglaterra." A MAÇONARIA
NO BRASIL. Capítulo Sete. O GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Em 1815, estudantes
brasileiros que voltavam da Universidade de Coimbra, em Portugal, onde haviam
sido iniciados como Maçons, se comprometeram decididamente com a luta política
pela independência das províncias de Portugal na América do Sul, que
constituíam o reino do Brasil, cuja capital era o Rio de Janeiro. Nesta cidade,
desde 1808, se havia refugiado a família real portuguesa, que tinha saído da
Europa, no início da invasão napoleônica. Pelo menos desde 1797 haviam sido
criadas algumas Lojas Maçônicas no Brasil. É importante citar a criação da Loja
"Comércio e Artes", em novembro de 1815, por Maçons que estavam
comprometidos com a independência política das províncias brasileiras. Em
cumprimento ao Decreto Real de 30 de março de 1818, que proibia o funcionamento
de sociedades secretas no Brasil, fechou-se essa Loja e queimaram-se seus
arquivos, conforme consta na "Ata da Sessão de Reinstalação", que
teve lugar em 24 de junho de 1821, quando a Loja foi rebatizada como
"Comércio e Artes na Idade do Ouro". Esta Loja constitui a origem do
Grande Oriente do Brasil, já que decidiu, na reunião de 17 de junho de 1822,
criar outras duas Lojas, mediante a divisão, por sorteio, do total de seus
membros. Assim foram criadas as Lojas "Esperança de Niterói" e
"União e Tranquilidade". Com estas três Lojas metropolitanas,
formou-se o Grande Oriente. Entre os integrantes daquela Loja se destacam as
figuras de Joaquim Gonçalves Ledo e do sacerdote e maestro Januário da Cunha
Barbosa, ambos ativistas no processo da independência política do Brasil. José
Bonifácio de Andrada e Silva, o "Patrono da Independência", foi
eleito Primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, contando com Joaquim
Gonçalves Ledo como seu vice e com Januário da Cunha Barbosa como Orador. O
motivo principal da criação do Grande Oriente foi o de comprometer a Maçonaria,
como instituição, com a luta pela independência política do Brasil. Esta
determinação consta, de maneira explícita, nas atas das primeiras reuniões da
Organização que se estava criando, que somente admitia a iniciação ou a filiação,
em suas Lojas, de pessoas que se comprometessem com o ideal da independência do
Brasil. Em junho de 1822, a família real portuguesa já havia retornado a Lisboa
e deixado, como Príncipe Regente, a Dom Pedro de Alcântara, filho de Dom João
VI (1767-1826), rei de Portugal. O príncipe Dom Pedro, que era jovem e
voluntarioso, viu-se rodeado por Maçons, que constituíam a elite intelectual e
econômica da época. Por proposta do Grão-Mestre, José Bonifácio de Andrada e
Silva, o príncipe foi iniciado em uma Assembleia Geral do Grande Oriente, em 2
de agosto de 1822, adotando o "nome heroico" de
"Guatimozim", nome este do último imperador asteca, assassinado por
Cortez, no México, em 1522. Dom Pedro integrou-se à Loja "Comércio e Artes".
Na reunião seguinte do Grande Oriente, realizada em 5 de agosto, o príncipe foi
elevado à categoria de Mestre Maçom, por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo,
que ocupava a presidência. Numa jogada política, Gonçalves Ledo fez com que Dom
Pedro fosse "eleito" Grão-Mestre do Grande Oriente, em lugar de
Andrada e Silva, sendo instalado em 4 de outubro de 1822. Apesar de todas as
pessoas influentes ao redor de Dom Pedro serem Maçons e membros do Grande
Oriente, a única organização maçônica que existia nessa época, havia uma enorme
rivalidade política entre eles. A disputa pelo poder provocou sérias lutas. Dom
Pedro proclamou a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822 e assumiu o
título de Imperador, com o nome de Dom Pedro I. Exatamente um mês e meio
depois, em 21 de outubro, determinava, "primeiro como Imperador, depois
como Grão-Mestre" o fechamento "temporário" do Grande Oriente.
Esse fechamento se manteve em vigor durante todo o seu reinado, que acabou
quando abdicou, em 7 de abril de 1831 e se dirigiu a Portugal para recuperar o
trono português, que estava em poder de seu irmão Dom Miguel, coisa que acabou
conseguindo, sendo coroado como Dom Pedro IV de Portugal. Desde 1830, os Maçons
do Rio de janeiro tentavam reiniciar seus trabalhos, que estavam praticamente
parados, e haviam fundado um novo Grande Oriente, que foi instalado em 24 de
junho de 1831, com o nome de Grande Oriente Brasileiro, aquele que seria
conhecido com o nome de Grande Oriente do Passeio, nome da rua onde estava
localizado. Em outubro de 1831, um grupo de Maçons originários do primeiro
Grande Oriente reinstalou aos integrantes das três Lojas metropolitanas
primitivas e elegeu o primeiro Grão-Mestre, Andrada e Silva, para dirigi-lo. O
Grande Oriente foi reinstalado em 23 de novembro de 1831. Em consequência, durante
30 anos funcionaram no Rio de janeiro dois Grandes Orientes. Em 1861, o Grande
Oriente do Passeio deixou de existir e suas Lojas foram absorvidas pelo Grande
Oriente do Brasil. O Grande Oriente do Brasil sofreu diversas secessões durante
sua existência, a maioria delas como consequência de disputas durante as
eleições de Grão-Mestre. Todas as secessões que ocorreram até 1927 terminaram
por ser reabsorvidas ao longo do tempo e suas Lojas e Irmãos se reincorporaram
ao Grande Oriente do Brasil. AS GRANDES LOJAS ESTADUAIS. Em 1927 teve lugar, no
seio do Grande Oriente do Brasil, uma secessão que teria consequências
históricas importantes. Desde 1854 e até 1951, o Grande Oriente do Brasil era
uma "organização dupla", denominada Supremo Conselho e Grande Oriente
do Brasil. Seu Grão-Mestre era o diretor da Maçonaria Simbólica e dirigia os
"altos graus" já que era o "Soberano Grande Comendador do
Supremo Conselho do Rito Escocês". O Grão Mestre e Soberano Grande
Comendador para o período de 1922 a 1925, Mário Marinho de Carvalho Behring - o
cargo de "Supremo Grande Comendador" era exercido automaticamente
pelo Grão-Mestre, sem que houvesse uma eleição específica-, renunciou no final
de seu mandato, declarando, todavia, que se manteria como Soberano Grande Comendador
do Supremo Conselho. Vicente Neiva foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do
Brasil, tendo como adjunto Fonseca Hermes. Vicente Neiva morreu em 18 de
fevereiro de 1926 sem haver podido resolver o problema criado por Mário
Behring. Seu posto foi assumido por Fonseca Hermes, que era amigo de Behring e
que firmou com ele um Tratado, em 22 de outubro de 1926, no qual se reconhecia
a independência do Supremo Conselho. Em 21 de março de 1927, Octavio Kelly foi
instalado como Grão Mestre Adjunto e em 6 de junho desse mesmo ano,
pressionado, Fonseca Hermes se afastou de seu cargo e Octavio Kelly se tornou
Grão-Mestre. Em 17 de junho de 1927, Mário Behring, que sabia que Octavio Kelly
não dividiria o poder com ele, convocou uma reunião do Supremo Conselho com
apenas 13 de seus 33 membros e o declarou separado do Grande Oriente do Brasil.
Para apoiar seu Supremo Conselho do Rito Escocês, Behring estimulou a criação
de Grandes Lojas nos Estados, que já vinham sendo instaladas sigilosamente e às
quais outorgava Cartas Constitutivas emitidas por seu Supremo Conselho. Foi
dessa maneira que se criaram as Grandes Lojas da Bahia, fundada em 22 de maio
de 1927, do Rio de Janeiro, fundada em 18 de junho de 1927, e de São Paulo, em
2 de julho de 1927, às quais outras se seguiram. Estas Grandes Lojas dos
Estados e as Lojas que as compõem existem até hoje como organizações
independentes umas das outras. Para dar-lhe um caráter nacional, foi criada uma
entidade denominada Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, que é presidida
de forma rotativa anual pelos Grãos Mestres das diversas Grandes Lojas dos
Estados. OS GRANDES ORIENTES INDEPENDENTES. Em 1973 se registrou a última cisão
no seio do Grande Oriente do Brasil, com o surgimento, também por problemas
eleitorais, dos Grandes Orientes Estaduais Independentes, que reuniam Lojas que
não concordavam com o resultado das eleições para Grão-Mestre. A princípio a
cisão teve grande repercussão, mas ao longo dos anos muitas Lojas que então se
rebelaram acabaram retornando ao Grande Oriente do Brasil. Muitas das
reclamações das Lojas em relação à estrutura de poder no Grande Oriente do
Brasil foram superadas com as alterações que ocorreram posteriormente,
especialmente a mudança de sede, em 1978, da cidade do Rio de janeiro para a
nova capital federal, Brasília. Ainda assim, existem várias centenas de Lojas
reunidas em torno desses Grandes Orientes Estaduais na maioria dos Estados
Brasileiros. Como sua posição inicial eram contra a Federação Maçônica
nacional, esses Grandes Orientes são independentes entre si. No entanto, dada a
necessidade de ter um caráter nacional, terminaram constituindo uma entidade
denominada Colégio de Grãos Mestres, que hoje em dia é chamada Confederação
Maçônica Brasileira - COMAB, sob a presidência rotativa anual dos Grãos Mestres
dos Grandes Orientes Independentes. O Livro Secreto da Maçonaria. Abraço. Davi.
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