Maçonaria.
Texto de Lourivaldo Perez Baçan. Este livro contém uma série de relatos
históricos a respeito da Maçonaria desde os primeiros registros, o Poema
Regius, a Constituição de Anderson e o Manuscrito Cook, além do estabelecimento
da Maçonaria no Brasil, das Leis Anti-Maçônicas na Europa e as farsas
envolvendo a instituição com o Satanismo. Também estão presentes a descrição
dos ritos maçônicos e da hierarquia de cargos. INTRODUÇÃO À MAÇONARIA. Capítulo
Um. Mitos, lendas e desinformação cercam a Maçonaria como instituição. Para os
leigos, ela é cercada de mistérios e é considerada elitista. Informações nem
sempre fidedignas ligam suas atividades ao sobrenatural e ao satânico. É
importante, portanto, esclarecer alguns aspectos para melhor entendimento do
assunto. A Maçonaria é uma ordem cujas doutrinas básicas são amor fraterno,
auxílio mútuo, filantropia e busca constante da verdade. Os maçons esforçam-se
para desfrutar da companhia de seus irmãos, ajudando-se em tempos de
dificuldade pessoal e reforçando valores morais essenciais. Um antigo provérbio
maçom diz que "a Maçonaria ensina os homens a serem bons e os que já o
são, ela os torna melhores". Oferece uma oportunidade para um contato
regular e agradável com homens de caráter, reforçando o próprio desenvolvimento
pessoal e moral, num clima de companheirismo e fraternidade. Para manter essa
fraternidade, é proibida a discussão de religião e política dentro das Lojas,
uma vez que estes assuntos dividiram frequentemente os homens ao longo da
História. A Maçonaria encoraja um homem a ser religioso sem defender uma
religião em particular, tanto quanto incentiva que ele seja ativo na
comunidade, sem defender um sistema ou partido político em particular. Os
Maçons, também conhecidos como Pedreiros, não encontram na Maçonaria
ensinamentos sobre a arte da construção, como o faziam os Maçons operativos da
Idade Média. Assim, as ferramentas comuns, usadas nos canteiros medievais, como
o maço, o cinzel, o nível, o prumo e outros têm cada uma um significado
simbólico na Maçonaria e visam o aperfeiçoamento moral dos Maçons. A Maçonaria
se distingue de outras ordens fraternais por sua ênfase no caráter moral, no
seu sistema de rituais e na sua longa tradição, com uma história que data
aproximadamente do século XVII. Há três graus em Maçonaria. Outros corpos conferem
graus adicionais, até o 330 no Rito Escocês, mas nas Lojas normais ou
simbólicas, têm-se apenas os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. A maioria
das Lojas tem reuniões regulares e semanais e congregam-se em Potências
Maçônicas, chamadas Grandes Orientes ou Grandes Lojas. Essas reuniões são
feitas seguindo um ritual próprio. Nos países da América Latina, o rito mais
praticado é o Rito Escocês Antigo e Aceito. É um corpo de normas que regem os
trabalhos de uma Loja, quando em reunião regular. O rito mais praticado no
mundo, no entanto, é o Rito de York ou Rito Emulação. As diferenças entre eles
não chegam a ser significativas. Outros ritos, como o Brasileiro, o Moderno e o
Adonhiramita convivem com os dois primeiros. A relação entre ritual e religião
é muito frequente, provocando uma certa confusão na definição da Maçonaria.
Alguns julgam, por isso, que se trata de uma religião, mas analisando-se o
assunto, nota-se que os rituais são uma parte do homem que pouco é notado.
Ritual é simplesmente a maneira como algumas coisas são feitas, uma espécie de
procedimento padrão para impor ordem e disciplina aos trabalhos. Uma reunião de
condôminos obedece uma ordem determinada, da mesma forma como uma reunião de
pais e mestres em um colégio. Sem essa sequência de atos a serem vencidos
tem-se a baderna e a perda de tempo. 0 resultado será sempre questionável. Há
rituais sociais ou convenções que dizem como deve-se apresentar às pessoas,
como participar de uma conversação, como enfrentar uma fila, com paciência, sem
empurrar ou tentar passar na frente com algum tipo de artifício. A Maçonaria
usa um ritual porque é um modo efetivo para ensinar ideias importantes. Além
disso, o ritual maçônico é muito rico e muito antigo, remontando aos primórdios
de sua criação. As reuniões regulares de uma Loja Maçônica são realizadas em um
local chamado Templo. Essas reuniões, nos seus primórdios, não eram feitas em
um local específico. A partir da construção do Fremason's Hall, na Inglaterra,
em 1776, as reuniões ganharam um local fixo. Muitas Lojas, em função do tamanho
de seu quadro, utilizam as instalações ou Templos de outras Lojas. O Templo não
tem caráter religioso. A Maçonaria preocupa-se não apenas com o aperfeiçoamento
moral do adulto, mas também com o desenvolvimento dos jovens, preparando-os
para a vida e, muitas vezes, para a futura renovação de seus quadros. Entre
essas instituições, destacam-se duas delas. A Ordem Internacional DeMolay é uma
organização fraternal que congrega jovens entre 13 e 21 anos, fundada na cidade
de Kansas, Missouri, em 24 de Março de 1919, por Frank Sherman Land. Os
Capítulos DeMolay são patrocinados por Lojas Maçônicas, cujos membros fazem
parte do seu Conselho Consultivo. Os Capítulos DeMolay celebram reuniões
semanais, valendo-se de um ritual próprio para direcioná-las. Além disso,
promovem atividades que incluem torneios, eventos sociais, filantrópicos e
cívicos. Seu nome vem de Jacques DeMolay, que foi o último dos Cavaleiros
Templários a ser executado pela Inquisição, em 18 de Março de 1314. A Ordem
Internacional Arco-íris para Meninas é uma organização para garotas de 11 a 20
anos, sendo a correspondente feminina da Ordem DeMolay, com a qual
frequentemente desenvolve atividades conjuntas, com o mesmo objetivo fraterno.
Durante as reuniões regulares de uma Loja Maçônica, os membros paramentam-se
com um avental simbólico. Na cerimônia de iniciação, o Maçom é revestido com um
avental branco, símbolo do trabalho. Ao atingir o grau de Mestre, esse avental
é trocado por um outro, com as cores do rito, normalmente vermelho e/ou azul.
Assim como os antigos Pedreiros utilizavam seu avental como proteção,
simbolicamente o Maçom, quando em Loja, usa-o para realizar seus trabalhos
rotineiros. Para a Maçonaria, todos os homens foram feitos iguais, não havendo,
entre seus membros, distinção de raça, crença ou cor. Isso confunde os leigos,
que julgam ser uma instituição elitista. Considerando que apenas são convidados
a participar da Maçonaria homens virtuosos e representativos da sociedade,
pode-se dizer que ela é uma elite, embora o correto seja afirmar que ela impõe
critérios rigorosos para a iniciação de um novo membro. No homem comum,
honestidade e caráter são virtudes, no Maçom, obrigação. Um mito também muito
frequente afirma que o Maçom, uma vez iniciado, jamais poderá deixar a Ordem.
Não há esse impedimento. Desejando afastar-se da Maçonaria, basta que o Maçom
requeira o afastamento de sua Loja, pois isso é um direito seu. A Maçonaria
preza a liberdade de seus membros e defende-a tanto quanto luta para preservar
a liberdade dos cidadãos em geral. Outra confusão permanente afirma que a
Maçonaria é uma sociedade secreta, o que não é verdade. A localização de seus
templos é conhecida e pode ser encontrada facilmente em qualquer lista
telefônica. Suas reuniões são secretas, pois são reservadas apenas aos membros
efetivos, diferentemente de uma sociedade secreta, cuja existência é
desconhecida ao público e negada por seus participantes. As reuniões são
fechadas para preservar os segredos maçônicos, que são principalmente seus
modos de reconhecimento, como sinais, cumprimentos e frases pelos quais os
Maçons reconhecem-se um ao outro. Um dos requisitos para um leigo tornar-se
Maçom é a crença em um Ser Supremo, a que dá-se o nome de GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO.
Assim, apesar de não ser uma religião, a Ordem defende a existência de um Ser
Superior ou Princípio Criador. Uma religião é muito mais complexa, implicando
detalhes como a existência de um plano para salvação ou caminho pelo qual se
alcança uma recompensa depois da vida. Implica também uma teologia que tenta
descrever a natureza de Deus e divulga a descrição de modos ou práticas pelo
qual um homem ou uma mulher podem buscar comunicar-se com Ele. A Maçonaria não
faz nenhuma dessas coisas. Apenas abre e fecha seus trabalhos com uma oração e
ensina que nenhum homem deveria começar qualquer empresa importante sem antes
buscar apoio espiritual. Contudo, não ensina aos homens como devem rezar ou o
que devem pedir. Prega apenas que cada um tem que achar as respostas para suas
grandes perguntas na sua própria fé, na sua Igreja, na sua Sinagoga ou em seu
Templo Religioso. Para tornar-se um Maçom, é necessário, inicialmente, que o
candidato prime pela moral e pelos bons costumes. Deve ter uma profissão
definida que lhe garanta a subsistência. Ele deve ser indicado por um Mestre
Maçom e ter sua iniciação aprovada pela Loja. Ninguém se inscreve para ser
Maçom, embora admita-se que um candidato procure um membro da Loja e manifeste
sua intenção. Normalmente, por suas qualidades, ele é notado por um Maçom que o
indica. Todo um processo de admissão é desenvolvido, o candidato é
entrevistado, bem como sua família. Nessa fase, são prestadas informações
preliminares sobre a Ordem Maçônica, seus objetivos e atividades. Nada impede
que um religioso seja aceito como Maçom. O que jamais se verá, no entanto, é um
ateu sendo recebido na Maçonaria, pois um dos princípios básicos para admissão
na Ordem é a crença em um Ser Supremo. HISTÓRIA DA MAÇONARIA. Capítulo Dois.
Muitas polêmicas cercam a origem da Maçonaria que, no entanto, é muito fácil de
ser explicada e entendida. Basta ter em mente que Maçom e construtor, aqui
englobando o Pedreiro e o arquiteto, são sinônimos. Assim, quando o primeiro
homem adaptou uma caverna para lhe servir de abrigo, estava dando os primeiros
passos nessa arte e tornando-se o primeiro Maçom da História da Humanidade.
Depois, quando começaram a construir abrigos com suas próprias mãos, é lógico
deduzir que alguns tinham mais habilidades do que os outros nisso. Uns eram
ótimos caçadores, outros eram pescadores, outros agricultores, mas alguns,
construíam. Logo perceberam que eram uma classe distinta dos outros e, assim
como os caçadores trocavam informações, passaram a fazer o mesmo. Com a
experiência, veio a sofisticação. A arte de construir evoluiu e, para aprender
seus segredos, era preciso tempo e, obviamente, habilidades. Regras foram
criadas e seguidas, pois, afinal, um caçador podia perder uma flecha, mas um
construtor jamais poderia permitir que uma casa caísse por sua culpa. Qualquer
registro histórico mostrará, com riqueza de detalhes, a quantas chegou essa
arte. Dos Templos Sumérios às pirâmides egípcias, das construções bíblicas aos
Templos Gregos e Romanos, a arte de construir atingiu proporções sagradas. Em
algum ponto da História, porém, o sagrado e o profano separaram-se. A arte de
construir tornou-se um negócio para criar meios de abrigar a população em suas
necessidades de moradia, de trabalho e de lazer. A arte de ser um construtor de
mentes tornou-se um dos maiores segredos, pois toda a mítica da construção de
obras físicas foi transformada em símbolos para o aperfeiçoamento moral da
humanidade. Até a Idade Média, tínhamos uma Maçonaria de detentores de ofícios
formada por pedreiros e arquitetos. Era a chamada Maçonaria operativa, voltada
ao trabalho de talhar a pedra bruta para torná-la cúbica e ordená-la de forma a
obter um resultado: o edifício pronto. Exigia aprendizado e tempo para que se
ganhasse experiência e perfeição. Talvez houvesse desorganização e
concorrência, mas é certo que se alguém tivesse habilidade, encontraria quem
lhe ensinasse o ofício. Nada mais se sabe, além disso, mas é certo que a partir
de um determinado período, os construtores começaram a organizar-se, estruturando
seu trabalho, criando regras, como uma auto-regulamentação do ofício. Por volta
de 1200, tornaram-se fortes e unidos, na Inglaterra, principalmente, potência
econômica reconhecida na época. E seguiram com seu trabalho, até que a arte de
construir começou a cair em decadência, por volta do século XVIII. Para
fortalecer seu poder, as organizações fechadas de Maçons passaram a permitir o
ingresso de nobres, pessoas importantes, mas alheias ao ofício. A Maçonaria
deixava de ser operativa e passava a ser especulativa, entrando em seu período
esotérico e moderno. Era a Maçonaria de adoção. Os Mestres, profissionais da
arquitetura e da construção, misturaram-se com burgueses e nobres. Especular,
segundo o dicionário, é "ver, olhar atentamente, vigiar; observar; inquirir;
estudar; meditar sobre qualquer matéria e fazer dela estudo teórico". Foi
isso que os Maçons, agora membros de uma organização chamada Maçonaria,
passaram a fazer. Dedicavam-se, agora, não ao estudo dos segredos do
conhecimento operativo, mas sim à revelação dos conhecimentos especulativos e
espirituais. No século XVIII, reuniram-se as Lojas existentes e
institucionalizou-se a Grande Loja de Londres, mais tarde Grande Loja Unida da
Inglaterra, berço da Maçonaria Universal, pregando a crença em um Grande
Arquiteto do Universo e o respeito ao poder civil da Coroa. A Maçonaria
especulativa dividiu-se, multiplicou-se, deu frutos. Na atualidade, polariza-se
em Grandes Orientes, Grandes Orientes Independentes e Grandes Lojas, além de
inúmeras organizações de Altos Graus, que vão além dos três graus iniciais
(Aprendiz, Companheiro e Mestre). Multiplicou-se em diversos ritos (York,
Escocês Antigo e Aceite, e o Rito Francês ou Moderno, entre outros).
Espalhou-se pelo mundo, estando presente praticamente em todos os pontos do
planeta, institucionalizada e legalizada em seus templos, publicando livremente
suas ideias, invadindo a Internet, mantendo obras sociais e preparando gerações
futuras em organizações específicas, como a feminina Ordem da Estrela do Oriente,
a Ordem DeMolay, para rapazes, e as Filhas de Jó ou Arco-íris, para meninas. OS
PRIMEIROS REGISTRO. Capítulo Três. Em 1356, um Código de Regulamentos Maçônicos
surgiu em Londres, na Inglaterra, constituindo-se na primeira referência sobre
a Maçonaria como organização. Em 1390, surge um poema, chamado Poema Regius,
que detalha a criação de um ofício especializado a ser realizado por artífices
construtores chamados de Maçons. Nesse poema, o Rei Athelstan (895-935),
coroado rei da Inglaterra em 925, promove uma reunião de Maçons, estabelecendo
normas e regras para o exercício desse ofício. O poema apresenta essas normas e
regras, além de noções de obrigações morais. É conhecido também como Manuscrito
de Halliwell, em referência ao descobridor, James Orchard Halliwell-Phillips
(1820-1889), e Manuscrito Régio, por ter pertencido à Biblioteca Real Inglesa.
Há que diferenciar, no entanto, que nos seus primórdios a Maçonaria era
operativa, congregando trabalhadores, como uma organização de classe, diferente
da Maçonaria atual, especulativa, dedicada ao estudo e ao aprimoramento do
homem. Escritores fantasiosos remontam as origens da Maçonaria aos Tempos
Bíblicos, o que, vista sob a ótica de organização operativa, não deixa de ter
um fundo de verdade, já que havia, naqueles Templos, construtores. Um documento
conhecido como Manuscrito de Cook, de 1410, estabelece a primeira ligação entre
os maçons e a construção do Templo do Rei Salomão. Em II Crônicas 2:1-18 são
detalhadas as providências iniciais para a construção do Templo, incluindo a
presença de artesãos e marceneiros especializados para formar a equipe de
trabalho. As Grandes Pirâmides também são exemplos do trabalho desses maçons
operativos, pois a tecnologia utilizada em suas construções, até hoje, provoca
admiração. Não há dúvidas de que eram operários altamente especializados. Foi
só por volta do século XVI que começaram a surgir as primeiras referências a
uma Maçonaria especulativa, com a admissão de leigos nos quadros da Loja de
Edimburgo. Acredita-se que os Maçons operativos reuniam-se para assembleias e
encontros nos próprios canteiros de obras, em barracões, de onde surgiu a
palavra "Loja" para designar o local dessas reuniões. As atribuições
desses Maçons operativos, como descritas no Poema Regius, foram sintetizadas
numa Constituição por Anderson e, para regulamentar o funcionamento das Lojas,
estabeleceram-se os chamados Landmarks, palavra sem uma tradução específica em
português, mas que pode ser entendida como "marcos territoriais". Em
Maçonaria, no entanto, refere-se a regras imutáveis que norteiam a existência
da Ordem. O Poema Regius, a Constituição de Anderson, os Landmarks e o
Manuscrito de Cook são documentos imprescindíveis para quem deseja conhecer um
pouco mais essa organização. O simbolismo maçônico atual e as regras de atuação
dos maçons e das Lojas estão intimamente ligados a eles. O Poema Regius foi
escrito em inglês medieval, atualizado posteriormente, e traduzido para todas
as línguas onde atua a Maçonaria. Com isso, perdeu-se a riqueza do poema, mas o
conteúdo foi preservado, fornecendo informações sobre o modo de pensar e agir
dos Maçons operativos. Na versão que se segue, o texto em prosa foi compilado,
para melhor entendimento, apresentando seu aspecto mais importante: "as
regras do ofício de Maçom". É interessante observar que, no poema, há
referências a Maçons "Irmãos" e "Irmãs", dando a entender
que homens e mulheres trabalhavam juntos. A Maçonaria especulativa tornar-se-ia
iminentemente masculina. O poema explica porque a Maçonaria é conhecida como
Arte Real, pois era praticada exclusivamente por nobres. O POEMA REGIUS Em seu
prólogo, o autor narra que nobres senhores, no Egito, preocupados com o futuro
dos filhos, contrataram um sábio para ensinar-lhes o ofício da Maçonaria.
Euclides foi o escolhido, tornando-se célebre por isso. A arte foi implantada
na Inglaterra quando reinava ali o rei Athelstan. Ele mandara construir
castelos, Templos e edificações, mas não ficara satisfeito com os resultados,
por isso convocou Maçons de Ofício. Promoveu uma reunião com homens de
diferentes classes, duques, condes, barões, cavaleiros, escudeiros, burgueses e
muitos outros para definir os estatutos dos Maçons. Eles uniram seus espíritos
e desempenharam bem sua tarefa. Anunciaram quinze artigos e determinaram quinze
pontos a serem seguidos. No poema, a arte da construção é entendida como a Arte
da Geometria. OS ARTIGOS. Artigo Primeiro. O primeiro artigo da Geometria:
pode-se confiar em um Mestre Maçom, pois ele é firme, sincero e verdadeiro. Ele
não será contestado se pagar os seus companheiros após a refeição conforme o
valor habitual. Ele deverá remunerá-los equitativamente segundo a boa fé e os
méritos deles sem nunca levar vantagem. Eles gastarão o que ganharem e não
economizarão por avareza ou por medo da falta. Eles não servirão mais de um
senhor e um senhor não terá mais de um mestre. Nada devem tomar de seus
senhores, agindo dentro da justiça, dando a cada um de acordo com seu mérito.
Artigo Segundo. Todo Mestre Maçom deve comparecer às assembleias gerais. Ele
deve, portanto, saber onde a assembleia será realizada. A essa reunião ele
assistirá, exceto em caso de justificativa válida, sob pena de ser reputado
rebelde ao ofício e sem honra. Se adoecer e não puder ir, isso será uma
justificativa válida que a assembleia aceitará como tal. Artigo Terceiro. O
Mestre não aceitará nenhum Aprendiz que ele não tenha certeza de empregar
durante ao menos sete anos. Em um tempo inferior a isso não trará proveito para
o senhor nem para ele próprio. Artigo Quarto. O Mestre não poderá tomar um
servo como Aprendiz ou emprega-lo como engodo do lucro, pois seu senhor poderá
buscar o Aprendiz onde quer que vá. Se ele for recrutado na Loja, poderia haver
desordem. Um caso desses prejudicaria a todos. Todos os Maçons seriam
atingidos. Para a paz e a harmonia, devem admitir um Aprendiz de boa-condição.
O Aprendiz deveria ser de alta linhagem, assim, filhos de grandes senhores
aprenderam a Geometria, fonte de benefícios. Artigo Quinto. O Aprendiz não pode
ser bastardo. O Mestre nunca admitirá como Aprendiz uma cabeça perturbada. Ele
deve ter os membros em bom estado. O ofício padecerá se entrar um amputado, um
coxo, pois um homem enfraquecido não poderá cumprir sua tarefa. O ofício
demanda homens fortes. Um homem mutilado não tem força suficiente. Artigo Sexto.
O Mestre não pode prejudicar o Senhor, solicitando ao Senhor, para seu
Aprendiz, o que ele dá aos demais companheiros, pois estes são formados,
enquanto que o outro ainda não o é. Seria contrário à razão dar-lhe o salário
completo. O artigo diz ainda que o Aprendiz deve solicitar menos que os
Companheiros, que conhecem o ofício. O Mestre deve instruir seu Aprendiz para
que seu salário possa ser aumentado. Quando ele tiver cumprido seu tempo, assim
será feito. Artigo Sétimo. Nenhum Mestre, por favor ou medo, deverá vestir ou
alimentar um ladrão. Ele nunca acolherá um ladrão, nem um assassino, nem alguém
com reputação duvidosa, pois isso envergonharia o ofício. Artigo Oitavo. Diante
de um homem do ofício que não tenha capacidade suficiente, o Mestre pode
substituí-lo e colocar em seu lugar alguém mais competente, pois um homem que
tenha fraquezas pode prejudicar o ofício. Artigo Nono. O Mestre deve ser ao
mesmo tempo escutado e temido. Ele não iniciará nenhum trabalho se não estiver
certo de conduzi-lo bem. Isso para o benefício do senhor e do ofício. Ele
verificará as fundações e zelará para que não oscilem, nem desabem. Artigo
Décimo. Nenhum Mestre deve sobrepujar um outro, mas construir juntos, como irmã
e irmão, sob a direção de um deles. Ele não intrigará quem tiver realizado um
trabalho. Se isso ocorrer, ele pagará uma multa de dez libras, exceto se aquele
que chefiava a obra for julgado culpado. Nenhum Maçom poderá assumir o trabalho
de um outro, exceto se este ameaçar a obra. Um Maçom pode, então, assumir a
obra para o benefício do Senhor. Nesse caso, nenhum Maçom poderá se opor, mas,
em verdade, aquele que escavou as fundações, se for um verdadeiro Maçom,
certamente conduzirá a obra a bom termo. Artigo Décimo Primeiro. Nenhum Maçom
deve trabalhar durante a noite, exceto para dedicar-se ao estudo pelo qual
poderá aperfeiçoar-se. Artigo Décimo Segundo. Todo Maçom deve ser honesto. Ele
nunca deve criticar o trabalho dos demais se quiser manter sua honra. Seu
comentário será honesto, pois o saber vem de Deus. Todos devem trabalhar juntos
para aperfeiçoar o ofício. Artigo Décimo Terceiro. Se o Mestre admitir um
Aprendiz, ele o instruirá da melhor forma possível, transmitindo-lhe seu saber.
Assim ele conhecerá o ofício e poderá trabalhar, não importa em que lugar da
terra. Artigo Décimo Quarto. O Mestre não admitirá um Aprendiz se não tiver
utilidade para ele. Durante o aprendizado, ele lhe ensinará os diferentes
pontos do ofício. Artigo Décimo Quinto. O Mestre não deve ter para com os
outros homens um comportamento hipócrita, nem seguir os companheiros no caminho
do erro, qualquer que seja o benefício que possa ter. Ele nunca deverá fazer um
falso juramento e com amor deverá preocupar-se com sua alma, sob pena de trazer
para o ofício a vergonha e para si a repreensão. OS PONTOS. Primeiro Ponto.
Quem quiser aprender o ofício e abraçá-lo deverá amar a Deus e a Santa Igreja,
assim como seu Mestre e demais Companheiros. Segundo Ponto. O Maçom trabalhará
nos dias úteis da melhor forma possível, a fim de merecer seu salário e os dias
de repouso, pois quem tiver feito bem seu trabalho merecerá sua recompensa.
Terceiro Ponto. O Aprendiz deverá guardar segredo sobre os ensinamentos de seu
Mestre e de seus companheiros. Ele jamais trairá as decisões da Câmara nem
revelará o que se faz na Loja. Tudo o que ouvir, na Loja ou na floresta,
guardará para si, honradamente, sem o que mereceria uma repreensão e grande
vergonha abater-se-ia sobre o ofício. Quarto Ponto. Nenhum Maçom deve
mostrar-se pérfido para com o ofício. Se cometer um erro que possa
prejudicá-lo, deverá cessar. Ele não fará nenhum dano ao Mestre ou aos
Companheiros. O Aprendiz, com respeito, obedecerá às mesmas leis. Quinto Ponto.
Quando o Maçom receber seu salário do Mestre, como foi acertado, ele o receberá
humildemente. O Mestre terá cuidado em avisá-lo antes do meio-dia se não quiser
mais empregá-lo. Sexto Ponto. Se por inveja ou ira surgir uma disputa entre os
Maçons, o Mestre, se isso estiver em seu poder, deverá lhes fixar uma data,
após a jornada de trabalho, para que possam se explicar. Eles só tentarão fazer
as pazes após o término de sua jornada de trabalho. Durante os dias de licença,
poderão usar o tempo livre para se reconciliar. Se for marcada a conciliação
para um dia de trabalho, isso acabará por perturbar a obra. Sétimo Ponto. O
Maçom deve manter honesta a vida que Deus dá. Assim como Ele ordena, um Maçom
não dormirá com a mulher de seu Mestre nem de seus Companheiros. Isso não é
digno de um homem e prejudicará o oficio. Isso também deve ser feito em relação
à concubina de seus Companheiros, pois não gostaria que fizessem o mesmo com a
sua. A punição para essa falta será permanecer Aprendiz durante sete anos
completos. Quem esquecer um desses pontos será duramente castigado. Oitavo
Ponto. Se um Maçom receber uma tarefa, qualquer que seja ela, ao Mestre deve
permanecer fiel. Deve agir como um leal intermediário entre o Mestre e os
Companheiros. Nono Ponto O nono ponto refere-se ao intendente da casa. Se dois
Maçons estiverem em casa, um deverá servir o outro com moderação e dedicação.
Todos devem saber que na sua vez serão intendentes. Ser intendente é servir os
outros como Irmãs e Irmãos. Nunca tentar escapar dessa tarefa e exercê-la como
se deve. O intendente não se esquecerá de pagar convenientemente quem lhe
vendeu provisões para que não possa ter queixas contra ele nem contra seus
Companheiros, homem ou mulher. Deverão ser pagos de acordo com seus méritos.
Além disso, dará ao companheiro o detalhamento de seu salário, a fim de evitar
qualquer confusão. Agindo assim, não será repreendido. Por sua vez, deverá
manter controle exato dos bens que tiver recebido, das despesas feitas para os
Companheiros, das quais prestará contas quando os lhe solicitarem. Décimo Ponto.
Explica como viver bem sem confusão nem discussão. Se algum dia um Maçom for
colocado em posição difícil, se ele cometer um engano em sua obra e inventar
desculpas, ele desonrará seus Companheiros. Por causa de tais infâmias o ofício
poderá ser censurado. Se ele aviltar o ofício, nada lhe será poupado e os
demais devem tentar afastá-lo do vício, sob pena de verem nascer guerras e
conflitos. Não lhe será permitido nenhum repouso, até que o tenham convencido a
comparecer diante dos demais, de boa ou má vontade. Durante a assembleia, ele
comparecerá diante de todos os seus companheiros reunidos. Se ele se recusar,
será excluído do ofício e castigado de acordo com o código dos anciãos. Décimo
Primeiro Ponto. Um Maçom que conhece o ofício, que vê seu companheiro talhar
uma pedra e ameaçar desperdiçá-la, deve corrigi-lo se puder e ensiná-lo como
realizar o talhe para que não seja maltratada a obra do Senhor. Isso deve ser
feito com amor e palavras adequadas, cultivando a amizade. Décimo Segundo Ponto.
No local onde será realizada a assembleia haverá Mestres, Companheiros, grandes
senhores e também o xerife, o prefeito da cidade, cavaleiros e escudeiros e
mestres de aferição. Todas as ordens dadas por eles serão respeitadas ao pé da
letra pelos homens do ofício. Se ocorrer alguma contestação, eles têm poder de
decisão. Décimo Terceiro Ponto. Um Maçom nunca deve roubar nem auxiliar um
ladrão com o objetivo de receber uma parte do roubo. Ao cometer esse pecado,
ele prejudicará a si e a sua família. Décimo Quarto Ponto. O Maçom deve prestar
juramento diante de seu Mestre e de seus Companheiros. Obedecerá com zelo às
ordens, a seu senhor, ao rei, aos quais será fiel. Todos os pontos enumerados
devem ser respeitados e jurados, queira ele ou não. Se alguém vier a
esquecê-los, qualquer que seja sua posição, será detido e conduzido diante
desta assembleia. Décimo Quinto Ponto. Os pontos enumerados são obra dos
senhores e Mestres citados acima. Foram redigidos para impedir que se
prejudique o ofício. Aqueles que recusarem esta constituição e seus artigos, se
tiverem suas faltas provadas diante da assembleia, e não quiserem emendar-se,
deverão renunciar ao ofício e jurar abandoná-lo. A menos que reconheçam sua
culpa, eles não farão mais parte dele. E se recusarem-se a obedecer, o xerife
os deterá imediatamente e os lançará em uma escura prisão. Seus bens e seu gado
serão confiscados pelo tempo que aprouver ao rei. UM OUTRO REGULAMENTO. O poema
continua: Ordena-se que anualmente uma assembleia seja realizada para verificar
e retificar os erros do oficio no país. Todos os anos, ou a cada três anos,
conforme o caso, será assim no local por eles escolhido. Data e local serão
fixados, assim como a localização exata. Todos os homens do oficio assistirão a
ela assim como os Senhores para corrigir os erros do oficio. Todos aqueles que
pertençam ao oficio deverão jurar manter puros os estatutos tal como foram
redigidos pelo rei Athelstan. Esses estatutos, por mim encontrados, devem ser
respeitados no território, fiéis à realeza que devo a minha dignidade. Em cada
assembleia, venham sentar-se junto de seu rei, afim de encontrar nele a graça
para que ela permaneça em vocês. Eu confirmo os estatutos do rei Athelstan que
os ditou para o oficio. Na sequência, o autor narra a lenda dos quatro mártires
coroados: Claudius, Castorius, Simphoranius e Nicostratus. Os quatro eram
reconhecidamente cristãos. Recusaram-se a talhar uma imagem para o Imperador
Diocleciano, que desejava ser adorado como a um deus, por isso foram mortos.
Seguem-se uma narrativa bíblica sobre a construção da Torre da Babilônia,
depois comentários sobre as sete Ciências Liberais reverenciadas na época:
Gramática, Dialética, Retórica, Música, Astronomia, Aritmética e Geometria. O
poema finaliza com regras de comportamento. Várias práticas adotadas na
Maçonaria operativa, como o sigilo, a discrição, a obediência às leis e a boa
conduta, foram incorporadas pela Maçonaria especulativa, só que com um novo
significado, dentro das premissas da nova Ordem. O Livro Secreto da Maçonaria.
Abraço. Davi.
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