quinta-feira, 14 de julho de 2016

II.O SUTRA DO LÓTUS.

Budismo. Traduzido da versão inglesa de Burton Watson. O Sutra do Lótus. Capítulo Dois: Meios Hábeis. Nesse momento o Honrado Pelo Mundo despertou calmamente do seu samadhi e dirigiu-se a Shariputra, dizendo: ”A sabedoria de Budha é infinitamente profunda e imensurável. O acesso a esta sabedoria é difícil de compreender e difícil de transpor. Nenhum dos ouvintes ou dos pratyekabudhas é capaz de a compreender. “Por que razão assim é? Um Budha seguiu uma centena, um milhar, dez milhares, um milhão, um incontável número de Budhas, tendo completado um número infinito de práticas religiosas. Esforçou-se com bravura e vigor, e o seu nome é universalmente conhecido. Realizou a Lei profunda nunca antes conhecida, e ensina de acordo com o que é apropriado. A sua intenção, porém, é difícil de compreender. “Shariputra, desde que atingi o Despertar, tenho exposto o meu ensinamento através de várias causas e metáforas e tenho utilizado incontáveis meios hábeis para guiar os seres viventes e levá-los a renunciar aos apegos. Porque assim é? Porque o Tathagatha realizou plenamente os meios hábeis e a paramita da sabedoria. “Shariputra, a sabedoria do Tathagatha é profunda e de grande alcance. Possui misericórdia incomensurável, eloquência ilimitada, poder, coragem, concentração, emancipação e samadhis, penetrou profundamente o ilimitado e despertou para a Lei nunca antes obtida. “Shariputra, o Tathagata sabe como fazer vários tipos de distinções e como expor habilmente os ensinamentos. As suas palavras, suaves e agradáveis, deliciam os corações da assembleia. “Shariputra, direi em resumo: o Budha realizou inteiramente a Lei ilimitada, nunca antes alcançada. “Mas pára, Shariputra, não direi mais. Porquê? Porque o que o Budha obteve é a Lei mais rara e mais difícil de entender. A verdadeira natureza dos fenómenos só pode ser compreendida e partilhada entre Budas. Esta realidade consiste na aparência, natureza, ser, poder, influência, causa inerente, relação, efeito latente, efeito manifesto e a sua consistência do princípio ao fim.” Então, o Honrado Pelo Mundo, querendo expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo: O herói do mundo é incompreensível. Entre seres celestiais ou entre as pessoas do mundo, entre todos os seres viventes, nenhum pode compreender o Budha.
Ninguém consegue calcular ou abarcar
o poder, coragem,
emancipação e samadhis
e todos os outros atributos de um Budha.
Previamente, sob a orientação de incontáveis Budhas, praticou e adquiriu 
inteiramente várias vias,
doutrinas profundas, sutis e maravilhosas,
difíceis de encontrar e difíceis de entender.
Durante imensuráveis milhões de kalpas
praticou deste modo
até que no lugar da iluminação atingiu o objetivo.
Já testemunhei e conheço inteiramente
esta grande meta e recompensa,
o sentido destas várias naturezas e características.
Eu e os outros Budhas das dez direções
podemos agora entender estas coisas.
Esta Lei não pode ser descrita
e as palavras esgotam-se perante ela.
Entre os outros tipos de seres viventes
nenhum existe que a possa compreender,
exceto aqueles muitos bodhisattvas
que são firmes no poder da fé.
Os muitos discípulos dos Budhas
deram no passado oferendas aos Budhas,
cessaram já as suas falhas
e encontram-se agora na sua última encarnação.
Mesmo o poder destas pessoas
está aquém do necessário.
Mesmo que todo o mundo
fosse repleto de homens como Shariputra,
ainda que eles esgotassem todos os seus pensamentos
e unissem as suas capacidades,
não poderiam conceber a sabedoria de Budha.
Mesmo que as dez direções estivessem cheias de homens como Shariputra
ou como outros discípulos,
apesar de esgotarem os seus pensamentos e unirem as suas capacidades,
ainda assim não poderiam compreender.
Se pratyekabudhas, de apuradas faculdades,
sem falhas, no seu último renascimento,
enchessem os mundos nas dez direções
tão numerosos como bambus no Ganges,
mesmo que se juntassem numa só mente
por um milhão ou por incontáveis kalpas,
esperando conceber a verdadeira sabedoria dos Budas,
não poderiam entender a mais pequena parte dela.
Se bodhisattvas recentemente embarcados no seu caminho
fizessem oferendas a inumeráveis Budhas,
dominassem completamente o intento de várias doutrinas
sendo também capazes de ensinar efectivamente a Lei,
numerosos como plantas de arroz ou cânhamo, bambus ou juncos,
enchendo as terras nas dez direções,
se com uma única mente, com todo o seu maravilhoso conhecimento,
por kalpas numerosos como as areias do Ganges,
juntassem os seus pensamentos e capacidades,
não poderiam entender a sabedoria de Budha.
Se bodhisattvas que não mais retornarão,
em número igual ao das areias do Ganges,
com uma única mente ponderarem e buscarem em conjunto,
também eles não poderão compreender.
Também te anuncio, Shariputra,
que esta Lei, profunda, subtil e maravilhosa
sem falhas, inescrutável,
foi por mim alcançada na sua totalidade.
Apenas eu entendo as suas características,
tal como a entendem também os Budhas das dez direções.
Shariputra, deves saber que os mundos dos vários Budhas nunca diferem.
Para com a Lei ensinada pelos Budhas
deves cultivar uma grande e poderosa fé.
O Honrado Pelo Mundo expôs longamente as suas doutrinas
e agora deve revelar a verdade.
Anuncio a esta assembleia de ouvintes
e a todos os que seguem o veículo de pratyekabhuda:
Tornei possível às pessoas escaparem às cadeias do sofrimento
e atingirem o nirvana.
O Budha, através do poder dos meios hábeis,
mostrou-lhes os ensinamentos dos três veículos,
libertando os seres viventes de quaisquer quaisquer apegos e permitindo-lhes obter alívio.

Nessa ocasião estavam na grande assembleia muitos ouvintes, Arhats cujas falhas tinham chegado ao fim, e Ajnata Kuandinya, seguido por duzentas pessoas. E havia monges e monjas, irmãos e irmãs leigos, que conceberam o desejo de se tornarem ouvintes ou pratyekabudhas. Cada um destes tinha este pensamento: Por que razão o Honrado Pelo Mundo louva tão veementemente os meios hábeis e afirma que a Lei alcançada pelo Budha é tão profunda e difícil de compreender, que nem um dos ouvintes ou dos pratyekabudas consegue entendê-la?
Se o Budha expõe apenas uma doutrina de emancipação, então também deveríamos abarcar esta Lei e alcançar o estado de Nirvana. Não conseguimos seguir o fio do seu discurso.

Então Shariputra entendeu as dúvidas que perpassavam pelas mentes dos quatro tipos de crentes e ele próprio não conseguiu compreender. Dirigiu-se assim a Budha, dizendo, “Honrado Pelo Mundo, que causas e condições te levam a louvar tão veementemente os meios hábeis, os superiores instrumentos dos Budhas, a profunda, subtil e maravilhosa Lei que é difícil de compreender? Nunca no passado ouvi este tipo de discurso transmitido pelo Budha. Agora os quatro tipos de crentes têm dúvidas.
Rogamos que o Honrado Pelo Mundo explique o sentido destes louvores à Lei que é profunda, sutil, maravilhosa e tão difícil de compreender.”

Então Shariputra, querendo expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:

Filho da sabedoria, grande e venerável sábio,
extensamente expuseste esta Lei.
Tu próprio declaraste ter alcançado
poder, coragem, samadhis,
concentração, emancipação e outros atributos,
e a Lei que está além da compreensão -
essa Lei, alcançada através da iluminação,
sobre a qual ninguém te pode questionar.
“A minha intenção é difícil de conceber,
e ninguém pode questionar-me".
Ninguém questiona, ainda assim tu mesmo ensinas,
louvando o teu caminho.
A tua sabedoria é subtil e maravilhosa,
é a sabedoria obtida pelos Budhas.
Os arhats, livres de falhas
e todos os que buscam o nirvana
caíram nas malhas da dúvida,
perguntando-se qual o motivo deste ensinamento de Budha.
Os que aspiram a pratyekabhuda,
monges e monjas,
seres celestiais, dragões e espíritos,
bem como os gandarvas e outros,
olham uns para os outros, cheios de perplexidade,
fitando o mais honrado dos bípedes.
Qual é o sentido de tudo isto?
Rogo ao Budha que nos explique.
Entre a assembleia de ouvintes
o Budha disse que sou o mais dotado,
ainda assim sou falho de sabedoria
para resolver estas dúvidas e perplexidades.
Terei de facto atingido a suprema Lei,
ou estarei ainda no caminho da prática?
Os filhos nascidos da palavra de Budha
juntam as mãos, olham-te reverentemente e esperam.
Rogamos-te que soltes subtis e maravilhosos sons
e que agora nos expliques as coisas tais como são.
Os seres celestiais, dragões, espíritos e os outros,
em número igual ao das areias do Ganges,
os bodhisattvas que aspiram a tornar-se Budhas
numa grande multidão de oitenta mil,
bem como os Reis que Fazem Girar a Roda
vindos de milhares de milhões de terras,
todos reverentemente juntam as palmas das mãos
desejando ouvir o ensinamento de perfeitos atributos. Nessa altura o Buda dirigiu-se a Shariputra, dizendo, “Parem, parem! Não há utilidade em expor esta assunto. Se falar mais, então os seres celestiais e humanos de todos os mundos ficarão estupefactos e incrédulos.” Shariputra falou a Budha uma vez mais dizendo, “Honrado Entre os Homens, rogamos-te que ensines! Porquê? Porque esta assembleia de incontáveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de asamkias de seres viventes viram os Budas no passado; as suas faculdades são vigorosas e apuradas e a sua sabedoria é brilhante. Se eles ouvirem o Budha ensinar, serão capazes de acreditar reverentemente.”

Então Shariputra, querendo expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:

Rei do Dharma, honrado como ninguém,
falai, nós te rogamos, sem reservas.
Nesta assembleia de inumeráveis seres
alguns há capazes de reverente fé.

O Budha repetiu, “Pára, Shariputra! Se falar deste assunto, os seres celestiais, humanos e azuras de todos os mundos ficarão atônitos e incrédulos. Os monges de arrogância intolerante cairão num grande fosso.”

Então o Honrado Pelo Mundo repetiu em verso o que antes tinha dito:

Pára, pára, não é preciso falar!
A minha Lei é maravilhosa e difícil de ponderar.
Aqueles que são de suprema arrogância
quando a ouvirem nunca mostrarão fé reverente.

Nessa altura, Shariputra falou de novo a Budha, dizendo, “Honrado Pelo Mundo, rogamos-te que ensines! Nesta assembleia as pessoas como eu contam-se às centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões. Era após era seguimos os Budhas e recebemos instrução. Pessoas deste tipo são certamente capazes de fé reverente. Através da longa noite eles ganharão paz e tranquilidade e usufruirão de muitos benefícios.”

Então Shariputra, desejando expor novamente o sentido das suas palavras falou em verso, dizendo:

Supremamente honrado entre os seres de duas pernas,
rogamos-te que exponhas esta Lei suprema.
Eu, que sou visto como o mais velho dos filhos de Budha,
peço-te que nos favoreças ensinando-nos as distinções.
Os incontáveis membros desta assembleia
são capazes de prestar fé reverente a esta Lei.
Já em eras sucessivas os Budhas
ensinaram e converteram desta forma.
Com uma só mente e de mãos unidas
Todos desejamos ouvir e receber as palavras de Budha.
Eu e os outros doze mil do nosso grupo,
bem como os outros que aspiram a tornar-se Budhas,
rogamos-te que em prol desta assembleia
nos favoreças ensinando-nos as distinções.
Quando ouvirmos esta Lei
sentiremos imensa alegria.

Então o Honrado Pelo Mundo disse a Shariputra, “Três vezes expuseste o teu veemente pedido. Que posso fazer senão ensinar? Agora deves ouvir com atenção e ponderar cautelosamente. Irei analisar e explicar o assunto.”


Quando acabou de dizer estas palavras, uns quinhentos monges, monjas, irmãos e irmãs leigos imediatamente se levantaram dos seus lugares, fizeram uma vénia ao Budha e retiraram-se. Por que razão? Estas pessoas tinham numerosas e profundas raízes de culpa, e eram ainda soberbas e arrogantes. Presumiam ter alcançado o que ainda não tinham alcançado e supunham compreender o que não tinham compreendido. E por terem esta falha, não ficaram nos seus lugares.

O Honrado Pelo Mundo ficou silencioso e não tentou demovê-los.


Nessa altura o Budha disse a Shariputra, “Agora esta minha assembleia está livre de ramos e folhas, constituída apenas pelo que é firme e seguro. Shariputra, é bom que estas pessoas de arrogância intolerante tenham saído. Agora ouve com cuidado que vou dar-te o ensinamento.”

Shariputra disse, “Assim seja. Estamos desejosos de ouvir!”

O Budha disse a Shariputra, “Uma Lei maravilhosa como esta é ensinada pelos Budhas, os Tathagatas, em certas ocasiões. Mas tal como o florir da udumbara, esses momentos são muito raros. Shariputra, tu e os outros devem acreditar em mim. As palavras que o Budha profere não são ocas ou falsas.

“Shariputra, os Budhas expõe a Lei de acordo com o que é apropriado, mas o seu significado é difícil de compreender. Porque é assim? Porque nós empregamos incontáveis meios hábeis, discutindo causas e condições e usando metáforas e parábolas para expor os ensinamentos. Esta Lei não é susceptível de ser entendida pela ponderação e análise. Apenas Budhas podem entendê-la. Porquê? Porque os Budhas, os Honrados Pelo Mundo, aparecem no mundo por uma só grande razão. Shariputra, o que significa dizer que os Budas, os Honrados Pelo Mundo, aparecem no mundo por uma só grande razão?

“Os Budhas, os Honrados Pelo Mundo, desejam abrir a porta da sabedoria de Budha a todos os seres viventes, para lhes permitir que alcancem a pureza. É por isso que aparecem no mundo. Desejam acordar os seres viventes para a sabedoria de Budha, e por isso aparecem no mundo. Desejam induzir os seres viventes a entrar no caminho da sabedoria de Budha, por isso aparecem no mundo. Shariputra, esta é a grande e única razão pela qual os Budhas aparecem no mundo.”

O Budha disse a Shariputra, “Os Budhas, os Tathagatas, simplesmente ensinam e convertem os Bodhisattvas. Tudo o que fazem é em todas as ocasiões motivado por este propósito. Querem simplesmente mostrar a sabedoria de Buda aos seres viventes e despertá-los para ela.

“Shariputra, os Tathagatas têm apenas um veículo de Budha que empregam de modo a ensinar a Lei aos seres viventes. Não têm qualquer outro veículo, nenhum segundo ou terceiro. Shariputra, a Lei exposta pelos Budas das dez direcções é igual a esta.

“Shariputra, os Budhas do passado usaram meios hábeis em número infinito, várias causas e condições, metáforas e parábolas, de modo a exporem as doutrinas em benefício dos seres viventes. Estas doutrinas são ensinadas em prol do único veículo de Budha. Estes seres viventes, ao ouvirem as doutrinas dos Budhas, estão todos eventualmente aptos a alcançar a sabedoria que abarca todas as espécies.

“Shariputra, quando os Budhas do futuro fizerem a sua aparição no mundo, também eles usarão meios hábeis em número infinito, várias causas e condições, metáforas e parábolas de modo a exporem as doutrinas em benefício dos seres viventes. Estas doutrinas serão ensinadas em prol do único veículo de Budha. Estes seres viventes, ao ouvirem as doutrinas dos Budhas, estarão todos eventualmente aptos a alcançar a sabedoria que abarca todas as espécies.

“Shariputra, os Budhas, os Honrados Pelo Mundo, que existem presentemente nas incontáveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de terras de Budha, nas dez direções, beneficiam e trazem paz e felicidade aos seres viventes. Também estes Budhas usam meios hábeis em número infinito, várias causas e condições, metáforas e parábolas, de modo a exporem as doutrinas em benefício dos seres viventes. Estas doutrinas são ensinadas em prol do único veículo de Budha. Estes seres viventes, ao ouvirem as doutrinas dos Budhas, estão todos eventualmente aptos a alcançar a sabedoria que abarca todas as espécies.

“Shariputra, estes Budhas simplesmente ensinam e convertem os Bodhisattvas. Eles fazem-no pois querem mostrar a sabedoria de Buda aos seres viventes. Eles fazem-no pois desejam usar a sabedoria de Budha para iluminar os seres viventes. Eles fazem-no porque desejam levar os seres viventes a entrar no caminho da sabedoria de Buda.

“Shariputra, também irei agora fazer o mesmo. Sei que os seres viventes têm variados desejos e apegos que estão profundamente implantados nas suas mentes. Tendo noção desta sua natureza básica, irei por isso usar várias causas e condições, metáforas e parábolas e o poder dos meios hábeis e expor-lhes a Lei. Shariputra, faço isto para que todos possam alcançar o único veículo de Buda e a sabedoria que abarca todas as espécies.


“Shariputra, quando a era é impura e os tempos caóticos, as impurezas dos seres viventes são graves, são gananciosos e invejosos lançando raízes malsãs. Por isso, os Budhas utilizam o poder dos meios hábeis, aplicam distinções ao único veículo de Budha e ensinam como se existissem três.

“Shariputra, se algum dos meus discípulos presumir que é um arhat ou um pratyekabuda e ainda assim não tiver noção nem compreender que os Budhas, os Tathagatas, simplesmente ensinam e convertem os Bodhisattvas, então ele não é meu discípulo, nem arhat nem pratyekabuda.

“E ainda, Shariputra, se houver monges ou monjas que presumam terem já alcançado o estado de arhat, estarem na sua última encarnação, terem atingido o nirvana final e que portanto não tenham intenção de procurar anuttara-samyak-sambodhi, então deves saber que pessoas como essas são de suprema arrogância. Porque digo isto? Porque se forem monges que verdadeiramente tenham alcançado o estado de arhat, então é impensável que não acreditem nesta Lei. A única excepção seria num tempo em que o Buda se tivesse já extinguido, quando não houvesse qualquer Budha presente no mundo. Porquê? Porque depois de o Budha se ter extinguido será muito difícil encontrar alguém capaz de abraçar, recitar e compreender o sentido de sutras como este. Mas se nessa altura as pessoas encontrarem outro Buda, então obterão um entendimento decisivo no que respeita a esta Lei.

“Shariputra, tu e os outros devem acreditar e aceitar as palavras dos Budhas com uma única mente. As palavras dos Budas, os Tathagatas, não são ocas nem falsas. Não existe outro veículo, há um só veículo de Budha.

“Então, o Honrado Pelo Mundo, desejando declarar uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:

Existem monges e monjas
que se comportam com suprema arrogância,
leigos cheios de auto estima,
leigas falhas de fé.
Entre os quatro tipos de crentes, os iguais a estes
são cinco mil.
Não vêm os seus erros,
são descuidados e negligentes no que respeita aos preceitos,
vapegados aos seus defeitos e sem vontade de mudar.
Mas estas pessoas de diminuta sabedoria já se foram embora;
o joio desta assembleia
retirou-se perante a autoridade do Budha.
Estas pessoas eram pobres de mérito e virtude,
incapazes de receber esta Lei.
Esta assembleia está agora livre de ramos e folhas,
composta apenas pelo que é firme e seguro.
Shariputra, ouve cuidadosamente
como esta Lei foi obtida pelos Budhas
e como eles a ensinam em prol dos seres viventes
através do poder de incontáveis meios hábeis.
Os pensamentos que estão na mente dos seres viventes,
os diferentes caminhos por eles seguidos,
os variados desejos e naturezas,
as boas e más acções por eles praticadas em suas prévias existências -
de tudo isto o Budha toma conhecimento
e então emprega causalidades, metáforas e parábolas,
palavras que incorporam o poder dos meios hábeis,
de forma a agradar e alegrar a todos.
Por vezes ensina sutras,
versos, histórias das vidas passadas de discípulos,
histórias de vidas passadas do Budha, de coisas sem precedentes.
Noutras alturas ensina atendendo a causas e condições,
usa metáforas e parábolas, passagens de poesia
ou discursos.
Para aqueles de escassas capacidades
que se deleitam na pequena Lei,
que avidamente se apegam ao nascimento e à morte,
e apesar dos inumeráveis Budhas,
não praticam a profunda e maravilhosa Lei
mas estão perplexos e confusos por uma miríade de problemas -
para esses ensina o nirvana.
Crio estes meios hábeis
e assim faço-os entrar na sabedoria de Budha.
Até agora nunca vos disse
que vós certamente ireis atingir a via de Budha.
A razão de nunca ter ensinado dessa forma
foi não ter ainda chegado o momento para isso.
Mas agora é o tempo certo
em que devo ensinar decididamente o Grande Veículo.
Uso estes nove expedientes,
adaptando-os aos seres viventes enquanto ensino,
sendo o meu objectivo conduzi-los ao Grande Veículo,
e é por isso que ensino este sutra.
Estes são filhos de Budha cujas mentes são puras,
que são serenas e de apuradas capacidades,
que sob os auspícios de inumeráveis Budhas
praticaram a profunda e maravilhosa via.
Para estes filhos de Buda transmito este sutra do Grande Veículo.
E prevejo que estas pessoas
numa futura existência atingirão a via de Budha.
Porque no mais íntimo deles mesmos pensam no Budha
e praticam e mantêm os preceitos,
estão certos de alcançar o estado de Budha
e ouvindo isto, os seus corpos são inundados de grande alegria.
O Buda conhece as suas mentes e práticas
e por isso lhes ensina o Grande Veículo.
Quando os ouvintes e os bodhisattvas
ouvem esta Lei que eu ensino,
assim que ouvem um só verso
todos sem qualquer dúvida ficam certos de atingir o estado de Budha.
Nas terras de Budha das dez direções
só existe a Lei do veículo único,
não há dois, não há três,
exceto quando o Budha assim ensina como um meio hábil,
empregando nomes e termos provisórios
unicamente para conduzir e guiar os seres viventes
e ensinar-lhes a sabedoria de Budha.
Os Budhas aparecem no mundo
apenas por esta razão, que é verdadeira;
as outras duas não o são.
Nunca usam um veículo inferior
para salvar os seres viventes e levá-los na travessia.
O próprio Buda reside neste Grande Veículo
e adornado com o poder da meditação e da sabedoria
que acompanha a Lei por ele obtida,
ele usa-o para salvar os seres viventes.
Ele próprio é testemunha da via insuperável,
o Grande Veículo, a Lei na qual todas as coisas são iguais.
Se usasse um veículo inferior
para converter ainda que fosse uma só pessoa,
seria culpado de agressão e ganância,
mas tal coisa seria impossível.
Se uma pessoa acreditar e tomar refúgio no Budha,
Tathagata nunca a engana,
nem alguma vez mostrará ganância ou ciúme.
Porque exterminou o mal de entre os fenômenos.
Por isso através das dez direções
apenas o Budha é desprovido de medo.
Adorno o meu corpo com as características especiais
e faço brilhar a minha luz sobre o mundo.
Sou honrado por inumeráveis multidões
e para elas ensino a insígnia da realidade das coisas.
Shariputra, deves saber
que no início fiz um voto,
esperando tornar todas as pessoas
iguais a mim, sem qualquer distinção entre nós,
e o que há muito esperava
foi agora consumado.
Converti todos os seres viventes
e fi-los entrar na via de Budha.
Se, quando encontro seres viventes,
lhes ensinasse apenas a via de Budha
os que não possuem sabedoria ficariam embaralhados
e na sua confusão seriam incapazes de aceitar os meus ensinamentos.
Sei que esses seres viventes nunca no passado cultivaram boas raízes
mas antes se apegaram obstinadamente aos cinco desejos,
e a sua loucura e ânsia deram origem à aflição.
Os desejos são a causa pela qual caem nos três maus caminhos,
permanecendo no ciclo dos seis reinos de existência
e padecendo toda a sorte de sofrimentos e dores.
Existência após existência eles crescem
do ventre ao cemitério.
Pessoas de escassa virtude e pequeno mérito,
são perturbados e assolados por inúmeros sofrimentos.
Extraviam-se pela densa floresta das visões errôneas,
discutindo o que existe ou o que não existe
e no final apegando-se a essas visões,
abraçando todas as sessenta e duas.
Estão constantemente comprometidos com falsas e vãs doutrinas,
agarrados firmemente a elas, incapazes de as pôr de lado.
Arrogantes e ufanos de auto estima,
aduladores e invejosos, de mente insincera,
durante mil, dez mil, um milhão de kalpas
não ouvirão o nome de Budha,
nem ouvirão a correta Lei -
essas pessoas são difíceis de salvar.
Por estas razões, Shariputra,
estabeleci, para o seu bem, meios hábeis,
ensinando a via que põe um fim a todo o sofrimento
e mostrando-lhes o nirvana.
Mas, embora lhes exponha o nirvana,
essa não é a verdadeira extinção.
Todos os fenômenos, desde o mais remoto,
trazem sempre consigo as marcas
da extinção tranquila.
Uma vez consumadas estas práticas, os filhos de Budha,
numa existência futura, estarão aptos a tornar-se Budhas.
Empreguei o poder dos meios hábeis
para expor e demonstrar esta doutrina dos três veículos,
mas os Honrados Pelo Mundo
sempre ensinam a via do único veículo.
Agora, perante esta grande assembleia,
devo esclarecer todas as dúvidas e perplexidades.
Não existe discrepância nas palavras dos Budhas,
há apenas um veículo, não dois.
Por inumeráveis kalpas no passado,
incontáveis Budhas que agora estão extintos,
cem, mil, dez mil, milhões em número incalculável -
esses Honrados Pelo Mundo,
usando diferentes tipos de causas, metáforas e parábolas
e o poder de incontáveis meios hábeis,
expuseram as características dos ensinamentos.
Todos estes Honrados Pelo Mundo
expuseram a doutrina do veículo único,
convertendo incontáveis seres viventes
e fazendo-os entrar na via de Budha.
Todos estes grandes Senhores da Sabedoria,
conhecendo os desejos mais profundos
dos seres celestiais e humanos e dos outros seres viventes
de todos os universos,
empregaram ainda outros meios hábeis
para ajudar a iluminar a suprema verdade.
Se existem seres viventes
que encontraram estes Budhas do passado,
e se escutaram a sua Lei, ofereceram esmolas,
mantiveram os preceitos, mostrando tolerância,
sendo assíduos, praticando meditação e sabedoria, e nesse sentido,
cultivaram vários tipos de mérito e virtude,
pessoas como estas
atingiram todas a via de Budha.
Após estes Budhas se terem extinto,
se existirem pessoas de mente boa e serena,
então esse tipo de seres viventes
atingiram todos a via de Budha.
Depois dos Budas se terem extinguido,
se fizerem oferendas às relíquias,
erigindo dez mil ou um milhão de variedades de torres votivas,
usando ouro, prata, cristal,
madrepérola e ágata,
coral, lápis-lazúli, pérolas,
para as purificar e adornar extensamente,
ou se construírem templos mortuários de pedra,
ou de sândalo ou aloés,
hovénia ou outros tipos de madeira,
ou de tijolo, terracota ou argila,
se no meio dos vastos campos
amontoarem terra para fazer um templo mortuário para os Budas,
ou mesmo se crianças a brincar
juntarem areia para fazer uma torre votiva,
então, pessoas como estas
atingiram todas a via de Buda.
Se existirem pessoas que em prol dos Budhas
criem e construam imagens,
esculpindo-as com os trinta e dois sinais distintivos,
então todos terão atingido a via de Budha.
Ou se fizerem as imagens com os sete tesouros,
ou com cobre, estanho, chumbo, bronze,
madeira, barro ou resina,
para representar e adornar imagens de Budha,
pessoas como essas alcançaram todas a via de Budha.
Se eles empregarem pigmentos para pintar imagens de Budha,
conferindo-lhes os cem sinais sagrados,
feitas por si ou encomendadas a outros,
então terão todos alcançado a via de Budha.
Mesmo se crianças a brincar
usarem folhagem ou galhos,
ou mesmo com a unha
riscarem imagens de Budha,
pessoas como essas
pouco a pouco irão acumulando mérito
e tornar-se-ão inteiramente dotadas de uma mente compassiva;
todos eles alcançaram a via de Budha.
Simplesmente pela conversão dos bodhisattvas
elas trazem a salvação e o alívio a inumeráveis multidões.
E se alguém, na presença dessas torres votivas,
essas imagens de jóias ou figuras pintadas,
com uma mente reverente fizer ofertas
de flores, incenso, faixas ou dosséis,
ou se contratarem músicos para tocar,
batendo tambores, soprando trompas ou conchas,
tocando flautas, alaúdes ou harpas,
tangendo guitarras, címbalos e gongos,
e se essas variadas e maravilhosas notas
forem entendidas como oferendas;
ou se alguém com uma mente radiante
cantar uma canção em louvor à virtude de Budha,
mesmo que apenas uma curta nota,
todos os que assim procedem alcançaram a via de Budha.
Se alguém com uma mente confusa e distraída,
pegar nem que seja numa flor
e a oferecer a uma imagem,
um dia acabará por ver inumeráveis Budhas.
Ou se uma pessoa fizer uma vênia
ou se prestar obediência,
ou simplesmente juntar as palmas das mãos,
ou apenas levantar uma só mão,
ou conceder não mais do que um ligeiro aceno de cabeça,
e se isto for oferecido a uma imagem,
então a seu tempo ele chegará a ver incontáveis Budhas.
E se ele mesmo alcançar a via insuperável
e espalhar a salvação por incontáveis multidões,
ele entrará no nirvana não residual
tal como um fogo se extingue quando se esgota o combustível.
Se pessoas com mentes confusas e distraídas
entrarem em torres votivas
e uma vez exclamarem, “Homenagem aos Budhas!”
então terão alcançado a via de Budha.
Se dos Budas passados,
quando ainda estavam no mundo ou uma vez extintos,
eles ouvirem nem que seja o nome da Lei,
ventão todos terão alcançado a via de Budha.
Os Honrados Pelo Mundo do futuro,
cujo número será incalculável,
esses Tathagatas
também empregarão meios hábeis para ensinar a Lei,
e todos estes Tathagatas,
através de incontáveis meios hábeis
salvarão e trarão alívio aos seres viventes,
de modo a que estes entrem na sabedoria de Budha
que é livre de imperfeições.
Se houver quem ouça a Lei,
então nem um deixará de atingir a Iluminação.
O voto original dos Budhas
foi de que a via de Budha, por eles mesmos praticada,
seja partilhada universalmente entre os seres viventes
de modo a que também eles possam alcançá-la da mesma forma.
Os Budhas de eras futuras,
ainda que ensinem centenas, milhares, milhões,
incontáveis doutrinas,
na verdade fazem-no em prol do veículo único.
Os Budhas, mais honrados de entre os humanos,
sabem que os fenômenos não têm natureza constante e permanente,
que a semente da Iluminação brota da causalidade,
e por essa razão eles ensinam o veículo único.
Mas que estes fenómenos são parte de uma Lei perpétua
e as características do mundo são sempre manifestas -
isto eles ficaram a conhecer no lugar da iluminação
e como líderes e mestres eles utilizam meios hábeis.
Os Budas actuais das dez direções,
a quem os seres celestiais e humanos fazem oferendas,
que em número são como as areias do Ganges,
apareceram no mundo
de modo a trazer a paz e o conforto aos seres viventes,
e também eles ensinam a Lei desta forma.
Compreendem a verdade original da extinção tranquila
e por isso usam o poder dos meios hábeis
e embora indiquem vários caminhos diferentes,
na verdade fazem-no em prol do veículo de Budha.
Eles entendem as acções dos seres viventes,
os pensamentos que jazem no fundo das suas mentes,
as acções cometidas no passado,
os desejos, a natureza, o poder dos seus esforços,
se as suas capacidades são apuradas ou fracas,
e assim empregam várias causas e condições,
metáforas, parábolas e outras palavras e frases,
adoptando quaisquer meios hábeis que sejam adequados ao seu
ensinamento.
Agora também sou assim;
por forma a trazer paz e conforto aos seres viventes
emprego várias doutrinas diferentes
para disseminar a via de Budha.
Através do poder da minha sabedoria
sei a natureza e os desejos dos seres viventes
e com meios hábeis exponho estas doutrinas,
fazendo com que todos os seres viventes alcancem contentamento e alegria.
Shariputra, deves compreender
que vejo as coisas através do olho de Budha,
vejo os seres viventes nos seis reinos,
quão pobres e angustiados são, sem mérito ou sabedoria,
como entram na perigosa estrada do nascimento e da morte,
os seus sofrimentos continuando sem cessar,
quão profundamente apegados estão aos cinco desejos,
como um iaque enamorado da sua cauda,
cegando-se com a ganância e a presunção,
a sua visão deteriorada até nada conseguirem ver.
Eles não procuram o Budha, com o seu grande poder,
ou a Lei que pode pôr fim aos seus sofrimentos,
mas embrenham-se em noções erróneas,
esperando libertar-se do sofrimento com mais sofrimento.
Pelo bem destes seres viventes gero uma mente de grande compaixão.
Quando no início ocupei o lugar da iluminação,
pelo espaço de três vezes sete dias ponderei este assunto,
fitando a árvore aí existente e andando à sua volta.
A sabedoria que obtive, pensei,
é sutil, maravilhosa e suprema,
mas os seres viventes estão embotados pela ignorância,
dependentes do prazer e cegos pela estupidez.
Com pessoas como estas,
que posso dizer, como posso salvá-las?
Nessa ocasião os reis Brahma,
em conjunto com o rei celestial Shakra,
os Quatro Reis Celestiais que guardam o mundo
e o rei celestial Grande Liberdade,
na companhia de outros seres celestiais
e das suas centenas de seguidores,
juntaram reverentemente as palmas das mãos e prostraram-se,
rogando-me que fizesse girar a roda da Lei.
De imediato pensei para comigo
que se meramente louvasse o veículo de Budha,
os seres viventes, atolados no seu sofrimento,
seriam incapazes de acreditar nesta Lei.
Assim, por rejeitarem a Lei e não crerem nela, cairiam nos três maus caminhos.
Seria melhor que não ensinasse a Lei
mas antes entrasse rapidamente no nirvana.
Então os meus pensamentos viraram-se para os Budhas do passado
e para o poder dos meios hábeis por eles empregues,
e pensei que a via que tinha então alcançado
devia igualmente ser ensinada como três veículos.
Quando assim pensei,
todos os Budhas das dez direcções me apareceram
e com sons Brahma confortaram-me e instruíram-me.
“Muito bem, Shakyamuni!” disseram eles.
“Supremo líder e mestre,
alcançaste a Lei insuperável.
Mas seguindo o exemplo de todos os outros Budhas,
empregarás o poder dos meios hábeis.
Nós também obtivemos a mais maravilhosa, a suprema Lei,
mas em prol dos seres viventes
fazemos distinções e ensinamos os três veículos.
Pessoas de pequena sabedoria deleitam-se numa pequena Lei,
incapazes de acreditar que eles mesmos se podem tornar Budhas.
Por isso empregamos meios hábeis,
fazendo distinções e expondo vários objectivos,
Mas ainda que ensinemos os três veículos,
fazemo-lo por forma a instruir os bodhisattvas.”
Shariputra, deves entender isto,
quando ouvi estes santos leões
e a sua profunda, pura, subtil, maravilhosa voz,
rejubilei e a chorar disse “ Homenagem aos Budhas!”
Então pensei para comigo,
vim a este impuro e malévolo mundo
e de acordo com o que estes Budhas ensinaram,
devo agir segundo o seu exemplo.
Após ter tido estes pensamentos
segui de imediato para Varanasi.
As marcas da extinção tranquila de todos os fenómenos
não podem ser expressas por palavras,
por isso usei o poder dos meios hábeis
para ensinar os cinco ascetas.
A isto chamei “girar a roda da Lei”,
também utilizei os sons “nirvana”,
“arhat”, “Dharma” e “Sangha” -
vários termos para indicar distinções.
“Desde há infinitos kalpas no passado
tenho elogiado e ensinado a Lei do nirvana,
pondo fim ao longo sofrimento do nascimento e da morte.”
Assim costumo ensinar.
Shariputra, deves saber isto,
quando olhei para os filhos de Budha,
vi incalculáveis milhares, dezenas de milhar, milhões
que decidiram seguir a via de Budha,
todos com uma mente respeitosa e reverente,
todos vindo ao encontro do lugar do Budha,
pessoas que no passado ouviram outros Budhas
e ouviram a Lei ensinada segundo meios hábeis.
De imediato pensei
que a razão do aparecimento do Tathagata
é ele poder expor a sabedoria de Budha.
Agora é precisamente o momento para isso.
Shariputra, deves compreender
que pessoas de fracas capacidades e pequena sabedoria,
apegadas às aparências, orgulhosas e arrogantes,
são incapazes de acreditar nesta Lei.
Agora , alegre e destemido,
ponho de lado francamente os meios hábeis,
e exponho unicamente a Via insuperável.
Quando os bodhisattvas ouvirem esta Lei,
serão libertados de todas os emaranhados da dúvida.
As doze centenas de Arhats,
também eles atingirão a Iluminação.
Seguindo o modelo que os Budhas
dos três tempos
empregam para expor a Lei,
farei agora da mesma forma,
ensinando a Lei que é isenta de distinções.
Os tempos em que os Budhas aparecem no mundo
são muito espaçados entre si
e difíceis de encontrar.
Mesmo quando aparecem no mundo
é-lhes difícil expor a Lei.
Através de incalculáveis, inumeráveis kalpas
é raro esta Lei ser ouvida
e alguém capaz de a ouvir é igualmente raro.
É como a flor da udumbara
que deleita o mundo, adorada por todos,
olhada como rara por seres celestiais e humanos,
e que aparece apenas uma vez em muitas eras.
Se uma pessoa ouve esta Lei,
se deleita com ela e a louva,
mesmo que profira apenas uma palavra,
faz com isso oferendas a todos os Budas dos três tempos.
Mas uma pessoa assim é rara de encontrar,
mais do que a flor da udumbara.
Não deveis ter dúvidas,
sendo o rei das doutrinas,
faço esta proclamação a toda a grande assembleia.
Emprego apenas a via do veículo único
para converter e instruir os bodhisattvas,
não tenho discípulos ouvintes.
Tu, Shariputra,
e todos os ouvintes e bodhisattvas,
devem compreender que esta maravilhosa Lei
é o segredo essencial dos Budas.
Neste mundo maligno das cinco impurezas
esses que apenas se apegam aos desejos
deleitando-se com eles,
seres viventes como esses,
no final nunca procurarão a via de Budha.
Quando pessoas malévolas de eras futuras
ouvirem o Buda expor o veículo único,
ficarão confusas, sem o acreditar ou aceitar,
rejeitarão a Lei e cairão nos maus caminhos.
Mas quando existirem pessoas modestas e puras,
determinadas a procurar a via de Budha,
então, para o bem deles,
devo louvar a via do veículo único.
Shariputra, deves entender isto,
assim é a Lei dos Budhas.
Empregando dez mil, um milhão de meios hábeis,
eles ensinam a Lei de acordo com o que é apropriado.
Os que não são versados neste assunto
não podem compreender inteiramente.
Mas tu e os outros já sabem
como os Budas, os mestres do mundo, empregam meios hábeis
de acordo com o que é apropriado.
Não tereis mais dúvidas ou perplexidades
mas, com as mentes plenas de alegria,
sabereis que vós mesmos haveis de atingir o estado de Budha.

Fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt

Abraço. Davi.

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