sexta-feira, 1 de julho de 2016

UPANISHAD. KATHA. PARTE I.



Om (...).
Que Brahman nos proteja.
Que ele nos guie.
Que nos dê força e entendimento correto.
Que o amor e a harmonia estejam com todos nós.
Om (...) Paz -  paz – paz.

Hinduísmo. Upanishad. Katha De acordo com a versão inglesa de Swami Prabhavananda e Frederick  Manchester. “Em determinada ocasião, Vajasrabasa, esperando obter um favor divino, executou um ritual que exigia que ele se desfizesse de todos os seus bens. Ele teve  cuidado, porém de sacrificar somente o seu gado e, dele, somente os animais inúteis – os velhos, os estéreis, os cegos e os aleijados. Ao observar essa avareza, Nachiketa, seu filho mais novo, cujo coração havia recebido a verdade ensinada nas escrituras, disse para si mesmo. “Certamente, um devoto que ousa levar presentes tão inúteis está destinado à total escuridão!” Refletindo assim, dirigiu-se ao pai e falou: Pai, eu também vos pertenço: para quem me dareis? Seu pai não respondeu, porém, quando Nachiketa repetiu a pergunta uma e outra vez, ele replicou impacientemente. Eu vos darei a Morte! Nachiketa disse então para si mesmo. Sou de fato o melhor dentre os filhos e discípulos de meu pai, ou estou, pelo menos, na categoria intermediária, não na pior, porém, de que valor serei para o Rei da Morte? Estando, porém, determinado a seguir a palavra do pai, disse: Pai, não vos arrependais da vossa promessa! Considerai como tem acontecido com aqueles que partiram antes, e como será com aqueles que vivem agora. Como o milho, um homem amadurece e cai ao solo, como o milho, ele brota novamente na estação propícia. Após falar assim, o rapaz viajou para a casa da Morte. Porém o deus não estava em casa, e Nachiketa esperou durante três noites. Quando finalmente o Rei da Morte voltou, seus servos lhe disseram: Um Brahmin, parecido com uma chama de fogo, chegou à vossa casa como hóspede, e vós não estáveis aqui. Desse modo, uma oblação (oferenda a Deus) deverá ser feita a ele. Oh! Rei, devereis receber vosso hóspede com todos os rituais costumeiros, pois se o chefe de uma casa não mostrar a devida hospitalidade a um Brahmin, perderá o que mais preza, os méritos das suas boas ações, sua integridade, seus filhos e seu gado. O Rei da Morte, então, aproximou-se de Nachiketa e deu-lhe as boas vindas com palavras polidas. O Brahmin, disse ele: Eu vos saúdo. Vós sois de fato um hóspede digno de todo respeito. Permiti, eu vos imploro, que nenhum mal cais sobre mim! Passastes três noite em minha casa e não recebestes minha hospitalidade: pedi, portanto, três dádivas, uma para cada noite. Oh! Morte, replicou Nachiketa, que assim seja. E como primeira dessas dádivas peço que meu pai não fique ansioso a meu respeito, que sua ira se acalme, e que, quando me mandardes de volta, ele me reconheça e me dê as boas vindas. Pela minha vontade, declarou a Morte, vosso pai vos reconhecerá e vos amará como antes, e, ao ver-vos vivo novamente, ficará com a mente tranquila, e dormirá em paz. Nachiketa então disse: No céu não há medo de modo algum. Vós, O Morte, não estais lá, nem naquele lugar onde o pensamento de ficar velho faz com que a pessoa estremeça. Lá, livres da fome e da sede, e longe do alcance da dor, todos rejubilam e são felizes. Vós conheceis, O Rei, o sacrifício do fogo que leva ao céu. Ensinai-me esse sacrifício, pois estou cheio de fé. Esse é o meu segundo desejo. Consentindo, então, a Morte ensinou ao rapaz o sacrifício do fogo, e todos os rituais, e todos os rituais e cerimoniais que o acompanhavam. Nachiketa repetiu tudo o que havia aprendido, e a Morte, satisfeita com ele, disse: Vou conceder-vos uma dádiva adicional. A partir de hoje esse sacrifício será denominado Sacrifício Nachiketa, em vossa homenagem. Escolhei agora vossa terceira dádiva. Nachiketa, então, pensou consigo mesmo, e disse: Quando um homem morre, há esta dúvida. Alguns dizem que ele existe, outros dizem que ele não existe. Se vós me ensinásseis, eu conheceria a verdade. Esse é o meu terceiro desejo. Não, replicou a Morte, mesmo os deuses certa vez ficaram intrigados com esse mistério. A verdade com relação a isso é realmente sutil, não é fácil de ser compreendida. Escolhei alguma outra dádiva, Oh! Nachiketa. Porém, Nachiketa não quis aceitar a recusa. Vós dizeis, OH! Morte, que mesmo os deuses certa vez estiveram intrigados com esse mistério, e que ele não é fácil de ser compreendido. Certamente, não há melhor mestre para explica-lo  do que vós, e não existe outra dádiva igual a essa. O deus replicou, mais uma vez tentando Nachiketa. Pedi filhos e netos que viverão cem anos. Pedi gado, elefantes, cavalos, ouro. Escolhei para vós um poderoso reino. Ou, se não puderdes imaginar algo melhor, pedi isto não apenas doces prazeres, mas também o poder, além de qualquer pensamento, para experimentar sua doçura. Sim verdadeiramente, farei de vos o supremo desfrutador de todas as coisas boas. Donzelas celestiais, de beleza excepcional, que não foram destinadas a mortais, mesmo essas, com suas carruagens e seus instrumentos musicais, eu vos darei, para vos servirem. Não me peçais, porém, Oh! Nachiketa o mistério da morte. Nachiketa, contudo, manteve-se firme e disse: Essas coisas durarão somente até o dia seguinte. OH! Destruidor da Vida, e os prazeres que elas conferem desgastam os sentidos. Ficai, portanto, com os cavalos e as carruagens, com a dança e a música, para vós mesmo! Como poderá desejar a riqueza. Oh! Morte, aquele que uma vez já viu a vossa face? Não, apenas a dádiva que escolhi , somente isso eu peço. Tendo descoberto a companhia do imperecível e do imortal, como quando vos conheci, como poderei eu, sujeito à decadência e à morte, e conhecendo bem a vaidade da carne, como poderei desejar vida longa? Contai-me, Oh! Rei, o supremo segredo com relação ao qual os homens mantem dúvida. Não solicitarei qualquer outra dádiva. Com o que, o Rei da Morte, bem satisfeito em seu coração, começou a ensinar a Nachiketa o segredo da imortalidade. O Rei da Morte. O bem é uma coisas, o prazer é outra. Esses dois, diferindo em seus propósitos, incitam à ação. Abençoados são aqueles que escolhem o bem, aqueles que escolhem o prazer não atingem o objetivo. Tanto o bem como o prazer se apresentam ao homem. Os sábios, após examinarem ambos, distinguem um do outro. Os sábios preferem o bem ao prazer, os tolos, levados por desejos carnais, preferem o prazer ao bem. Vós, Oh! Nachiketa, após haverdes observado os desejos carnais, agradáveis aos sentidos, renunciastes a todos eles. Vós vos desviastes do caminho lamacento no qual muitos homens se atolam. Distantes um do outro, e levando a diferentes desígnios, encontram-se a ignorância e o conhecimento. Eu vos considero, Oh! Nachiketa, como alguém que anseia pelo conhecimento, pois uma infinidade de objetos agradáveis foram incapazes de tentar-vos. Vivendo no abismo da ignorância, embora julgando-se sábios, tolos iludidos dão voltas e voltas, cegos levados por cegos. Ao jovem irrefletido, enganado pela vaidade das posses terrenas, não é mostrado o caminho que leva à morada eterna. Somente este mundo é real: não existe depois, pensando assim, ele cai uma e outra vez, nascimento após nascimento, dentro das minhas mandíbulas. A muitos não é concedido ouvir sobre o Eu. Muitos, embora ouçam a respeito dele, não o compreendem. Maravilhoso é aquele que fala a respeito do Eu. Inteligente é aquele aprende a respeito do Eu. Abençoado é aquele que, tendo aprendido com um bom mestre, é capaz de compreendê-lo. A verdade do Eu não pode ser completamente compreendida quando ensinada por um homem ignorante, pois as opiniões a respeito dele, não fundamentadas no conhecimento, variam de um para outro. Mais sutil do que o mais sutil é esse Eu, e além de toda lógica. Ensinado por um mestre que saiba que o Eu e Brahman são um só, um homem deixa para trás a vã  teoria e atinge a verdade. O despertar que conhecestes não vem do intelecto, e sim, totalmente, dos lábios dos sábios. Bem amado Nachiketa, Abençoado, abençoado sois vós, porque procurais o Eterno. Quisera eu ter mais discípulos como vós! Bem sei que os tesouros terrestres duram pouco. Pois não fiz eu mesmo, desejando ser o Deus da Morte, o sacrifício com o fogo? O sacrifício, porém, foi uma coisa efêmera, realizada com objetos fugazes, e pequena é minha recompensa, considerando que meu reino só durará por um momento. A finalidade do desejo mundano, os objetos fulgurantes que todos os homens almejam, os prazeres celestiais que esperam obter através de rituais religiosos, tudo isso esteve ao vosso alcance. Porém, a tudo isso renunciastes, com firme resolução. O antigo, fulgurante ser, o Espírito que habita interiormente, sutil, profundamente oculto no lótus do coração, é difícil de ser conhecido. Porém, o homem sábio, que segue o caminho da meditação, conhece-o, e se torna liberto tanto do prazer como da dor”. Do Livro Os Upanishads. O Sopro Vital do Eterno. Abraço. Davi.

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