segunda-feira, 25 de julho de 2016

DUENDES E ELFOS.

Teosofia. Texto escrito por Geoffrey Hodson (1886-1983). Capítulo Um. DUENDES E ELFOS. Os duendes por mim estudados, embora variassem consideravelmente nos pormenores, sempre apresentaram certas características capazes de situá-los inequivocamente em sua própria família. Eles adotam sempre um estilo medieval de vestuário. Uma pequena túnica marrom, às vezes guarnecida por uma ampla gola debruada, botões brilhantes e debruns de cor verde, calções marrons, meias rústicas e dois tipos de calçados: ora uma “bota de lavrador”, longa e pesada, ora um sapato de bico fino, de confecção mais leve. O modo como ocorrem tais variações será visto através da descrição, fornecida adiante, da manufatura de um par de botas de duendes. A cabeça é geralmente coberta por uma touca longa e pontuda, se bem que, às vezes, um chapéu duro e de abas curtas substitua o barrete (capuz, gorro) de camurça mais comumente  usado. Grupos de duendes, absortos em suas ocupações, foram vistos usando aventais bastante semelhantes aos usados pelos ferreiros; fivelas e fechos brilhantes geralmente também fazem parte de seus equipamentos. Trabalhando, os duendes portam e simulam utilizar ferramentas, principalmente  pás e picaretas, com as quais eles cavam a terra com grande aplicação. Os duendes variam de compleição (temperamento):  os representantes de algumas tribos são baixos e atarracados, gordos e roliços, de membros curtos; já outros, são magros e de aparência jovial. A sua altura varia de dez a trinta  centímetro. O rosto é parecido com o de um velho, com sobrancelhas acinzentadas, barbas e bigodes, tez avermelhada, curtida pelo sol e pela chuva. Seus olhos são pequenos e redondos, de uma expressão cândida, cordial e bucólica. São, por natureza, criaturas comunicativas e amistosas, andam em bandos e, como a maioria das criaturas da fantasia, são altamente miméticos (parecidos) nos seus hábitos, nos seus modos de vestir, de brincar e de trabalhar. Seu elemento é a terra, possuindo eles muita coisa em comum com a simplicidade rústica do lavrador. Aparentemente, o tipo é de origem medieval, pelo menos o seu aspecto presente é com certeza modelado a partir do homem do campo daquele período. A função por eles desempenhada no processo da Natureza não é muito clara; são geralmente, encontrados na superfície do solo ou logo abaixo dele, entre as raízes de árvores e plantas. Pude observá-los enquanto cavavam a terra, com a maior solenidade, em volta das raízes das plantas em crescimento, mas como esta mesma expressão de simulação e seriedade afetada impregna todas as suas atividades, nunca se sabe ao certo se eles encaram os seus esforços como trabalho ou como passatempo. Os relatos que se seguem, baseados em diversas observações feitas em algumas ocasiões diferentes, podem nos ajudar a compreendê-los melhor. UMA ALDEIA DE DUENDES. Numa densa floresta de carvalhos, aveleiras e algumas faias. Lake District, 28 de junho de 1922. Na encosta escarpada de um dos penhascos da costa ocidental de Thirlmere – Austrália, existe uma grande colônia de duendes; vivem logo abaixo do nível do solo, mas passam o tempo tanto acima como abaixo da superfície. Avisto um certo número de casinhas minúsculas logo abaixo da superfície da colina. O seu formato é absolutamente perfeito e em sua maioria são de madeira e cobertas com palha, apresentando janelas e portas. Espalham-se irregularmente pela encosta da colina. Entre elas, em meio às raízes e rochas que as circundam, podem-se ver inúmeras figuras de duendes. O que se segue é uma tentativa de descrever um deles, escolhido ao acaso. Não ultrapassando mais que treze centímetros de altura, ele parece um velhinho, levando na cabeça um chapéu marrom talhado como uma touca de dormir e usando uma vestimenta também marrom, que consiste de um calção folgado, que os duendes parecem geralmente adotar, meias e botas. Seu rosto é coberto por uma barba acinzentada e transmite uma expressão de rusticidade antiga. Não se pode deixar de observar que eles simulam uma vida doméstica, muito embora eu não visse nenhuma figura feminina nesta aldeia de duendes. Os duendes literalmente fervilham por esta encosta da colina e diferem muito pouco entre si quanto a aparência, quanto a expressão ou a inteligência. Parecem estar apenas “evoluindo” por aqui. Eles se diferenciam de todos os outros duendes em sintonia com qualquer processo da Natureza; embora venerem as árvores, não parecem em absoluto servi-las. Um dos espíritos da Natureza mais pueris dentre os que “vivem” aqui aproxima-se de mim agora e, guardando uma distância de dois ou três metros à minha direita, passa a se “exibir’, com gestos extravagantes e humor simplório. É muito mais magro do que os outros duendes que aparentam o aspecto de velhos, e dele se desprende uma sensação de cor – um pouco de vermelho sobre o chapéu (que é cônico, com a ponta pendendo ligeiramente para trás) e um pouco de verde em seu costume marrom. É com dificuldade que posso identifica-lo com um duende. Seus pés acabam por se reduzir a um ponto, seus membros inferiores são finos e alongados e suas mãos grandes demais para o resto do corpo. Apoia a mão esquerda na cintura e com a direita aponta na direção da floresta, como se orgulhosamente exibisse as maravilhas do lugar. A esse orgulho acrescenta uma boa dose de presunção e de vaidade infantis. Seu rosto é bem barbeado e avermelhado, os olhos são pequenos, o nariz e o queixo pronunciados, a boca, já bastante larga, alarga-se ainda mais para um arreganho. Seus gestos e a sua postura são surpreendentes, pois é tamanha a flexibilidade do seu corpo que ele pode dobrar-se e estirar-se em quase todas as posições. Não consigo fazer com que ele se aproxime um pouquinho mais, pois de imediato começa a demonstrar apreensão. Parece inquieto, mas não, suponho, verdadeiramente atemorizado. A “aura” humana é dissonante para ele, e ao seu contato provavelmente perderia o equilíbrio. Por outro lado, constato como é etérea e frágil sua constituição, que possui menos consistência do que uma lufada de ar; não obstante, suas formas são claras e perfeitamente delineadas e todos os detalhes absolutamente nítidos. Voltando novamente a minha atenção para a comunidade dos duendes e esforçando-me para apreender alguns detalhes de sua vida, certas peculiaridades se destacam. Por exemplo, uma tentativa de observar o interior de suas moradas revelou, para a minha surpresa, que elas não possuíam nada dentro, pois quando alguém passava pela porta, não havia nada lá! A fachada exterior é absolutamente perfeita e muito pitoresca, mas o interior não é mais do que escuridão. Na verdade a ilusão de uma casa desaparece inteiramente quando a consciência dirige a atenção para o seu interior. Algumas linhas finas e ondulantes de magnetismo são tudo o que se pode ver. Os duendes, ao passarem pela porta, abandonam as suas formas de duendes e mergulham para o fundo da terra num estado relativamente informe. Todos parecem se julgar atarefados, precipitando-se pelo recinto com ares de seriedade – para mim, entretanto, tudo não passa de puro faz de conta. Parece não haver muita comunicação entre eles, sendo todos excessivamente auto suficiente. As casas não pertencem a nenhum indivíduo ou grupo – qualquer membro da colônia pode utilizá-las, limitando-se essa “utilização” meramente a passar para dentro e para fora através da porta. Certamente, eles sentem alguma satisfação em contemplar o exterior dessas casas. Entre os pertences desses duendes selváticos, não vejo nenhuma das ferramentas de trabalho, embornais ou aventais que notei em outras ocasiões. Parecem ser menos inteligentes e evoluídos, mais centrados em si mesmos e muito mais desprovidos de finalidade em sua existência do que quaisquer outros duendes com os quais já me deparei. A MORADA DE UM DUENDE. Preston – Inglaterra, janeiro de 1922. Por algumas semanas, minha esposa e eu nos apercebemos de presença de um espirito da natureza da família dos duendes dentro de nossa casa. Ele foi visto, a princípio, na cozinha, numa prateleira sobre o fogão, e, posteriormente no saguão e na sala de visitas. É um pouco diferente, por sua consciência e aspecto, dos duendes trabalhadores que até então tínhamos visto. Naquela tarde, ele entrou na sala de visitas, via porta fechada, através da qual ele havia sido visto passar e tornar passar. Começou a dar cambalhotas pela sala e o raio intermitente de luz etérica que acompanhava os seus rápidos deslocamentos atraiu minha atenção. Deduzi que tais movimentos expressavam sua satisfação pelo meu regresso, após uma ausência de três dias. Ele considera-se, naturalmente, um membro da família, não deixando de haver também a sugestão de que foi ele quem nos adotou. Esse estado de coisas deixa-o muito feliz, e assim ele consegue dar a impressão de pertencer ao lugar. Ele tem uns treze ou quinze centímetros de altura, usa um capuz marrom de formato cônico, de textura semelhante à da camurça, que pende para trás de sua cabeça. A sua fisionomia é radiante, esbelta e jovial, seus olhos são redondos e brilhantes, de cor marrom escuro. O pescoço é um pouco longo e fino demais para o nosso senso de proporções. A sua vestimenta é constituída por um jaleco justo, de cor verde, calções que vão até o joelho e meias cinza e marrons de material rústico. Nesse instante, ele está calçando um par de botas muito grandes, um tanto desproporcionais em relação ao seu corpo. Ele é bastante esperto, muito descontraído e obviamente tem alguma estima por nós, embora nem sempre nos apercebamos da sua presença. Concluo que a cozinha é o seu habita preferido e que, de alguma forma, a visão dos utensílios domésticos lhe agrada. Mais uma vez, ao contrário dos outros membros de sua espécie com que até então nos tínhamos deparado, ele não pertence a um bando, tampouco parece ter amigos ou parente. Quando eu disse isto, ele, sentado na mesma postura em que o encontrara quando comecei a descrevê-lo, olhou-me com um ar que exprimia plenamente que, pelo que lhe tocava, éramos nós os seus parentes e amigos. Ele encontra seus divertimentos e ocupações de maneira toda peculiar, e evidentemente possui em si mesmo tudo o de que necessita. A seu modo simples, ele idealizou a casa, o lar e os afazeres domésticos, e parece experimentar uma grande satisfação por sua ligação com isso. A sua inteligência é de uma infantilidade absurda; não possui  nenhuma faculdade de raciocínio e quase nada do que chamamos de instinto nos animais. Ele simplesmente representa algumas ocupações imaginárias e se diverte com elas, retirando-se, para isso, quase sempre a um canto e se fechando a tudo o que não pertença ao mundo de fantasia que criou para si. Este, aos meus olhos, se parece a uma névoa azul lavanda de fascínio, a envolvê-lo como um enorme casulo; nesse lugar, ele brinca como uma criança com seus blocos de armar. Ele tem consciência das nossas saídas e chegadas; demonstrou isso claramente numa ocasião recente, quando íamos deixar a casa por uns dez dias. Fora o efeito que exercem sobre ele as emanações humanas, não consigo encontrar qualquer outro motivo para a sua presença. E é certo que ele não faz a menor força para corresponder as lendas sobre a sua espécie e se entregar a algum tipo de ocupação doméstica! Embora ele não chegue a se materializar, é no entanto capaz de ampliar a sua visibilidade e de adotar, em vez da forma que descrevi, uma outra mais sutil. CONFECÇÃO DE UM PAR DE BOTAS DE DUENDE. Diante do monte Helvellyn – Inglaterra, novembro de 1921. Entre as criaturinhas que povoam essa encosta, a primeira a chamar a nossa atenção foi a de um velho duende que, mal tínhamos nos sentado, passou correndo por nós em direção a borda do pequeno pinheiral que havia as nossas costas. Tinha de quinze a vinte centímetros de altura e usava um comprido capuz pontudo, como um cone ligeiramente irregular, e um pequeno jaleco verde, pregueado na barra, que lhe caia sobre os quadris. Este tinha uma barra marro, fechado por botões, e uma grande gola parecida com um manto, também pregueada e bordada na barra; a sua vestimenta completava-se com uma calça curta. Os seus membros inferiores pareceram-me, a princípio, os de um elfo (isto e, longos e pontudos). Trazia longas barbas cinzentas e ralas, e tanto o seu rosto quanto o seu corpo pareciam mais magros e ascéticos do que os de um duende comum. Lembrou-me vagamente uma caricatura de Tio Sam, vestido com os trajes atribuídos a Falstaff (Ópera de Giusepp Verdi). Demonstrou um vivo interesse pelo nosso cachorro, chegando mesmo a aproximar-se do seu focinho sem qualquer temor. Parecia incapaz de reconhecer o grupo como um todo. Ele intuiu a presença dos seres humanos, mas o primeiro detalhe que o atraiu foi o par de botas que eu usava – umas botas de borracha, guarnecidas de lona na extremidade dos canos. Após contemplá-las fixamente, passou a fabricar para si uma imitação bastante fiel delas, que o encheu de orgulho. A sua própria representação mental bastava-lhe para cobrir os pés com uma cópia daquilo que estivera a contemplar com tanta admiração. Depois de caminhar pomposamente, como que para se acostumar a elas, ele finalmente dirigiu-se com passadas largas e decididas para a floresta. ELFOS. Minha experiência é bastante limitada, no que diz respeito aos elfos, e eu não conto senão com as duas descrições abaixo para oferecer como exemplos de um tipo que parece não ser muito comum naquelas regiões do país que visitei com o propósito de fazer investigações. Os elfos se distinguem dos outros espíritos da Natureza principalmente porque sua vestimenta não parece guardar qualquer semelhança com a indumentária humana, e também porque sua constituição corporal parece consistir de uma massa compacta de substância gelatinosa, e não apresentar qualquer estrutura interna. OS ELFOS DA FLORESTA. Sob as velhas faias da floresta de Cottingly – Inglaterra, agosto de 1921. Dois pequenos elfos da floresta passaram correndo pelo terreno que se estendia às nossas costas, enquanto nos sentávamos sobre um tronco de árvore caída. Ao nos verem, deram um salto, a uma distância de cerca de um metro e meio, e passaram a nos contemplar sem qualquer temor, antes, visivelmente divertidos. Pareciam estar inteiramente cobertos por uma espécie de casca justa e inteiriça, que brilhava como se estivesse malhada e apresentava um colorido semelhante ao da casca de uma árvore. Havia inúmeras figuras semelhantes a essas correndo pelo chão. Seus pés e mãos eram enormes, inteiramente desproporcionais ao resto do corpo. Suas pernas eram finas e suas grandes orelhas projetavam-se para o alto, para afinal se reduzir a um ponto, possuindo quase o formato de uma pera. Seus narizes também eram pontiagudos e as suas bocas bastante largas. No interior destas, não havia dentes, nem qualquer outra estrutura – nem mesmo uma língua, até onde se podia ver – como se o todo tivesse sido talhado a partir de uma substância gelatinosa. Uma tênue aura esverdeada os envolvia. Os dois exemplares que mereceram nossa atenção especial viviam em meio às raízes de uma imensa faia (floresta), e finalmente despareceram através de uma fenda, na qual penetraram como se entrassem numa caverna, e afundaram na terra. ELFOS DO LITORAL. Blackpool – Inglaterra, julho de 1921. Brincando na beira do mar, entre pedras e plantas marinhas, podem-se ver algumas criaturinhas estranhas, semelhantes aos elfos. Suas cabeças e orelhas são grandes, seus rostos são como os dos elfos, seus corpos pequenos e rotundos, suas pernas curtas e finas, terminando em pés que se parecem aos de um palmípede (que tem os dedos dos pés ligados a uma membrana). A sua altura varia de oito a quinze centímetros. São amistosos para com os seres humanos e não se perturbam em absoluto com a sua presença. Parecem evitar o mar. Do Livro O Reino dos Devas e dos Espíritos da Natureza. Abraço. Davi.

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