Teosofia. Prosseguindo em meu comentário sobre o livro As Eras Mais Primitivas da
Terra veremos alguns tópicos a partir da página 402. Lembrando que o
tema desse capítulo é a Teosofia. "Contudo, apesar de transformar-se em
espírito puro ou Deus, o indivíduo retém sua individualidade. Por isso,
ao invés de todos os seres finalmente fundirem-se no Um, o Um se torna
muitos". Aqui Pember entende que a doutrina teosófica nega a trindade
divina. O estudo de religiões comparadas mostram que algumas delas em
maior ou menor grau tem sua trindade divina. Isso é evidenciado no
Hinduísmo com Brahma, Vishnu e Shiva. Na tradição Egípcia temos Hórus,
Osíres e Ísis. A divindade Babilônica era constituída de Istar, Sin e
Shamash. Esse tema é controversa mesmo nas religiões monoteístas
(Cristianismo, Islamismo e Judaísmo), pois há variações quanto a deidade
do Filho e uma suposta representação feminina nesse âmbito. O Budismo é
considerado uma religião não teísta isso é afirma a existência de Deus e
sua ação providencial no mundo, mas não O concebe como pessoalidade
manifestada por atributos humanos. Não é o momento de falarmos
detalhadamente sobre esse assunto e fugiria do tema principal. Pember
cita Gênesis 3: 5 "E serei como Deus" insinuando negativamente que o
ensinamento teosófico enxerga Deus em tudo e em todos. É estranho esse
posicionamento, pois o próprio Mestre citou o Salmos 82: 6 "E eu disse
sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo". Na página 404 é falado.
"Desde que o príncipe deste mundo aparentemente determinou que já havia
chegado a hora de conseguir a mesma unanimidade em seu reino humano
(...) propagar essa filosofia evolucionária em terra". O argumento aqui é
que a filosofia teosófica baseada nas tradições orientais são do diabo e
estão arquitetando um plano maligno para tomar de assalto toda a terra.
Apesar da Sociedade Teosófica ter mais de 100 anos de existe (1875) os
adeptos não passam de 30.000 em todo o mundo incluindo mais de 800
brasileiros. Por causa do livre pensamento e tolerância religiosa a S.T.
sofre ataques e censuras. Se a obra de Deus é mensurada por quantidade
numérica essa generalização não se aplica nesse caso particular. No
trecho que se segue Pember furta-se a confrontar os argumentos da
teosofia com refutações racionais e lógicas usando na contradita um
dogmatismo aleatório e sem base científica, pois critica claramente a
doutrina da reencarnação citando São João 21: 22 "Se eu quero que ele
fique até que eu venha, que te importa", esse texto segundo a teosofia
tem implicações relacionadas a novos nascimentos. Pember se
escandalizaria ao ler na Cabala no livro Zohar o Salmos 19: 7 "A lei da
Torá é perfeita e faz voltar a alma". A alma humana volta a terra
renascendo em diversas formas dependendo da retificação ou reparação que
terá que fazer, pode vir como um mineral, vegetal, animal ou outro
humano. Pember insiste em não dialogar com outras tradições
espiritualistas. "O Senhor Jesus é descrito por São Paulo como o Capitão
da nossa salvação (Hebreus 2: 10), aperfeiçoado por meio do
sofrimento". Isso é verdade, mas São Paulo como iniciado na seita dos
fariseus em seu passado no judaísmo deve ter entrado em contato com a
tradição mística da cabala, mas resolveu omitir esse conceito
(reencarnação) para que fosse enfatizado o emergente cristianismo.
"Qualquer que seja o sexo da pessoa fisicamente, cada indivíduo é
dualista, composto de exterior e interior". Esse fragmento foi bastante
criticado por Pember, mas parece que ele desconhecia as apologias de
Platão (428 AC 348) quanto a criação do primeiro homem, pois no
pensamento desse filósofo andrógino o Adão do Jardim do Éden tinha
conjuntamente dois sexo o andro (homem) gyno (mulher), portanto era um
hermafrodita. O misticismo da Cabala judaica relata uma história bem
semelhante e Adão recebe o nome de Kadmo. O arquétipo do antropos o
homem primordial. Conta o mito que Zeus dividiu andrógino e assim
puderam se reproduzir livremente. Esse conceito da androgenia foi
importante para a fundamentação e desenvolvimento das nascente ciências
da psicologia e psicanálise no final do século XIX quanto ao
entendimento da sexualidade humana. Na página 410 há um lindo período
que diz: "Tal afirmação nos prepara para a declaração de que o
Cristianismo não é um rival do Budismo (...) sendo ambos parte de um
contínuo e harmonioso". Uma frase tolerante e condescendente que eu
queria que estivesse sido escrita por Pember nesse capítulo. "Aqueles
que buscam unir Buda a Jesus são do celestial e superior. Os que se
opõem são do astral e inferior. Entre os dois hemisférios, encontram-se o
domínio e a fé do Islamismo (...) como o cordão umbilical uni-los".
Evidentemente que o texto acima guardando as devidas proporções está sem
aplicação prática hoje, mas mostra o anseio de que um dia as barreiras
filosóficas e doutrinárias deem lugar a aceitação, compreensão e
respeito à tradição e ponto de vista do outro. "Nas palavras de
encerramento deste parágrafo, o leitor notará uma tentativa dissimulada
de tornar nula a promessa da volta do Senhor". O primeiro fundamento da
teosofica é a fraternidade universal expressa pelas virtudes humanas
direcionadas ao próximo bem como o cuidado e amor para com a natureza em
seus variados reinos. O segundo é a tolerância e respeito para com os
dogmas e tradições de todas as religiões sejam monoteístas, politeísta e
não teistas. Assim a promessa da volta do Senhor no Cristianismo ou o
advento do Messias no Judaísmo são verdadeiros no contexto doutrinário
de ambas. É lamentável que muitos de nós cristãos estamos mais
interessados na vinda do anti Cristo sendo de proporções realmente
mundiais como os teólogos imaginam que na própria volta do Senhor Jesus.
"Tanto espiritualistas quanto teosofistas, porém, têm uma aversão
especial a essas doutrinas (vinda do anti Cristo e volta do Senhor) e
estão ávidos por invalidar, por meio de explicações, qualquer Escritura
que se refira a elas". Os argumentos de "autoridade" usados por Pember
enfraquece suas hipóteses, mas impressionam o leitor menos esclarecido,
pois em nenhum momento dialoga ou cita alguns de seus párias para
confirmarem ou discordarem de seus pressupostos sobre esse tema da
teosofia. Concluiremos o assunto na terceira parte. Saúde. Davi.
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