Pretendo
concluir nessa exposição a seguir esse vastíssimo tema da Sabedoria Divina da
Gnose, que seriam necessário talvez todo um semestre para ficarmos debatendo
esse assunto. E provavelmente, fosse insuficiente esse tempo, mas os leitores
mais atentos devem ter percebido que trabalhei dentro de uma perspectiva
investigativa e de pesquisa. Esse tópico exige um especialista em filosofia
antiga de preferência com mestrado ou doutorado na área. Desse modo, suponho
que minhas limitações acadêmicas devem ter comprometido o desenvolvimento do
raciocínio central não alcançando uma concisão e coerências adequados. Entretanto precisava fazer essa tentativa, pois é impossível conhecer o
Pensamento Teosófico sem uma visão panorâmica da Sabedoria Antiga advinda dos primeiros
pensadores da humanidade. Eles com seus esforços e empenhos buscaram
compreender os mistérios da mente humana e os segredos da natureza
particularizada na criação divina. Então, dando seguimento, vamos mais a alguns
trechos do livro As Revelações Secretas da Religião Cristã de Annie Besant
(1847-1933) que estão na página 26 e 27 posteriormente os comentários. "A
mitologia e a Religião Comparada diferem entretanto na maneira de definir a
natureza desta origem. A mitologia afirma que a origem comum é uma ignorância
comum e que as religiões mais transcendentes são apenas a expressão
aperfeiçoada de ingênuas e bárbaras concepções de selvagens - homem primitivos
- referentes a sua própria existência e ao mundo que os rodeia. O animismo, o
fetichismo, o culto da natureza, o culto do sol tal é a vaga de onde emerge o
lírio esplêndido das religiões". Nesse trecho precisamos entender o
raciocínio de Besant, pois em sua época final do século XIX termos como
bárbaros e selvagens ainda eram usados em alusão a civilizações primitivas,
porém hoje a moderna antropologia abandonou esses vocábulos devido a sua forte
carga discriminatória e estereotipada. Esses vocábulos não revelam o cerne do
conceito sociológico, conquanto se percebe que esses indivíduos primitivos viviam
suas tradições e culturas contextualizadas em seu mundo visível e invisível.
Portanto era perfeitamente coerente a maneira deles se comportarem ante o
misticismo e espiritualidade que praticavam. Veja o que Levi Strauss
(1908-2009) diz em seu livro O Pensamento Selvagem parafraseando seria os
chamados selvagens não são atrasados - menos evoluídos - selvagens nem
primitivos apenas operam com o pensamento mítico - magia - que em termos de
operações mentais são comparáveis aos pensamentos científicos. Diferem quanto a
questões do determinismo causal, global e integral para o primeiro e em níveis
distintos não aplicáveis uns aos outros no pensamento científico. Igualmente o
mito e o rito não são simples lendas fabulosas, contudo uma organização da
realidade a partir da experiência sensível enquanto tal. Para explicar a
composição do mito Strauss organiza três características principais: A primeira
é a função explicativa. O presente é explicado por algumas ações passadas cujos
efeitos permaneceram no tempo. A segunda é a função organizativa. O mito
organiza as relações sociais de parentesco, de aliança, de troca, de sexo, de
identidade, de poder (...), de modo a legitimar e garantir a permanência de um
sistema complexo de proibições e permissões e por fim. A terceira é a função
compensatória em que o mito narra uma situação passada que é a negação do
presente e que serve tanto para compensar os humanos de alguma perde como para
garantir-lhes um erro passado. Desse modo corrigido no presente oferecendo uma
visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária. O termo
animismo aparenta ter sido desenvolvido inicialmente pelo cientista alemão
Georg Ernst Staht (1659-1734) por volta de 1720. Ele referiu-se ao conceito de
que a vida animal é produzida por uma alma imaterial. O antropólogo inglês
Edward B. Taylor (1832-1917) em 1871 na obra A Cultura Primitiva redefiniu esse
entendimento significando Animismo como a manifestação religiosa imanente a
todos os elementos do cosmo. Sol, lua, estrelas - a todos os elementos da
natureza - rio, oceano, montanha, floresta, rocha. A todos os seres vivos -
animais, fungos, vegetais. E a todos os fenômenos naturais - chuva, vento, dia,
noite. É entendido como um princípio vital e individual chamado Anima, o qual apresenta
significados variados: 1º. Cosmocêntrica que é energia, 2º. Antropocêntrica que
significa espírito e 3º. Teocêntrica que representa a alma. Assim
consequentemente todos esses elementos são passíveis de possuírem sentimento,
emoção, vontade ou desejo e até mesmo inteligência. Então os cultos animistas
alegam que todas as coisas são vivas e todas as coisas tem consciência ou todas
as coisas tem Anima. Na antropologia o conceito de fetichismo descreve os
sistemas de crenças de índole geralmente animista que atribuem a determinados
objetos propriedades mágicas ou divinas. Igualmente conferem a esses
mesmos objetos representações ou transposições de um ser superior cujas
características seriam possuidores. Na perspectiva psicopatológica por analogia
foi cunhado a expressão fetichismo erótica para definir a tendência de um
indivíduo ao sentir atração sexual por uma parte especial ou particular do
corpo ou por um objeto a ele associado. Assim o fetichismo se refere a
atribuição de significado erótico a roupas e objetos que em si mesmo não
carregam tal significado onde que esses objetos perdem o papel acessório que
tem na atividade sexual para se converter em ponto focal dela. O Xintoismo -
Culto a Natureza - incorpora práticas espirituais derivadas de diversas
tradições pré-históricas japonesas, locais e regionais. Entretanto não surgiu
como instituição religiosa formalmente centralizada até a chegada do Budismo,
Confucionismo e Daodísmo no pais a partir do século VI. O Budismo gradualmente
se adaptou no Japão à espiritualidade nativa como por exemplo na inclusão do
Kami componente da crença xintoista entre os bodhissatvas. As práticas
xintoistas foram registradas e codificadas pela primeira vez nos registros
escritos históricos do Kojiki - livro mais antigo sobre a história do Japão. E
Nihon Dhoki - cronicas Japonesas mais antigas - nos séculos VII e VIII. Ainda
assim, esses primeiros escritos japoneses não se referem a uma religião
xintoista unificada, mas a práticas associadas com as colheitas e outros eventos
dos clãs como às estações do ano aliadas a uma cosmogonia e mitologia. Eram
unicamente japonesas que combinavam tradições e espiritualidades dos clãs
ascendentes do Japão arcaico principalmente das culturas Yamato (300-710) e
Izumo. O Xintoismo caracteriza-se pelo culto à natureza aos ancestrais e pelo
seu politeísmo com uma forte ênfase na pureza espiritual. Tem como uma de suas
práticas honrar a existência de Kami que pode ser definido como espírito,
essência ou divindade. É associado com múltiplos formatos compreendidos pelos
fieis, sendo que, em alguns casos apresentam uma forma humana, em outros
animísticas. Em outros é associado com forças mais abstratas naturais do mundo
- montanhas, rios, relâmpagos, vento, ondas, árvores, rochas - considerado como
consistindo de energias e elementos sagrados. O Kami e as pessoas não são
separadas, contudo existem num mesmo mundo e partilham de sua complexidade
inter relacionada. O Xintoismo moderno apresenta uma autoridade teológica
central, todavia não tem uma teocracia única consistindo atualmente de uma
associação inclusiva de santuários locais, regionais e nacionais de variadas
significâncias em importância e história. Eles exprimem suas diversas crenças
através de práticas e idiomas semelhantes adotando um estilo semelhante no
vestuário arquitetura e ritual que data dos períodos Nara. Uma época da
história do Japão que cobre os anos 710 a 794 - e o período Heian - sendo a
última divisão da história clássica do Japão indo dos anos 794 a 1185. "O
culto do sol e as formas puras do culto da natureza foram para sua época
religiões elevadas extremamente alegóricas, contudo apresentando verdades
e conhecimentos profundos". No panteão egípcio existem várias divindades
que se manifestam sob a forma de falcão. Hórus dono de uma personalidade
complexa e intrincada foi a mais célebre de todas elas. Foi este deus em cujas
asas se reinventava o poder criador dos faraós? Antes de mais nada, Hórus
representa um deus celeste cuja identidade é produto de uma longa evolução, no
decorrer da qual Hórus assimila as personalidades de múltiplas divindades. Ele
representava um deus celeste e uma manifestação do poder do Sol. Era portanto
um deus solar que pairava sobre o horizonte. Assim como deus ficou conhecido
desde a primeira dinastia como Horakhti - Hórus do Horizonte - ou da - Terra do
Nascimento do Sol. Senhor das duas terras sob cujas asas está o circuito do céu
o falcão que irradia luz dos seus olhos. Exatamente com essas palavras que no
tempo dos Ptolomeus (dinastia macedônia que governou o antigo Egito)
descrevia-se Hórus o deus dos espaços aéreos identificados com o faraó. Hórus
era o protetor da monarquia manifestando a encarnação do faraó. Durante o
Antigo Império (2575 AC 2134) o deus Sol era adorado como pai legítimo do faraó
reinante criador. Todas as leis e entidade bem como a autoridade visível
emanava dele. O deus Sol governava nos céus como um soberano divino na
contrapartida celestial do faraó que governava na Terra. Hórus representado
pelo falcão era o deus do céu um símbolo da realeza divina e o protetor do
faraó reinante. Um deus vinculado à realeza e que protegia os faraós cujo
centro de culto era Hieracômpolis. Desde o Antigo Império o faraó era a
manifestação de Hórus na terra ainda que ao morrer transformava-se em Osíris.
Durante o Novo Império, Hórus foi associado ao deus Sol Rá como Rá Horakty
fazendo parte da Grande Enéada e da tríade Osiríaca: Osíris, Ísis e Hórus.
Porém conforme foi dito anteriormente Hórus foi imortalizado
através de diversas representações. Surgindo por vezes sob a forma solar
enquanto filho de Atum Ré ou Geb e Nut ou apresentado pela lenda osírica como
fruto do amor entre Osíris e Ísis. Abraçando assim diversas correntes
mitológicas que se fundem e completam em sua identidade. "Essa Sabedoria
Divina é chamada de Gnose e muitos espíritos em diferentes épocas da
história do mundo, no desejo de melhor proclamar sua crença na unidade das
religiões, preferiram o nome eclético de Teósofia a qualquer outra designação
de sentido mais restrito". Gnose aqui significa literalmente conhecimento
em grego, indicando um tipo especial de percepção cognitiva que corresponde
mais ou menos ao conceito budista de iluminação (Nirvana). Bem como o Samadhy,
no Yoga, que consiste na última etapa quando se atinge a suspensão e
compreensão da existência na comunhão com o Universo. Aqui Besant usa a palavra
num sentido relativamente mais amplo como o conjunto de ensinamentos que
conferem tal iluminação. Teosofia cujas raízes significam Sabedoria Divina
originariamente é uma palavra do grego tardio que foi reintroduzida no
Renascimento aplicada a Cabala e as correntes esotéricas semelhantes. Depois do
século XVII o termo normalmente passou a referir-se aos ensinamentos do
visionário alemão Jacob Boheme (1575-1624). Em 1875 Helena P. Blavatsky
(1831-1891) e H. S. Olcott (1832-1907) decidiram reviver a palavra ainda uma
vez mais para denominar a sua nascente organização a Sociedade Teosófica.
Conforme indicado anteriormente Besant identifica a Teosofia como a sua escola de
religião comparativa. Essa é a tese central de que há uma tradição primordial
que funciona como raiz e dá origem a todas as religiões. Sua origem é
ancestral, aparecendo na Antiguidade Clássica e atualmente os estudos
acadêmicos modernos de religião comparada, simplesmente analisam as diferenças
e semelhanças entre as religiões mundiais.
Esse método científico é realizado sem necessariamente supor uma origem
comum. Amigos leitores fico satisfeito se tiver conseguido passar pelo menos em
relance, um fleche dos primórdios da Sabedoria Antiga que deu origem a
Sabedoria Divina. Esse é o caminho do autoconhecimento para entrarmos na Senda
Espiritual. Uma busca pela pureza, santidade, contemplação e meditação. A
estrada que proporcionará nossa evolução progressiva reparando nossos carmas
com virtudes humanas elevadas. Chegando as encarnações sucessivas com o
aprendizado necessário para sermos Homens Perfeitos. O mestre Jesus diz em
Mateus 5:44-48 “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos
maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos
persegue. Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus. Porque faz que
o seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e
injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os
publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que
fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos,
como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”. Abraço. Davi.
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