Budismo. Como devo ler um Sutta ou Sutra. Alguns
princípios gerais. Não existe algo como uma
tradução definitiva. Não esqueça que o Cânone em Pali foi
registrado em Pali, não em Português. Nenhuma vez durante a sua carreira o
Budha falou acerca de sofrimento ou iluminação, ele falava de coisas como
Dukkha e Nibbana. Tenha em mente também que toda tradução primeiro para o
inglês e depois para o Português foi filtrada e processada por um tradutor,
alguém que está profundamente inserido na sua cultura em um momento particular
no tempo, e cuja experiência e compreensão inevitavelmente irão colorir a
tradução. (Traduções Britânicas dos Suttas feitas no final do século XIX início
do século XX frequentemente nos soam pesadas e sombrias nos dias de hoje; daqui
a cem anos, as traduções que desfrutamos hoje, também, sem dúvida, soarão
arcaicas). Tradução é, o mesmo que a tentativa de um cartógrafo de representar
a Terra redonda sobre uma superfície plana, uma arte imperfeita. Por
essas razões, é melhor que você não se acomode totalmente com uma tradução em
particular, quer seja de uma palavra ou de um Sutta inteiro. Só porque, por
exemplo, um tradutor equipara Dukkha com sofrimento ou Nibbana com libertação,
não significa que você deve aceitar essas traduções como verdades absolutas,
tome-as por base. Conceda espaço suficiente para que o seu entendimento mude e
amadureça, e cultive a disposição de considerar traduções alternativas. Talvez,
ao longo do tempo, suas próprias preferências irão mudar (você pode, por
exemplo, achar estresse e extinção mais úteis). Lembre-se de que qualquer
tradução é somente uma muleta conveniente, porém provisória, que você precisa
usar até que você alcance um entendimento direto das ideias que ela descreve. Se
você quer levar realmente a sério o entendimento do que os Suttas contêm, você
terá de enfrentar o desafio e aprender algo de Pali. Porém existe um método
melhor: leia as traduções e coloque os ensinamentos nelas contidos em prática
até que você obtenha os resultados prometidos pelo Budha. O domínio do Pali não
é, felizmente, um pre requisito para a Iluminação
Nenhum
sutta contém todos ensinamentos.
Para colher os maiores benefícios do Cânone explore muitos Suttas diferentes,
não selecione apenas alguns. Os ensinamentos acerca da atenção plena por
exemplo, embora de grande valor, representam uma pequena porção dos
ensinamentos do Budha. Como princípio geral, sempre que você achar que entendeu
os ensinamentos do Budha, é um bom sinal de que está na hora de procurar ir um
pouco mais fundo. Não se preocupe se um sutta
contém ou não as palavras tal como foram ditas pelo Buda histórico.
Não há maneira de provar isso.
Leia os Suttas, coloque os ensinamentos em prática da melhor maneira possível e veja o que acontece.
Você não tem nada a perder.
Se você gostou de um Sutta leia-o de novo.
Às vezes você encontrará um Sutta que irá agarrar a sua atenção de alguma maneira a primeira vez que você o ler.
Confie nessa sua reação e leia-o outra vez; significa que o Sutta tem algo de valioso para lhe ensinar e de que você está maduro para receber esses ensinamentos.
De tempos em tempos releia os Suttas que você se recorda de ter gostado quando leu alguns meses ou anos atrás. Você irá descobrir neles nuanças que não havia notado antes.
Se você não gostou de um Sutta leia-o outra vez.
Às vezes você encontrará um Sutta que é simplesmente irritante.
Confie nessa sua reação, isso significa que o Sutta possui algo de valioso para lhe ensinar, embora talvez você ainda não esteja plenamente preparado para assimilá-lo.
Faça uma marcação nesse sutta e coloque-o de lado por enquanto.
Retorne ao Sutta após algumas semanas, meses ou mesmo anos.
Tarde ou cedo você irá se identificar com ele.
Se um sutta é maçante, confuso ou inútil, simplesmente coloque-o de lado. Dependendo dos seus interesses no momento e da profundidade da sua prática, você pode achar que um determinado Sutta simplesmente não faz sentido ou parece totalmente entediante e maçante. Simplesmente coloque-o de lado e tente um outro. Continue tentando até que você encontre um que faça uma conexão direta e pessoal.
Não há maneira de provar isso.
Leia os Suttas, coloque os ensinamentos em prática da melhor maneira possível e veja o que acontece.
Você não tem nada a perder.
Se você gostou de um Sutta leia-o de novo.
Às vezes você encontrará um Sutta que irá agarrar a sua atenção de alguma maneira a primeira vez que você o ler.
Confie nessa sua reação e leia-o outra vez; significa que o Sutta tem algo de valioso para lhe ensinar e de que você está maduro para receber esses ensinamentos.
De tempos em tempos releia os Suttas que você se recorda de ter gostado quando leu alguns meses ou anos atrás. Você irá descobrir neles nuanças que não havia notado antes.
Se você não gostou de um Sutta leia-o outra vez.
Às vezes você encontrará um Sutta que é simplesmente irritante.
Confie nessa sua reação, isso significa que o Sutta possui algo de valioso para lhe ensinar, embora talvez você ainda não esteja plenamente preparado para assimilá-lo.
Faça uma marcação nesse sutta e coloque-o de lado por enquanto.
Retorne ao Sutta após algumas semanas, meses ou mesmo anos.
Tarde ou cedo você irá se identificar com ele.
Se um sutta é maçante, confuso ou inútil, simplesmente coloque-o de lado. Dependendo dos seus interesses no momento e da profundidade da sua prática, você pode achar que um determinado Sutta simplesmente não faz sentido ou parece totalmente entediante e maçante. Simplesmente coloque-o de lado e tente um outro. Continue tentando até que você encontre um que faça uma conexão direta e pessoal.
Um
bom sutta é aquele que o inspira a parar de lê-lo. A razão para
leitura de Suttas é para inspirá-lo (a) a desenvolver o entendimento correto,
viver uma vida correta e meditar corretamente. Então, se enquanto você estiver
lendo, você sentir um desejo de parar de ler e ir sentar-se em um canto calmo,
com os olhos fechados, e dar atenção à respiração, faça-o! O Sutta terá dessa forma
realizado o seu propósito. O Sutta lá estará quando você retornar mais tarde.
Leia
o sutta em voz alta do começo ao fim.
Isto auxilia de várias formas: força-o (a) a
ler cada palavra do Sutta, proporciona a oportunidade de praticar a linguagem
correta, e proporciona aos seus ouvidos a experiência de ouvir o Dhamma.
Ouça
os ensinamentos em diferentes níveis.
Muitos Suttas oferecem ensinamentos em muitos
níveis ao mesmo tempo, e é bom desenvolver a sensibilidade para isso. Por
exemplo, quando o Budha explica para um discípulo as minúcias da linguagem
correta, note como ele mesmo (o Budha) usa a linguagem [MN58].
Não
ignore as repetições. Muitos
Suttas contêm passagens repetidas. Leia o Sutta como você leria uma peça
musical: quando você canta ou ouve uma música, você não pula o refrão; da mesma
forma, quando você lê um Sutta, você não deveria pular os refrões. Como na
música, os refrões nos Suttas freqüentemente têm pequenas e inesperadas porém
importantes variações que você não deve perder.
Discuta
o Sutta com seus amigos. Compartilhando as suas observações e reações com um
amigo, ambos podem aprofundar o entendimento acerca do Sutta. Pense em formar
um grupo de estudos dos Suttas. Se você tem dúvidas persistentes acerca de um
Sutta, pergunte a um mestre experiente em quem você confia. Se possível
consulte monges (as) mais experientes pois o ponto de vista único acerca dos
ensinamentos que eles têm poderá auxiliar a esclarecer os gargalos de confusão.
Questões para Ter em mente Quando você lê um Sutta tenha em mente que está
ouvindo o Budha enquanto ele ensina outra pessoa. Ao contrário de muitos
contemporâneos do Budha de outras tradições espirituais que frequentemente
aderiam a uma doutrina fixa quando respondiam a todas as questões [AN X.93], o Budha adequava os princípios
básicos dos seus ensinamentos para atender as necessidades particulares do seu
público. É portanto importante desenvolver uma sensibilidade para o contexto do
Sutta, para identificar de que maneira a situação dos ouvintes do Budha tem
alguma semelhança com a sua, de forma que você possa medir de que forma aplicar
as palavras do Budha à sua própria situação. Pode ser útil manter algumas
questões presentes na sua mente enquanto você lê, tanto para auxiliá-lo (a) a
entender o contexto do Sutta e para ajudá-lo (a) a captar os diferentes níveis
de ensinamentos que freqüentemente estão ocorrendo ao mesmo tempo. Lembre-se,
essas questões não têm o propósito de transformá-lo (a) em um acadêmico; elas
simplesmente tem o objetivo de facilitar que cada Sutta ganhe vida para você.
Qual
é a ambientação? Na maioria dos suttas o parágrafo de
abertura (Assim ouvi) define o cenário do Sutta. Ele acontece em um vilarejo,
em um monastério, na floresta? Qual é a estação do ano? Quais eventos estão
ocorrendo como pano de fundo? Fixando esses detalhes na sua mente ajudará a
lembrar que esse sutta descreve eventos reais que ocorreram a pessoas de
verdade, como você e eu, e assim pode auxiliar o sutta a ganhar vida.
Qual
é a estória? Um Sutta pode oferecer muito pouco em
termos de narrativa [AN VII.6], enquanto que outro pode estar
repleto de emoção e drama, em certas ocasiões parecendo mesmo uma breve
estória [Mv X.2.3-20]. Como o enredo
da estória por si mesmo reforça os ensinamentos apresentados no Sutta?
Quem
inicia os ensinamentos? É o Budha quem toma
a iniciativa [AN X.69], ou outra
pessoa se dirige a ele com perguntas [DN 2] Se for outra pessoa existem
premissas ou atitudes por trás das questões que não foram ditas ? Alguém se
dirige ao Buda com a intenção de derrotá-lo em um debate [MN 58]? Essas considerações podem lhe dar uma
ideia da motivação que está por detrás dos ensinamentos, e a receptividade do
ouvinte às palavras do Budha. Com que atitude você toma contato com esses
ensinamentos?
Quem
está ensinando?
É
o Budha [ [SN XV.3], um de seus
discípulos SN [XXII.85], ou
ambos [SN XXII.1]? Ele ou ela
é ordenado (a) SN [XXXV.191] ou um leigo [ [AN VI.16]? Qual é a profundidade de
entendimento de quem está ensinando ( isto é, se trata apenas de um
Anagami [AN VI.16], ou é um
Arahant [Thig V.4 ]? Embora possa ser difícil identificar isso apenas com a
leitura do Sutta, tendo alguma ideia do histórico do mestre e suas credenciais
pode ajudar a medir o nível dos ensinamentos que são oferecidos. Comentários e
discussões com membros da Sangha ou acadêmicos podem ajudar nesse caso.
A
quem se dirigem os ensinamentos?
É para um monge[SN XXXV.85],
monja [SN XXXV.85], ou um
discípulo leigo? Se trata de uma grande assembleia [MN 118] ou um indivíduo [AN IV.184]? Ou são seguidores de uma outra
religião [MN 57]? Qual é a
profundidade do seu entendimento? Se a audiência está composta de Anagamis
buscando o estado de arahants, os ensinamentos apresentados poderão ser
significativamente mais avançados do que se a audiência nunca teve nenhum
contato anterior com os ensinamentos do Buda [AN III.65]. Isto pode ser útil para
identificar a adequação dos ensinamentos para o seu caso.
Qual
é o método de apresentação? Se trata de uma
palestra formal [SN LVI.11], uma sessão
de perguntas e respostas (SnV.6), o recontar de uma antiga estória [AN III.15],
ou simplesmente um verso inspirado [Thig 1.11]? O mestre está transmitindo suas
instruções somente através do conteúdo dos ensinamentos (SN XII.2) ou a maneira como ele está tratando
os ouvintes também faz parte da mensagem [MN 57]? A grande variedade de estilos de
ensino empregados pelo Budha e pelos seus discípulos mostra que não existe um
método fixo de ensinar o Dhamma; o método empregado depende das exigências de
uma situação em particular e da maturidade espiritual da audiência.
Qual
é o ensinamento básico? De que forma o ensinamento se encaixa com o sistema
triplo progressivo de treinamento do Budha: o foco principal está no
desenvolvimento da virtude [ MN
61 ],
concentração [ AN
V.28 ], ou
sabedoria [ MN
140 ]? A
apresentação é consistente com o que está contido em outros suttas ( ex. Sn
II.14 e DN
31)? Como esses
ensinamentos se encaixam no seu modelo dos ensinamentos do Budha? Se encaixa
bem no seu entendimento anterior, ou questiona algumas das suas suposições
básicas acerca do Dhamma?
Como
é a conclusão? O
ouvinte alcança o Despertar exatamente ali e naquele momento
(SN XXXV.28), ou demora algum
tempo após ouvir os ensinamentos (MN
57) ? Alguém se
"converte" ao caminho do Budha como aquele evidenciado pela passagem
" Magnifico! Magnifico! Como se tivesse colocado em pé o que estava virado
para baixo..." (AN IV.111)? À vezes o simples ato de apagar uma vela é
suficiente para resultar no Despertar da pessoa [Thig V.10], às vezes o próprio
Buda não pode fazer nada para que alguém supere o seu kamma (DN
2). As conclusões
variadas dos Suttas servem para ilustrar o poder e a complexidade
extraordinários da lei do kamma.
O
que este sutta tem para me oferecer ?
Esta é a pergunta mais importante de todas,
porque ela desafia você a levar o sutta a sério. Afinal, é o coração que tem
que ser transformado por esses ensinamentos, não o intelecto. Enquanto
você lê um Sutta, pergunte a si mesmo: Eu me identifico com alguma das
situações ou personagens no Sutta? As questões colocadas ou os ensinamentos
apresentados são relevantes para mim? Quais lições posso aprender do sutta?
Tenho dúvidas sobre se sou realmente capaz de fazer o que o Buda pede no Sutta,
ou tenho uma confiança ainda maior? Qualquer que seja a
mensagem positiva que você encontrou no sutta, qualquer que seja o sabor
gratificante que restou, permita que eles cresçam e se desenvolvam ao longo da
sua prática de meditação e na sua vida. Não tente equacionar ou realizar um
Sutta como se fossem palavras cruzadas. Dê tempo ao tempo para que ele
amadureça na sua mente. Ao longo do tempo, as ideias, impressões, e atitudes
transmitidas pelo sutta irão gradualmente filtrar para a sua consciência,
influenciando a maneira como você vê o mundo. Um dia você poderá estar no meio
de uma experiência corriqueira quando de repente a lembrança de um sutta que
você leu a muito tempo virá à mente, trazendo consigo um poderoso ensinamento
do Dhamma que é perfeitamente adequado para aquele momento. Para
facilitar esse processo, pode ser de grande ajuda você criar um espaço para os
Suttas. Não comprima a leitura dos suttas juntamente com suas outras atividades
e não leia demasiado suttas de uma só vez. Faça do estudo dos Suttas uma
atividade especial, contemplativa. Também deve ser uma atividade agradável. Se
você achar que está se tornando árida e irritante, simplesmente ponha de lado e
tente novamente após alguns dias , semanas ou meses. Após ler um Sutta, não
retorne imediatamente às suas atividades; tome algum tempo para fazer um pouco
de meditação da respiração, dando uma oportunidade para que o seu coração se
acalme de forma que possa absorver mais inteiramente os ensinamentos. Como
a meditação, a leitura de suttas é uma habilidade que pode ser desenvolvida.
Conceda-se tempo suficiente para pacientemente desenvolver essa habilidade. http://www.nossacasa.net/shunya.
Abraço. Davi.
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