Nessa
dissertação a seguir tenho o propósito de conversar com os leitores sobre um
assunto imprescindível para a compreensão do pensamento Teosófico. Trata-se da
Sabedoria Antiga como fundamento do conhecimento humano e espiritual. Ela é o
suporte de toda a Revelação Divina que pelo inconsciente arquetípico viajou
através de todas as eras e lugares. Chegou até nós como os mistérios menores -
exotéricos - e os mistérios maiores - esotéricos - que construíram o edifício
do conhecimento espiritual e humano. Onde as religiões ocidentais e orientais
usam em suas tradições e culturas. Para esse estudo empregaremos um texto da
escritora inglesa Anne Besant (1847-1933) de tradição anglicana que praticou o
cristianismo quando criança, adolescente e jovem. Com rigor ascético ela fazia
jejuns, dietas rigorosas, regras sistemáticas em relação a leitura das Sagradas
Escrituras; orações devocionais em horários marcados e havendo alguma
indisciplina quanto a esses itens sofria a punição física e as vezes
psicológica. Tempos da era clássica dos Vitorianos ingleses que mesmo na alta
burguesia, os crentes faziam de tudo para alcançarem a perfeição moral e
espiritual. Mas como sabemos essas coisas acabam produzindo ansiedade,
insegurança e culpa na consciência pois nunca é atingido o alvo desejado. Nesse
contexto Anne Besant viveu grande parte de sua vida, entretanto, depois que
entrou para o Universidade de Oxford – Inglaterra as coisas mudaram. Ela passou
a enxergar o mundo com outros olhos descortinando-se novos panoramas de culturas
e tradições bem como acessando o pensamento universal humano. Contraiu núpcias,
não sei se ao término da graduação superior ou antes, contudo, o certo é que
teve filhos e o matrimônio não durou muito. Provavelmente devido a sua
inquietação e busca por experiências que fizeram diferença em sua vida levando
à contribuir para o bem da humanidade. Nessa perspectiva teve contato com a
tradição hinduísta e budista que permaneceram em sua vida. Conheceu Helena P.
Blavastski (1831-1933), onde uma grande amizade nasceu entre as duas.
Colaborando para a afirmação do pensamento Teosóficos como base para a ciência
oculta. Minhas ponderações serão seguidas de trechos do livro As Revelações
Secretas da Religião Crista em seu capítulo um então comecemos. "Clemente
de Alexandria (182-254) menciona essa divisão dos mistérios quando diz: A
purificação sucedem os mistérios menores. Eles constituem uma base de instrução
e de preparação para o grau seguinte, os mistérios maiores nos quais nada mais
resta a aprender no Universo, mas somente em contemplar e compreender a
natureza e as coisas". O Cristianismo Primitivo praticava a tradição
clássica da espiritualidade advinda das Escolas Iniciáticas onde os discípulos
deveriam passar por rituais de iniciação. Para começar a percorrer a Senda
Espiritual Clemente fala dum importante passo que deveria ser dado nessa
direção que é a purificação do corpo. Era visto numa demonstração moral
equilibrada e uma ética sensata e justa devendo acompanhar o neófito em seu
cotidiano na comunidade. Ele desenvolvia junto com os demais irmãos sua
evolução espiritual estando assim apto para compreender os mistérios da
natureza entrando no mundo oculto dos pensamentos e das emoções. "No que
concerne as religiões da antiguidade essa afirmação não poderia ser acusada de
inexatidão. Os mistérios do Egito foram a glória desta terra venerável e os
maiores filhos da Grécia tal como Platão (427 AC 347) se transportaram a Sais e
Tebas para serem ai iniciados por egípcios Instrutores da Sabedoria". Percebe-se
que Besant não se preocupa em provar as afirmações que faz, pois para ela são
categóricas quando se contempla um quadro amplo e numa perspectiva de
interação. Isso é o que está sendo sugerido por Platão (428-347) que estudou na
academia Egípcia localizada nas antigas cidades de Sais e Tebas os mistérios da
cosmologia e cosmogonia. Ele os descreve muito bem em seus vários diálogos
como: Phebo, Menon, Sofista, Parmênides, Teeto, Banquete, Gorgias e o mito da
Caverna. Assim inferimos que sua obra em grande parte foi inspirada pelos
mestres que viviam as margens do rio Nilo. "Na Pérsia os mistérios de
Mitra, na Grécia os mistérios de Orfeu e Baco, e mais tarde os de Elêusis da
Samotrácia da Cítia e da Caldeia de todos os conhecidos pelo menos de nome.
Embora sob uma forma extremamente degenerada os mistérios de Elêusis mereceram
o respeito dos homens mais eminentes da Grécia, tais como Píndaro (522 AC 443),
Sófocles (495 AC 406), Isócrates (436 AC 338), Plutarco (45-120) e Platão.
Ligava-se aos mistérios especial a importância do ponto de vista da existência
do além túmulo - o iniciado adquiria os conhecimentos que lhe asseguravam a
felicidade futura". Mitra ou amigo é o Deus Sol da sabedoria e da guerra
na mitologia Persa. Entretanto na Índia e Pérsia representavam-no como a luz,
significando a divindade solar que tipifica o bem e a libertação da matéria.
Mitra era filho do deus Persa do Bem Aura Mazda. Que lutando contra os inimigos
deste com suas armas e com seu javali Verethra; identificava-se como o sol viajando
todos os dias pelo céu. Com sua carruagem espantava as forças das trevas, sendo
uma das mais populares divindades Persas. Assim foi adotado pelos romanos
tornando conhecido entre os soldados que lhe ofereciam sacrifícios com touros.
A biografia de Orfeu é a de um herói que casa-se com a ninfa Eurídice que certo
dia quando colhia flores é mordida por uma serpente vindo a falecer. Orfeu não
aceitando a vontade do destino e inconformado vai ao inferno para tentar
resgatá-la da morte. Cantor e tocador de lira Orfeu consegue vencer os
obstáculos que o separam da amada. Por fim vê-se frente a frente com os
senhores do inferno que são Plutão e sua esposa Persépolis e estes autorizam-no
a levar de volta Eurídice para o mundo dos vivos. Mas fazem uma exigência que
ao sair com ela do inferno caminharia na frente não podendo sob qualquer
pretexto voltar pra trás até o momento em que se encontrasse fora do Hades.
Contudo não resistindo a curiosidade Orfeu se volta para rever sua companheira,
assim desobedecendo aos deuses do inferno. Como resultado de sua transgressão
Eurídice desaparece na escuridão. Orfeu também participava com os argonautas de
uma expedição liderada por Jasão com a finalidade de conquistar o velocino de
ouro que se encontrava sob a guarda de um dragão. Sendo que na referida
aventura cada participante contribuía com uma virtude que possuía e Orfeu
contribui com o poder mágico de seu canto e de sua lira. Eles eram capazes de
dominar a discórdia dos homens e da natureza e sua tutela espiritual. O mito de
Orfeu nos diz ainda que este era sacerdote de Apolo - filho de Zeus e Leo e
irmão de Ártemis - identificado por sua vez com o sol. Ao passo que sua irmã
era com a lua e deusa da beleza, da serenidade, do equilíbrio e da adivinhação.
Assim em dado momento Orfeu se converte a religião de Baco uma espiritualidade
de mistérios, porém, acaba reformando a religião de Baco de acordo com o
espírito de Apolo harmonizando o Apolônio com o Dionisíaco. Tendo como
resultado o surgimento do Orfismo. Os mistérios de Elêusis ninguém sabe ao
certo os detalhes, pois não há relatos deixados por pessoas que participaram
realmente das cerimônias. Este mistério é o mais famoso ritual religioso
secreto da Grécia Antiga realizado entre os séculos VI AC e IV DC sendo as primeiras
referência a eles de autores cristãos que viveram bem depois, e que estavam
mais interessados em menospreza-los identificando-os maldosamente como
coisas dos pagãos. Além disso tudo o que ocorria nos mistérios sempre foi
cercado de segredo e os participantes que revelassem algo podiam ser condenados
a morte. Assim com tanta dificuldade para desvendar esse enigma os
historiadores tem apenas algumas pistas e dizem que os mistérios de
Elêusis eram cerimônia de iniciação com algum ritual pessoal a ser executado
pelo novo participante. O culto era complexo e desenvolvido em vários dias
havendo fragmentos de informações que permite perceber relances da celebração.
É o que nos afirma a arqueóloga da USP Elaine Veloso Hirata. A inspiração para
os mistérios de Elêusis está num poema hino a Deméter atribuído ao poeta grego
Homero (800 AC 701). Segundo a lenda Perséfone filha de Zeus e Deméter deusa da
agricultura que fora raptada por Hades rei do mundo subterrâneo forçando-a à
casar com ele. Assim desolada Deméter sai em busca da filha esquecendo suas
responsabilidade como deusa prejudicando a colheita que trouxe fome aos
mortais. Nessa jornada Deméter teria ido a Elêusis uma cidade a 23 KM de Atenas
vindo a se tornar amiga da família que governava o local e construíram para ela
um templo onde a deusa passou a morar. Quando Deméter recupera a filha
Perséfone as colheitas voltaram, mas como parte de um acordo entre os deuses
Perséfone seria obrigada a ficar um terço do ano ao lado do marido Hades
debaixo da terra; esse mito a simbologia dos períodos da agricultura grega. Os
quatro meses que Perséfones passava no reino subterrâneo representava o período
improdutivo logo após a colheita e o ápice do verão e o retorno dela marcava o
renascimento trazidos pela chuva de outono que permitiam a semeadura da próxima
safra sendo toda cerimônia dos mistérios de Elêusis recheada de referência a
essa mitologia. Não havia restrições para quem quisesse participar dos rituais
que reuniam até 3 mil pessoas. Entretanto qualquer um que falasse grego
incluindo mulheres, escravos e crianças podiam ir ao culto. A cerimônia entrou
em declínio quando o Império Romano tomou o controle das cidades gregas e o
Imperador Constantino passou a promover o Cristianismo no início do século IV,
desse modo, as religiões supostamente pagãs foram proibidas e seus templos
destruídos. Píndaro (522 AC 443) considerado um dos mais importantes poetas
líricos da história, ainda hoje visto como um escritor único, sublime na
expressão, criativo na linguagem e inigualável na maneira de lidar com os
aspectos formais da poesia. De todos os criadores da lírica grega sua obra foi
a única que resistiu a passagem do tempo pois dela restou uma grande parte como
estudos poéticos que realizou em Atenas. Incluía-se nesse conhecimento
literatura, música e instrumento que com maestria dominava a flauta com seu
Escopélino. Sófocles (496 AC 406) belo, inteligente e estimado de todos os seus
concidadãos foi nomeado em 440 AC, junto com Péricles estrategista e
encarregado da vigilância do tesouro da acrópole. Com seu gosto artístico
e pelo equilíbrio de seu caráter era considerado o ateniense ideal. Nunca
abandonou a Ática onde morreu aos 80 anos sem nunca ter estado doente. Foi
compositor de mais de 100 peças de teatro, até nós chegando apenas 7 Ajax,
Electra, Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígonas, Traquínias e Filoctetes.
Isócrates (436 AC 338) foi discípulo de Górgias em Tesália dedicando-se ao
ensino e fundou sua escola de retórica contemporânea. Era rival da Academia
Platônica que em sua primeira obra chamada Contra os Sofistas atacava a
retórica meramente formalista e erística praticada pelos Sofistas. Defendia a
retórica como núcleo essencial de formação combatendo a filosofia platônica que
julgava inapta para a formação ética e política do homem grego. Plutarco
(46-119) deixou uma obra variada com cerca de 230 livros dos quais a grande
maioria sobreviveu até os nossos dias em versões integrais. Seu período mais
prolífico da época foi o regresso a Queronéia após a exitosa vida profissional
em Roma. Teve uma grande variedade de assuntos abordados desde ensaios sobre a
obra de Platão, retórico e religião passando por comparações entre a
inteligência dos animais e a dos homens. Merece destaque sua obras Biol
Paraleloi ou Vidas Comparadas ou ainda Vidas Paralelas. Consiste numa coletânea
de 64 biografias de vultos gregos e romanos incluindo entre esses personagens
lendários - ou pelo menos de existência duvidosa - sendo abordado aos pares
como Alexandre e Cesar, Demóstenes e Cícero, Péricles e Fábio Máximo dentre
outros. Tal obra é de suma importância para se ter uma melhor visão panorâmica
da Antiguidade Clássica. "Ligava-se aos mistérios especial importância sob
o ponto de vista da existência do além túmulo o iniciado adquiria os conhecimentos
que lhe asseguravam a felicidade futura". Considerava-se a participação
nos mistérios como um meio de obter esperança na vida após a morte; isso
percebido no comentário de Cícero (106 AC 43), "Entre as muitas excelentes
e divinas instituições que a sua Atenas desenvolveu e com que contribuiu para a
vida humana não existe nenhuma outra na minha opinião melhor do que esses
mistérios. Neles somos resgatados do nosso modo de existência rústico e
selvagem para um estado de civilização culto e refinado. Esses ritos chamados
de iniciação, na verdade aprendemos com eles os primeiros princípios da vida e
chegamos à compreensão não só para vivermos felizes, mas também para morrer com
mais esperança". "Sópatro afirma ainda mais que a iniciação estabelecia
uma aliança entre a alma e a Natureza Divina.
No hino exotérico a Deméter encontramos alusões veladas a crença sagrada
sobre Íaco sua morte e sua ressurreição ensinada nos mistérios". Sópatro
foi um estrangeiro que viveu em Atenas em época remota quando as criaturas
humanas alimentavam-se apenas de frutas, grãos e legumes, não acostumados a
oferecer sacrifícios cruentos aos deuses. Possuía uma propriedade em Atenas
numa certa ocasião quando realizava um sacrifício incruento. Nesse
momento apareceu um touro que comeu as ervas e grãos por ele posto no altar.
Indignado Sópatro matou o animal com um machado em seguida pensando que
cometera uma impiedade partiu para Creta onde foi viver. Os Atenienses saíram a
procura de Sópatro e foram encontrá-lo em Creta ainda acabrunhado pelo remorso.
Contudo sem saber o que fazer diante da pergunta dos enviados, ele pediu que
Atenas lhe concedesse a cidadania. Concordaram e ele voltou com eles e a
primeira ideia surgida foi compartilhar a culpa com todos os atenienses. Para isso
se reuniu dando-lhes instrução no sentido de trazerem um touro igual ao que ele
matara, e depois de o animal ser purificado pelas moças da cidade Sópatro
purificou um cutelo afiado pelos demais atenienses e matou o touro. Em seguida
o animal foi cortado em pedaços pelos presentes de tal maneira que todos
passaram a ser culpados pela morte da vítima. Essa alegoria sobre Sópatro
lembra um importante dogma do cristianismo que fundamenta um dos seus pilares
relacionado a salvação eterna. O vemos na morte salvífica do Salvador do Mundo
Jesus Cristo que, ao se entregar à morte encerrou nele os pecados da
humanidade, assumindo a culpa e castigo por todos eles. II Coríntios 5:14,15 “Porquanto
o amor de Cristo nos constrange, porque estamos plenamente convencidos de que Um
morreu por todos, logo, todos morremos. E ele morreu por todos para que aqueles
que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu
e ressuscitou”. Abraço. Davi.
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