segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Documentário Sobre Jiddu Khrisnamurt.



Teosofia. Refletirei sobre o filme da biografia do filósofo indiano Jiddu Krishnamurti assistido numa das aulas de introdução ao pensamento teosófico. Ele nasceu em 1895 e morreu em 1986. Autor de mais de 40 livros destacando-se dentre eles: O mundo somos nós. Liberte-se do passado. Diário sobre a visão intuitiva. Aos Pés do Mestre. O futuro é agora. A essência da maturidade. O despertar da sensibilidade. De família pobre desde a infância mostrou ter uma capacidade intelectual, intuitiva e argumentativa acima do comum. O contexto histórico em que Krishnamurti nasceu era acentuado pela dominação inglesa (o Império Britânico que perdurou de 1788 a 1914) e uma Índia mergulha numa brutal desigualdade social e econômica. Pouco antes do final do século XIX alguns movimentos nacionalistas de libertação começavam a surgir. O povo hindu juntamente com algumas irmandades (inclusive alguns ingleses piedosos que por lá residiam) conscientes da fraternidade e filantropia ao outro se mobilizavam para romper aquele aprisionamento cultural, social e histórico. A paixão por liberdade de expressão e valorização das tradições nacionais tomou conta da intelectualidade nativa. Ilustres personalidades como a inglesa Annie Besant (1847-1933) apaixonada pela Índia, seu povo, religiosidade e cultura. Também Mahatma Gandhi (1833-1944) foram fundamentais neste processo da independência. Annie Besant liderou movimentos feministas organizando greves de operárias femininas nas fábricas e questionando a rígida sociedade de castas. Trabalhava pelas minorias famintas e desfavorecidas da Índia. Foi indicada para assumir o governo local, mas como estrangeira e devido as suas posições políticas liberais (foi perseguida) teve que voltar para o Reino Unido. Pouco depois retornaria para o país para continuar seu trabalho teosófico e fraternidade entre as castas hindus. Gandhi tornou-se o grande herói da independência Hindu. Com sua voz conciliadora e seu carisma impecável assumiu a responsabilidade de tornar em realidade o sonho de uma Índia livre e soberana. Sem organizar movimentos armados e nem milícias guerrilheiras, soube pela refinada diplomacia da compreensão e tolerância dialogar com os obtusos ingleses. Aprendeu a fazer concessões sem comprometer seus pares. Abriu mão da posição de superioridade entre seu povo, "encarnando" pobreza e espírito de coragem e determinação. Certa vez Gandhi encontrou-se com Helena P. Blavatsky (1831-1891) em Londres. Conta-se que foi presenteado com um exemplar do livro Cartas dos Mahatmas. Ele praticou com maestria e devoção a fraternidade universal. Essa foi sua principal "arma" para libertar seu pais do colonizador europeu. Gandhi foi assassinado em 13 de janeiro de 1948. Sua morte comoveu o mundo inteiro. Voltando ao tema após a breve introdução, Annie Besant foi importantíssima na vida de Krishnamurti. Ela era alguém de refinada cultura (graduou-se na Universidade de Oxford) e teve acesso a todos os clássicos da literatura universal. De educação fina, mas na rígida burguesia inglesa. Como teosofista adepta colaborou com o trabalho da Senhora Helena Blavatsky desde o início da Sociedade Teosófica. Ela (Annie Besant) percebeu junto com outros da Sociedade os dons especiais do adolescente Krishnamurti e resolveu, patrocinar a educação e sustento dele até o final dos estudos universitários em Londres, Reino unido. Nas primeiras décadas do século XIX surgiu na Sociedade Teosófica  um "sentimento" inspirado no messianismo. Pensou-se que o menino poderia ser um "oráculo" para a humanidade. Uma forte impressão de que um novo Budha poderia estar surgindo ou quem sabe um novo Messias. “Foi fundada em 1911 para proclamar o advento do Instrutor do Mundo uma organização denominada de Ordem da Estrela no Oriente, na qual Krishnamurti, com 16 anos, fora nomeado seu dirigente máximo. Mas em 3 de agosto de 1929, quando tinha 34 anos, dia da abertura do Acampamento Anual da Estrela, em Ommen, Holanda, Krishnamurti dissolveu a Ordem diante de 3.000 membros. Iniciando o discurso de encerramento ele diz: “Vamos discutir nesta manhã a dissolução da Ordem da Estrela. Muitas pessoas ficarão encantadas, enquanto outras ficarão um tanto tristes. Não é uma questão nem para júbilo nem para tristeza, porque é inevitável, como eu vou explicar. É possível que vocês se lembrem da história de como o diabo e um amigo dele estavam descendo a rua quando viram à sua frente um homem se agachar e pegar algo do chão, dar uma olhada e colocar no bolso. O amigo perguntou ao diabo: Que foi que o homem pegou? Ele pegou um pedaço da verdade, respondeu o diabo. Isso é um negócio muito ruim para você, então, disse o amigo dele. Oh, de modo algum, retrucou o diabo. Vou deixar que ele a organize. Eu afirmo que a Verdade é uma terra sem caminhos, e vocês não podem alcança-la por nenhum caminho, qualquer que seja, por nenhuma religião, por nenhuma seita. Este é o meu ponto de vista, e eu o confirmo absoluta e incondicionalmente. A verdade, sendo ilimitada, incondicionada, inacessível por qualquer caminho que seja, não pode ser organizada; nem pode qualquer organização ser constituída para conduzir ou coagir pessoas para qualquer Senda particular. Se vocês logo compreendem isso, verão o quanto é impossível organizar uma crença. Uma crença é algo puramente individual, e vocês não podem e não devem organizá-la. Se o fizerem, ela se torna morta, cristalizada; torna-se um credo, uma seita, uma religião a ser imposta aos outros. Isto é o que todos estão tentando fazer mundo afora. A Verdade é restringida e usada como joguete por aqueles que são fracos, por aqueles que estão apenas momentaneamente desgostosos. A Verdade não pode ser rebaixada, mas em vez disso, deve o indivíduo fazer esforço para ascender até ela. Vocês não podem trazer o topo da montanha para o vale. Se querem atingir o cume da montanha, vocês devem atravessar o vale e escalar as escarpas sem medo dos perigosos precipícios”. O tempo mostrou que a tentativa de enfatizar um "carisma", particularizado em conceitos cristãos não alcançaria uma consistência duradoura. Krishnamurti concluiu seus estudos no Reino Unido e (contrariando todas as expectativas) tomou seu próprio caminho para a decepção da Sociedade Teosófica. Uma situação que causou mal estar entre os teosofistas. Reuniões foram feitas para entre os membros decidir sobre o caso. Cogitou-se a expulsão de Krishnamurti da Sociedade. Mas Krishnamurti veio ao mundo para fazer exatamente aquilo que fez. Como livre pensador criticou todo tipo de religiosidade, ressaltando em suas apologias que o homem era o seu próprio mestre. São dispensáveis todos os gurus, mestres e líderes espirituais. A adoração é feita sem nenhum ritual ou cerimonial religioso. Nada é suficiente para mediar minha relação com a divindade. Krishnamurti conceituava uma metafísica ceticista que esvaziava qualquer sistema religioso. Quase um “ateísmo” que desagradava a maioria dos espiritualistas, inclusive segmentos da Teosofia. Krishnamurti passou pelas Duas (Primeira e Segunda) Grandes Guerras Mundiais, incluindo a Guerra Fria (USA versos URSS), sem contudo mudar suas opiniões sobre o mundo, a relgião e os homens. Por outro lado realizou uma memorável obra de fraternidade universal. Desenvolveu métodos inovadores de ensino e aprendizado. Fundou escolas no Reino Unido e nos Estados Unidos da América  baseadas nas virtudes (ética, moral) humanas. Foi um investigador do psiquismo humano e amou a natureza e todos os seus mistérios. Um filósofo inquietante e surpreendente em muitas de suas postulações. Sua obra literária é vasta, e mensura o homem como um micro cosmo e a natureza (incluindo o universo) como um macro cosmo. Segundo consta foi readmitido na Sociedade Teosófica antes de sua morte. Um gesto que merece louvor e consideração. O perdão é tão nobre e digno quanto a reconciliação principalmente vindo de um coração compungido e contrito. Como diz um aforismo oriental. "O homem que olha para traz pode furar um olho, mas o que não olha pode furar os dois". O passado sempre nos ensina lições para vivermos melhor o nosso presente. A tentativa do "messianismo", na pessoa de Krishnamurti, serviu de alerta (entre os teosofistas) para que não se repita o mesmo erro. A ideia hoje é a daquele que leva a "tocha" em suas mãos. Parece que é uma "mão" sobreposta em outras. Uma responsabilidade compartilhada não apenas por um, mas por milhares de pessoas. A "tocha" é o símbolo da centelha divina. O fogo místico que ilumina toda escuridão produzindo a claridade suficiente para perscrutar todos os mistérios do homem, da natureza e do universo. Abraço. Davi.    

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