Islamismo. Amigos
leitores passo a transcreve a pesquisa acadêmica feita pelo professor Carlos
Frederico Barboza de Souza com o título: O Sufismo como Dimensão Mística do
Eslã. Ao final menciono a referencia bibliográfica. Como introdução digo que o
Islamismo é sabidamente uma doutrina religiosa com várias vertentes
filosóficas. Acontece que o mundo ocidental, mais notadamente o senso comum, em sua perversa generalização
estereotipou a religião Islâmica, comparando-a aos diferentes grupos radicais e extremistas
(e suas facções) que usam a força, brutalidade e desumanidade para impor suas ideologias
políticas, sociais e doutrinas dogmáticas. Distorcendo os santos mandamentos do Alcorão e da Sharia para seus benefícios escusos e malignos. Exemplos temos a AlQaeda e o Estado Islâmico combatido com ferocidade por 34 país muçulmanos liderados pela Arábia Saudita no norte da África e península Arábica. Também o Irã cooperar ativamente para combater esse banditismo terrorista juntamente com a coalizão internacional liderada pelos americanos no Oriente Médio, Síria e Iraque. Mas existem inúmeros seguimentos
muçulmanos espiritualistas que proclamam o amor, a paz, a compreensão, a
tolerância e a fraternidade humana. Esses nobres movimentos da religião do
profeta Maomé em momento algum ganham destaque na mídia, falada, escrita ou nos
tele jornais do ocidente. Uma religião que precisamos conhecer para melhor
respeitá-la, valorizando seus conceitos, pressupostos e mistérios. Entendendo
que Allá O Eterno Bem da Humanidade a concedeu como dádiva divina, dentre
tantas, à todos os povos que o buscam com um coração sincero e contrito. Allá
seja conosco nessa leitura. Resumo da dissertação. "Diante da
realidade islãmica contemporânea e buscando estar atento às diversas vozes
presentes no "outro", este artigo tem em vista apresentar de forma
sucinta o que é o Sufismo, pensando-o como uma possibilidade entre muitas de
concretização das crenças islâmicas. Para tal, iniciar-se-á procurando
compreender como a notícia acerca de sua existência chega ao Ocidente, ou seja,
como os ocidentais o "descobrem". A seguir, centrar-se-á na busca de
compreender o Sufismo a partir de sua relação com o Islamismo por meio de suas
fontes primordiais: o Alcorão e o Profeta Muhammad (ou Maomé). Por fim, este
artigo apresentará brevemente alguns elementos que compõem e caracterizam o
repertório de crenças e práticas de várias Escolas Sufis tais como a busca da
Unicidade Divina, a prática meditativa da recitação dos Nomes Divinos e a
submissão à orientação de um "Sayh". " De maneira geral, a mídia
apresenta uma face quase que unilateral acerca do Islã, baseada em algumas pré
compreensões simplistas do mesmo ou compreensões exclusivas de grupos mais
radicais no seguimento e interpretação da Lei Religiosa e em questões sócio
políticas. Assim, sendo, na maior parte das vezes, é incapaz de captar sua
singularidade enquanto experiência religiosa e, ao mesmo tempo, a diversidade
que compõe o seu espectro. Infelizmente, muitas pessoas, ao não terem acesso a
uma leitura mais ampla acerca da história e constituição da tradição muçulmana
e dos diversos grupos e concepções que a compõem, acabam desenvolvendo
comportamentos e posições intolerantes e preconceituosas sem ao menos se
colocarem a questão de que a maior parte do preconceito surge do
desconhecimento do outro ou de um conhecimento insuficiente e limitado por
paradigmas que não se encaixam em seu universo de sentido. Diante de tal
situação, o primeiro passo é o conhecimento, pois este é a primeira forma de
aproximação da singularidade e alteridade que constitui o outro enquanto
outro.porém, este esforço de aproximação cognitiva do diverso pode ter seu
resultado malogrado devido às perspectivas com que uma pessoa se mune na
realização de tal tarefa. Portanto, algumas posturas são importantes e
necessárias. Respeito e acolhida ao outro, aceitando-o como um ser distinto e
valorizando sua alteridade, que em si é uma riqueza, pois aponta para a
liberdade humana capaz de construir diversas posturas frente ao cosmo e á
realidade sócio político cultural, indicando a possibilidade de que se pode ser
diferente, de que não se é "obrigado" a ser sempre do mesmo jeito.
Além do mais, o contato com esta riqueza que a diversidade propicia gera uma
aprendizagem sobre si mesmo e sobre o locus de onde se parte e no qual cada um
se situa. Também se faz necessário munir-se de humildade, reconhecendo-se
pequeno diante da infinitude absoluta do Sagrado que ultrapassa as crenças de
cada tradição religiosa. Uma atitude como esta pode propiciar uma busca sincera
da Verdade que está para além das tematizações acerca do Divino que cada
religião elabora ou se percebe inspirada a elaborar. Assim, novas e inusitadas
manifestações compreensões acerca da própria tradição religiosa e acerca das
manifestações do Sagrado são possibilidades. Por fim, faz-se necessário
munir-se de gratuidade, pois não é uma busca de conhecimento acerca do outro
para convertê-lo, ou seja, torná-lo semelhante a nós e acabar com a diferença.
Ouvir a voz do "outro" significa entrar na relação face a face com
ele e além dos interesses pessoais de quem com ele estabelece interlocução
sócio político cultural; e permitir, assim, a revelação de seu rosto às
concepções preconcebidas e ao sistema dominante. Diante da realidade Islâmica
contemporânea e buscando estar atento às diversas vozes presentes no outro,
este artigo tem em vista apresentar de forma sucinta o que é o Sufismo,
pensando-o como uma possibilidade; entre muitas, de concretização das crenças
Islâmicas. Para tal, iniciar-se-á procurando compreender como a notícia
acerca de sua existência chega ao Ocidente, ou seja, como os ocidentais o
"descobrem". A seguir centrar-se-á na busca de compreender o Sufismo
a partir de sua relação com o Islamismo por meio de suas fontes primordiais: o
Corão ou Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos) e o profeta Muhammad ou Maomé.
Por fim, este artigo apresentará brevemente alguns elementos que compõem e
caracterizam o repertório de crenças e práticas de várias Escolas Sufis. A
Descoberta do Sufismo pelo Ocidente. O Sufismo tem uma longa história e é
cercado de um certo interesse pelo mundo ocidental. Já na Idade Média, o
contato entre cristãos e árabes ocorreu mediado pela filosofia. Textos de origem
árabe judaica provocarão uma transformação no pensamento ocidental: novos
métodos, novos conhecimentos, novos problemas, que exigirão um esforça enorme
de razão cristã. O próprio pensamento Aristotélico chega ao ocidente, de forma
sistemática e sob uma ótica neoplatônica, por meio do filósofo persa Avicena
(980-1037). Depois, os que continuaram a trazer a obra aristotélica para o
Ocidente foram os tradutores, dentre os quais tiveram um papel
significativo o Collegium de Toledo, fundado pelo arcebispo Raymond de Sauvetat
(1126-1151), e que traduziu o texto aristotélico a partir de versões siríacas e
árabes. Não se pode esquecer também o intenso debate no seio da cristandade com
o chamado "averroismo latino", movimento que interpretava Aristóteles
a partir do prisma de Averrois (Ibn Rusd) e tinha como seus principais
representantes Boécio de Dácia (1200-1299) e Siger de Brabante (1240-1284).
Mais tarde, o catalão Raimundo Lúlio (1316) parecia haver sofrido uma
influência dos místicos Sufis. Também Joinville chanceler de Luis IX, levou em
1638, levou para a Europa o conhecimento da figura de Rab a Al Adawiyya,
no final do século XIII. No século XVII, em 1638, Fabricius, da Rostoch
University, editou e traduziu pela primeira vez o poema do místico
egípcio Ibn al Farid. E em 1651, Adam Olearius (1599-1671) fez a primeira
tradução para o alemão dos livros favoritos da intelectualidade européia.
Porém, é principalmente a partir da era moderna que o interesse de intelectuais
do ocidente pelo Sufismo aumenta, pois a modernidade é o marco a partir do qual
surge a preocupação ocidental mais ampla. A motivação desta curiosidade se
relaciona com o progressivo empreendimento colonial, mormente à medida que este
vai se tornando, em termos políticos, um dos principais escopos das nações
euporéias. O Sufismo como Dimensão mística do Islã. 1. O intuito de conhecer a
religião dos povos "colonizados" era propiciar um melhor meio de
dominá-los, pois muitos de seus mestres possuíam, em vários países, lugar de
destaque e, em outros, muitas rebeliões estavam associadas a suas lideranças.
Para isto, investiu-se em especialistas sua língua e cultura, o que gerou
vários volumes de estudos e traduções de vários de seus textos, além de gerar
uma especialidade científica: o orientalismo. 2. Assim, "Naqueles
ambientes, o estudo do Sufismo se tornava uma via mediana entre a constituição
de um dossiê policial e a análise de cultos perigosos". O início dos
estudos ocidentais modernos sobre o Sufismo se encontra ao redor do século
XVIII, quando se criaram os conceitos fundamentais que condicionaram a
compreensão a seu respeito, e se estende pelo século XIX. Os primeiros
trabalhos se baseiam nos relatos fragmentários de viajantes europeus pelos
territórios árabes e que viam os Sufis como um grupo exótico e referindo-se
vagamente ao Islã. Sua terminologia sublinhava o elemento bizarro e os
comportamentos que mais se distanciavam dos comportamentos europeus. Neste
sentido, os termos mais utilizados para se referir a seus adeptos foram a
palavra árabe faqsr e a persa dervish, que significam, ambas, pobre. Porém, a
utilização destes termos também era marcada pelo exotismo. Para se abordar os
dervishes por exemplo, ressaltavam-se os grupos urlantes, dançantes e
rodopiantes. Quanto ao termo faqsr, a confusão era maior. Além de não se faer a
diferenciação entre os ascetas não muçulmanos e os muçulmanos, o termo se
assemelhava à palavra inglesa "faker", falsificador, o que deixava
uma impressão de que os Sufis eram charlatães e impostores. Nesta ambiência de
forte cunho político, surge o termo Sufismo, proveniente de
"Sooffess", forma como os ingleses nomeavam os adeptos da
"Tasawwuf", palavra pela qual estes grupos se autodenominavam em
árabe "Safs e Safiyya". Diferentemente de "faqsr e
dervish", embora se referisse a mesma realidade, este termo
"Sooffess" era carregado de um sentido positivo. Eram admirados por
sua pesia, música e danças. Além do mais, eram vistos como livres pensadores
que tinham pouco a ver com a "rígida fé muçulmana". A palavra Sufismo,
portanto, surge no fim do século XVIII como uma forma de apropriação de alguns
aspectos que os europeus achavam atraentes na cultura oriental. Porém, seu
conhecimento ainda era insuficiente. Não se percebia nitidamente sua relação
como o Islã, além de se associá-lo, muitas vezes, ao Hinduísmo e cristianismo.
O primeiro livro escrito sobre o Sufismo por um ocidental foi o tratado deo
teólogo alemão Tholuck (1799-1877). Este livro, escrito em latim e publicado em
1821, reconhece o papel dos ingleses na "descoberta" do Sufismo e
afirmava a relação débil entre este e o Islã. Citando um registro missionário
de 1818, no qual se afirma a existência de um número ao redor de oitenta mil
pessoas na Pérsia (atual Irã), chamados Sufi, que cerca de 10 ou 12 anos atrás,
abertamente repudiou o maometismo, ainda retrata o desejo ocidental de separar
sua realidade da religião islâmica. Segundo Carl W. Ernst
(1950- ), este desejo é presente também na leitura que
Tholuck faz do mesmo, imprimindo-lhe conceitos bem ocidentais como Panteísmo e
Teosofia. Embora Tholuck reconheça a eixtência junto a Muhammad (Maomé) de
seguidores que cultivavam elementos do que mais tarde seria chamado de Sufismo,
ele acredita que o mesmo havia se distanciado das propostas originárias do Profeta.
O principal problema destas primeiras leituras é que, ao separar o
"Tasawwuf" do Islã, não reconhecem o papel fundamental que tem o
Corão ou Alcorão, o Profeta, a Sarsa e os ritos islâmico para sua
espiritualidade mística. Porém, após estes estudos, a aproximação aos textos
Sufis começa a crescer e um número maior deles passa a ser traduzido ou editado
em suas línguas originais, seja em países muçulmanos ou ocidentais. Todavia,
ainda é pequeno o conhecimento dos mesmos, principalmente se pensarmos que, segundo
Carl Ernst, escrevendo em 1977, só se tem acesso a menos de dez por cento dos
manuscritos árabes, sem falar nos manuscritos persas, turcos, swahili, urdus e
em outras línguas utilizadas na região. Definição. Segundo Annemarie Schimmel
(1922-2003) o Sufismo é a dimensão mística do Islã. Isto quer dizer que ele se
centra no aspecto esotérico, interior da religião muçulmana, distinguindo-se de
outros grupos que se centram mesmo sem perder sua dimensão de interioridade, no
aspecto exotérico, exterior. É como a contemplação da realidade espiritual que
se distingue da observância estrita da lei religiosa recebida por meio dos
rituais, textos sagrados e autoridades religiosas. Como tradição mística do
Islã, não é uma espiritualidade distinta e aparte dele, pois procura assumir os
seus preceitos, suas leis e pilares, seu livro sagrado, enfatizando, no
entanto, a perspectiva de interioridade que isto tudo propicia. Como nos afirma
Roger Garaudy (1913-2012), o Sufismo é uma dimensão da fé muçulmana: sua dimensão
de interioridade. Qualquer tentativa para fazer dele uma corrente autônoma, ou
uma função separado, degrada-o inevitavelmente ( ... ). Seria, portanto, falso
identificar o Sufismo com a mística cristã ou com a meditação hindu. Sem
dúvida, devido à própria expansão do Islã, houve contatos e trocas com os
padres do deserto e sua mística cristã, como os gnósticos de Alexandria e os
escritos de Plotino (204-270), com as sabedorias da Índia e a ascese budista.
Essa fecundação recíproca pôde enriquecer a visão de cada um, mas as origens
profundas do Sufismo continuam no Corão. Em árabe, o Sufismo é denominado
"Tasawwuf" e deriva da palavra "sãf", que significa
"lã" e se relaciona com a veste utilizada pelos primeiros Sufis, que
era associada, segundo a tradição,à predileção da maioria dos profetas por tais
tipos e vestimentas. Neste etimologia está a contestação do mundo, útil
particularmente nos primeiros tempos islâmicos, quando as conquistas muçulmanas
criaram um ambiente de fartura e de uma vida voltada aos prazeres e bens
materiais. também se encontra nesta relação com a veste de lã o valor que os
Sufis dão à pobreza e ao despojamento de tudo o que não é Deus. Por isso, são
também chamados de "faqsr" ou "derivsh". Outras tentativas
de explicação associam a origem de seu nome à pureza "safa" e a
banco, "suffa". O primeiro significado corresponderia a busca de
descrever o Sufismo como a "purificação dos corações", tasfiyat al
qulub". Já a palavra "suffa" procura estabelecer uma
correspondência entre os Sufis e o "Povo do Banco ou Povo do
Caminho", um grupo de seguidores do Profeta Maomé que não possuía moradia
e dormia em banco, criando uma comunidade que partilhava tudo entre si. Também
houve a associação, por parte de al Biruni, de "Tasawwuf" à palavra
grega "sophos" sabedoria, o que filologicamente não faz sentido. O
termo "Tasawwuf" significa o processo de se tornar Sufi. É um termo
dinâmico que permite a captação do assumir uma identidade religiosa. Por isso,
a denominação de Sufi pode ser utilizada tanto para quem está percorrendo o
caminho a tarsqa, quanto para quem já alcançou a haqsqa a doutrina proveniente
da iluminação da Verdade. Portanto, os Sufis desenvolvem uma caminho e uma
doutrina, nos quais porpõem um método de iniciação que prepara o fiel para o recebimento
da bênção "baraka" e, ao mesmo tempo, um conhecimento esotérico.
Porém, mesmo utilizando-se de uma única palavra, Sufismo, a realidade a qual
ele se refere é pluriforme. Ele adquiriu, ao longo de sua história,
configurações variadas, a ponto de não existir uma única expressão Sufi, mas
várias escolas e tradições, com variadas nuanças e especificidades. Fontes
Principais do Sufismo. Fontes Principais do Sufismo. As fontes da linguagem
mística Sufi assim como de sua experiência são variadas, sendo que as
primordiais se referem ao mundo muçulmano. Neste sentido, sua fonte primordial
é o Corão. Os Sufis se caracterizam por uma aproximação ao Corão baseada numa
releitura frequente do mesmo e na sua recitação global, qira ah, cujas
principais características são a recitação em comum e em voz alta, instituição
de sessões regulares de recolhimento e sessões com temas corânicos para
meditação. Estas sessões podem se desenvolver rumo a um tipo de concertos
espirituais ou oratórios. Os muçulmanos devem meditar e recitar continuamente o
Corão com a finalidade de adquirir a ciência da istinb, ou seja, a elucidação
imediata do sentido profundo de cada versículo. Segundo Louis Massignon
(1883-1962), os textos do Corão são a base dos termos técnicos do Sufismo.
Assim, são comuns em todo o Sufismo termos como recitação, segredo, mistério do
coração, desvelamento, revelação, irradiação, manifestação. A paz divina que
habita em um santuário ou no coração do crente, arrependimento. Continuamos na
parte II. Abraço. Davi.
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