sábado, 9 de janeiro de 2016

Os Hindus Acreditam No diabo?



Teosofia. A partir  deste texto apresentarei um resumo das palestras do Curso de Introdução ao Pensamento Teosófico. Os que desejarem acompanhar a visão exotérica das religiões, filosofias e espiritualidades orientais dentro do pensamento das tradições e culturas budistas, hinduístas, taoistas, confucionistas e outras devem observar no início das dissertações a palavra Teosofia. São reflexão pessoais, desprovidas de interesse quanto a "verdades" absolutas e descomprometidas com dogmas ou crenças. Começo este estudo respondendo uma pergunta feita por uma amiga. Os hindus acreditam no diabo? Vou tentar fazer uma breve exposição dentro desta premissa que foi abordada. Me esforçarei para argumentar logicamente dentro do conteúdo do assunto. Até onde compreendo das leituras que tenho feito, os hinduístas e budistas tem opiniões diferentes das nossas quanto a muitos conceitos espirituais. Os hindus tem aproximadamente 330 milhões (politeísmo) de divindades. Este é um ponto importante, pois essas tradições veem "deuses" em tudo e em todos. Um panteísmo (crença de que Deus e todo o universo são uma única coisa e, que Deus não existe como um Espírito separado) onde uma força cósmica rege, controla e harmoniza o universo. Uma ideia de que homens e "deuses" coexistem neste mundo e, em outros mundos possíveis. Perceba que segundo este conceito não há um antropomorfismo (conceber atributos humanos a divindades) que tutela e assemelha em graus de afinidades homens e deuses. Isso causa uma limitação de Deus dentro das emoções, sensações e sentimentos humanos. No Bhagavad gita, livro sagrado dos hindus, deuses e humanos convivem em harmonia numa luta travada contra as forças do mal. Krishna, a encarnação de Shiva, dialoga com o discípulo Arjuna sobre como vencer o ego, e separando-se do apego material ascender a divindade de Brahma para triunfar sobre sua vontade própria. Brahma como o Supremo Ser está além do bem e do mal. Ele é o mistério que todos os seres devem acessar quando chegarem a completa evolução cârmica. Nossa tradição cristã para compreender a divindade (Trindade Divina) os assemelha as qualidades humanas. Os Católicos Ortodoxos imprimiram a figura da Virgem Maria (Mãe de Deus), a Intercessora que "roga por nós na hora de nossa morte". Interessante esse arquétipo, pois é corroborado pela maioria das religiões universais, onde elas também têm suas divindades femininas. Isso a insere no seio da família cristã (a mãe é um arquétipo fundamental na harmonia e equilíbrio dos relacionamentos saudáveis) como um símbolo positivo, que nutre, cuida e aperfeiçoa os seus filhos. Os orientais não entendem a Divindade assumindo vícios e virtudes humanas; como se estivesse sob a influência do bem e do mal. A visão heteromorfista (um Deus que se manifesta em tudo e em todos) é em sua cultural mais lógica, plausível e melhor compreendida. Nesse ponto de vista a partícula divina estar em todo o ser vivente. Desde vegetais, animais, minerais e os humanos, dando aos hindus uma volatilidade (imaterial e incorpóreo) e flexibilidade em relação a assuntos como esse que estamos abordando. Desde modo, eles não tem o diabo como opositor de Deus; lutando em pé de igualdade com Ele, e até em algumas circunstância o vencendo; ideia que é passada na cultura cristã, descabidamente ilógica e sem conteúdo compreensível.  A divindade suprema dos hindus, Brahma, que podemos chamar de outros nomes como: Consciência Cósmica, Logos Divino, Espírito Eterno é o ponto de equilíbrio do Universo. Que com sua infinitude e completude sustenta e rege, com poder e autoridade todas as forças negativas e positivas que atua no micro cosmo (homem) e no macro cosmo (Universo). Porém, a divindade do hinduísmo (Shiva, Vishnu e Brahma) é composta de três deuses. O primeiro é o deus do mal. Uma força maligna superior intangível que age no universo. Não aquela figura medonha idealizada com chifres, rabo pontiagudo e tridente na mão. Shiva age em nosso quaternário inferior, impedindo que nossa personalidade, que é apegada aos prazeres, desejos e vontades terrenas, alcance pela virtude e bem aventurança, praticando atos humanitários o estágio da individualidade; que segundo a filosofia espiritual, evolui nosso ser produzindo emoção e sentimento de fraternidade humana.  O problema de personalizar o diabo é que, penso, atribuímos a ele o que ele não tem e não é. Um casuísmo que chegamos ao absurdo de confrontá-lo AO ETERNO. Oportuno lembrar que estes povos, não tem conceito de inferno eterno onde, as pessoas más ou aquelas que não aceitaram Jesus serão lançadas para sempre no Lago de Fogo. Marcos 9: 47, 48 " ... sereis lançados no fogo do inferno. Onde o seu bicho não morre e, o fogo nunca se apaga". Um versículo terrível e desumano. Não mais acredito num Deus cruel e impiedoso. Isso é ilógico e incompreensível quando pensamos em seu amor e na sua graça. Os dois últimos deuses (Vishnu e Brahma) parecem cooperar um com o outro. Mas Brahma é a consciência universal, o princípio de tudo. A razão do eterno ser e, onde tudo e todos um dia convergirão para um nirvana ou samadhy,  sendo no budismo, última etapa da contemplação, caracterizada pela ausência da dor e pela posse da verdade, como decorrência da integração do espírito universal no seio da divindade suprema de completude cósmica. A doutrina do inferno eterno é substituída pela lei da retribuição ou carma. Mais justa pois, somos cobrados pelos erros e pecados que praticamos na proporção das vidas que teremos. Os vários renascimentos são para evoluir nossa consciência onde os méritos e deméritos se ajustam retificando nossos carmas negativos passados.  Também dando para futuras encarnações, carmas positivos, que possibilitarão termos relacionamentos de compaixão e amor para com todos os seres. Não há uma punição eterna objetiva como cristianismo. O mérito e as virtudes pelas obras de amor e fraternidade executados, serão recompensados post mortem, num lugar chamado devachan. Algo parecido com o céu cristão ou exemplificando podemos comparar ao texto de Lucas 16: 22 "o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão". Segundo os livros sagrados do hinduísmo (Vedas, Upanishad e Mahabharata) o devachan provavelmente teria um tempo de 10 a 15 séculos de gozo e consolo, antes de adentrarmos ao portal do novo  renascimento. Temos a ideia de que somos redimidos pois a morte de Cristo pagou o preço e quitou nossa dívida para com Deus através de um sacrifício exterior, o sangue precioso de Cristo derramado na cruz para salvar a humanidade. Essa é uma realidade inquestionável para você e eu, mas eles os hindus têm outra verdade. A redenção é um processo individual. Começando do interior do homem, pois o princípio da consciência universal Brahma está no homem. Sendo desenvolvido através de boas atitudes morais e éticas vivendo um companheirismo, amizade espiritual e associação para o bem. Esse três itens segundo o Budha são indispensáveis ao discípulo no caminho da Senda Espiritual. Neste contexto da redenção de dentro para fora está as iniciativas de meditação, contemplação e orações. Também os estudos dos livros sagrados e das tradições culturais. Esse assunto precisa ser mais detalhado para que alcance uma compreensão lógica e racional pois ainda não estamos acostumados aos conceitos da filosofia oriental. Assim os argumentos e suas premissas ficam obscurecidos pela pouca experiência com a espiritualidade hindu. Mas entendo que o confronto com outras verdades nos ajuda a entender o mundo e as pessoas. Acho interessante um olhar através de outras janelas que nos propiciam enxergar outros cenários, observando situações diferente e tirando resultado fora de nosso corriqueiro contexto espiritual. Isso mostra que O ETERNO, tem variadas formas de se apresentar e de se mostrar aos homens. Precisamos aprender a respeitar os conceitos e as opiniões daqueles que, não tem o mesmo ponto de vista que os nossos, em questões de espiritualidades. Concluo com as palavras do escritor católico Leonardo Boff  (1938-  ) em seu livro Cristianismo o Mínimo do Mínimo. "Para onde quer que dirijamos olhar, para o grande e para o pequeno, para fora e para dentro, para o alto e para baixo, para todos os lados, encontramos o Mistério. Bem confessava Albert Einstein (1879-1955): "O homem que não tem os olhos abertos para o Mistério passará pela vida sem ver nada". O Mistério não é desconhecido. É aquilo que nos fascina e nos atrai para conhecê-lo mais e mais. E, ao mesmo tempo, causa-nos estranheza e reverência. Porque sempre está aí, Ele se oferece permanentemente ao nosso conhecimento. E, ao tentar conhecê-lo, percebemos que nossa sede e fome de conhecimento nunca se sacia, embora possamos sempre conhecê-lo mais. Mas, no mesmo momento em que o captamos, Ele escapa de nós na direção do desconhecido. Perseguimo-lo sem cessar, e, mesmo assim, Ele fica sempre Mistério em todo o conhecimento, causando-nos atração invencível, temor e reverência irresistível. O Mistério é". Abraço. Davi.  

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