Budismo Nitiren Daishonin. Por Daisaku
Ikeda (1928- ). Todos, suponho, têm
recordações da mocidade. Com efeito, de outra forma, dificilmente se
poderá dizer ter vivido ao menos seus anos de jovem. Eu, como todos os
mais, tive meu quinhão. Minha família era pobre, e meus quatro irmãos mais velhos
foram todos convocados pelo Exército e mandados para a frente de batalha.
Em consequência, eu não dispunha de dinheiro nem de tempo para frequentar
a escola da maneira normal. Em vez disso, trabalhava durante o dia e, com o
dinheiro que conseguia, frequentei a escola comercial, e mais tarde o
colégio à noite. Minha
saúde não era muito boa. Apesar disso, tentei dar conta do recado o
melhor possível. Houve ocasiões em que, cuidando de pequenos encargos
para a companhia onde trabalhava, tinha de caminhar lentamente ao longo
de Ginza puxando uma carreta grande. Outras vezes, lembro-me de ter
apenas uma camisa de gola aberta para usar, mesmo quando os ventos de
outono começavam a soprar. Mas não sentia vergonha ou constrangimento
algum. Pelo contrário, via-me como personagem de um drama um jovem,
sorrindo e lutando contra as durezas da vida, e chegava a orgulhar-me. Com
efeito, estou certo de que as dificuldades que tive de enfrentar na época me
ajudaram a construir os alicerces de meu atual estilo de vida. Na
ocasião, tinha uma certa convicção (...) não, seria mais exato chamá-la
uma resolução. Acreditava que a juventude não era algo para ser vivido em
vão. Estava decidido que, mesmo pobre e surrado, caminharia de cabeça
erguida, aproveitando qualquer estímulo que pudesse achar e viveria a
vida o mais plenamente possível. Essa determinação, que serviu como apoio na
época, mantenho imutável hoje em dia. Pondo de lado todas as
considerações acerca de posição, riqueza e reputação, a vitória final reside em
saber que se está fazendo o melhor possível como ser humano, e essa é a
maior vitória de todas. Trata-se de algo que não pretendo esquecer até o
término de meus dias. Quando olho em retrospecto para os dias de minha
mocidade, há coisas que me fazem parar para refletir. Para começar,
gostaria que em minha adolescência e juventude tivesse estudado mais,
particularmente as matérias fundamentais. Certamente eu percebia como era
importante a mocidade, e achava que estava lendo inúmeros livros. Mas
agora me arrependo de não ter lido dez ou vinte vezes mais. Também
gostaria de ter-me exercitado mais e enrijecido meu corpo. Com a ajuda de uma
compreensão tardia, percebo agora quão extremamente importante é o
período da adolescência. Quem sabe não seria exagero dizer que todo o
restante da vida da pessoa é determinado pela maneira como passa os anos da
mocidade. Os jovens se acham em pleno processo de formação, mas por isso
mesmo se acham não acabados. São quantidades desconhecidas, plenas de
possibilidades. Os jovens trazem consigo os ventos da mudança e da
reforma, e são possuidores de enorme e irreprimível vitalidade. Há pouca coisa
capaz de igualar a grandeza da mocidade. Mas se um jovem negligenciar
na construção e passar o tempo todo em bobagens, ou se for excessivamente
cautelosa em suas metas e permitir-se ficar fraco ou ineficiente, então
é culpado, poder-se-ia dizer, de suicídio espiritual. Nenhuma outra linha
de ação poderia ser mais superficial e inadequada. Temos de perceber que
todo jovem que vive é até certo ponto animado pelas paixões juvenis que
lhe circulam pelas veias. Se apenas direção e finalidade firmes puderem
ser dadas a essas paixões, então sem dúvida os jovens poderão
aprender a contribuir para o bem-estar da sociedade e a viver vidas realmente
significativas. Muitos líderes de hoje, contudo, embora prontos para
criticar os moços, parecem dispensar escasso tempo para pensar em seus
próprios malogros e deficiências. Só pensam em sua própria fama e proveito,
trabalham apenas por sua própria glória e progresso, e não entendem
absolutamente os corações e mentes dos jovens. Isto pode parecer uma afirmativa
bastante impertinente para se fazer. Mas gostaria de mencionar que, em um
trabalho escrito há dez anos, tive ensejo de observar o seguinte:
"Não pode haver dúvida quanto ao surto e queda da nação e a
prosperidade e declínio da época serem em grande parte determinados pelo
grau de consciência própria de parte da juventude e da direção que ela segue.
(...). Há, contudo, um fato que nunca deve ser esquecido: o de que sejam
quais forem os esforços construtivos em que possamos nos empenhar, eles
devem ser invariavelmente buscados sob a inspiração e orientação dos mais
elevados ideais e dos mais capazes líderes. Sem tais ideais e sem líderes
assim, a paixão e a vitalidade da mocidade, independente da idade que se
esteja vivendo, serão despendidas em atividade inútil. E se os jovens
forem induzidos a seguir falsos líderes e ideologias, então partirão para
motins e destruição com a violência de uma impetuosa torrente”. É direito
de cada indivíduo buscar sejam quais forem os ideais, filosofia e líderes
que desejar. Fico entristecido apenas pelo fato de que os homens hoje
investidos em poder político sejam incapazes de oferecer o quer que seja
aos jovens. Parece-me que eles precisam dedicar mais atenção e meditação
sobre o rumo a que estão levando o povo deste país. Não acredito que a
tendência dos acontecimentos mundiais permitirá ao Japão
prosseguir indefinidamente em seu presente estado de espírito de prosperidade
pacífica porém irresponsável. Baseado em minha própria experiência, diria
que as qualidades mais indispensáveis à juventude são coragem, convicção
e esperança. Ação corajosa por parte dos moços é a fonte de que tudo mais
é criado. E é a convicção que orienta e apoia a coragem. Encarando
a sociedade de hoje, quantas inúmeras pessoas vemos desprovidas de
convicção! Uma vida dedicada exclusivamente a bajular outros e a
concordar com as opiniões deles é tão oca e sem valor quanto espuma na
crista de uma onda. A convicção não conhece hesitação nem confusão de
metas. E este gênero de convicção é algo que brota naturalmente dos
esforços concretos de uma pessoa para cumprir suas responsabilidades e
missão na vida. Finalmente, uma vida sem esperança, um jovem que sente
não ter futuro, é pouco mais do que um cadáver vivente. Os maiores homens
são aqueles cujos anos juvenis estão cheios de sonhos e ideais, e que
continuam no decurso de suas vidas a perseguir tais sonhos e ideais. Os jovens
são o tesouro de uma nação, a riqueza da era do porvir. Não há poder
comparável ao valor desse tesouro. Fazer qualquer coisa capaz de ameaçar
o futuro desses jovens, ou privá-los do seu vigor, equivale a lançar
nossos próprios tesouros ao mar. E os líderes que vão realmente um
passo adiante e mandam os jovens para o campo de batalha, onde preciosas
vidas são perdidas para sempre, por certo merecem ser chamados de os
homens mais perversos do mundo. Tenho grande afeição pelos jovens, e
minha maior alegria é observá-los crescendo. A visão deles amadurecendo
em um ambiente de saber, paz e felicidade faz meu coração dar pulos de
alegria. É minha esperança atual poder passar o resto da vida caminhando
lado a lado com os jovens e respirar o ar que respiram. E se puder,
afinal, vê-los ascender à plataforma que construirmos juntos e pairar no
ar, um por um, pela causa da paz e do progresso cultural do mundo, conhecerei
a satisfação de minhas esperanças, a consecução de minha maior alegria. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br.
Abraço. Davi.
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