sábado, 18 de abril de 2015

Saddha. Confiança Nascida da Convicção.



Uma das características essenciais do Budismo é a rejeição de qualquer fé prévia. Crer é aceitar o que não sabemos se realmente existe. Nos textos budistas muitas vezes encontramos a palavra Saddha, que significa confiança nascida da convicção. O Budismo é baseado na visão das coisas pelo conhecimento e compreensão, e não pela fé ou crença cega. A crença surge quando não há visão, visão em todo o sentido da palavra. No momento em que vemos, a crença desaparece e a fé cede lugar à confiança baseada no conhecimento. Nos antigos textos existe um dito: Compreender como se vê uma joia na palma da mão. Se eu vos digo que tenho uma joia escondida na minha mão fechada, a crença surge em vós porque não a vedes. Porém, se abro a mão e mostro a joia, vós a vereis por vós mesmos e a crença se dissipará, não tendo mais razão de ser. Um discípulo de Budha, chamado Musila, falando a um outro monge, disse: Amigo Savittha, sem devoção, fé, crença, sem tendência ou inclinação sem preconceito ou tradição, sem considerar as razões aparentes, sem especulação das opiniões, eu sei e vejo que a cessação do vir a ser é o Nirvana. Ouvindo isto o Budha disse: OH! bhikkhus, declaro que a destruição das corrupções e impurezas é para aquele que sabe e vê, e não para aquele que não sabe e não vê. Sempre é uma questão de conhecimento e visão, e não de crença. Como vemos, o ensinamento budista sempre nos convida para vir e ver, e não vir para crer; convida a abrir os olhos e ver livremente, e não fechá-los, dando ordem à crer. Isto foi mais apreciado numa época em que a intolerância da ortodoxia bramânica insistia sobre a crença e aceitação de sua religião como única verdade incontestável. Certa vez, um grupo de sábios brâmanes foi visitar Gautama Budha, com o qual teve uma longa discussão. Então um jovem brâmane, chamado Kapatikn, perguntou ao Mestre: Venerável Gautama, as antigas e santas escrituras dos brâmanes foram transmitidas de geração em geração, mediante uma ininterrupta tradição verbal, através da qual os brâmanes chegaram à conclusão absoluta de que a única verdade seria a deles e qualquer outra seria falsa.
Ouvindo isto, Budha perguntou:
Entre os brâmanes haverá um só indivíduo que pretenda pessoalmente saber e ter visto, por própria experiência, que esta é a única verdade e qualquer outra coisa é falsa?
Não, Senhor: respondeu o jovem com toda a franqueza.
Então, haverá um só instrutor, ou instrutor de instrutores dos brâmanes, anterior à sétima geração, ou ao menos um dos autores originais destas escrituras, que pretenda saber e ter visto, por própria experiência que esta é a única verdade e qualquer outra é falsa?
Não, Senhor!
Então, é como enfileirar homens cegos; cada um se apoiando no precedente: o primeiro não vê, o do meio não vê e o último não vê tampouco. Por conseguinte, parece-me que a condição dos brâmanes é semelhante a esta fila de homens cegos. Nesta ocasião Budha deu a esse grupo de brâmanes um ensinamento de extrema importância: Um homem que sustenta a verdade deve dizer: esta é a minha crença, mas por causa disto ele não deve tirar a conclusão absoluta e dizer: Só há esta verdade, qualquer outra é falsa. A palavra Saddha significa: convicção, fé, confiança, apreço. É dito que um budista tem fé se ele acredita na iluminação do Budha; ou nas três joias, chamada de Tiratana, consistindo-se do Budha; Dhamma, que representa a investigação dos fenômenos e Sangha, a comunidade espiritual budista. A sua fé no entanto deve ser equilibrada e fundamentada no entendimento, e ele deve investigar e testar o objeto da sua fé. A fé no Budismo não está em conflito com o espírito inquisitivo, e a incerteza com respeito a coisas duvidosas é admitida, sendo sua investigação encorajada. A faculdade da fé, Saddhindriya, deve ser harmonizada com a sabedoria. É dito que um Bhikkhu, monge ou monja budista, um homem ou mulher que desistiu da vida em família para viver uma vida com virtude engrandecida, de acordo com a disciplina monástica em geral, e o código básico de disciplina monástica em particular. Sendo este constituído de 227 regras para os monges e 310 regras para as monjas. O Bhikkhu que tem entendimento estabelece a sua fé de acordo com essa compreensão. Através do discernimento e sabedoria, a fé se transforma em certeza interior e firme convicção baseada na própria experiência pessoal. A fé é chamada de a semente de todos os estados benéficos, porque ela inspira a mente com confiança e determinação para iniciar a travessia da torrente do Samsara, que representa o ciclo de mortes e renascimentos. A fé inabalável é alcançada com o estágio de entrar na correnteza, Sotapanna, representa uma pessoa que abandonou os primeiros três grilhões que aprisionam a mente aos ciclos de renascimentos, dessa forma entrou na corrente fluindo inexoravelmente, no qual o grilhão da dúvida é erradicado. Do livro Budismo: Psicologia do Auto Conhecimento. Contos de discursos médios Majjhima Nikaya. Do editor do Mosaico. O Budismo em geral é considerado uma não "religião", stricto sensu, sentido estrito, também seu conceito lógico racional de crença, o identifica como uma espiritualidade não teísta. Esse termo deve ser esclarecido, pois o ateísta é aquele que não crer numa divindade Suprema, já o não teísta concebe a divindade Superior,  lato sensu, sentido abrangente, onde Deus não apenas tem características antropomórficas, no aspecto de pessoalidade, mas principalmente na perspectiva polimórfica sendo visto e manifestado em todos os reinos da natureza mineral, vegetal, animal e humana. Essa característica empregada quando menciono Deus, não se refere a divindade cristã, no sentido teológico dogmático, mas na abrangência diversificada como declarado em I Coríntios 15:28 "E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo filho se sujeitará, aquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos". O Budismo vê Deus como tudo em todos. Em Colossenses 3:11 é dito "Onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Christo, Budha é tudo, e em todos". Esse conceito é racional e entendido coerentemente, pois não medimos Deus pela fraqueza dos homens, nem o aproximamos de suas paixões e prazeres, fazendo-o, ora pender para o bem ora para o mal. Muitos erroneamente pensam que as coisas ruins vêm necessariamente do diabo, e as coisas boas vêm de Deus. Assim teologicamente temos dificuldade de perceber que Deus está além do bem e do mal. Situação que a espiritualidade oriental não confronta, pois o sofrimento para eles é intrínseco à evolução de todos os seres, que um dia alcançarão a libertação total pelo Nirvana. A visão do antropomorfismo (característica originariamente humana) da divindade direcionada em todos os aspectos da religiosidade cristã, obscurece a compreensão mínima, de um Deus racional que deseja caminhar com o discípulo ao seu lado, sofrendo, amando, alegrando, sorrindo, chorando e vivendo. Assim a santidade budista, penso, entende a divindade incorporada nas atitudes e prática exteriores relacionadas a compaixão, altruísmo e abnegação. Uma salvação, evolução, realizada pelo próprio fiel, individualizada pelos seus esforços virtuosos e meritórios. Desse modo, há possibilidade de honrar e aceitar todas as verdades advindas das mais diversas tendências espirituais, não tentando sobrepor nosso conceito como valor absoluto e irrefutável. O Budha em seus Sutras, nunca disse que seu caminho era a única e infalível verdade, pelo contrário, encorajou o Bhikkhu, monge ou monja (leigo ou monástico) a alcançar o caminho da verdade pelo seu esforço e perseverança, duvidando do óbvio e questionando sua crença, considerando ilusão aquilo que via apenas pela fé cega, sem compreender seu significado como experiência de vida. "Bem aventurado aquele que atingiu o estado sagrado de Budha, pois ele está apto a produzir a salvação de seus semelhantes. A verdade tomou a sua morada nele. Perfeita sabedoria ilumina seu entendimento, e a justiça anima o fim de todas as suas ações. Depois que Siddharta atingiu o estado de Budha, por ter passado por todos os sofrimentos, ele passou a estar apto a produzir a salvação de todos os seus semelhantes. Jesus é descrito em Hebreus 2:10,11 "Por que era próprio que aquele, para quem são todas as coisas e por intermédio de quem são todas as coisas, trazendo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse por sofrimento o príncipe da salvação deles. Porque tanto aquele que santifica como os que estão sendo santificados, provem todos de um só e por esta causa ele não se envergonha de chamá-los irmão". Com o tempo veremos que a semelhança entre Jesus e Budha é impressionante desde o nascimento virginal, vida meditativa e contemplativa, ministério voltado aos pobres e necessitados e morte num madeiro; havendo interessantes coincidências. Não seria Jesus uma das encarnações do Budha Sakyamuni, assim como imaginamos que Siddharta Gautama é uma das encarnações de Krishna, que também tem enormes semelhanças, nos itens pessoais que mencionamos acima, em relação aos dois Iluminados anteriores. Os três eram taumaturgos, realizando milagres em seu apostolado, missão ou Dharma. Abraço. Davi.

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