quinta-feira, 16 de abril de 2015

Guru Yoga.



O objetivo da prática do Dharma é atingir a iluminação. Realmente, atingir a iluminação é exatamente o mesmo que nos libertarmos da ignorância, e a raiz da ignorância é o ego. Qualquer que seja o caminho que tomemos, seja uma rota longa e disciplinada, seja curta e selvagem, em seu fim o ponto essencial é que eliminemos o ego. Há muitos e muitos modos diferentes pelos quais podemos fazer isto, através da meditação Shamatha por exemplo, e todos eles trabalham até um certo ponto ou outro. Entretanto, já que temos estado com nosso ego por tantas vidas e estamos tão familiares com ele, cada vez que tomamos um caminho em nossos esforços para eliminar o ego, esse mesmo caminho é sequestrado pelo ego e manipulado de tal modo que, ao invés de o esmagar, nosso caminho apenas ajuda a reforçá-lo. Esta é a razão pela qual, no Vajrayana, a devoção ao lama ou Guru Yoga é ensinada como uma prática vital e essencial. Como o lama é um ser vivo, que respira, ele ou ela é capaz de lidar diretamente com o seu ego. Ler um livro sobre como eliminar o ego pode ser interessante, mas você nunca terá intimidade por esse livro e, de qualquer modo, os livros estão inteiramente abertos para a sua própria interpretação. Um livro não pode falar ou reagir a você, enquanto o lama pode e irá agitar o seu ego para que eventualmente ele seja eliminado completamente. Se é isto atingido irada ou gentilmente, não importa, mas no fim é para isto que o lama está lá e é por isto que a devoção ao lama é tão importante. Para um aluno que tem uma devoção verdadeira, o lama é a corporificação de todas as fontes de refúgio e a devoção pelo lama é a essência de todos os caminhos. O lama Jamyang Gyaltsen (1894-1977), um grande mestre Sakyapa, disse que "O lama é a corporificação de todo refúgio", significando que quando tomamos refúgio, vemos o lama presente em todas as Três Joias: a presença física do lama é vista como a Sangha, o ensinamento do lama é visto como o Dharma e a mente do lama é vista com o Buddha. O Guru Yoga é o método mais rápido e mais efetivo para se atingir a iluminação e é o caminho único no qual todos os caminhos estão completos. O Guru Yoga inclui a renúncia, à Bodhichitta, a meditação de desenvolvimento (Kyerim) e de completude (Dzogrim) e o treinamento da mente (Lojong), e é por isso que podemos dizer que o Guru Yoga é a corporificação, ou a essência, de todos os caminhos. É a chave para todos eles, o método especial que pode levar um praticante através dos estágios do caminho do Bodhisattva e dos diferentes Yanas. Outros caminhos podem levá-lo a um certo nível, mas não completos. O Guru Yoga é não apenas o caminho completo, mas também o mais condensado. A fim de praticar o Guru Yoga, primeiro devemos aprender como ver o nosso lama como o Budha. Em nossas vidas cotidianas, mesmo que tenhamos um lama, tendemos a procurar pela solução de nossos problemas em outros lugares. Em um outro nível, quando estamos doentes nós "tomamos refúgio" em um médico, ou se está chovendo nós "tomamos refúgio" em um guarda-chuva. Do mesmo modo, em um nível interno, se tivermos problemas com dinheiro, podemos tentar resolvê-los com a prática de Dzambhala; se encaramos obstáculos e dificuldades, podemos invocar a ajuda de Mahakala; ou se não tivermos sabedoria, podemos rezar para Manjushri. Isto mostra o quão fraca é a nossa devoção, pois para o que quer que esteja faltando, precisamos apenas olhar para uma fonte de ajuda e guia: o lama. O primeiro estágio da devoção ao lama, então, é despertar e aumentar nossa devoção, até que ela se torne sonora e forte, e que possamos realmente olhar para o lama como o Buddha. Gradualmente alcançaremos o segundo estágio, onde não simplesmente pensamos que o lama é o Budha; nós vemos que ele é o Budha. Conforme nossa devoção torna-se mais forte, é com um sentido crescente de alegria que começamos a confiar inteiramente no lama para tudo. Surge uma confiança interior, uma certeza absoluta de que o lama é a única fonte de refúgio. Não temos mais que criar ou fabricar nossa devoção, agora, ela vem bem naturalmente. Então todas as nossas experiências, boas e ruins, tornam-se manifestações do lama. Tudo que experienciamos na vida torna-se benéfica e tem um objetivo; tudo que encontramos torna-se um ensinamento. A confiança e devoção totais pelo lama são nascidas dentro de nosso coração, e a bênção do lama dissolve-se em nossa mente. Com isto, alcançamos o terceiro estágio, que é quando realizamos que nossa mente não é outra que o lama, que vimos como sendo o Buddha. Finalmente planejamos fundir nossa mente com a mente do lama, o que nos leva além de todos os nossos hábitos de exagero e de baixa estima, e nos livra de todos os tipos de expectativa e de medo. Nossa devoção, finalmente, não é criada ou fabricada, mas sim uma devoção verdadeira, e uma vez tendo a atingido, realizaremos a meta última de toda a prática budista. Do prefácio de Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche (1961-   ) em Guru Yoga. Um ensinamento oral de Dilgo Khyentse Rinpoche (1961-   ), traduzido por Gelong Konchog Tenzin (1924-2006). O Dalai Lama Kedrub Gyatso (1838-1856), reconhecido como Budhissatva em 1840, falou as seguintes palavras: “Budha Sakyamuni disse: você é seu próprio mestre; as coisas dependem de você. Sou um instrutor, e, tal como um médico, posso lhe dar o medicamento, mas você terá que toma-lo por si só e cuidar de si próprio”. Ele prossegue, Quem é Budha? É um ser que alcançou a completa purificação da mente, da palavra e do corpo. Segundo determinadas escrituras, a mente de Budha, o Dharmakaya, ou o Corpo de Verdade, pode ser considerada como Budha. A palavra de Budha ou a energia interior pode ser considerada como Dharma, a Doutrina. A forma física de Budha pode ser considerada coma Sangha, a Comunidade Espiritual. Desse modo, voltamos para as 3 joias: Budha, sua Doutrina e a Comunidade Espiritual”. Segue breve comentário do editor do Mosaico. Inseri as palavras do  11º Dalai Lama Kedrub Gyatso acima, para tentar explicar sucintamente o conceito de Guru que entendi. Como Budha conceituou que somos nosso próprio mestre, parece, que a formação do guru é um processo interior, realizado por nós mesmos, na medida que nos envolvemos em um vida de santificação e pureza, adentrando os portais do conhecimento búdico (sabedoria divina), pela prática dos métodos meditativos e manifestação das verdades sublimes concernentes ao micro (homem) e macro (universo) cosmo. O instrutor é o caminho que temos disponível para exercitar nossa busca e empenho, desenvolvendo a evolução espiritual. Budha idealizou uma coletividade humana, que expressasse pela devoção, meditação, contemplação e práticas individuais e públicas um viver condizente com as Quatro Nobres Verdades: 1. O sofrimento existe para todos. 2. Descobrir as raízes do sofrimento, as causas da dor. 3. Interromper o sofrimento. 4. Seguir o caminho óctuplo para eliminar o sofrimento. O apóstolo João, nas escrituras cristãs, que aprendeu com o Mestre Jesus, que por sua vez, segundo estudiosos, sendo iniciado na seita dos Essênios, leu alguns dos sutras de Budha, quando de sua viagem à Índia, em seus tempos de juventude. João diz em sua primeira epistola 2:20 “E vós tendes a unção dos santos e sabeis todas as coisas”. Essa unção é o que Budha chama de Mestre, que devemos desenvolver em nossa busca e aprendizado espiritual. Continuamos nas palavras místicas do apóstolo João no mesmo capítulo 2:27 “E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade que alguém vos ensine, mas como a unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis”. A visão do instrutor está baseada na doutrina exotérica (pública) e esóterica (oculta), sendo elas a fonte de sabedoria e conhecimento que podemos acessar para conduzir nossa evolução pela realidade da compaixão e abnegação. O ensino exotérico perfaz  o caminho óctuplo em sua prática e conhecimento, necessitando de um empenho do discípulo para trilhar esse caminho que conduz ao portal da iluminação.  O ensino esotérico constitui as nobres verdades que devemos imprimir em nossa convivência, aprendendo como lidar com elas em cada circunstância de nossa existência. Nessa instância devemos desprender mais “esforço” e dedicação, pois nem todos os neófitos (principiantes), que é nosso caso, persistirão em sua encarnação atual por esse labirinto da busca da Suprema Consciência Búdhica. Mas aqueles que tomarem essa iniciativa, poderão usufruir do gozo e felicidade do desapego material e desprendimento dos prazeres mundanos, abrindo sua alma à interação com todos os reinos e seres existentes, usando sua mente cósmica à cooperação da evolução em todos os mundos visíveis e invisíveis. Abraço. Davi.

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