O
objetivo da prática do Dharma é atingir a iluminação. Realmente, atingir
a iluminação é exatamente o mesmo que nos libertarmos da ignorância, e a raiz
da ignorância é o ego. Qualquer que seja o caminho que tomemos, seja uma rota
longa e disciplinada, seja curta e selvagem, em seu fim o ponto essencial é que
eliminemos o ego. Há muitos e muitos modos diferentes pelos quais podemos fazer
isto, através da meditação Shamatha por exemplo, e todos eles trabalham
até um certo ponto ou outro. Entretanto, já que temos estado com nosso ego por
tantas vidas e estamos tão familiares com ele, cada vez que tomamos um caminho
em nossos esforços para eliminar o ego, esse mesmo caminho é sequestrado pelo
ego e manipulado de tal modo que, ao invés de o esmagar, nosso caminho apenas
ajuda a reforçá-lo. Esta é a razão pela qual, no Vajrayana, a devoção ao
lama ou Guru Yoga é ensinada como uma prática vital e essencial.
Como o lama é um ser vivo, que respira, ele ou ela é capaz de lidar
diretamente com o seu ego. Ler um livro sobre como eliminar o ego pode ser
interessante, mas você nunca terá intimidade por esse livro e, de qualquer
modo, os livros estão inteiramente abertos para a sua própria interpretação. Um
livro não pode falar ou reagir a você, enquanto o lama pode e irá agitar
o seu ego para que eventualmente ele seja eliminado completamente. Se é isto
atingido irada ou gentilmente, não importa, mas no fim é para isto que o lama
está lá e é por isto que a devoção ao lama é tão importante. Para um
aluno que tem uma devoção verdadeira, o lama é a corporificação de todas
as fontes de refúgio e a devoção pelo lama é a essência de todos os
caminhos. O lama Jamyang Gyaltsen (1894-1977), um grande mestre Sakyapa,
disse que "O lama é a corporificação de todo refúgio",
significando que quando tomamos refúgio, vemos o lama presente em todas
as Três Joias: a presença física do lama é vista como a Sangha, o
ensinamento do lama é visto como o Dharma e a mente do lama
é vista com o Buddha. O Guru Yoga é o método mais rápido e mais
efetivo para se atingir a iluminação e é o caminho único no qual todos os
caminhos estão completos. O Guru Yoga inclui a renúncia, à Bodhichitta,
a meditação de desenvolvimento (Kyerim) e de completude (Dzogrim)
e o treinamento da mente (Lojong), e é por isso que podemos dizer que o Guru
Yoga é a corporificação, ou a essência, de todos os caminhos. É a chave
para todos eles, o método especial que pode levar um praticante através dos
estágios do caminho do Bodhisattva e dos diferentes Yanas. Outros
caminhos podem levá-lo a um certo nível, mas não completos. O Guru Yoga
é não apenas o caminho completo, mas também o mais condensado. A fim de
praticar o Guru Yoga, primeiro devemos aprender como ver o nosso lama
como o Budha. Em nossas vidas cotidianas, mesmo que tenhamos um lama,
tendemos a procurar pela solução de nossos problemas em outros lugares. Em um
outro nível, quando estamos doentes nós "tomamos refúgio" em um
médico, ou se está chovendo nós "tomamos refúgio" em um guarda-chuva.
Do mesmo modo, em um nível interno, se tivermos problemas com dinheiro, podemos
tentar resolvê-los com a prática de Dzambhala; se encaramos obstáculos e
dificuldades, podemos invocar a ajuda de Mahakala; ou se não tivermos
sabedoria, podemos rezar para Manjushri. Isto mostra o quão fraca é a
nossa devoção, pois para o que quer que esteja faltando, precisamos apenas
olhar para uma fonte de ajuda e guia: o lama. O primeiro estágio da
devoção ao lama, então, é despertar e aumentar nossa devoção, até que
ela se torne sonora e forte, e que possamos realmente olhar para o lama
como o Buddha. Gradualmente alcançaremos o segundo estágio, onde não
simplesmente pensamos que o lama é o Budha; nós vemos que ele é o
Budha. Conforme nossa devoção torna-se mais forte, é com um sentido
crescente de alegria que começamos a confiar inteiramente no lama para
tudo. Surge uma confiança interior, uma certeza absoluta de que o lama é
a única fonte de refúgio. Não temos mais que criar ou fabricar nossa devoção,
agora, ela vem bem naturalmente. Então todas as nossas experiências, boas e
ruins, tornam-se manifestações do lama. Tudo que experienciamos na vida
torna-se benéfica e tem um objetivo; tudo que encontramos torna-se um
ensinamento. A confiança e devoção totais pelo lama são nascidas dentro
de nosso coração, e a bênção do lama dissolve-se em nossa mente. Com
isto, alcançamos o terceiro estágio, que é quando realizamos que nossa mente
não é outra que o lama, que vimos como sendo o Buddha. Finalmente
planejamos fundir nossa mente com a mente do lama, o que nos leva além
de todos os nossos hábitos de exagero e de baixa estima, e nos livra de todos
os tipos de expectativa e de medo. Nossa devoção, finalmente, não é criada ou
fabricada, mas sim uma devoção verdadeira, e uma vez tendo a atingido,
realizaremos a meta última de toda a prática budista. Do prefácio de Dzongsar
Jamyang Khyentse Rinpoche (1961- ) em
Guru Yoga. Um ensinamento oral de Dilgo Khyentse Rinpoche (1961- ), traduzido por Gelong Konchog Tenzin
(1924-2006). O Dalai Lama Kedrub Gyatso (1838-1856), reconhecido como Budhissatva
em 1840, falou as seguintes palavras: “Budha Sakyamuni disse: você é seu
próprio mestre; as coisas dependem de você. Sou um instrutor, e, tal como um
médico, posso lhe dar o medicamento, mas você terá que toma-lo por si só e
cuidar de si próprio”. Ele prossegue, Quem é Budha? É um ser que alcançou a
completa purificação da mente, da palavra e do corpo. Segundo determinadas
escrituras, a mente de Budha, o Dharmakaya, ou o Corpo de Verdade, pode ser
considerada como Budha. A palavra de Budha ou a energia interior pode ser
considerada como Dharma, a Doutrina. A forma física de Budha pode ser
considerada coma Sangha, a Comunidade Espiritual. Desse modo, voltamos para as
3 joias: Budha, sua Doutrina e a Comunidade Espiritual”. Segue breve comentário
do editor do Mosaico. Inseri as palavras do
11º Dalai Lama Kedrub Gyatso acima, para tentar explicar sucintamente o
conceito de Guru que entendi. Como Budha conceituou que somos nosso próprio
mestre, parece, que a formação do guru é um processo interior, realizado por
nós mesmos, na medida que nos envolvemos em um vida de santificação e pureza,
adentrando os portais do conhecimento búdico (sabedoria divina), pela prática
dos métodos meditativos e manifestação das verdades sublimes concernentes ao
micro (homem) e macro (universo) cosmo. O instrutor é o caminho que temos
disponível para exercitar nossa busca e empenho, desenvolvendo a evolução
espiritual. Budha idealizou uma coletividade humana, que expressasse pela
devoção, meditação, contemplação e práticas individuais e públicas um viver
condizente com as Quatro Nobres Verdades: 1. O sofrimento existe para todos. 2.
Descobrir as raízes do sofrimento, as causas da dor. 3. Interromper o
sofrimento. 4. Seguir o caminho óctuplo para eliminar o sofrimento. O apóstolo
João, nas escrituras cristãs, que aprendeu com o Mestre Jesus, que por sua vez,
segundo estudiosos, sendo iniciado na seita dos Essênios, leu alguns dos sutras
de Budha, quando de sua viagem à Índia, em seus tempos de juventude. João diz
em sua primeira epistola 2:20 “E vós tendes a unção dos santos e sabeis todas
as coisas”. Essa unção é o que Budha chama de Mestre, que devemos desenvolver
em nossa busca e aprendizado espiritual. Continuamos nas palavras místicas do
apóstolo João no mesmo capítulo 2:27 “E a unção que vós recebestes dele, fica
em vós, e não tendes necessidade que alguém vos ensine, mas como a unção vos
ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou,
assim nele permanecereis”. A visão do instrutor está baseada na doutrina
exotérica (pública) e esóterica (oculta), sendo elas a fonte de sabedoria e
conhecimento que podemos acessar para conduzir nossa evolução pela realidade da
compaixão e abnegação. O ensino exotérico perfaz o caminho óctuplo em sua prática e
conhecimento, necessitando de um empenho do discípulo para trilhar esse caminho
que conduz ao portal da iluminação. O
ensino esotérico constitui as nobres verdades que devemos imprimir em nossa
convivência, aprendendo como lidar com elas em cada circunstância de nossa
existência. Nessa instância devemos desprender mais “esforço” e dedicação, pois
nem todos os neófitos (principiantes), que é nosso caso, persistirão em sua
encarnação atual por esse labirinto da busca da Suprema Consciência Búdhica.
Mas aqueles que tomarem essa iniciativa, poderão usufruir do gozo e felicidade
do desapego material e desprendimento dos prazeres mundanos, abrindo sua alma à
interação com todos os reinos e seres existentes, usando sua mente cósmica à
cooperação da evolução em todos os mundos visíveis e invisíveis. Abraço. Davi.
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