segunda-feira, 20 de abril de 2015

A Transmigração das Almas.



A partir do primeiro texto resumo da professora da USP, Maria da Glória Novak, e do segundo de Charles W. Ranson (1903-1988) farei algumas ponderações sobre o tema A Transmigração das Almas. "Platão (428 AC 347) apresenta a teoria da reminiscência como prova da imortalidade da alma em seus três diálogos: Fedro, Menon e a República. Nestes ele descreve a composição tripartida da alma e sua transmigração. Por sua vez, Tito Lucrécio (94 AC 50), no compêndio De Rerun Natura, assim como Epícuro (341 AC 270), na Carta à Heródoto, propõe a teoria do esquecimento e afirma que a alma é corpórea. Eles dividem a alma em duas partes animus e anima, ou espírito e alma. e em quatro elementos: calor, sopro, ar e uma quarta substância. Lucrécio, poeta, apoia-se na experiência: não nos lembramos. Platão, o filósofo, no mito: saber é lembrar. O epicurismo afastasse totalmente da concepção órfico pitagórica e platônica de uma alma imortal. Essa teoria surgiu para livrar dos seus temores o homem, que ante a morte, teme dores terríveis e eterna para a alma, e a insensibilidade para o corpo. Segundo o Epicurismo, ambos os temores são irracionais; quando o homem não existe a morte não está presente, e quando está presente o homem não existe". Esse primeiro texto é eminentemente filosófico, assinado por uma das decanas da principal universidade pública do Brasil, Universidade de São Paulo. Platão e Pitágoras (571 AC 495), segundo consta na sabedoria esotérica, eram iniciados de uma seita que concebiam os números como essência e substância de um mundo abstrato e invisível, divinamente representante de todas as formas aparentemente conhecidas e desconhecidas, manifestando o ente e o ser existencial no mundo real e imaginário. Entendiam a matemática e suas derivações como: álgebra, geometria, aritmética, cálculo e outras como transcendentes. Esses filósofos sendo os hierofantes (sacerdotes) desse agregado místico, imponham condições para que aqueles que desejassem ingressar nessa academia secreta se tornassem os neófitos propedêuticos desses ensinos ocultos. Na época havia uma prova, onde o candidato deveria acertar o cálculo dos ângulos agudos e retos de um determinado prisma. Assim por envolver um conhecimento preliminar apurado, a comunidade esotérica dos pitagóricos teve um número restrito de adeptos e iniciados. O raciocínio de Platão para provar a teoria da imortalidade da alma, é coerentemente lógico e simples, pois via em nossas lembranças um vestígio dos renascimentos passados. Aquilo que é armazenado em nossa memória, quando de uma experiência singular e especial, nunca esquecemos; esse fato vêm acompanhando-nos por toda nossa vida. Uma confirmação que nossa existência perfaz infinitos ciclos de nascimentos e mortes, e esse processo cósmico desaguará no oceano da Consciência Eterna. Nos diálogos referidos, principalmente no Fedro, Platão ainda não tinha um conhecimento específico de espírito, como pensamos hoje sendo o homem trípartido (corpo, alma e espírito), na visão cristã. Mas dividia a alma em três partes: o lado racional localizado na cabeça, o lado irascível, emoção e humor, localizado no coração e o lado concupiscente, ganância, localizado no baixo ventre. No mito do cocheiro, no diálogo Fedro, Platão compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos, um branco (irascível) e um negro (concupiscível). O corpo humano é a carruagem e o cocheiro (razão) conduz através das rédeas (pensamento) os cavalos (sentimentos). Cabe ao homem através de seus pensamentos saber conduzir seus sentimentos, pois somente assim ele poderá se guiar no caminho da verdade. Lucrécio em seu livro, traduzindo o latim: Sobre a Natureza das Coisas ou do Universo, postula que todos temos responsabilidade em relação ao universo, e podemos melhorá-lo se assumirmos uma posição de compaixão e altruísmo para com todos os seres. Pois nossos átomos estão interligados a todos os outros dos demais reinos visíveis e invisíveis. Assim cada reino (mineral, vegetal, animal e humano) existente têm correspondência pré estabelecida nos primórdios dos tempos. Esse livro que ele escreveu é um poema e vejamos alguns de seus argumentos: Os átomos movem-se num infinito vazio; o universo é composto de átomo e vazio; a alma humana consiste em átomos diminutos que se dissolve com o húmus (substância escura que resulta da decomposição parcial, pelos micróbios do solo, de detritos vegetais e animais) quando morre; Deus existe, mas não iniciou o universo, e não lhe interessa as ações dos homens; existem outros mundos como o universo e são similares a estes; as formas de vida neste mundo e nos outros estão em constante movimento, incrementando a potência de umas formas e diminuindo a de outras. Lucrécio ainda continua, as pessoas nascem com dois medos inatos, o medo dos deuses e o medo da morte; no entanto os deuses não querem provocar-nos dano, a morte é fácil quando a vida se vai; quando alguém morre, os átomos da alma e os átomos do corpo continuam a essência dando forma às rochas, lagos ou flores. No último parágrafo da Carta de Epícuro a Heródoto é dito "O movimento dos átomos não teve começo, já que todos os átomos são eternos e vazios. De outra forma, a uma infinidade de mundos, sejam parecidos com o nosso, sejam diferente. Em efeito, sendo os átomos infinitos, como se acaba de demonstrar, são levados por seus movimentos até os lugares mais longe. E tais átomos que por sua natureza servem, já por si mesmos, por sua ação para criar um mundo, não podem ser utilizados todos para formar um único mundo, ou um número limitado de mundos, nem para os semelhantes a esses, nem para os diferentes, de modo que não impede que exista uma infinidade de mundos". Está claro nesse trecho de Epícuro, que a alma humana após sua germinação começa a viagem no tempo por mundos desconhecidos que nossa lembrança ainda em uma consciência limitada não consegue acessar. Mas segundo o budismo e as tradições espirituais hindus, os mestres iogues, e alguns Lamas em estado de êxtase, conectam-se a esse remoto passado ou passado de nascimentos próximos. Essa experiência mística comprova que nossa alma é eterna e atravessa após nossa morte, a barreira do tempo e do espaço. Essa ideia da alma  reencarnante sem dúvida, foi adquirida por esses filósofos antigos,  quando estudavam os mestre e sábios da tradição hindus, brâmanes, budistas, taoístas e confucionistas. Segundo a tradição esotérica, Platão e Pitágoras, baseado em relatos verossímeis, acessaram ensinamentos do Budha Sakyamuni, quando pesquisavam e investigavam sobre o universo e a relação sagrada dos números com a magia e o conhecimento oculto. Segue o segundo texto de Charles W. Ranson. "Transmigração das almas, às vezes chamado de Metempsicose, é baseado na ideia de que uma alma pode passar de um corpo e residir em outro (humano ou animal) ou em um objeto inanimado. A ideia aparece de várias formas em culturas tribais em muitas partes do mundo (por exemplo, África, Madagascar, Oceania e América do Sul). A ideia era familiar na Grécia antiga, nomeadamente no orfismo (doutrina dos mistérios órficos, oriundos das tradições gregas e do culto a Dionísio Zabreu, a qual preconizava a ascese afim de acelerar a libertação da alma, através de transmigrações sucessivas), sendo aprovada em uma forma filosófica de Platão e os pitagóricos. A crença ganhou alguma notoriedade em gnósticas e ocultas formas de cristianismo (esotérico) e judaísmo (cabala) e foi introduzida no pensamento renascentista pela recuperação dos livros herméticos (Hermes Trimegisto, o três vezes grande). A doutrina mais plenamente articulado de transmigração é encontrada no Hinduísmo. Ele não aparece nas primeiras escrituras sagradas hindus (Rig Veda), mas foi desenvolvido em um período posterior nos Upanishads (600 AC). Como ponto central trazia a concepção do destino humano, que após a morte, havia a crença de que os seres humanos nascem e morrem muitas vezes. Almas são consideradas como emanações do espírito divino. Cada alma passa de um corpo para outro em um ciclo contínuo de nascimentos e mortes, onde a sua condição em cada existência está sendo determinada por suas ações em nascimentos anteriores. Assim, transmigração, está entrelaçado com o conceito de Karma (toda ação corresponde uma reação, para cada causa há um efeito), o que envolve o inevitável trabalhar fora, para o bem ou para o mal, de toda a ação em uma existência futura. Toda a experiência de vida, seja de felicidade ou tristeza, é uma justíssima recompensa para ações (boas ou más) feita em existências anteriores. O ciclo de karma e reencarnação pode estender-se através de inúmeras vidas, o objetivo final é a reabsorção da alma no oceano da divindade de onde veio. Esta união ocorre quando o indivíduo percebe a verdade sobre a alma e o Absoluto (Brahman) e a alma se torna um com Brahma. Muitas vezes, é errôneo pensar que o budismo também envolve transmigração. A doutrina budista clássica de anatta (sem alma), no entanto, especificamente rejeita a visão hindu. A posição budista sobre o funcionamento do Karma é extremamente complexa. A ideia da transmigração tem sido propagada no mundo ocidental por movimentos como a Teosofia e pela proliferação mais recente de orientais cultos religiosos. A maioria dessas versões ocidentalizadas parecem não ter o rigor intelectual e conteúdo filosófico da doutrina clássica hindu". Vou focar meu argumento no ponto em que discordo de Charles W. Ranson, quando diz: "Muitas vezes, é errôneo pensar que o budismo também envolve transmigração. A doutrina budista clássica de Anatta (sem alma), no entanto, especificamente rejeita a visão hindu". Ranson estava nitidamente desinformado e desatualizado, quando fez esse comentário superficial e sem base na tradição budista. O termo Anatta não significa "sem alma" como foi erradamente traduzido por ele, dando impressão de que o budismo contradiz a transmigração de alma. que não é verdade. A doutrina da reencarnação, penso, é um pressuposto definido em todo o Budismo, como temos percebido nos textos aqui no Mosaico, pois temos estudado as principais Escolas Budistas como: Tibetana, Theravada, Mahayana, Vajrayana e o Zen; sendo essa doutrina pertencente a todas elas.  O significado correto de Anatta é Não Eu. Assim, apresento, para explicar de forma coerente e baseada na espiritualidade budista esse tema, que traz confusão principalmente para alguns, que as vezes por ingenuidade ou interesses alheios e obscuros, tentam confundir a cabeça dos apreciadores da tradição budista. Usarei nessa exposição as palavras do Bhikkhu americano Ajaan Thanissaro (1949-   ), de tradição do Budismo Theravada. O tema é Não Eu ou Anatta. "Um dos primeiros obstáculos que as pessoas no ocidente se deparam com frequência quando estão aprendendo acerca do Budismo é o ensinamento de Anatta, com frequência traduzido como Não Eu. Esse ensinamento é um obstáculo por duas razões. Primeiro, a ideia de que não existe um Eu, não se encaixa bem com outros ensinamentos budistas, tais como a doutrina do Karma e renascimentos. Se não existe um Eu, quem experiência os resultados do karma e renascer? Segundo, ela não se encaixa bem com nossa referência judaico cristã que possui como pressuposto básico a existência de uma alma eterna ou Eu. Se não existe um Eu, qual o propósito de uma busca espiritual? Muitos livros tentam responder essas questões, mas se você procurar no cânone em Pali, o registro mais antigo dos ensinamentos do Budha Sakyamuni, você não irá encontrar absolutamente nenhuma referência. Na verdade, em uma ocasião em que o Budha foi questionado diretamente se existe ou não um Eu, ele se recusou a responder. Quando mais tarde perguntado porque, ele disse que acreditar que existe um Eu, ou de que não existe um Eu, significa cair em formas extremas de entendimento incorreto que possibilitam a prática do caminho budista. Por isso a questão deve ser deixada de lado. Para entender o que seu silêncio sobre esta questão informa acerca do significado de Anatta, precisamos primeiro entender os seus ensinamentos acerca de como as questões devem ser perguntadas e respondidas e como interpretar as suas respostas. O Budha dividiu todas as questões em quatro classes: aquelas que merecem uma resposta direta (sim ou não); aquelas que merecem uma resposta analítica, definindo e qualificando os termos da questão; aquelas que merecem uma contra pergunta; devolvendo a "bola" a quem levou a questão; e aquelas que devem ser colocadas de lado. A última classe de questões correspondem aquelas que não conduzem ao fim do sofrimento e stress. A primeira tarefa de um mestre, quando questionado, é identificar a que classe corresponde a pergunta e então responder da maneira adequada. Você por exemplo, não responde sim ou não a uma questão que deve ser posta de lado. Se você é a pessoa que está perguntando e obtém uma resposta, você deve determinar até que ponto a resposta deve ser interpretada. O Budha disse que existem dois tipos de pessoas que distorcem seus ensinamentos: aquelas que fazem deduções acerca de enunciados dos quais não se deve fazer nenhuma dedução e aquelas que não fazem deduções quando deveriam fazê-las. Essas são as regras básicas para interpretar os ensinamentos do Budha, mas se olharmos a forma como a maioria dos autores tratam a doutrina do Anatta, veremos que essas regras básicas são ignoradas. Alguns autores argumentam na interpretação de Não Eu, dizendo que o Budha negou a existência de um Eu eterno ou independente, mas isso equivale a dar uma resposta analítica a uma resposta que o Budha mostrou que deve ser posta de lado. Outros tentam fazer deduções de alguns enunciados contidos nos discursos que parecem indicar que não existe um Eu, mas com segurança podemos dizer que se alguém força esses enunciados a dar uma interpretação a uma questão que deveria ser colocada de lado, estará fazendo deduções onde ela não deve ser feita. Assim, ao invés de responder não a questão se existe ou não um Eu, inter conectado ou separado, eterno ou não eterno, o Budha percebeu que a questão estava mal formulada desde o princípio. Porque? Não importa como se defina a fronteira entre Eu e Outro, a noção do Eu implica um elemento de auto identificação e apego, e por isso, sofrimento e stress. Isso vale tanto para um Eu inter conectado que não reconhece um outro, como para um Eu separado. Se alguém se identifica com toda a natureza, sofre com cada árvore que cai. Isso também vale para um universo que seja completamente outro, em que a sensação de alienação e futilidade se tornaria tão debilitante fazendo como que a busca pela felicidade, a própria ou a de outros, se tornasse impossível. Por essas razões o Budha aconselhou que não se desse atenção a perguntas como Eu Existo? ou Eu Não Existo?, pois não importa como elas sejam respondidas. Nesse sentido, o ensinamento acerca de Anatta não se trata de uma doutrina acerca de Não Eu, mas de uma estratégia de personificação para se desfazer do sofrimento acerca do abandono de sua causa, conduzindo a felicidade máxima e imortal. Nesse ponto, questões acerca do Eu e Não Eu são colocadas de lado. Uma vez que essa liberdade completa é experimentada, porque haveria qualquer preocupação com quem a está experimentando ou se se trata ou não de um Eu?. www.acessoaoinsight.net. Espero que tenha ficado claro a explicação do Bhikkhu Thanissaro, pois Anatta ou Não Eu, é uma palavra que por enquanto deve ficar ocultada de nossa consciência ainda incipiente, esperando por uma evolução na próxima Raça Raiz para um entendimento completo. Nitidamente como justificado pelo comentário acima, a doutrina da transmigração de almas não sofre nenhuma contrariedade pelo fato do ensinamento de Anatta ainda não ser claramente revelado, Budha explicou esses motivos, pois não manifesta nossa experiência passada, presente ou futura, e suponho, não estar debaixo da regra do carma; mas imagino, que quando alcançarmos a condição de Budha ou Christo ou Krishna nas futuras encarnações, todos os mistérios se abrirão para nós.  Na Bíblia cristã é dito em Deuteronômio 29:29 "As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas, nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei".   Abraço. Davi.

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