segunda-feira, 27 de abril de 2015

O Budha não está mais Distante que a Palma de nossa Mão.



O autor dessa tradução é o grande mestre de meditação Mipam Rinpoche (1846-1914), que tentou mostrar a verdadeira natureza da mente. I. Ensinamento Quintessencial sobre o tema da Mente. O Budha não está mais distante que a palma de nossa mão. Inclino-me diante de Padmasambhava. E diante do ilustre Lama que é a emanação do ser de sabedoria Manjushri (1) , e semelhante a  todos os Budhas seus filhos. Em atenção daqueles que desejam (aprender) a meditação sobre o reconhecimento do sentido profundo da Mente. Eu vou explicar brevemente o início da via dos conselhos do coração (2). É necessário, no começo, confiar no ensinamento quintessencial de um Lama que possui a experiência da realização. Se não penetrarmos na experiência do ensinamento do Lama, toda a perseverança e o esforço consagrados à meditação equivalerão a disparar uma flecha na escuridão. O ponto crucial é colocar sua consciência no estado não fabricado (3), instalado em si mesmo; o rosto da sabedoria sem véu que é distinto do envoltório da mente, quer dizer daquela que se identifica. O sentido de permanecer desde o início é o estado natural, não fabricado. Tendo  desenvolvido a convicção íntima de que tudo o que surge é a essência do Dharmakaya (4), não rejeitam este conhecimento. Deixar-se levar pelas explicações discursivas sobre o tema da via, é como correr atrás de um arco-íris. Quando as experiências meditativas se manifestam como consequência da consciência lúcida do nobre estado não fabricado, não é pelo meio indireto de uma concentração exterior, mas de preferência mantendo a não ação (5). Estupendo, a maneira como chegamos à este conhecimento! II. No momento bem aventurado onde atingimos o estado intermediário. A constância do estado inabalável é mantida pela lembrança do estado espontaneamente estabelecido da Mente em si. Se colocar neste estado é suficiente. Se obstáculos são produzidos pelas nuvem que se elevam da análise mental que cria a distinção entre o sujeito e o objeto da meditação. Lembremo-nos então da natureza da Mente que desde o início é não fabricada, a Mente em si, vasta como o céu. Para relaxar, libertemo-nos da estreiteza e dissipemos o apego à esses conceitos. O conhecimento espontâneo estabelecido não consiste em pensamentos que fluem em todas as direções. Ele é vacuidade límpida e radiante, distinta de toda avidez mental. Este estado não pode ser descrito por exemplo, símbolos ou palavras. Percebemos diretamente a consciência última por meio da sabedoria do discernimento. O nobre estado da consciência lúcida, imparcial, vazia não mudou, não muda e não mudará. Ela é nosso próprio rosto, mascarado pelas impurezas dos conceitos repentinos, diversas vagabundagens quiméricas. Como é triste! Que ganharemos em nos prender a uma miragem? Qual o objetivo de perseguirmos esses sonhos diversos? De que serve se agarrar o espaço? Por conceitos variados, colocamos a cabeça ao contrário. Coloquem de lado essa falta de sentido esgotante e detenhamo-nos na esfera primordial! O céu verdadeiro é saber que Samsara (7) e nirvana não são mais que uma exibição ilusória. Mesmo que hajam exibições muito variadas, consideremos que elas têm o mesmo sabor. Ter-se estabelecido em uma relação íntima com a meditação permite lembrar-se da consciência nua, situada em si mesma, vibrante, livre dos conceitos. A Mente natural está além do conhecimento ou do não conhecimento, da felicidade ou do sofrimento. A felicidade nasce deste estado de relaxamento e repouso total. Então, no movimento ou na imobilidade, no ato de comer ou de dormir, nós conhecemos permanentemente este estado, e tudo é a via. Assim, vigilância, atenção, designa esta consciência semelhante ao céu. E mesmo no período que segue a sessão de meditação formal, elaboramos muito menos conceitos. III. Nos momentos bem aventurados do estado último. Relativamente às quatro ocasiões: mover, ficar imóvel, comer e dormir. (6), as marcas dos hábitos tenazes, a partir das quais surgem todos os conceitos e os sopros cármicos da Mente, são transformados. Nós possuímos a capacidade de nos recolher na cidadela da sabedoria imóvel e inata. O que chamamos Samsara não é mais que um conceito. A majestosa sabedoria é livrar-se de todo conceito. Então, tudo o que surge se manifesta como totalmente perfeito. O estado da nobre clara luz é constante, tanto à noite como de dia. Ela é outra que a distinção entre se lembrar e não se lembrar. Outra que desviar-se de seu justo lugar pela advertência do terreno fundamental que impregna toda coisa. Então, não realizamos nada pelo esforço. Sem nenhuma exceção, todas as qualidades inerentes às vias e as bases, clarividência, compaixão, etc., surgirão espontaneamente (8), crescente como a relva que chega à maturidade no verão. Liberto de apreensão e de vaidade, liberado de esperança e medo. É a grande felicidade não nascida, eterna, vasta como o céu. Essa nobre yoga é semelhante ao Garuda lúdico no céu da Grande Perfeição Imparcial.  Maravilhoso! Confiando no ensinamento quintessencial dum mestre, o meio de manifestar esta sabedoria da essência do coração é realizar as duas acumulações de mérito e sabedoria (9), de uma maneira tão ampla como o oceano é vasto. Então, sem dificuldade, a realização será colocada na sua mão. Espetacular! Em consequência, possam todos os seres sensíveis, pela virtude desta explicação, chegar a ver Manjushri juvenil, que é atividade compassiva de nossa consciência, mestre supremo, essência do diamante (o Dzogpa Chenpo da clara luz). Tendo percebido isso, nesta vida mesma, possamos atingir a iluminação perfeita.  Notas: 1. Manjushi. O Bodhisattva da Sabedoria. Segundo a mitologia budista, Manjushi foi, em uma encarnação anterior, ao rei Amba que fez o voto de se tornar um bodhisattva para o bem de todos os seres. 2. Os conselhos do coração. O ensinamento do coração do lama. É um ensinamento essencial condensado, destinado à meditação e apresentado pelo lama aos seus discípulos de coração. 3. O estado não fabricado. A consciência que surge no instante da percepção, uma pura presença que aparece sem modificação, não engendrada por causas. 4. Dharmakaya. Dharma significa a totalidade da existência; Kaya é esta dimensão. A base essencial do ser cuja essência é a claridade e a luminosidade e no seio da qual todos os fenômenos são percebidos como despidos de existência intrínseca. 5. A experiência meditativa se manifestando por intermédio da não ação; a meditação do Dzogchen é não conceitual e realizada simplesmente pelo reconhecimento sem esforço de nossa própria natureza verdadeira, não condicionada. A ação ou o esforço para realizar a meditação são contrários à presença relaxada que caracteriza a prática Dzogchen. 6. Mover-se, permanecer imóvel, comer e dormir; as quatro atividades, englobando todas as ações possíveis, no meio das quais um praticante dzogchen tenta manter sua consciência lúcida. 7. Samsara. Existência cíclica marcada pelo nascimento, a velhice, a doença, a morte e o renascimento. Os seres sensíveis, dominados pelo desejo, a ira e a ignorância, continuam a migrar através dos seis mundos do Samsar (o mundo dos deus, dos semi deuses, dos humanos, dos animais, dos espíritos famintos, e dos seres infernais) segundo seu carma. 8. Qualidades inerentes que surgem espontaneamente; como consequência natural da meditação dzogchen, os praticantes avançados podem desenvolver qualidades transcendentais tais como uma grande sabedoria, compaixão, a clarividência etc. 9. As duas acumulações. A acumulação de mérito por meio das boas ações e da sabedoria por intermédio da contemplação. Se bem que os dois sejam importantes sobre a vida do Dharma, o Budha disse que se conseguirmos manter o estado de contemplação (a acumulação de sabedoria) durante o tempo que é precioso a uma formiga para ir da extremidade do nariz de uma pessoa a sua testa, isso seria mais benéfico que uma vida inteira de acumulação de méritos pela ação virtuosa e a generosidade. 10. Mipam Rinpoche. Celebre mestre budista tibetano do século XIX, que começou por ser aluno de Patrul Rinpoche (1808-1887). Mipam foi o autor de comentários originais sobre o Dzogchen (de acordo com o budismo tibetano o dzogchen é o estado primordial ou condição natural, e também um corpo de ensinamentos e práticas meditativas com o objetivo de realizar tal condição. O Dzogchen ou Grande Perfeição, é um ensinamento central da Escola Nyingma, também praticado por adeptos de outras Escolas do Budismo Tibetano. Segundo a literatura Dzogchen, este é o mais alto e definitivo caminho rumo a iluminação. Da perspectiva de Dzogchen, é dito que da natureza última de todos os seres sencientes, capaz de sentir e perceber através dos sentidos, (reinos inferiores minerais vegetais e animais) é pura, abrangente, primordialmente límpida e naturalmente clara além do tempo. Essa clareza intrínseca não possui forma própria, e ainda é capaz de perceber, experienciando, refletindo, ou expressando em toda a sua forma. A analogia que os mestres Dzogchen fazem é que a natureza de um ser é como um espelho que reflete com completa abertura, mas não é afetado pelas imagens refletidas, ou como uma bola de cristal que reflete a cor do material em que é colocada sem, no entanto, ser alterada. A sabedoria que emerge ao reconhecer essas claridade semelhante ao espelho, que não pode ser encontrada pela busca ou identificada, é o que o Dzogchen se refere como Rigpa. Rigpa é a consciência desnuda e inteiramente aqui e agora, não podendo ser estabelecida como qualquer coisa específica, estado, ou ação. Ela tem a face original do vazio que é pura desde o início, totalmente penetrante e perspicaz), sobre outras escrituras budistas importantes. Continuamos sobre o Rigpa numa próxima oportunidade. http://www.nossacasa.net/shunya/. Abraço. Davi.

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