Comemoramos
a páscoa semana passada. Momento de confraternização familiar. Muitos parentes
reúnem-se para almoçarem juntos ou dependendo das circunstâncias jantarem. Esse
sentimento vêm com a tradição cristã, no caso de nosso país, o Brasil,
apesar de oficialmente laico tem arraigado em sua cultura a religião católica,
e quase igualando em números os protestantes de várias tendência e facções.
Sendo um evento espiritual contido nas três religiões monoteístas
(cristianismo, judaísmo e islamismo) reveste-se de importância fundamental,
quando pensamos na integração de filosofias e espiritualidades do mundo em que
estamos incluídos. Essa é a proposta do Mosaico, valorizar todas as correntes
do pensamento religioso universal, reconhecendo em cada uma sua peculiaridade e
particularidade como motivos de complementariedade para ajustar e reparar as
diferenças, harmonizando e sintonizando a doutrina exotérica de cada povo.
Aparentemente uma sugestão ousada, mas a semente do entendimento humano precisa
ser lançada em todas as direções, assim, um dia, veremos os frutos desse
laborar universal, mesmo que seja em posteriores renascimentos. Três palavras
(pessach, ashura e páscoa) têm semelhantes significados, mas com simbolismos e
compreensões diferentes. Dentre as religiões aludidas acima, não há dúvida que
o judaísmo é a origem dessa tradição. Tudo começou com o patriarca Jacó, que
desceu para o Egito, segundo as escrituras com 70 almas, por volta de 1300 AC.
Os descendentes do primeiro patriarca hebreu, Abraão, estiveram nesse país como
escravos por aproximadamente 430 anos, saindo posteriormente, conforme Êxodo 12
em quantidade estipulada de mais de 2 milhões de pessoas (contando mulheres,
crianças); sendo que o texto sagrado menciona 600 mil homens. Esse trecho
bíblico narra a saída do povo de Israel do cativeiro no Egito. Êxodo 12: 3. "Falai
a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez desse mês tome cada um para si
um cordeiro, segundo as casa dos pais, um cordeiro para cada família. 4.
"Mas se a família for pequena para um cordeiro, então tome um só com seu
vizinho perto de sua casa, conforme o número dos almas: cada um conforme ao seu
comer, fareis a conta conforme o cordeiro.". 5. "O cordeiro, ou
cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou
das cabras". 7. "E tomarão do sangue, e colocarão em ambas as
ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem". 8. "E
naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães ázimos com ervas amargas
a comerão". 11. "Assim pois o comereis: Os vossos lombos cingidos, os
vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente,
está é a pessach do Senhor". Os judeus têm toda uma tradição espiritual em
relação a esse evento. Sendo uma refeição ritualística preceituada no Talmud
escrito e oral, de igual modo, na Torá escrita e oral. Não detalharemos os
pormenores, mas é bom saber, que nas família o pai ou responsável, deve
conhecer esse mandamento para celebrar conforme está ordenado. Eles comem na
pessach o cordeiro, as ervas amargas e o pão sem fermento. Além de tomarem
vinho, e outros ingrediente usados hoje, relembrando tudo que D'us realizou por
eles; como a milagrosa da saída do Egito, o livramento de seus primogênitos por
não morrerem pelo anjo da morte, ao obedecerem a ordenança de mancharem com
sangue os umbrais das portas. Eles têm um sentimento, que individualmente todo
judeu é um servo de D'us durante toda sua vida. O cordeiro entre eles não é
símbolo do Messias, nem de Jesus, mas cada judeu, na condição de filho deve
assumir com seu Criador um pacto de vida e morte, colocando-se à disposição do
Todo Poderoso desde seu primeiro suspiro ao último. O sentido da pessach é
passagem, denotando que, os judeus seriam sempre peregrinos no mundo, sendo seu
período de vida na terra um intervalo de tempo intercalado entre cidades,
nações e continentes os mais variados. Encontrariam convivências em diversas
culturas e tradições, passando por momento de cordeiro assado nas suas
famílias, ervas amargas em muitas situações (perseguições e mortes), tendo a
restrição gustativa do pão sem fermento em muitas ocasiões. Seriam bem
recebidos em alguns lugares, mas em outros discriminados. Os judeus têm um
sentimento nacional de auto preservação, e um "medo" coletivo, quando
necessário há fuga à retirada eminente, indo pra outras terras. A comunidade
dos judeus messiânicos celebram a pessach de maneira mais livre, sem um
dogmatismo litúrgico, e como os cristãos vendo no cordeiro a figura de Yeshua
(Jesus), como um ser divino, o Filho encarnado de Deus. Mas a grande maioria
dos judeus (conservadores, liberais, ortodoxos e ultra ortodoxos) não creem que
Jesus é o Cristo o filho do Deus Vivo. Tendo-o como um profeta, assim, como os
demais patriarcas (Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué e Arão) que
formaram o povo Judeus em seus primórdios. Os judeus celebram a pessach em 15 e
16 de Nissan (15 e 16 do mês de abril), estando atualmente no ano religioso de
5775. Os muçulmanos também tem sua páscoa, porém para eles, o evento tem um
significado diferente que o dos cristãos. Acontece em outra data, a comemoração
é chamada de Ashura. Celebra a libertação dos escravos israelitas do Egito, sendo
feita no 10º dia de Muharram, o primeiro mês do ano no calendário lunar, que
será em outubro. Segundo o professor universitário Said Mounsif, Iman da
comunidade muçulmana no Pará - Brasil, o Islã pregado pelo profeta Muhhamad, em
árabe mesmo, já que o nome "Maomé" é considerado uma referência
pejorativa, que surgiu no período das cruzadas; era a mesma religião pregada
pelos profetas mencionados na Torá e na Bíblia. Quando o Profeta Muhhamad
(570-632) chegou em Medina - Arábia Saudita, encontrou a comunidade judaica
jejuando no pessach. Ele perguntou: que festa é esta que o judaísmo está
fazendo? e a resposta dos companheiro foi, que era o dia da saída dos Hebreus
do Egito. E a resposta foi, vamos fazer deste dia nosso também. Porque o Islã
honra o Profeta Moisés, e os patriarcas, explica Mounsif. Para os fiéis do
islamismo, porém, existe uma divergência com o que aconteceu com Jesus:
enquanto os cristãos celebram sua ressurreição como o principal milagre da
igreja, os muçulmanos acreditam que Cristo não morreu; após a última ceia, o
profeta Jesus teria sido arrebatado, indo ao reino dos céus sem ser submetido
ao calvário da crucificação. No islã, Muhhamad e Jesus são profetas de
Aláh. Mounsif continua explicando: para nós, muçulmanos, os dias que antecedem
a páscoa não trazem qualquer significado especial espiritual, pois não cremos
em sua morte e por consequência em sua ressurreição, uma vez que só ressuscita
ou volta a vida, aquele que morreu. pondera o Iman. Ainda assim, Mounsif
incentiva muçulmanos convertidos a não perderem o contato com suas famílias de
outras religiões durante a comemoração da páscoa cristã, mesmo que não
participem de missas e outros eventos religiosos. Os muçulmanos tem parentes e
famílias cristãs, evangélicas, católicas; então eles devem participar da festa
da família que não pode ser desprezada ou eliminada. A família, quando se
reúne, é uma felicidade para a comunidade muçulmana, ratifica Mounsif. Nós
cristão, pelo menos minimamente, em nossa experiência, conhecemos o conceito da
páscoa, advindo dos ensinos bíblicos adquiridos desde criança nos catecismos,
nas escolas dominicais ou retiros infantil, onde tomávamos lições das
principais doutrinas das Escrituras Cristãs. Aprendemos, que a última ceia que
Jesus comemorou com seus discípulos representava, em relação a ele ser judeu, a
instituição de um novo mandamento, não mais como o modelo antigo do cordeiro
sendo a refeição principal à família judaica, mas agora, os cristãos
celebrariam sua morte e ressurreição, prefigurando seu triunfo sobre a condição
espiritual proveniente do velho judaísmo. Desse modo, os discípulos e
seguidores, também, após a conversão e batismo nas águas, seriam, pós mortem
introduzidos no reino do Pai Celestial. Poderíamos entrar em questões
teológicas que suscitariam longos argumentos para explicarmos, e, penso, que
não devemos enviesar nesse caminho, pra não corrermos o risco de embaraços. Mas
como cristãos temos inúmeros problemas retóricos e dogmáticos. Como exemplo,
algumas facções cristãs, não aceitam a divindade de Jesus, os Testemunhas de
Jeováh, que inclusive tem uma hipótese, que Jesus não morreu em uma cruz, como
recorrentemente é ensinado pela teologia ortodoxa, porém, foi pregado em uma
estaca; também, os Adventistas do 7º Dia reconhecem em seus ensinos exotéricos,
a ordenança do mandamento do sábado, como requisito para fazer parte dos 144
mil que entrarão na Nova Jerusalém. Um grupo especial de cristãos que estarão
reinando com Cristo, no plano espiritual invisível, sendo os governantes de
países, cidades e logradouros no mundo inteiro. Os demais cristãos estarão
incluídos, numa esfera visível, no milênio, os mil anos em que Cristo reinará
junto as nações da terra. Temos costume nas igrejas, principalmente
protestantes, de diminuir a importância da páscoa e aumentar o valor da
Ceia do Senhor. Muitos cristãos dizem que a páscoa representa a velha aliança
realizada por Deus com seu povo no deserto, mas hoje temos a Nova Aliança
simbolizada pelos sacramento (pão e vinho) místicos, tipificando o corpo e o
sangue de Jesus vertido na cruz do calvário para a salvação da humanidade. Esse
segundo aspecto sim, é prevalecente, em nossa experiência com Deus. Mas devemos
percebe que cada perspectiva da doutrina exotérica, nesse particular, tem
relevância específica num pormenor da experiência de cada indivíduo em sua
cultura espiritual. Não existe, penso, esse conceito de um ensino sobrepor-se
ao outro como melhor ou pior, pois é notório, que as idiossincrasias devem ser
mantidas representando aspectos da verdade de cada tradição religiosa.
Fica claro que o cristianismo das três religiões mencionadas aqui, é a única
que tenta ter primazia quando citamos os dogmas e crenças relacionados a
espiritualidade. Isso cria um entrave para podermos compreender e aceitar outras
proposições, que não sejam necessariamente, concordante com aquilo que
pensamos. Mateus 26: 26. "E, quando comiam, tomou Jesus o pão, e
abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isso é o
meu corpo". 27. "E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho,
dizendo: Bebei dele todos". 28. "Por isto é o meu sangue, o sangue do
novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados".
29. "E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele
dia que o beba novo no reino de meu Pai". Quero ter o prazer de ver na
mesma mesa, sentados, judeus, muçulmanos e cristãos celebrando a Ceia do Senhor
(Eucaristia) numa casa ou numa igreja. De igual modo, o mesmo grupo,
participando das comemorações da Ashura muçulmana numa mesquita.
Semelhantemente, esses, também, festejando a Pessach, em uma sinagoga judaica.
É possível esse fato? Creio que podemos fazer nossa parte, para que, esse sonho
torne-se uma realidade. Abraço. Davi.
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