quarta-feira, 22 de abril de 2015

As Vidas Passadas do Budha.



De acordo com o Niddesa, um dos livros da seção Khuddaka Nikāya do cânone pali, hindu, o Budha Śākyamuni teve 500 vidas passadas antes de atingir o despertar. O monge peregrino chinês Fa Hsien (337-422), ao visitar o Sri Lanka no início do século V, também encontrou representações artísticas de 500 renascimentos do futuro Budha. Já o Saketa Jātaka afirma que o Budha teve 1.500 vidas passadas. As histórias sobre estas vidas são registradas em contos chamados Jātaka. Para atingir o despertar, o Buddha levou 300.000 mahākalpas, ou grandes eras (mahākappa), mesclados com 20 asaṃkhyeyakalpas, ou períodos de tempo incalculável (asaṅkheyyakappa). Cada grande era é subdividida em quatro eras, dissolução do mundo (saṃvattakappa), continuação do caos (saṃvattatthāyikappa), formação do mundo (vivattakappa) e continuação do mundo formado (vivatatthāyikappa). Para nos situarmos, segundo as escrituras sagradas budista e hindu, 1 mahakalpa corresponde a 311 trilhões e 40 bilhões de anos. Cada uma destas eras é subdividida em 20 ou 64 períodos chamados antokappas. Atualmente, estamos em uma era de continuação do mundo formado. Há mais de 300.000 mahākalpas e 20 asaṃkhyeyakalpas atrás, o futuro Buddha Śākyamuni era um homem pobre que salvou sua mãe viúva de um naufrágio. Sua mãe fez a aspiração de que ele pudesse salvar os outros seres do sofrimento. Ele pensou nisso e se tornou um bodhisattva, ou ser do despertar (bodhisatta), alguém que cultiva as perfeições que conduzem ao estado iluminado de um Budha. I. A era da aspiração mental. Há 300.000 mahākalpas e 20 asaṃkhyeyakalpas atrás, o futuro Buddha Śākyamuni era conhecido como o rei Atideva. Na presença do Budha Brāhmadeva, ele fez mentalmente a aspiração de atingir o despertar, isto é, em pensamento, declarou o seu compromisso (abhinihara karana, mulanidhana) de atingir o estado de Buddha. O rei ofereceu jasmins a Brāhmadeva e construiu um monastério para ele e seus monges. Começou então a era da aspiração mental (mano panidhāna kāla), que durou 100.000 mahākalpas mesclados com 7 asaṃkhyeyakalpas. Depois do Buddha Brāhmadeva, em todas as suas vidas, o bodhisattva acumulou méritos e fez mentalmente a aspiração de atingir o despertar, na presença de cada um dos 125.000 Budhas daquele período. Em seguida houve um período de muitos mahakalpas em que nenhum Budha apareceu. O bodhisattva nasceu como um humano, atingiu um profundo nível de absorção meditativa (dhyana), renascendo nos reinos divinos. Depois disso, em todas as vidas seguintes, o bodhisattva proferiu verbalmente a sua aspiração de atingir o despertar, diante de todos os 38.700 Buddhas daquele período. II. A era da aspiração verbal. Há 200.000 mahākalpas e 13 asaṃkhyeyakalpas atrás, o bodhisattva era conhecido como o príncipe Sagāra. Na presença do Buddha Purāṇagautama, ele fez verbalmente a aspiração de atingir o despertar com o nome de Gautama, prestou homenagem a Purāṇagautama e construiu um monastério para ele. Começou então a era da aspiração verbal (vaci-panidhana-kāla), que durou 100.000 mahākalpas mesclados com 9 asaṃkhyeyakalpas. III. A era da aspiração corporal. Há 100.000 mahākalpas e 4 asaṃkhyeyakalpas atrás, o bodhisattva era conhecido como o asceta Sumedha, e na presença do Buddha Dīpaṃkara recebeu a profecia definitiva de seu despertar. Dīpaṃkara ofereceu a Sumedha oito punhados de flores de jasmim, representando o nobre caminho óctuplo (āryāṣṭaṅgamārga). Então ele anunciou a profecia (vyakarana) de que, num futuro distante, Sumedha renasceria no clã dos Śākyas e atingiria o despertar como o Buddha Gautama. O bodhisattva poderia ter abandonado a existência cíclica (saṃsāra) e ter se tornado um ser santo (arhat ou arahant), mas preferiu continuar até completar as perfeições que levam ao estado de Buddha. Como escolheu a sabedoria como caminho para o despertar (kāya panidhāna kāla) durou 4 asaṃkhyeyakalpas e 100.000 mahākalpas. Se tivesse escolhido a fé como caminho, esta era teria durado 8 asaṃkhyeyakalpas. Há cem mil eras, um brâmane rico, ilustre e honrado, chamado Sumedha, vivia na grande cidade de Amaravati. Um dia ele se sentou, refletindo sobre a miséria do renascimento, da velhice e da doença, e exclamou: "Há, deve haver uma salvação! É impossível que não haja! Procurarei e encontrarei o caminho que me libertará da existência cíclica." Assim, ele se retirou para as montanhas do Himalaya e como ermitão viveu numa choupana, onde alcançou grande sabedoria. Enquanto estava ali, mergulhado no êxtase, nasceu um vitorioso, um Buddha chamado Dīpaṃkara. Aconteceu que, prosseguindo seu trajeto, esse Buddha foi perto de onde vivia Sumedha; ali havia homens preparando um caminho para seus pés pisarem. Sumedha juntou-se aos outros nesse trabalho e quando o Buddha Dīpaṃkara se aproximou, ele se deitou na lama dizendo para si mesmo: "Por eu apenas protegê-lo da lama, grande mérito resultará para mim". Enquanto estava deitado ali lhe veio à mente: "Por que não expulso todo o mal que me permanece dentro de mim e não entro no nirvāṇa? Mas que eu não faça isso só em meu benefício; será melhor que algum dia eu também adquira onisciência e em segurança conduza uma multidão de seres no barco da doutrina, sobre o oceano do renascimento, até a praia mais longínqua". Budha Dīpaṃkara, conhecedor de tudo, parou ao seu lado e proclamou-o para a multidão como alguém que mais tarde iria tornar-se um Buddha, especificando o lugar de seus nascimento, sua família, seus discípulos e seus descendentes. As pessoas se rejubilam com isso, ponderando que, ensinadas por esse outro Buddha, teriam novamente uma boa oportunidade de aprender a verdade, pois a doutrina de todos os Buddhas é a mesma. Toda a natureza, então, mostrou sinais e presságios em testemunho da iniciativa e da dedicação de Sumedha; todas as árvores deram frutos, os rios ficaram tranqüilos, uma chuva de flores caiu do céu, as chamas do inferno se apagaram. Não volte para trás, disse Dīpaṃkara. Vamos! Para a frente! Sabemos disso com o máximo de certeza; seguramente serás um Buddha. Sumedha decidiu, então, satisfazer as condições de um Buddha, perfeição nas dádivas, na observação dos preceitos, na renúncia, na sabedoria, na coragem, na paciência, na verdade, na determinação, na boa vontade e na indiferença. Começando, então, a cumprir essas dez condições da busca, Sumedha voltou para a floresta e viveu lá até a morte. Depois disso ele nasceu de incontáveis formas, como homem, como deus, como animal, e em todas essas formas ele não saiu do caminho planejado, e assim se diz que não existe uma partícula do planeta onde Buddha não tenha sacrificado sua vida em benefício das criaturas. Mitos Hindus e Budistas. Amanda K. Coomaraswany (1877-1947).  Na presença dos Buddhas seguintes, o bodhisattva novamente recebeu a profecia definitiva de que atingiria o despertar. Depois de um asaṃkhyeyakalpa, na época do Buddha Kauṇḍinya (Koṇḍañña), ele foi um monarca universal (cakravartin) chamado Vijitavi. Depois de mais um asaṃkhyeyakalpa, na época do Buddha Maṅgala, ele foi o brâmane Suruci; na época do Buddha Sumana, foi o rei Nāga Atula; na época do Buddha Revata, foi o brâmane Atideva; e na época do Buddha Sobhita, foi o brâmane Ajita. No período negro do asaṃkhyeyakalpa em que não houve nenhum Buddha, o bodhisattva cometeu graves erros, matando seu irmão para herdar a riqueza da família. Por causa disso, depois de mais um asaṃkhyeyakalpa, na época do Buddha Anomadassi o bodhisattva foi um líder de semideuses (sânscrito e pāli asura), e na época do Buddha Paduma ele foi um leão. O bodhisattva só voltou a renascer como humano na época do Buddha Nārada, tornando-se um asceta. Depois de mais um asaṃkhyeyakalpa, na época do Buddha Padumuttara, o bodhisattva foi Jatila. Depois de 70.000 mahākalpas, na época do Buddha Sumedha, o bodhisattva foi Uttara. Depois de 12.000 mahākalpas, na época do Buddha Sujata, o bodhisattva foi um monarca universal; na época do Buddha Piyadassi, foi o brâmane Kaśyapa; na época do Buddha Atthadassi, foi o asceta Susima; na época do Buddha Dhammadassi, foi um deus  (deva) chamado Śakra; na época do Buddha Siddhārtha, foi o asceta Maṅgala; na época do Buddha Tissa, foi o rei Sujata que se tornou um asceta; na época do Buddha Phussa, foi o rei Vijitavi que se tornou monge; na época do Buddha Vipaśyin, foi o rei Nāga Atula; na época do Buddha Śikhin, foi o rei Arindama; na época do Buddha Viśvabhu, foi o rei Sudassana que se tornou monge; na época do Buddha Krakuccanda, foi o rei Sema; na época do Buddha Kanakamuni, foi o rei Pabbata; e na época do Buddha Kaśyapa, foi o brâmane Jotipāla. IV. As perfeições. O bodhisattva praticou as perfeições (pāramitā) durante muitas eras, e foi durante a nossa era presente que ele as completou. Desta forma, ele concluiu as três nobres práticas (kariya): a prática pelo benefício de todos os seres; a prática pelo benefício de seus parentes; e a prática de se tornar um ser completamente iluminado, que pode liberar os seres do sofrimentos da existência cíclica. Como o rei Saṅkhapāla, completou a perfeição da moralidade; como o rei Sutasoma, completou a perfeição da renúncia; como o erudito Senaka, completou a perfeição da sabedoria; como o rei Mahājanaka, completou a perfeição do esforço; como o asceta Khantivādia, completou a perfeição da paciência; como o príncipe Sutasoma, completou a perfeição da verdade; como o príncipe Temiya, completou a perfeição da determinação; como o rei Ekarāja, completou a perfeição da bondade amorosa; como o asceta Lomahāmsa, completou a perfeição da compaixão. Depois de completar a perfeição da generosidade, o bodhisattva renasceu no paraíso de Tuṣita, como um deus chamado Śvetaketu. A convite dos deuses, quando as condições de período, continente, lugar, clã e mãe foram encontradas, o bodhisattva nasceu no jardim de Lumbinī como o príncipe Siddhārtha Gautama, filho da Māyā Devī e Śūddhodana  do clã guerreiro dos Sakyas. Este foi o último renascimento do bodhisattva. Siddhārtha Gautama renunciou à realeza, estudou com os maiores professores do seu tempo, gerou a intenção de alcançar o despertar, acumulou mérito e sabedoria, finalmente atingiu o estado de Buddha, girou a roda do Dharma, isto é, deu ensinamentos, e atingiu a liberação final (parinirvāṇa). Ele seria conhecido como o Sábio dos Śākyas (Sakyamuni). Diz-se que o nosso tempo é uma era afortunada (bhadrakalpa) porque cinco Buddhas (ou mil Buddhas, segundo algumas tradições) aparecerão para ensinar o caminho da iluminação. Destes Buddhas, Śākyamuni foi o quarto. Dez bodhisattvas receberam dele uma profecia definitiva e certamente atingirão o despertar no futuro: Maitreya, Rāma, Pasenadikosaka, Abhidhu, Dīghasoni, Samkacca, Subha, Todeyya, Nalāgiri e Paraleyya. Todos eles estão completando as perfeições, com exceção de Maitreya , que já as completou e será o quinto Buddha desta era. Maitreya aparecerá em nosso mundo quando não houver mais praticantes com realizações espirituais; quando os métodos que conduzam ao despertar (absorções meditativas, insights, caminhos espirituais, frutos espirituais e preceitos) tiverem desaparecido; quando o aprendizado das três seções do cânone buddhista tiver desaparecido; quando os símbolos da comunidade budista (mantos e votos monásticos) tiverem desaparecido; e quando as relíquias do Buddha Śākyamuni tiverem desaparecido. No momento em que surgirem as condições necessárias para renascer neste mundo, o bodhisattva Maitreya descerá do paraíso de Tuṣita, e aparecerá como o filho do rei Saṅkha de Ketumati (atual cidade de Vārāṇasī, Índia). Diz-se que os ensinamentos de Śākyamuni devem durar 5.000 anos; portanto, Maitreya deve aparecer daqui a aproximadamente 2.500 anos. Segundo o Anāgata Vamasa Desanā, serão incapazes de ver Maitreya aqueles que tiverem renascido no inferno Avīci como resultado das cinco não virtudes hediondas (matar a própria mãe, matar o próprio pai, matar um ser santo, ferir um Buddha ou causar uma divisão na comunidade buddista). Depois de Maitreya, aparecerá o Budha Rāma, mas somente depois de 100.000 mahākalpas. Rāma será sucedido pelos Buddhas Pasenadikosaka, Abhidhu, Dīghasoni, Samkacca, Subha, Todeyya, Nalāgiri e Paraleyya.  Extraído do site: http://harmonizaçaoquantica.com.br. Esse texto As Vidas Passadas do Budha, lembrou-me da escritura cristã no evangelho de Mateus 1:1-25. Nele vemos a genealogia de Jesus, desde os primórdios de sua ascendência até seu nascimento. Leiam e percebem o escopo da forma escrita, fatos e eventos relacionados no passado remoto e “presente” de Jesus pouco antes de seu aparecimento na terra. Parece que, como a escritura pali hindus é bem anterior (88 AC 76), ao canon da Vulgata cristã (Bíblia completa na língua latina) concluída  por São Jerônimo (347-420) em 390 de nossa era, pelo menos a forma apresentada desse capítulo, é particularmente semelhante a seção do livro Khuddaka Nikaya. Os dois iluminados Christo e Budha passaram por singulares processos de encarnação.   Abraço. Davi.

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