Pergunta:
Os fenômenos que surgem no bardo, estado intermediário aos renascimentos) são
denominados "manifestações ilusórias", assim, como os do sonho ou
inclusive os do estado presente. O que significa esse termo manifestações
ilusórias? Implica que, quando é realizada a verdadeira natureza da mente e dos
fenômenos, quando, então, a ilusão é desmascarada, toda manifestação cessa de
existir? Resposta: Não, não exatamente. Quando a manifestação ilusória cessa, a
manifestação pura não cessa. Há transformação da manifestação Samsárica ilusória
em manifestação pura. O que vivemos agora, aqui onde nos encontramos, as
aparências que percebemos, tudo isso é a ilusão. Entretanto, na verdade, é essa
própria ilusão que é não ilusão, e esse mundo ordinário (sentido de ordem) que
é campo puro, além do sofrimento. A transformação se passa nesse nível e não
significa um desaparecimento das aparências. Qual é, então, a diferença? A
experiência da manifestação ilusória significa que atribuímos uma realidade
independente tanto aos objetos percebidos quanto à mente que os percebe. A
transformação da manifestação ilusória impura em manifestação pura, significa
que cessa essa dupla apreensão de um sujeito e de um objeto. A apreensão dual
cessa, mas as aparências permanecem. A manifestação ilusória divide-se em duas
categorias. Distinguimos, de um lado, as aparências objetivas, ou seja, os
objetos dos sentidos percebidos exteriormente e, de outro lado, as aparências
mentais, isto é, os pensamentos e as imagens mentais. Estar na ilusão é
perceber uma ou outra como dotadas de uma realidade independente, e por
consequência, entrar no jogo do apego e da aversão conforme elas sejam sentidas
como agradáveis ou desagradáveis. Disso nasce um grande número de sofrimentos.
Quando, ao contrário, cessa essa ilusão, as aparências continuam a existir, mas
já não são mais assimiladas a "objetos" apreendidos por um
"sujeito". Elas são vistas como o aspecto manifestado da mente, ou
ainda, a irradiação natural da mente. Todavia, nesse caso, o apego e a aversão
são esvaziados de toda substância e nenhum sofrimento pode se produzir. Não
existe diferença fundamental na manifestação das aparências, quer nos situemos
na ilusão ou na não ilusão. A diferença reside na apreensão ou na não apreensão
de uma realidade intrínseca nos fenômenos. Se há apreensão de uma realidade, é
a ilusão. Se há não apreensão, é a não ilusão. O Livro Tibetano do Viver e
Morrer. Lama Sogyal Rinpoche. (1947- ). Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário