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Texto de Rajneesh Chandra Mohan Jain (1931-1990). O QUE É A VERDADE ? Pergunta: Querido Osho, por vezes,
enquanto estou apenas sentado aqui, surge a pergunta na mente: O que é a
verdade? Mas, ao mesmo tempo em que a pergunta surge, eu percebo que não sou
sequer capaz de perguntar. Nesses momentos em que a questão surge tão
fortemente, se você estivesse por perto eu lhe faria a pergunta mesmo assim. E
nesses momentos, se você não respondesse, apenas sinto que eu teria que
agarrá-lo pela barba ou pelo colar e perguntar: "O que é a verdade,
OSHO?" Osho: Essa é a
pergunta mais importante que pode surgir na mente de alguém, mas não há
resposta para isso. A questão mais importante, a questão mais fundamental - e
suprema - não pode ter qualquer resposta. É por isso que ela é suprema. Quando Pôncio Pilatos perguntou a Jesus “O que é a
verdade?”, Jesus permaneceu em silêncio. Não só isso, a história diz
que quando Pôncio Pilatos fez a pergunta “O que é a verdade?” Evangelho de João
18,38, ele não esperou para ouvir a resposta. Ele saiu da sala e foi embora.
Isso é muito estranho. Pôncio Pilatos também pensa que não pode haver uma
resposta para a questão, é por isso que ele não esperou pela resposta. Jesus
permaneceu em silêncio porque ele também sabe que a pergunta não pode ser
respondida. Mas essas duas compreensões não são as
mesmas, porque essas duas pessoas são diametralmente opostas. Pôncio Pilatos
pensa que a pergunta não pode ser respondida porque não existe algo tal como a
verdade; então como seria possível a você dar uma resposta? Essa é a
mente lógica, a mente romana. Jesus permanece em silêncio não porque a verdade
não exista, mas porque a verdade é tão vasta, que ela não pode ser definida. A
verdade é tão grande, tão enorme, que não pode ser confinada em uma palavra,
não pode nem mesmo ser confinada na combinação de um milhão de palavras. Ela
não pode ser reduzida à linguagem. Ela está lá, definitivamente. O indivíduo
pode sê-la, mas não pode dizer algo sobre ela. Por
duas razões diferentes eles se comportaram quase da mesma forma: Pilatos não
esperou para ouvir a resposta, ele já sabia que não há verdade. Jesus permanece
em silêncio porque ele conhece a verdade, e sabe que nada é possível ser dito. Chidvilas foi quem fez essa pergunta. A questão é
absolutamente significativa. Não existe questão maior do que essa, porque não
há religião superior à verdade. A questão tem de ser entendida, tem de ser
analisada. Ao analisar a questão, e tentar compreender a pergunta em si, você
pode ter um insight sobre o que é a verdade. Eu não vou responder isso, eu não
posso responder a pergunta, ninguém pode responder. Mas podemos penetrar fundo
na questão. Indo fundo na questão, a questão vai começar a desaparecer. E
quando a pergunta tiver desaparecido, você vai encontrar a resposta lá no âmago
do seu coração – você é a verdade, assim como você pode perdê-la? Talvez você
apenas tenha se esquecido dela, talvez você tenha apenas perdido o rastro
dela; você pode ter se esquecido de como entrar em seu próprio ser, em
sua própria verdade. A verdade não é uma hipótese, a verdade não é um
dogma. A verdade não é hindu, nem cristã, tampouco mulçumana. A verdade não é
minha nem sua. A verdade não pertence a ninguém, mas todo mundo pertence à
verdade. A verdade significa aquilo que é: esse é exatamente o significado da
palavra. Ela deriva de uma raiz latina, verus. Verus significa:
aquilo que é. Em inglês, algumas palavras são derivadas da raiz latina
verus: was, were – elas vêm de verus. Verus
significa aquilo que é, sem interpretações. Quando entra a interpretação, o que
você passa a conhecer é a realidade, e não a verdade. Essa é a diferença entre
a verdade e a realidade. A realidade é verdade interpretada. Assim, quando você responde à questão “O que é a
verdade”, a verdade se converte em realidade; ela já não é mais verdade. A interpretação
entrou nela, a mente tornou-a colorida. E as realidades são muitas, existem
tantas realidades quantas mentes possam existir. Existem multe realidades. A
verdade é uma porque é conhecida apenas quando a mente não está lá. É a mente
que o mantém separado de mim, separado dos outros, separado da existência. Se
você olhar através da mente, a mente vai lhe proporcionar uma fotografia
verdade. Essa será apenas uma foto, uma imagem do que é. E, claro, a fotografia
depende da câmera, do filme utilizado, dos elementos químicos, da forma como
foi desenvolvido, de como foi impressa, de quem a fez... Mil e uma coisas
entram no processo. Então a verdade é convertida em realidade. A palavra realidade também é bela de ser
compreendida. Ela vem da raiz res, que significa “coisa” ou “coisas”. A verdade
não é uma coisa. Uma vez interpretada, uma vez que a mente a tenha agarrado, a
tenha definido e demarcado, ela se torna uma coisa. Quando você se apaixona por uma mulher, há ali
alguma verdade – se você se apaixonou naturalmente, absolutamente sem querer,
sem ter feito coisa alguma de sua parte, e sem ter pensado nisso de modo
algum... De repente você vê uma mulher: você a olha nos olhos, ela também olha
nos seus, e subitamente algo clica. Você não está fazendo nada daquilo, você
está simplesmente tomado/possuído pelo que está acontecendo, e quando menos
espera se vê completamente dentro daquilo. Aquilo nada teve a ver com você. Seu
ego não está envolvido, ao menos não naquele início, quando o amor ainda é
virgem. Naquele momento há verdade, e não há interpretação. É por isso que o
amor permanece indefinível. Logo a mente entra,
toma posse de você e começa a administrar as coisas. Você começa a pensar sobre
a garota como sua namorada, você começa a pensar em como se casar, e começa a
pensar sobre ela como sua esposa. Agora, tudo isso são coisas: a namorada, a
esposa – essas são as coisas. A verdade não está mais lá, foi recuada para um
plano secundário. As “coisas” passaram a ser mais importantes. O definível é
mais seguro, o indefinível é inseguro. Você começou a matar/envenenar a
verdade. Cedo ou tarde haverá uma esposa e um marido, que são suas coisas. Mas
a beleza se foi, a alegria desapareceu, a lua de mel acabou. A lua de mel termina no exato momento em que a
verdade se torna realidade, quando o amor se torna um relacionamento. A lua de
mel é muito curta, infelizmente – eu não estou me referindo sobre a lua de mel
para onde vão você e seu cônjuge. A lua de mel é muito curta. Ela estava lá por
um breve momento. A pureza e a beleza que ela carrega, aquela pureza
cristalina, divina e transcendente – é pertencente à eternidade, não é do
tempo. Não faz parte desta vida mundana, é como um raio trazendo luz para um
lugar escuro. Ela vem do transcendental. É absolutamente apropriado chamar o
amor de Deus, porque o amor é a verdade. A coisa mais próxima da verdade a que
você pode chegar na vida comum é o amor. Chilvilas pergunta: “O que é a
verdade?” A pergunta deve desaparecer; somente
então você saberá. Quando você pergunta “O que é a verdade?”, o que você está
perguntando? Tente entender isso. Se eu digo que “A” é verdade, “B” é verdade,
“C” é verdade... isso seria realmente uma resposta? Se eu disser que A é a
verdade, então A certamente não pode ser a verdade: é apenas algo que estou
usando como sinônimo da verdade. Se A for um sinônimo total e completo a
verdade, então haverá uma tautologia. Então eu poderia dizer: “A verdade é a
verdade”, mas isso de nada adiantaria, seria só uma tolice sem sentido. Se
ambos forem exatamente o mesmo, ou seja, se A for exatamente a verdade, então
isso significará que “a verdade é a verdade”. Por outro lado, se A for
diferente, ao invés de exatamente a verdade, então eu estarei falsificando e
enganando. Então dizer “A é a verdade” será apenas aproximado. E lembre-se, em
se tratando da verdade, não pode haver nada que seja aproximado. Ou é a
verdade, ou não é. Logo, mesmo que tentasse lhe responder com significado
aproximado, eu não poderia dizer que A é a verdade. Eu não posso nem mesmo dizer que "Deus é a
verdade", pois se Deus é a verdade, isso seria uma tautologia,
significando que "A verdade é a verdade". Nesse caso, apesar de eu
estar lhe dizendo a resposta, não estaria dizendo realmente nada. Se, todavia,
Deus é diferente da verdade, então eu poderia dizer alguma coisa, mas então eu
estaria dizendo algo errado/falso. Porque, se Deus é diferente da verdade, como
Ele poderia ser a verdade? Se eu disser que minha resposta é aproximada,
linguisticamente parece tudo bem, mas não é certo. "Aproximado"
significa que um pouco de mentira está lá, que há algo falso lá. Do contrário,
o que mais poderia impedir uma verdade cem por cento? Se é 99 por cento
verdade, então existe algo que não é verdade. E a verdade e a mentira não podem
existir juntos, assim como a escuridão e a luz não podem existir juntos -
porque a escuridão nada mais é do que ausência. Ausência e presença não podem
existir juntos, mentira e verdade não podem existir juntos. A inverdade nada
mais é do que a ausência da verdade. Portanto,
nenhuma resposta é possível. Foi por isso que Jesus permaneceu em
silêncio. Mas se você puder olhar para o silêncio de Jesus com simpatia
profunda, você perceberá que há uma resposta. O silêncio é a resposta. Jesus
está dizendo: "Fique silencioso, assim como eu estou silencioso, e você
vai saber". Note que ele não está dizendo isso com palavras. Esse é um
gesto muito, muito zen. Naquele momento em que Jesus permaneceu em
silêncio, ele se colocou muito perto da abordagem Zen, e da abordagem budista.
Naquele momento ele era um Buda. Em sua vida, Buda nunca respondeu a perguntas
como esta. Ele tinha 11 perguntas enumeradas: onde quer que ele fosse, seus
discípulos iam na frente e declaravam às pessoas: "Buda está vindo, mas
nunca perguntem a ele essas 11 questões" - questões que são fundamentais,
questões que são realmente significativas. Você poderia perguntar qualquer
outra coisa e Buda se prontificaria imediatamente a responder. Mas não pergunte
sobre o fundamental, porque o fundamental pode apenas ser experimentado. E a
verdade é de todo o mais fundamental, o mais essencial; a própria substância da
existência é o que é a verdade. Analise bem a questão. A questão é
realmente significativa, e está surgindo em seu coração: "O que é a
verdade?". Um desejo de conhecer aquilo que é está surgindo. Não deixe de
lado a sua pergunta, vá bem fundo nela. Chidvilas, sempre que a pergunta surgir
novamente, feche os seus olhos, e olhe atentamente para a questão. Deixe que a
questão esteja muito, bastante focada... "O que é a verdade?"... E
deixe a ver grande concentração. Esqueça tudo, como se toda a sua vida
dependesse dessa única pergunta – "O que é a verdade?". Permita
que isso se torne uma questão de vida ou morte. E não tente respondê-la, porque
você não sabe a resposta. Muitas respostas podem vir para você, a
mente sempre tentará supri-lo com respostas. Mas veja o fato de que você não
conhece a resposta – é justamente por isso que você está perguntando. Isso
não é óbvio? Então, como pode a sua mente fornecer a resposta? Perceba esse
fato e tenha-o em mente. A mente não sabe, não conhece; desse modo,
sempre que ela vier com respostas, diga a ela: "Fique quieta". Você
não conhece a resposta, daí a sua pergunta. Portanto,
não seja enganado pelos brinquedos da mente. Ela o provê com muitos brinquedos;
ela diz: "Veja, está escrito na Bíblia. Veja, está escrito nos Upanishads.
A resposta é X. Veja, Lao Tsui escreveu que Y, essa é a resposta." A mente
pode atirar todos os tipos de escrituras sobre você, pode fazer citações, pode
usufruir da memória. Em sua vida, você ouviu falar sobre bastantes coisas, leu
muito sobre várias coisas; a mente carrega todas essas memórias. Ela pode
repetir tudo de forma mecânica. Mas olhe de perto para este fenômeno: a mente
não sabe realmente nada, e tudo o que a mente está repetindo nada mais é do que
conhecimento emprestado. Cuidado com a mente. A mente fará
citações, ela tentará provar de todas as formas possíveis ter a resposta certa
para tudo. A mente sabe tudo sem saber nada. A mente é um fingidor, uma
enganadora. Olhe para este outro fenômeno (a isso eu chamo insight): não é uma
questão de pensamento. Sempre que você pensar sobre isso, é novamente a mente.
Você deve ver (intensamente e de uma vez por todas) através de toda atuação, de
todo funcionamento e do mecanismo da mente. A sua visão tem de apreender tudo
de uma vez, do contrário sua visão será superficial. E uma visão superficial
não é realmente uma visão, é um pensamento. Você tem de compreender/olhar
profundamente para o fenômeno: para o funcionamento da mente, o modo como a
mente atua/trabalha. Ela toma conhecimento emprestado daqui e dali, e segue
acumulando conhecimento da mesma forma como um ferro velho acumula todo tipo de
entulho. A mente é como o dono de um ferro velho. Ela se enche de conhecimento,
e sempre que lhe ocorre uma pergunta que é realmente importante, a mente o
providencia com uma resposta sem importância – fútil, superficial, lixo. Um homem comprou um papagaio em uma loja de
animais. O proprietário da loja garantiu a ele que o pássaro iria aprender a
dizer “alô” em apenas meia hora. Ao voltar para casa ele passou uma hora
cantando “alô” para o pássaro, mas o pássaro não tinha pronunciado uma palavra
sequer. Quando o homem foi desistindo e se afastando em grande frustração, o
pássaro disse: “o número está ocupado.” Um
papagaio é um papagaio. Ele deve ter ouvido aquelas palavras na loja de
animais. E este homem seguia dizendo “olá, olá, olá”, e durante todo o tempo o
pássaro estava escutando, apenas esperando ele parar. Então ele poderia dizer,
“o número está ocupado!”. Você pode continuar perguntando à
mente, “O que é a verdade, o que é a verdade, o que é a verdade?”. E no
instante em que você parar, a mente imediatamente dirá: “o número está
ocupado”, ou algo parecido. Tenha cuidado com a mente. A mente é o diabo, ela é o demônio, não existe
nenhum outro. E é a sua mente. Essa percepção/insight tem de ser desenvolvido:
de olhar inteiramente para ela de uma única e só vez, inteiramente, totalmente,
por completo. Corte a mente em duas com um golpe forte e afiado da espada. Essa
espada é a presença, a consciência. Corte a mente em duas e siga em frente
atravessando-a, para além dela! E, ao atravessá-la, se você puder ir além da
mente, e um momento de não-mente eclodir para você, subitamente você verá a
resposta – não uma resposta verbal, não um texto citado entre aspas, mas uma
resposta autenticamente sua, uma experiência. A verdade é uma experiência
existencial. A questão é imensamente significante,
mas você tem que ser muito respeitoso para com a questão. Não tenha pressa para
encontrar qualquer resposta, caso contrário alguns entulhos acabarão por matar
a resposta. Não permita que a sua mente destrua a sua pergunta. A maneira que a
mente tem de destruir a pergunta é fornecendo uma resposta sem vida, sem
experiência. Você é a verdade! Mas a
realização/constatação disso somente pode acontecer quando você estiver em
completo e total silêncio, quando não há nem mesmo um único pensamento, quando
a mente não tem nada a dizer, quando não há nem mesmo uma única ondulação em
sua consciência. Quando não há ondulação em sua consciência, sua consciência
permanece sem distorções. Quando há uma ondulação, existe uma distorção. Basta ir a um lago. Fique em pé sobre a margem do
lago, e olhe para o seu reflexo. Se houver ondulações no lago e o vento estiver
soprando, o seu reflexo ficará trêmulo. Você não poderá definir onde exatamente
estão as coisas – qual parte é o seu nariz e qual parte são os seus olhos –
poderá apenas tentar adivinhar. Mas quando o lago está silencioso e o vento não
está soprando e não há uma única ondulação na superfície do lago, de repente
você está lá. Inteiramente, em absoluta perfeição, o seu reflexo está lá. O
lago se torna um espelho. Sempre que houver um pensamento em
movimento em sua consciência, as coisas ficarão distorcidas. E há muitos
pensamentos, milhões de pensamentos estão correndo continuamente, e para eles
sempre é a hora do rush. Todas as vinte quatro horas do dia são a hora do rush,
e o tráfego continua infindavelmente por todas as horas do dia. E cada
pensamento está associado com milhares de outros pensamentos; eles estão todos
de mãos dadas relacionando-se entre si, completamente interligados, e toda essa
multidão está correndo em volta de você. Como você pode saber o que é a
verdade? Saia dessa multidão. Isso é o que é
meditação, é disso que a meditação se trata: uma consciência sem mente, uma
consciência sem pensamentos, uma consciência firme sem oscilações, límpida como
um lago. Então subitamente a resposta está lá em toda sua beleza e bendição.
Então a verdade é conhecida – chame-a Deus, Nirvana, ou use qualquer outro
nome que você preferir. De repente ela está lá, simplesmente; e está lá na
forma de uma experiência. Você está nela e ela está em você. Utilize bem a sua pergunta. Tire dela todo
o proveito possível. Torne-a cada vez mais penetrante e focada; coloque
tudo em jogo a fim de que a mente não possa enganá-lo com suas respostas
superficiais. Uma vez que a mente desaparecer, quando ela não mais estiver
jogando com seus velhos truques, você vai saber o que é a verdade. Você saberá
disso em silêncio. Você saberá em um estado de consciência sem
pensamentos. www.oshobrasil.com.br.
Abraço. Davi
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