Yoga.
Livro A Ciência do Yoga. SAMADHI PADA III. Autor I. K. Taimni. Tada drastuh
svraupe vasthanam. I-3. Este sutra assinala, de maneira geral, o que acontece
quando todas as modificações da mente, em todos os níveis, foram completamente
inibidas. O vidente é estabelecido em seu próprio svarupa ou, em outras
palavras, atinge a autorrealização. Não podemos saber o que é este estado de
autorrealização enquanto estivermos envolvidos no movimento das citta vrttis.
Só pode ser percebido de dentro para fora, não pode ser compreendido de fora
para dentro. Mesmo a compreensão parcial e superficial que podemos obter sob
nossas limitações atuais, por meio do estudo e da reflexão, somente é possível
alcançar após dominarmos por completo a teoria e a técnica do Yoga,
apresentadas neste tratado. Os estágios mais elevados de consciência que se
revelam no estado do samadhi, mencionados em I-44 e 45. São chamados de
rtambhara ou geradores de verdade e retidão. À sua luz, o yogi pode conhecer a
verdade subjacente em todas as coisas em manifestação. Mas ele pode conhecer a
verdade dessa maneira, somente nas coisas que fazem parte de drsyam, o visto, e
não de drasta, o vidente. Para isso ele tem que praticar nirbija samadhi
(I-51). Vrtti-sarupyam itaratra. I-4. Nos outros estados existe assimilação (do
vidente) com as modificações (da mente). Quando as citta vrttis não estão no
estado de nirodha, e drasta não estã estabelecido em seu svarupa, ele está
assimialado com aquele vrtti particular que ocorre ocupar, no momento, o campo
de sua consciência. Uma comparação talvez ajude o estudante a compreender essa
assimilação da consciência com a transformação da mente. Que ele imagine uma
lâmpada elétrica acesa suspensa em um recipiente cheio de água límpida. Se a
água for violentamente agitada por um dispositivo mecânico, ela apresentará
toda espécie de formas, em três dimensões, em torno da lâmpada, sendo essas
formas iluminada pela luz da lâmpada e mudando a cada momento. Mas, e a
lâmpada? Ela se perderá de vista, e toda a luz dela emanada será assimilada, ou
perdida, na água que a cerca. Que ele imagine, agora, que a agitação da água
vá, aos poucos, diminuindo até que a água fique completamente parada. A medida
que as formas tridimensionais começarem a desaparecer, a lâmpada elétrica irá
aparecendo gradualmente e, quando a água estiver complemente tranquila, somente
a lâmpada será visível. Esta comparação ilustra, de modo um tanto precário,
tanto a assimilação da consciência do purusa, com a modificação da mente,
quanto sua reversão a seu próprio estado não modificado quando a mente entra em
repouso. A mente entra em repouso, ou através de para-vairagya, desenvolvido
por Isvara-pranidhana, ou através da prática do samadhi. O resultado em ambos
os casos é o mesmo, ou seja, Iluminação e Liberação. Este sutra, a exemplo do
anterior, tem o propósito de responder, de uma forma geral, apenas à pergunta
que acontece a purusa quando não está estabelecido em seu svarupa? Seu completo
significado somente pode ser compreendido quando todo o livro tiver sido
estudado, e os vários aspectos do assunto adequadamente entendidos. Vrttayh
pancataryyah klistaklistah. I-5. As modificações da mente são de cinco tipos e
são dolorosas ou não-dolorosas. Após indicar a natureza essencial da técnica do
Yoga, o autor classifica os vrttis. Ele os agrupa de duas maneiras. Primeiro,
em relação aos nossos sentimentos, se eles são dolorosos, prazeroso ou de
caráter neutro. Em segundo lugar, de acordo com a natureza do pratyaya
produzido em nossa consciência. Consideremos, primeiramente, a reação desses
vrttis sobre nossos sentimentos. Essa reação, de acordo com Patanjali, é
dolorosa ou não dolorosa, o que parecerá ao estudante superficial, um modo um
tanto estranho de classificar as modificações mentais. É claro que há certas
modificações que tem um caráter neutro, isto é, não produzem em nossa mente
qualquer reação prazerosa ou dolorosa. Quando, por exemplo, ao caminhar,
notamos uma árvore, trata-se de mera percepção sensorial que não desperta em
nós qualquer sentimento de prazer ou de dor. A grande maioria de nossas
percepções sensoriais, que resultam nas modificações da mente, tem este caráter
neutro e foram classificadas como “não dolorosas”. Mas há outras modificações
da mente que despertam em nós prazer ou dor. Por exemplo, quando provamos um
alimento saboroso ou vemos um belo pôr-do-sol, ou cheiramos uma rosa, temos um
sentimento nítido de prazer. Por outro lado, quando vemos uma cena horrível, ou
ouvimos um grito de angústia, a transformação da mente é definitivamente. Por
que, então, classificou todas essas modificações da mente, que despertam em nós
algum sentimento, como dolorosas? A razão é dada em II-15, juntamente com a
filosofia dos Klesas. Basta, de momento, mencionar que, de acordo com a teoria
dos klesas, na qual se baseia a filosofia do Yoga. Todas as experiências de
prazer ou dor são realmente penosas para as pessoas que desenvolveram a
faculdade de discernimento e não estão cegas pegas ilusões da vida inferior. É
a nossa ignorância, causada por essas ilusões, que nos faz correr atrás desses
prazeres. É nossa ignorância, causada por essas ilusões, que nos faz ver prazer
em experiências que são fonte potencial de dor e, portanto, nos faz correr
atrás desses prazeres. Se nossos olhos interiores estivessem abertos, veríamos
a dor “potencial” oculta em tais prazeres, e não apenas quando a dor está
presente de modo “ativo”. Veríamos, então, a justificativa para a classificação
de todas as experiências que envolvem nossos sentimentos e, assim, dão origem a
raga e dvesa como dolorosas. Isto pode parecer ao estudante um ponto de vista
um tanto pessimista sobre a vida, mas que ele suspenda seu julgamento, até que
tenha estudado a filosofia dos klesas, na seção II. Se todas as experiências
envolvendo os nossos sentimentos são dolorosas, então, é lógico que se
classifique as demais, que são de caráter neutro e não afetam nossos
sentimentos, como não dolorosas. Ver-se á, então, que a classificação primária
de citta-vrttis como dolorosas e não dolorosas não é desarrazoada, mas, do
ponto de vista do Yoga, perfeitamente lógica e razoável. O outro ponto de vista
com base no qual as citta vrttis foram classificadas é a natureza do pratyaya
produzido em citta. O objetivo de classificá-los dessa maneira é mostrar que
todas as nossas experiências, no domínio da mente, consistem em modificações
mentais e nada mais. O controle e a total supressão dessas modificações,
portanto, extinguem por completo nossa vida interior e levam-nos,
inevitavelmente, à aurora da consciência superior. Classificados dessa maneira,
os vrttis ou modificações são de cinco tipos, como se mostra no próximo sutra.
Pramana viparyaya vikalpa nidra smrtayah. I-6. Elas são conhecimento correto,
conhecimento errôneo, fantasia, sono e memória. Mais em vez, num exame
superficial, a classificação quíntupla pode parecer um tanto estranha, porém,
um estudo mais profundo comprovará ser ela perfeitamente científica. Se
analisarmos nossa vida mental, no que concerne ao seu conteúdo, verificaremos
que ela consiste num grande número de imagens variadas. Um estudo mais acurado
dessas imagens mostrará, todavia, que todas elas podem ser classificadas em
cinco amplos subtítulos, enumerados neste sutra. Antes de examinarmos cada um
desses subtítulos, separadamente, nos cinco sutras subsequentes, tentemos
entender, de maneira geral, o sistema fundamental de classificação. Pramana e
viparayaya abrangem todas as imagens que são formadas por algum tipo de contado
direto, através dos órgãos dos sentidos, como o mundo exterior dos objetos.
Vikalpa e smrti abrangem todas as imagens ou modificações da mente que são
produzidas sem qualquer contato direto com o mundo exterior. Elas são o
resultado da atividade independente da mente inferior, usando as percepções
sensoriais reunidas antes na mente e aí armazenadas. No caso de smrti ou
memória, essas percepções sensoriais são reproduzidas na mente com fidelidade,
isto é, na forma e na ordem em que foram obtidas previamente, através dos
órgãos dos sentidos. No caso de vikalpa ou imaginação, elas são reproduzidas de
qualquer forma e em qualquer ordem, a partir do material sensorial presente na
mente. A imaginação pode combinar essas percepções sensoriais em qualquer forma
ou ordem, coerente ou incoerente. Mas o poder de combinar as percepções
sensórias está sob o controle da vontade. No estado de sonho, a vontade não tem
controle sobre essas combinações, e elas aparecem ante a consciência, ao acaso,
fantásticas e, frequentemente, absurdas, influenciadas até certo ponto pelos
desejos presentes na mente subconsciente. O Eu Superior, com sua vontade e
razão, retira-se, por assim dizer, para além do limiar da consciência, deixando
a mente inferior parcialmente enredada, com o cérebro privado da influência
racionalizante da razão e da influência controladora da vontade. Quando até
mesmo os resquícios da mente inferior também se retiram para além do limiar da
consciência cerebral, temos um sono sem sonhos ou nidra. Neste estado, não há
imagens mentais no cérebro. A mente continua ativa em seu próprio plano, mas
suas imagens não são refletidas na tela do cérebro físico. Que o estudante
examine agora sua atividade mental, à luz do que se disse acima. Que ele adote
qualquer modificação da mente inferior, que opera com nomes e formas, e veja se
não consegue inseri-las em um dos cinco grupos. Ele verificará, para sua
surpresa, que todas as modificações da mente inferior podem ser classificadas
sob um ou outro dos subtítulos e, portanto, o sistema de classificação é
perfeitamente racional. É verdade que muitas das modificações, sob análise,
apresentar-se-ão complexas e inseridas em dois ou mais grupos. Mas logo se verificará
que os vários ingredientes se adaptam a um ou outro dos cinco grupos. Eis por
que os vrttis são chamados pancatayyah – quíntuplos. Pode-se perguntar por que
somente as modificações da mente concreta inferior podem ser levadas em
consideração na classificação das citta-vrttis. Cita inclui todos os níveis da
mente, o mais baixo dos quais é chamado manas inferior, o qual funciona através
de manomaya kosa e trata das imagens mentais concretas, com nomes e formas. A
resposta a esta pergunta é óbvia. O homem comum, cuja consciência está
confinada à mente inferior, pode conceber apenas as imagens concretas derivadas
de percepções obtidas através dos órgãos sensoriais físicos. As citta-vrttis
correspondentes aos níveis mais elevados da mente, embora definidos, vividos e
capazes de serem expressos indiretamente, através da mente inferior, estão além
de sua compreensão e podem ser percebidas em seus próprios planos no estado do
samadhi, quando a consciência transcende a mente inferior. O Yoga começa o controle
e a supressão do tipo inferior das citta-vrttis. Com o que o sadhaka está
familiarizado e a qual ele pode compreender. Não haveria por que tratar das
cittas-vrttis correspondestes aos níveis superiores da mente, mesmo que estas
citta-vrttis fossem suscetíveis de classificação comum. O sadhaka tem de
esperar até que ele aprenda a técnica do samadhi. Consideremos agora os cinco
tipos de modificações, individualmente, um a um. Livro A Ciência do Yoga de I.
K. Taimni. Abraço. Davi
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