Marabharata. Livro Marabharata - Versão Comentada da Maior Epopeia do Mundo. Por Khrisna Dharma. Capítulo Cinco. A CAMINHO - FAZENDO,
REPENTINAMENTE, CARIDADES em grandes quantidades, os Kauravas ganharam os
favores do povo. Também prepararam várias cerimônias de concessão de
reconhecimento e títulos de honra a vários líderes cidadãos. Gradualmente,
popularidade deles cresceu. Quando se aproximava a data do festival de
Varanavata, Dritarastra fez com que alguns de seus ministros elogiassem a
cidade na presença dos pândavas. Obedecendo ao rei, eles mencionaram a beleza
do lugar, o clima ameno e o maravilhoso festival que logo seria celebrado. Os
jovens pândavas se sentiram atraídos. Vendo que assim reagiam, Dritarastra lhes
disse: Tenho ouvido muitos comentários fabulosos sobre Varanavata e suas
inúmeras atrações. Normalmente, nós enviamos uma delegação para nos representar
no festival, e pensei que, este ano, vocês cinco gostariam de ir. Serão umas
férias muito agradáveis. Iudistira imediatamente entendeu o que estava
acontecendo. Já notara como os kauravas estavam tentando obter a simpatia do
povo com favores e caridades, e agora compreendia por quê. Para ele, era óbvio
que algum plano malicioso estava a caminho, mas o príncipe sabia que não
poderia fazer grande coisa, pois ele e seus irmãos não estavam numa posição
favorável. O rei era simplesmente uma peça nos esquemas de Duriodhana, mas
tinha controle sobre o tesouro, o exército e os ministros. Assim, seria inútil
e talvez até perigoso confrontá-lo. Escondendo os sentimentos, Iudistira
respondeu: Então que assim seja. Acho que vamos nos divertir em Varanavata.
Duriodhana extasiou-se quando soube que os pandavas tinham concordado em partir
e falou secretamente com um confidente próximo, chamado Purochana, instruindo-o
a que fosse para Varanavata logo. Construa uma casa de materiais altamente
inflamáveis, mas que pareça perfeitamente norma. Instale os pandavas lá e,
quando estiverem bem estabelecidos e abrirem a guarda (...). Duriodhana fez um
sinal que indicava fogo. Purochana sorriu e entendeu, ao que Duriodhana
complementou: Este mundo e toda a sua riqueza estão sob o meu comando. Você não
vai sentir falta de nada. Agora vá e cumpra minhas ordens. Dependo totalmente
de você. Purochana juntou alguns artesãos de confiança e logo seguiu para Vara
navata. Poucos dias mais tarde, os pandavas se preparavam para partir também.
Despediram-se dos anciãos e dos cidadãos tristes, que não queriam que eles
viajassem. Apesar dos recentes feitos de caridade dos Kauravas, os gentis
pandavas ainda eram os que o povo amava mais profundamente. Muitas pessoas
suspeitavam de algum atentado da parte dos kauravas. Enquanto os pandavas
subiam em seus carros para partir. Duriodhana ficou ao lado dos irmãos,
acenando adeus. Ó filhos de Pandu, que os deuses possam abençoá-los no seu
caminho. Que nenhum perigo se aproxime de vocês. E os pandavas, junto com a
mãe, saíram da cidade, acompanhados por uma grande multidão. Os cidadãos
imploravam aos irmãos que ficassem em Hastinapura, censurando Dritarastra por
enviá-los naquela viagem. Mas Iudistira parou o carro, logo depois dos portões
da cidade, e se dirigiu ao povo com estas palavras: Caros amigos, Dritarastra é
o rei. É nosso pai, preceptor e superior. Temos que obedecer às suas ordens sem
questionar. Essa é a lei eterna dada por Deus. Voltem agora para suas casas.
Quando chegar a hora, vocês poderão nos oferecer seu apoio. O povo regressou à
cidade, hesitante, mas Vidura se aproximou para falar com Iudistira. E lhe
falou numa linguagem que só mesmo os dois poderiam compreender. Por meio de seus
espiões, o ministro chegara a saber do plano de Duriodhana. Entretanto, da
mesma forma que Iudistira, não achava sábio se opor abertamente ao rei. Pegando
o braço de Iudistira, sussurrando, disse: O fogo não pode atingir aquele que se
esconde num buraco ou no meio da floresta. Mesmo oprimido por inimigos, aquele
que domina seus próprios sentidos nunca será vencido. Na verdade, chegará a
governar o mundo. Iudistira assentiu, demonstrando que entendera. O ministro
kuru, então, abençoou os irmãos e se despediu deles e de Kunti. Quando já
estavam a alguma distância da cidade, Iudistira contou à mãe e aos irmãos o que
Vidrua lhe tinha dito: Ele confirmou minhas suspeitas. É claro que Duriodhana
maquinou um plano para nos matar de alguma forma, aparentemente pelo fogo.
Nossos tio nos deu uma pista, por meio da qual poderemos escapar. Apreensivos,
eles seguiram para Varanavata e lá chegaram no começo da noite. Um grande
número de cidadãos saiu às ruas para saudá-los, felizes por conhecerem os
famosos filhos de Pandu. A chegada foi uma festa, com milhares de pessoas
dirigindo carros de todos os tipos, sacudindo bandeiras e tocando música.
Os anciãos da cidade saudaram os irmãos e os levaram ao centro da cidade,
onde conheceram Purochana. Este lhes disse que, sob as ordens do rei, estava
construindo uma mansão especialmente para a estadia do rei, estava construindo
uma mansão especialmente para a estadia deles na cidade. Os irmãos trocaram
olhares significativos, mas não disseram. Em duas semanas a mansão ficou pronta,
e Purochana lhes apresentou o grande prédio com um sorriso. Tudo foi feito para
o conforto de vocês, ó príncipe. Não sentirão falta de nada, e eu mesmo morarei
aqui para servi-los melhor. Quando Purochana saiu, Iudistira chegou perto de
uma parede e bateu levemente. Esta casa foi totalmente construída com materiais
altamente inflamáveis, disse ele aos irmãos. Vocês não sentem o cheiro de òleo
e laca? Sem dúvida, o pecador Purochana pretende nos matar pelo fogo. Ele é
apenas um instrumento de Duridhana. O grande sábio Vidura nos advertiu
adequadamente desse perigo. Bima roncou de raiva. Então vamos logo sair daqui.
Já estou farto de Duriodhana! Temos que dar um jeito nele. Iudistira balançou a
cabeça. Não, ainda não está na hora. O que podemos cinco fazer contra o estado
de Hastinapura, agora efetivamente sob o controle de Duriodhana por intermédio
do pai de vontade frágil? iudistira também rejeitou a sugestão de que
deveriam fugir de Varanavata. Se fugirmos, Duriodhana saberá que descobrimos
seu plano e enviará um monte de espiões para nos procurar e matar de qualquer
forma. O melhor que podemos fazer é ficar aqui, por enquanto. Não devemos
mostrar tampouco que sabemos de algo e ser especialmente cautelosos com
Purochana. Se ele suspeitar que o descobrimos, fará qualquer coisa para nos
destruir. Os pandavas, sempre obedientes ao irmão mais velho, concordaram.
Recordando-se das palavras de Vidura, Iudistira disse: Precisamos cavar um
túnel sob esta casa. Se ela pegar fogo, poderemos nos abrigar e fugir por ele.
Então, Iudistira sugeriu que passassem os dias explorando as áreas
circunvizinhas e, quando a oportunidade surgisse para fugirem, já conheceriam
os arredores. Dois dias depois de se mudarem para a mansão, que Purochana
chamou de "Casa Abençoada", um estranho chegou e quis falar com eles.
Sou um mineiro experiente. Foi Vidura quem me mandou aqui, dizendo que vocês me
dariam um bom trabalho. Falando na mesma linguagem discreta usada por Vidura
quando ele avisara Iudistira, o mineiro lembrou-os daquele incidente.
Iudistira, de início desconfiado que aquele fosse outro ttuque de Duriodhana,
logo afastou a desconfiança e abraçou calorosamente o mineiro. Que bom vê-lo,
senhor! Qualquer amigo de Vidrua é nosso amigo também. Iudistira contou-lhe
acerca da casa e do plano de Purochana de queimá-los vivos. O mineiro disse que
construiria um túnel da mansão até os bosques mais próximos. Acho que posso
terminá-lo em um mês. Também acredito que Purochana vai esperar bem mais que um
mês antes de atacar. Naturalmente, quer se assegurar de que vocês fiquem
completamente à vontade. Iudistira concordou, e o mineiro logo começou seu
trabalho, cavando num local escondido dentro da casa. Os dias e as semanas iam
e vinham, e os pandavas passavam a maior parte do tempo passeando e
familiarizando-se com os bosques que cercavam a mansão. Marcaram uma estrada
que saia da cidade com pedaços de pano branco, que seriam visíveis à noite.
Mais de um mês se passou. Os irmãos e sua mãe pareciam estar claros e à
vontade, mas estavam sempre em alerta, esperando a próxima jogada de Purochana.
Um deles sempre ficava acordado à noite, atento a quaisquer sons incomuns, e as
armas estava sempre à mão. Percebendo que Purochana não suspeitava de
nada e confiava que eles estavam à vontade, Iudistira disse aos irmãos, uma
noite: Acho que deveríamos agir agora, antes que Purochana tenha oportunidade.
Vamos nós mesmos atear fogo a esta casa, queimando aquele homem falso com ela.
O túnel está pronto e já podemos escapar por ele, para que as pessoas pensem
que morremos queimados. Iudistira sabia que a notícia de suas supostas mortes
logo chegaria a Hastinapura. Assim, eles poderiam viajar por todo o país sem
medo de ser perseguidos. Se permanecessem incógnitos, podeiam sair de
Varanavata e pensar no próximo passo a ser dado. No dia seguinte, o festival
foi celebrado. Kunti preparou grande quantidade de comida para distribuir aos
pobres e carentes da cidade. E a Providência Divina fez com que uma mulher e
seus cinco filhos chegassem à mansão. Eles comeram quanto quiseram e beram uma
grande quantidade de vinho. Logo ficaram bêbados e caíram, adormecidos. Incapaz
de despertá-los, os criados os deixaram onde estavam. Quando todos já tinham
saído da mansão naquela noite, os pandavas se recolheram. Purochana também fora
dormir no lugar de sempre, num quarto perto da porta da saída. Lá fora, caía
uma tempestade, e em seus aposentos os pandavas esperavam silenciosamente que
Purochana adormecesse profundamente. Então, um a um, eles entraram no túnel,
colocando Kunti no meio. Bima esperou até que todos estivessem no túnel; então,
pegando uma tocha, ateou fogo à casa, começando pela porta. Depois, correu para
o túnel, e dentro de poucos instantes a mansão estava em chamas. Purochana não
teve oportunidade de escapar, pois a casa rapidamente se tornou um inferno. Uma
multidão de cidadãos, despertos no meio da noite pelos ruídos da conflagração,
saiu às ruas. Quando viram a casa dos pandavas cercada de labareda, choraram e
gritaram de tristeza. Depois que as chamas diminuíram, eles jogaram água no
chão fumegante e entraram nas ruínas. E encontraram os corpos queimados da
mulher da tribo e de seus cinco filhos. Acreditando que fossem os restos
mortais de Kunti e dos pandavas, lamentaram-se por longo tempo, gritando: Ah, esta
é com certeza mais uma maldade do perverso Duriodhana! Sempre invejoso dos
primos generosos, ele não hesitou em destruí-los! Com certeza seu pai cego
também é cúmplice desse crime; senão, como é que isso poderia ter acontecido?
Os cidadãos reconheceram os materiais inflamáveis com que a casa tinha sido
construída. Ajudando-os na busca no meio das cinzas, o mineiro se assegurou
cuidadosamente de que o túnel não fosse encontrado. E mensageiros foram, então,
enviados a Hastinapura para informar os kurus da tragédia. Capítulo Seis. A
PRINCESA QUE NASCEU DO FOGO - EM HASTINAPURA, OS MENSAGEIROS DE VARANAVATA
trouxeram a notícia da suposta morte dos pandavas. Dritarastra soluçava,
triste. Genuinamente triste, pois sua aflição originava-se do sentimento de
culpa. Ele segurava a cabeça e chorava: Hoje é que o meu querido irmão Pandu,
que vivia por meio dos filhos, morrreu. Este é um dia negro para os kurus. O
rei instruiu para que se fizesse uma cerimônia fúnebre. Milhares de cidadãos,
chorando, entraram nas águas do rio Ganges para ofertar flores às almas que
haviam partido. Lamentavam-se terrivelmente, chamando alto os nomes de Kunti e
de seus filhos. Bishma se mostrou particularmente aflito, isolando-se em seus
aposentos para chorar sozinho. Duriodhana e os irmãos deram ostensivas
demonstrações de tristeza, lamuriando-se sem cessar, mas internamente se
rejubilavam. Vidura não se mostrou muito triste, mas sabia que não podia
revelar a verdade a ninguém, Até mesmo Bisma, que era favorável aos pandavas,
certamente contraria ao rei que eles estavam salvos, e haveria muita
perturbação e tensão em Hastinapura. Seria melhor aguardar até que o Senhor
revelasse um momento mais oportuno. Os pandavas viveram um tempo em Ekachacra.
Apresentando-se como brâmanes, ganhavam a vida pedindo esmolas. De dia,
percorriam a aldeia coletando esmolas. Voltavam ao anoitecer e Kunti preparava
a refeição, dividindo a comida em duas partes - metade para Bima e metade para
todos os outros. Enquanto os pandavas viviam em Ekachacra, um brâmane viajante
pernoitou na casa deles e lhes contou histórias que ouvira em suas viagens.
Souberam, então, que em breve haveria uma cerimônia de swayamvara na capital do
rei Drupada, na qual sua filha escolheria um marido. O brâmane descreveu a
filha de Drupada, Draupadi: Essa nobre moça é de uma beleza incomparável. E não
nasceu como qualquer mulher mortal. Todos os reis do mundo comparecerão ao
swayamvara de Draupadi. Fascinados, os pandavas pediram ao brâmane que lhes
falasse mais sobre Draupadi. Esta história começa, na verdade, com o nascimento
de Drena, o brâmane respondeu, e tem suas raízes ou relacionamentos entre o
grande achária e o poderoso rei Drupada. O brâmane narrou a história do
desentendimento entre Drona e Drupada, que os pandavas conheciam tão bem. Eles
se mantiveram em silêncio enquanto o brâmane relatava como eles tinham
derrotado Drupada. Depois disso, o rei se foi, espumando de indignação. Ele
queria se vingar de Drona. Compreendendo que somente outro brâmane poderoso
poderia se igualar a Drona e vencê-lo, entrou na floresta para procurar um.
Encontrou dois irmãos brâmanes, chamados Yaja e Upayaja. Quando lhes perguntou
se poderiam fazer com que tivesse um filho que vencesse Drona, eles aceitaram
fazer um sacrifício para esse fim. Drupada e sua esposa se sentaram no momento
do sacrifício, observando enquanto os dois irmãos faziam as oferendas ao grande
fogo. Então, ante seus olhos atônitos, um jovem surgiu no fogo. Vestido com
armadura de ouro, o guerreiro resplandecente imediatamente subiu no carro e
circulou por ali, gritando e brandindo o arco. Uma voz celestial anunciou que
ele tinha nascido para destruir Drona, e foi-lhe dado o nome de Dristadiúmna.
Logo após, uma moça também surgiu do fogo. Com a pele clara como um lótus azul,
era linda como a deusa da fortuna. Seus olhos eram escuros e seus cabelos caiam
em cachos negros. Emanava uma fragrância doce, tinha a cintura bem fina, seus
lábios eram sensuais e seus membros delicados. Ouviu-se novamente a voz
celestial: Esta beleza divina será a melhor das mulheres. Cumprindo o
propósito dos deuses, ela provocará a morte de incontáveis guerreiros. O
brâmane também lhes contou que Drona, mesmo sabendo que o rapaz tinha nascido
para matá-lo, o aceitara o na sua academia e lhe ensinara a ciência das armas.
Quando o brâmane terminou de falar, os pandavas ficaram em silêncio. A mente
deles viajava até o passado. Sabendo que seu amado guru Drona seria morto, e
também escutando a descrição de Draupadi, celestialmente adorável, ficaram
pasmos e sentiram que falar, naquele momento, seria supérfluo. Naquela noite,
depois que se retiraram para descansar, Kunti falou aos filhos. Vendo que
estavam ansiosos, disse-lhes: Nós já vivemos aqui por um longo tempo. Acho que
deveríamos agora partir para o reino de Drupada, Panchala. Iudistira concordou.
Tanto ele quanto seus irmãos queriam muito ir ao swayamvara de Draupadi. Mas
ele se lembrou do aviso de Viasadeva: O rishi nos pediu que o esperássemos aqui
até que ele voltasse. No momento em que pronunciou o nome de Viasadeva, o sábio
repentinamente apareceu perto deles. Todos logo o reverenciaram, ajoelhando-se
a seus pés, e ele disse: Entendi o desejo de suas mentes e vim aqui vê-los.
Vocês certamente devem ir a Panchala para o swayamvara de Draupadi. O sábio
também disse que Arjuna deveria participar do concurso para ganhar a mão de
Draupadi. A princesa é uma noiva e tanto. Na verdade, ela está destinada a se
casar com vocês. Iudistira falou: Ó rishi onisciente, iremos logo para
Panchala. Viasadeva então se despediu de Kunti e dos irmãos e, no dia seguinte,
eles partiram para a cidade de Drupada, Kampilia, a capital de Panchala.
Caminhando pelas estradas dia e noite, iam na direção norte. Depois de três
dias de viagem, chegaram ao rio Ganges. Já era noite, e andavam iluminados pela
tocha que Arjuna carregava. Quando se aproximaram do rio, foram repentinamente
interpelados por alguém que lhes gritou de dentro da escuridão. Alto lá! vocês
não podem seguir adiante. Sou Angaraparna, um chefe gandarva que está se
banhando neste rio. É durante a noite que os seres celestiais como nós usam o
rio; os homens devem se banhar somente de dia. Se vocês se aproximarem mais,
correrão sério perigo. Sou poderoso e não tolerarei qualquer abuso. Arjuna
colocou a tocha em várias direções e finalmente viu o gandarva à sua frente,
sentado num carro de ouro. Dando um passo à frente, ele riu e falou: Ó tolo,
desde quando o rio Ganges pode ser fechado a qualquer pessoa e a qualquer hora?
Isso é totalmente contrário aos princípios religiosos. Só mesmo uma pessoa
ignorante ou sem nenhum poder acataria seu aviso. Quanto a nós, não damos a
mínima para as suas palavras. Angaraparna ficou furiosos. Imediatamente pegou
seu arco e atirou inúmeras flechas, que sibilavam como serpentes venenosas.
Arjuna não se perturbou: aparou algumas das flechas com o escudo que tinha numa
das mãos e outras com a própria tocha. Sempre rindo, falou: Ó gandarva, não
tente intimidar aqueles que são os melhores nas armas. Você está desperdiçando
seu tempo. Mas, por ser um ente celestial, lutarei contra você com armas
celestiais. Prepare-se para receber a Agneyastra, o míssil do deus do fogo!
Elevando a tocha, Arjuna recitou alguns mantras para invocar o poder da arma
celestial. Então, atirou a tocha contra Angaraparna. Carregada de poder
místico, a tocha explodiu contra o carro do gandarva e o reduziu a cinzas.
Atônito, este caiu de cabeça no chão. Arjuna o levantou pelos cabelos, que
estavam adornados com guirlandas de flores, e o levou aos pés de Iudistira. A
esposa de Angaraparna, chocada, correu até Arjuna e lhe pediu, de mãos
postas, que liberasse o marido. Iudistira sorriu para Arjuna e falou: Ó herói,
quem mataria um inimigo que é vencido na batalha, indefeso, de quem lhe tiram a
honra e ainda por cima protegido por uma mulher? Deixe-o ir. Arjuna libertou
Angaraparna: e sua esposa correu até ele e respingou água em seu rosto. O
gandarva se levantou e disse a Arjuna, em voz baixa: Daqui por diante renuncio
a meu orgulho, uma vez que fui humilhado por um homem. Ainda assim, considero
uma sorte ter conhecido heróis como vocês, que comandam armas divinas. Vocês me
devolveram a vida, e desejo lhes dar alguma coisa em troca. Angaraparna, então,
concedeu a Arjuna o poder de ver qualquer coisa, assim como sua natureza
essencial, que existisse no mundo. Também lhe ofereceu o poder de criar ilusões
durante uma batalha. Além disso, ainda lhe darei cavalos que podem
galopar na velocidade do pensamento. Por favor, aceite estes presentes, ó
homem sem pecados. Arjuna juntou as mãos e respondeu: Não posso aceitar nada em
troca de sua vida. Os Vedas ordenam que não se mate uma pessoa perturbada e,
além disso, meu irmão me ordenou que o libertasse. Portanto, este era o meu
dever. Livro Mahabharata - Versão Comentada da Maior Epopeia do Mundo. Abraço.
Davi.
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