Confucionismo.
Texto de Jacque Gernet (1921-2018). VI. OS PRINCÍPIOS CONFUCIONISTAS DA
IDEOLOGIA CHINESA ATUAL. WANG YANGMING E
DAI ZHEN Natural de Yuyao (atual cidade de Hangzhou, na província de Zhejiang),
Wang Yangming (王阳明,(1472-1528), cujo nome de nascença é Wang Shouren, vem
na senda da "Escola do Espírito", por oposição à "Escola do
Princípio" de Cheng Yi e Zhu Xi. Wang vai desenvolver a teoria de Lu
Jiuyuan (陆九渊)sobre o espírito, mas procurando elaborar um sistema
filosófico à maneira de Zhu Xi. Em meados da Dinastia Ming, com o reinado
imperial em rápido declínio, as contradições políticas e sociais eram
evidentes, o que originou uma série de revoltas populares. Ora, Wang Yangming,
como oficial imperial, também participou pessoalmente na repressão desses
levantamentos. A partir da observação dos mesmos, constatou que, se bem que as
revoltas pudessem ser controladas, as sementes da insatisfação e rebelião nunca
poderiam ser eliminadas, dizia ele: “é fácil acabar com os salteadores das
montanhas, mas é difícil acabar com os salteadores da mente. "Por
"salteadores da mente", Wang queria dizer o que os neo-confucionistas
chamam de "desejos humanos". Depois de passar com sucesso nos exames
imperiais, assumiu vários cargos públicos, entre os quais o lugar de Ministro
da Defesa em Nanquim (Nanjing). Posteriormente e porque pertencia ao lado rival
da sociedade secreta que havia promovido um golpe de Estado a Liu Jin, teve que
isolar-se em Guizhou. Foi aí, durante o seu exílio, que foi
"iluminado" pela ideia de que o mundo estava simplesmente dentro da
sua mente. A ideia básica da sua teoria é que não existe nada fora da mente,
nenhum Princípio existe fora da mente, tudo no mundo não passa de um produto da
mente. Para ele, a mente é a espiritualidade e a consciência, a qual é a
reguladora do céu, da terra e dos espíritos. Nada existindo fora da
espiritualidade, o mundo exterior é um comigo e as coisas em si mesmas são a
espiritualidade e a consciência em si mesmas. Wang Yangming (1472-1529) fala,
ainda, da extensão do conhecimento inato. Ora, o conhecimento inato é o
Princípio Divino inato na mente humana que possui somente bondade perfeita e
nada de maldade. A presença de bem ou mal caracteriza a intenção na ação.
Assim, muitos seres humanos, principalmente os vulgares e de nível inferior,
são tocados pelo mal quando as suas mentes estão empenhadas em atividades
intencionais. Para fazer face a estes desejos, há que empenhar-se no que Wang
chama de "investigação das coisas", ou seja, na retificação dos
desejos. O espírito é a primeira e única fonte de toda a moralidade, cujo motor
é a intenção. Mais tarde Wang propôs a teoria da unidade do conhecimento e da
ação, através da qual procura demonstrar que tanto o conhecimento como a ação
fazem parte da espiritualidade. Aliás, a unidade do conhecimento e da ação foi
sempre um dos princípios confucionistas. 2.4.6. KANG YOUWEI Para além dos
neo-confuciostas que refletiram sobre o confucionismo, procurando trazer-lhe
algo de novo e adaptando-o às novas condições existentes, alguns autores
procuraram utilizar os princípios desta doutrina para fazer promover algumas
alterações na sociedade vigente. Foi exatamente o que fez o Kang Youwei (康有为,1858-1927) ao preconizar um conjunto de reformas que pretendiam
dinamizar a já velha e decadente Dinastia Qing (1644-1911). A China
encontrava-se, na altura, numa posição bastante debilitada e enfraquecida pelo
poderio das nações ocidentais que se penetravam cada vez mais em território
chinês, retirando daí todos os benefícios possíveis. A guerra sino-japonesa de
1894-95 foi a machadada final que suscitou a indignação de alguns intelectuais,
sob a liderança de Kang Youwei, no sentido de proceder a algumas reformas
profundas como forma de modernizar a sua economia e sociedade. Com o apoio de
cerca de 1300 candidatos aos exames imperiais, Kang Youwei (1858-1927)
apresentou ao Imperador Guangxu (光绪), em 1895, uma petição apelando à reforma como forma
de salvar o país. Essas reformas acabaram por ser colocadas em prática no Verão
de 1898, nomeadamente, a abolição do velho sistema de exames imperiais,
estabelecimento de escolas modernas, promoção de indústrias e transporte,
levantamento de restrições sobre a liberdade de expressão, reforma das
organizações burocráticas e designação de novos funcionários. Contudo, este
conjunto de reformas só estiveram em vigor durante cerca de 100 dias, quando
Cixi incitou um golpe de Estado, que originou a morte de alguns reformadores e
fuga de outros, como foi o caso de Kang Youwei e o seu aluno Liang Qichao (梁启超),
que fugiram para o Japão. No que se refere à teoria preconizada por Kang
Youwei, ao mesmo tempo que acusa a corrente dos textos antigos de ser um
entrave constante a todo o espírito de reforma, exalta Confúcio como o maior
reformador de todos os tempos. A sua veemência é tal na defesa destes ideais
que chegou a ser apelidado de "Martin Luther do confucionismo." Tal
como Confúcio, apresentava uma atitude hostil em relação às revoltas de
camponeses. Em contrapartida, suscitava a emancipação mental das pessoas e o
empenho no progresso. Por outro lado, preconizava no seu livro "Ensaios
sobre o Céu", uma nova forma de religião: o confucionismo do ramo Kang.
Estas ideias fizeram renascer o culto de Confúcio, o qual é sempre adorado como
um mestre ou um sábio, mas nunca como um deus. Um outro aspecto interessante da
sua teoria era que utilizava conceitos antigos interpretados à luz de ideias de
então e também ocidentais. Assim, interpretou a teoria das "três
idades" como a lei universal da evolução da história da monarquia ao
constitucionalismo, culminando no republicanismo. Esta inspiração veio-lhe dos
contatos que teve, desde jovem, com os conhecimentos ocidentais. O CONFUCIONISMO
NA CHINA COMUNISTA "Não há quase nenhum pormenor no comportamento de um
bom comunista que não faça lembrar exatamente aquele de um bom
neo-confucionista". O PERÍODO MAOÍSTA Apesar do confucionismo ter sido um
dos principais alvos do Movimento de 4 de maio de 1919 e, mais tarde, da
Revolução Cultural, sob a liderança de Mao Zedong, a verdade é que muitos dos
princípios preconizados por Confúcio e seus seguidores foram adoptados e
incluídos na ideologia comunista chinesa. Durante o séc. XX, os dois momentos
mais marcantes em que houve uma crítica severa e aberta aos velhos princípios
confucionistas foi durante o Movimento de 4 de maio de 1919 e durante a
Revolução Cultural (1966-1976). Nascido do estado de caos interno em que se
encontrava a sociedade chinesa dividida pelo domínio dos chamados Senhores da
Guerra, levantou-se entre a população chinês um movimento de cariz
anti-imperialista e anti-feudal, cujo principal alvo eram as decisões da
Conferência de Paz de Paris que puseram termo à Primeira Grande Guerra e que
eram extremamente desfavoráveis para a China. Ora, no contexto dos tratados
desiguais assinados pela decadente Dinastia Qing, que se havia recusado a
modernizar e continuava fortemente ligada à cultura tradicional, os
preconizadores do Movimento de 1919 não podiam deixar de se insurgir contra
todo o antigo regime dinástico e todo o conjunto de valores tradicionais a que
se associava, entre os quais os valores confucionistas. Sem chegar a analisar
os seus fundamentos, os preconizadores do movimento de 4 de maio atacaram o
confucionismo como mais uma vítima, por considerá-lo como um dos causadores da
decadência e atraso da sociedade chinesa. Durante este movimento de grande
dinamismo cultural, surgiu um grupo de intelectuais que procuram definir os
fundamentos científicos do pensamento de Confúcio, desmistificando-o. Trata-se
dos “Cépticos da Antiguidade” (yigupai, 疑古派)
constituídos por importantes filósofos como Gu Jiegang (顾颉刚), Qian Xuantong (钱玄同), Hu Shi (胡适) e, mais tarde, Feng Youlan (冯友兰). Outros estudiosos mais conservadores defendiam a preservação da
herança cultural chinesa, nomeadamente Confúcio e os seus ensinamentos, entre
os quais se distinguem duas correntes: uma corrente que defendia a manutenção
da tradição chinesa, preservando a herança nacional (guocuipai, 国粹派),
e outros que preconizavam a modernização do confucionismo, os chamados
neo-confucionistas (xin rujia, 新儒家). Posteriormente, após a
implantação da República Popular da China e ainda antes da Revolução Cultural,
o confucionismo foi alvo de um estudo atento como forma de determinar o seu
valor para a cultura chinesa e a sua posição no sistema de classes, assim como
de colocar em prática a metodologia da pesquisa histórica marxista. Enquanto
alguns intelectuais defendiam o lado mais progressista de Confúcio, como tendo
contribuído positivamente para a noção de humanismo e para um inovador conceito
de educação, outros defendiam o seu lado sombrio, como conservador e defensor
do antigo sistema. Finalmente, em princípios da década de 60, esta última
facção conservadora tornou-se dominante no governo, sendo responsável por uma
das mais fortes críticas ao Mestre Confúcio e sua doutrina. Menos de meio
século depois do primeiro grande ataque do século, Confúcio volta a ser vítima
de uma das campanhas mais acérrimas contra os valores tradicionais chineses,
durante a “Grande Revolução Cultural” (文化大革命). Nascida
do ódio das novas gerações por tudo quanto é antigo, liderada pelo Grande
Timoneiro, a “Campanha contra as Quatro Velharias” 26 incluía inevitavelmente
Confúcio e os seus princípios. No entanto, as críticas endereçadas contra o
confucionismo eram completamente infundadas. Em 1976, foi publicada uma seleção
de artigos de Crítica a Lin Biao e Confúcio, em que diversos escritores fazem críticas
aos mentores do confucionismo, nomeadamente a Confúcio e a Mêncio, assim como a
Lin Biao (林彪). No entanto, a justificação dessas mesmas críticas
não era substantiva, cingia-se ao facto de que eram representantes de uma
sociedade escravagista e que advogavam o regresso aos reis da Antiguidade e ao
antigo sistema de ritos. A verdade é que advogando isso, Confúcio pretendia
restabelecer um sistema que considerava perfeito em que o povo era governado
por um monarca benevolente, e que se preocupava sobretudo com a satisfação das
suas necessidades. As críticas acérrimas feitas ao confucionismo pretendiam
atingir o velho sistema de coisas característico do sistema dinástico, e que
devido a alguns erros, levou ao caos e à decadência da última dinastia, a Dinastia
Qing. Finalmente, a campanha contra a cultura antiga, renegando os seus valores
tradicionais, nomeadamente o valor dado à educação e o respeito pela rede de
relações sociais, resultaria em caos. Com o reconhecimento do erro cometido
encerrou-se este triste capítulo da História da China, mas cumpre-nos chamar a
atenção para o facto de que durante este período houveram alguns aspectos que
reconhecem a influência e interpenetração dos princípios e teorias
confucionista e comunista. Começaremos por fazer uma comparação entre os seus
principais defensores. DUAS VIDAS COM 25 SÉCULOS DE DIFERENÇA. Cerca de 25
séculos separam duas personalidades que marcaram e continuam a marcar a
sociedade chinesa: Confúcio e Mao Zedong (毛泽东). Apesar
separados por muitos anos, décadas e séculos, o contributo que deram, cada um
na sua época, foi de grande peso para a formação da personalidade do povo
chinês da atualidade, o que justifica o "culto da personalidade"
presente em ambos os casos. Tal como Confúcio, Mao Zedong (1893-1976) também
nasceu no seio de uma família empobrecida, ainda que a família do primeiro
fosse de ascendência nobre. Ambos conheceram as agruras da vida, do trabalho
duro a que tiveram de se dedicar para sustentar a família. Mao Zedong nasceu em
Shao Shan, na Província de Hunan, onde durante anos o seu mundo foi o campo de
arroz, a escola da aldeia e a vergasta do pai. Tal como a mãe de Confúcio,
também o pai de Mao Zedong trabalhou arduamente para dar o melhor aos filhos.
Após ter prestado serviço militar, dedicou-se a atividades comerciais, de onde
acumulou algum dinheiro, o que representou alguns privilégios para a família na
terra onde nasceu Mao. Como a sua mãe passava mais tempo em casa, dedicando-se
às tarefas domésticas, a ligação de Mao a esta sempre foi maior, principalmente
em face de conflitos familiares emergentes. Na altura, o confucionismo estava
bem patente nas relações familiares e sociais, o que não foi exceção para a sua
família. A autoridade incontestável do pai e a piedade filial eram os fundamentos
tradicionais da vida privada e os modelos de autoridade política. Apesar de ter
recebido uma sólida formação confucionista, particularmente sob a influência da
socialização da família, desde cedo Mao se rebelou contra a autoridade de seu
pai, especialmente porque com 13 anos de idade, o pai criticou-o perante os
hóspedes, o que representou uma grande perda de face para Mao. Posteriormente,
mas ainda em relação a esse período dizia ele que "haviam dois partidos na
família. Um era o meu pai, o «poder dirigente». A oposição compunha-se da minha
mãe, do meu irmão e talvez mesmo o trabalhador."28 Eram tempos críticos,
aqueles em que Confúcio e Mao viveram, caracterizados pela degradação do modo
de governação vigente que, a breve trecho suscitaria uma reviravolta. No caso
de Confúcio tratava-se do já descrito período dos Reinos Combatentes de finais
da Dinastia Zhou, enquanto que no caso de Mao se tratava do declínio acentuado
e posterior queda da última dinastia da História da China - a Dinastia Qing (1644-1911).
Na maior parte da sua juventude e início da vida adulta, Mao viveu períodos
bastante agitados em que a implantação da República por Sun Yat-sen (Sun Zhong
Shan, 孙中山) não representou um restabelecimento completo da
estabilidade nacional. Antes pelo contrário. Pouco tempo depois, o comandante
militar Yuan Shikai (袁世凯) assumiu os destinos da Nação, exercendo a sua
supremacia política. Mas logo em 1916, após a sua morte, a China entrou no
chamado "Período dos Senhores da Guerra". Durante este período,
caracterizado por uma desorganização geral do território, diversos governadores
militares, antes subordinados a Yuan Shikai, entraram em conflito e dividiram o
território, com o auxílio das diversas potências estrangeiras. Somente em 1928,
Chiang Kaishek (Jiang Jieshi, 蒋介石), tendo assumindo a liderança
do Partido Nacionalista, procurou assegurar o controle do território através de
uma ditadura com o apoio da burguesia, a chamada década de Nanquim. Como tal,
durante as primeiras décadas da vida de Mao Zedong a situação em que se
encontrava a China não era fácil. Enquanto trabalhava nos campos, Mao foi
sempre estudando, nomeadamente os Clássicos e os Livros do confucionismo.
Contudo, Mao sempre preferiu as histórias de revolta da China antiga. Já após o
fim dos exames imperiais, baseados no conhecimento dos Clássicos
confucionistas, Mao começou a frequentar, com 16 anos, a Escola Moderna de
Xiangxiang, onde tomou pela primeira vez contato com o conhecimento ocidental,
as ciências naturais, a história e a geografia das nações estrangeiras. Após
ter participado no exército republicano, em luta contra a Dinastia Manchu, Mao
é admitido na Escola Normal de Hunan, para se tornar professor. Enquanto jovem
estudante, Mao sempre foi bastante activo, tendo sido presidente da Associação
de Estudantes da Escola Normal de Hunan. Aí sublinhava o absurdo das regras
escolares em vigor, como as matérias obrigatórias. Por se ter rebelado contra
os abusos administrativos, arriscou-se muitas vezes a ser expulso da
Universidade. Contudo, tal como Confúcio, sempre foi um aluno aplicado e
sobretudo interessado pelas ciências sociais e pela cultura clássica. Lia muito
e procurava estar sempre informado quanto ao que se passava dentro e fora do
território chinês. Já enquanto professor primário reivindicou com um grupo de
amigos a independência de Hunan, assim como a igualdade de direitos entre os
sexos. Como tal, cedo se deixou seduzir pelos ideais de igualdade da ideologia
comunista, que conhecera na Universidade de Pequim, onde fora bibliotecário. Aí
juntou-se ao Grupo de Estudo do Marxismo, organizado por Li Dazhao (李大钊), e leu traduções das três mais importantes obras do marxismo: "O
Manifesto Comunista" de Marx, "A Luta de Classes" de Kautsky e a
"História do socialismo" de Kirkupp. É também naquela altura que Mao
conhece o professor de Economia Política da Universidade de Pequim Chen Duxiu (陈独秀), que haveria de fundar, juntamente com Li Dazhao e
outros intelectuais, o Partido Comunista Chinês (PCC), em Shanghai, em 1921,
reunião onde Mao também participou. Mao assumiu, então, o cargo de Secretário
do Partido para Hunan, organizando diversos sindicatos de trabalhadores e
uniões de camponeses. Após a decisão do III Congresso do Partido Comunista
Chinês, em Cantão (广州), em junho de 1923, de participar no Partido
Nacionalista (Guomindang,
国民党), Mao é nomeado membro do Bureau executivo do
Guomintang de Shanghai, onde é encarregado da coordenação da atividade dos dois
partidos. Mao Zedong começa, então, a mostrar preocupações com as condições dos
camponeses. É nesta altura que surgem as suas teorias de redistribuição geral
das terras, que já haviam sido defendidas por Mêncio, como forma de promover a
melhoria de condições de vida do povo. Mao foi, aqui, particularmente
influenciado por Trotsky que, para além de uma nova política em relação ao
campesinato, defendia a separação do PCC do Guomintang. Esta posição opunha-se
completamente à opinião de Estaline que considerava uma tolice essa separação.
A verdade é que, no seguimento do massacre de diversos comunistas desarmados, a
12 de Abril de 1927, em Shanghai, pelas tropas nacionalistas lideradas por
Jiang Jieshi, acaba-se a colaboração entre estes dois partidos. Inicia-se,
deste modo, um período de guerra civil entre nacionalistas de um lado e comunistas
de outro. Os comunistas são, então, obrigados a refugiar-se na China rural.
"Tal contato com a ruralidade e com o campesinato, socialmente
predominante na estrutura sócio econômica chinesa, leva Mao a desenvolver a
táctica e a doutrina da comuna camponesa em paralelo com as do soviete urbano
de Lenine e de Estaline." O Partido Comunista Chinês adopta dois caminhos
revolucionários, para conquistar o apoio do povo: por um lado, dirige-se à
classe operária das cidades, ainda reduzida, e por outro, à classe camponesa
das aldeias, mais numerosa e, consequentemente, o alvo privilegiado por estes.
Um outro aspecto salientado por Mao Zedong é a revolução democrática, levando
camponeses e operários a empenhar-se em lutas económicas e políticas. Este
papel fundamental do povo na legitimação do poder do soberano é um aspecto que
Confúcio já havia mencionado e Mêncio sublinhado. Ainda neste sentido, Mao
apresenta o Exército Vermelho como suporte do poder comunista, o que está em
contradição com a filosofia confucionista, nomeadamente de Xunzi, que defendia
que o poder militar não era suficiente para se impor uma forma de governação ao
povo. Em 1929, é criada a República Soviética de Jiangxi pelo Partido
Comunista, onde é posta em prática a reforma agrária proposta por Mao Zedong.
Tal como preconizado por Mêncio, alguns séculos antes, as terras são
redistribuídas e os impostos são aligeirados, melhorando-se, desta forma, as
condições de vida da população. A educação foi uma das áreas mais
privilegiadas, tal como já Confúcio havia destacado, embora em moldes
diferentes. As novas experiências de administração, de organização económica,
social e militar impõem aos novos dirigentes comunistas novas soluções e um
importante trabalho prático e teórico de investigação e análise. As bases
comunistas são, então, alvo de ataques das tropas nacionalistas, o que as
impele a deslocarem-se mais para Norte. É em 1934 que se inicia a Longa Marcha
(长征), em direcção a Yan’an (延安), um
movimento populacional que durará cerca de um ano e onde as populações por
cerca de 12 000 Km são informadas sobre os propósitos da ideologia comunista, o
que provoca uma grade adesão. É exatamente durante esta marcha que Mao Zedong é
confirmado como o líder incontestável do Partido Comunista Chinês, ao ser
eleito para o cargo de presidente do Comité Militar. Ainda que com propósitos
diferentes, poder-se-á fazer aqui comparações entre este movimento de massas e
o périplo realizado por Confúcio, quando se afastou dos cargos públicos para se
dedicar ao ensino da sua doutrina. Ambas as deslocações suscitaram uma grande
adesão popular, utilizando o mesmo método: procurar dar a conhecer aos outros
uma filosofia de vida, através da forma de agir dos seus seguidores, através do
exemplo dos confucionistas ou comunistas. Já Confúcio dizia que o conhecimento
e a prática são uma e a mesma coisa, que a educação sem a experiência seria
incompleta, pelo que apela à ação, ao conhecimento prático através do
comportamento, sendo que este por sua vez, reflete os valores dos indivíduos.
Foi exatamente este método utilizado por Mao Zedong para dar a conhecer a
ideologia comunista que desencadeou um grande apoio popular, marcando pontos e
levando à vitória do Partido Comunista sobre o Partido Nacionalista, após a
derrota dos japoneses na Segunda Guerra Mundial (1945). A ideologia comunista
ascendeu, então, ao poder na China a 1 de outubro de 1949, a partir do que Mao
Zedong teve a oportunidade de pôr em prática em todo o território todos os
projetos incluídos na ideologia comunista aplicados à realidade chinesa.
Abraço.
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