quarta-feira, 12 de junho de 2019

VI. OS PRINCÍPIOS CONFUCIONISTAS DA IDEOLOGIA CHINESA ATUAL


Confucionismo. Texto de Jacque Gernet (1921-2018). VI. OS PRINCÍPIOS CONFUCIONISTAS DA IDEOLOGIA CHINESA ATUAL.  WANG YANGMING E DAI ZHEN Natural de Yuyao (atual cidade de Hangzhou, na província de Zhejiang), Wang Yangming (王阳明,(1472-1528), cujo nome de nascença é Wang Shouren, vem na senda da "Escola do Espírito", por oposição à "Escola do Princípio" de Cheng Yi e Zhu Xi. Wang vai desenvolver a teoria de Lu Jiuyuan 陆九渊)sobre o espírito, mas procurando elaborar um sistema filosófico à maneira de Zhu Xi. Em meados da Dinastia Ming, com o reinado imperial em rápido declínio, as contradições políticas e sociais eram evidentes, o que originou uma série de revoltas populares. Ora, Wang Yangming, como oficial imperial, também participou pessoalmente na repressão desses levantamentos. A partir da observação dos mesmos, constatou que, se bem que as revoltas pudessem ser controladas, as sementes da insatisfação e rebelião nunca poderiam ser eliminadas, dizia ele: “é fácil acabar com os salteadores das montanhas, mas é difícil acabar com os salteadores da mente. "Por "salteadores da mente", Wang queria dizer o que os neo-confucionistas chamam de "desejos humanos". Depois de passar com sucesso nos exames imperiais, assumiu vários cargos públicos, entre os quais o lugar de Ministro da Defesa em Nanquim (Nanjing). Posteriormente e porque pertencia ao lado rival da sociedade secreta que havia promovido um golpe de Estado a Liu Jin, teve que isolar-se em Guizhou. Foi aí, durante o seu exílio, que foi "iluminado" pela ideia de que o mundo estava simplesmente dentro da sua mente. A ideia básica da sua teoria é que não existe nada fora da mente, nenhum Princípio existe fora da mente, tudo no mundo não passa de um produto da mente. Para ele, a mente é a espiritualidade e a consciência, a qual é a reguladora do céu, da terra e dos espíritos. Nada existindo fora da espiritualidade, o mundo exterior é um comigo e as coisas em si mesmas são a espiritualidade e a consciência em si mesmas. Wang Yangming (1472-1529) fala, ainda, da extensão do conhecimento inato. Ora, o conhecimento inato é o Princípio Divino inato na mente humana que possui somente bondade perfeita e nada de maldade. A presença de bem ou mal caracteriza a intenção na ação. Assim, muitos seres humanos, principalmente os vulgares e de nível inferior, são tocados pelo mal quando as suas mentes estão empenhadas em atividades intencionais. Para fazer face a estes desejos, há que empenhar-se no que Wang chama de "investigação das coisas", ou seja, na retificação dos desejos. O espírito é a primeira e única fonte de toda a moralidade, cujo motor é a intenção. Mais tarde Wang propôs a teoria da unidade do conhecimento e da ação, através da qual procura demonstrar que tanto o conhecimento como a ação fazem parte da espiritualidade. Aliás, a unidade do conhecimento e da ação foi sempre um dos princípios confucionistas. 2.4.6. KANG YOUWEI Para além dos neo-confuciostas que refletiram sobre o confucionismo, procurando trazer-lhe algo de novo e adaptando-o às novas condições existentes, alguns autores procuraram utilizar os princípios desta doutrina para fazer promover algumas alterações na sociedade vigente. Foi exatamente o que fez o Kang Youwei (康有为,1858-1927) ao preconizar um conjunto de reformas que pretendiam dinamizar a já velha e decadente Dinastia Qing (1644-1911). A China encontrava-se, na altura, numa posição bastante debilitada e enfraquecida pelo poderio das nações ocidentais que se penetravam cada vez mais em território chinês, retirando daí todos os benefícios possíveis. A guerra sino-japonesa de 1894-95 foi a machadada final que suscitou a indignação de alguns intelectuais, sob a liderança de Kang Youwei, no sentido de proceder a algumas reformas profundas como forma de modernizar a sua economia e sociedade. Com o apoio de cerca de 1300 candidatos aos exames imperiais, Kang Youwei (1858-1927) apresentou ao Imperador Guangxu (光绪), em 1895, uma petição apelando à reforma como forma de salvar o país. Essas reformas acabaram por ser colocadas em prática no Verão de 1898, nomeadamente, a abolição do velho sistema de exames imperiais, estabelecimento de escolas modernas, promoção de indústrias e transporte, levantamento de restrições sobre a liberdade de expressão, reforma das organizações burocráticas e designação de novos funcionários. Contudo, este conjunto de reformas só estiveram em vigor durante cerca de 100 dias, quando Cixi incitou um golpe de Estado, que originou a morte de alguns reformadores e fuga de outros, como foi o caso de Kang Youwei e o seu aluno Liang Qichao (梁启超), que fugiram para o Japão. No que se refere à teoria preconizada por Kang Youwei, ao mesmo tempo que acusa a corrente dos textos antigos de ser um entrave constante a todo o espírito de reforma, exalta Confúcio como o maior reformador de todos os tempos. A sua veemência é tal na defesa destes ideais que chegou a ser apelidado de "Martin Luther do confucionismo." Tal como Confúcio, apresentava uma atitude hostil em relação às revoltas de camponeses. Em contrapartida, suscitava a emancipação mental das pessoas e o empenho no progresso. Por outro lado, preconizava no seu livro "Ensaios sobre o Céu", uma nova forma de religião: o confucionismo do ramo Kang. Estas ideias fizeram renascer o culto de Confúcio, o qual é sempre adorado como um mestre ou um sábio, mas nunca como um deus. Um outro aspecto interessante da sua teoria era que utilizava conceitos antigos interpretados à luz de ideias de então e também ocidentais. Assim, interpretou a teoria das "três idades" como a lei universal da evolução da história da monarquia ao constitucionalismo, culminando no republicanismo. Esta inspiração veio-lhe dos contatos que teve, desde jovem, com os conhecimentos ocidentais. O CONFUCIONISMO NA CHINA COMUNISTA "Não há quase nenhum pormenor no comportamento de um bom comunista que não faça lembrar exatamente aquele de um bom neo-confucionista". O PERÍODO MAOÍSTA Apesar do confucionismo ter sido um dos principais alvos do Movimento de 4 de maio de 1919 e, mais tarde, da Revolução Cultural, sob a liderança de Mao Zedong, a verdade é que muitos dos princípios preconizados por Confúcio e seus seguidores foram adoptados e incluídos na ideologia comunista chinesa. Durante o séc. XX, os dois momentos mais marcantes em que houve uma crítica severa e aberta aos velhos princípios confucionistas foi durante o Movimento de 4 de maio de 1919 e durante a Revolução Cultural (1966-1976). Nascido do estado de caos interno em que se encontrava a sociedade chinesa dividida pelo domínio dos chamados Senhores da Guerra, levantou-se entre a população chinês um movimento de cariz anti-imperialista e anti-feudal, cujo principal alvo eram as decisões da Conferência de Paz de Paris que puseram termo à Primeira Grande Guerra e que eram extremamente desfavoráveis para a China. Ora, no contexto dos tratados desiguais assinados pela decadente Dinastia Qing, que se havia recusado a modernizar e continuava fortemente ligada à cultura tradicional, os preconizadores do Movimento de 1919 não podiam deixar de se insurgir contra todo o antigo regime dinástico e todo o conjunto de valores tradicionais a que se associava, entre os quais os valores confucionistas. Sem chegar a analisar os seus fundamentos, os preconizadores do movimento de 4 de maio atacaram o confucionismo como mais uma vítima, por considerá-lo como um dos causadores da decadência e atraso da sociedade chinesa. Durante este movimento de grande dinamismo cultural, surgiu um grupo de intelectuais que procuram definir os fundamentos científicos do pensamento de Confúcio, desmistificando-o. Trata-se dos “Cépticos da Antiguidade” (yigupai, 疑古派) constituídos por importantes filósofos como Gu Jiegang (顾颉刚), Qian Xuantong (钱玄同), Hu Shi (胡适) e, mais tarde, Feng Youlan (冯友兰). Outros estudiosos mais conservadores defendiam a preservação da herança cultural chinesa, nomeadamente Confúcio e os seus ensinamentos, entre os quais se distinguem duas correntes: uma corrente que defendia a manutenção da tradição chinesa, preservando a herança nacional (guocuipai, 国粹派), e outros que preconizavam a modernização do confucionismo, os chamados neo-confucionistas (xin rujia, 新儒家). Posteriormente, após a implantação da República Popular da China e ainda antes da Revolução Cultural, o confucionismo foi alvo de um estudo atento como forma de determinar o seu valor para a cultura chinesa e a sua posição no sistema de classes, assim como de colocar em prática a metodologia da pesquisa histórica marxista. Enquanto alguns intelectuais defendiam o lado mais progressista de Confúcio, como tendo contribuído positivamente para a noção de humanismo e para um inovador conceito de educação, outros defendiam o seu lado sombrio, como conservador e defensor do antigo sistema. Finalmente, em princípios da década de 60, esta última facção conservadora tornou-se dominante no governo, sendo responsável por uma das mais fortes críticas ao Mestre Confúcio e sua doutrina. Menos de meio século depois do primeiro grande ataque do século, Confúcio volta a ser vítima de uma das campanhas mais acérrimas contra os valores tradicionais chineses, durante a “Grande Revolução Cultural” (文化大革命). Nascida do ódio das novas gerações por tudo quanto é antigo, liderada pelo Grande Timoneiro, a “Campanha contra as Quatro Velharias” 26 incluía inevitavelmente Confúcio e os seus princípios. No entanto, as críticas endereçadas contra o confucionismo eram completamente infundadas. Em 1976, foi publicada uma seleção de artigos de Crítica a Lin Biao e Confúcio, em que diversos escritores fazem críticas aos mentores do confucionismo, nomeadamente a Confúcio e a Mêncio, assim como a Lin Biao (林彪). No entanto, a justificação dessas mesmas críticas não era substantiva, cingia-se ao facto de que eram representantes de uma sociedade escravagista e que advogavam o regresso aos reis da Antiguidade e ao antigo sistema de ritos. A verdade é que advogando isso, Confúcio pretendia restabelecer um sistema que considerava perfeito em que o povo era governado por um monarca benevolente, e que se preocupava sobretudo com a satisfação das suas necessidades. As críticas acérrimas feitas ao confucionismo pretendiam atingir o velho sistema de coisas característico do sistema dinástico, e que devido a alguns erros, levou ao caos e à decadência da última dinastia, a Dinastia Qing. Finalmente, a campanha contra a cultura antiga, renegando os seus valores tradicionais, nomeadamente o valor dado à educação e o respeito pela rede de relações sociais, resultaria em caos. Com o reconhecimento do erro cometido encerrou-se este triste capítulo da História da China, mas cumpre-nos chamar a atenção para o facto de que durante este período houveram alguns aspectos que reconhecem a influência e interpenetração dos princípios e teorias confucionista e comunista. Começaremos por fazer uma comparação entre os seus principais defensores. DUAS VIDAS COM 25 SÉCULOS DE DIFERENÇA. Cerca de 25 séculos separam duas personalidades que marcaram e continuam a marcar a sociedade chinesa: Confúcio e Mao Zedong (泽东). Apesar separados por muitos anos, décadas e séculos, o contributo que deram, cada um na sua época, foi de grande peso para a formação da personalidade do povo chinês da atualidade, o que justifica o "culto da personalidade" presente em ambos os casos. Tal como Confúcio, Mao Zedong (1893-1976) também nasceu no seio de uma família empobrecida, ainda que a família do primeiro fosse de ascendência nobre. Ambos conheceram as agruras da vida, do trabalho duro a que tiveram de se dedicar para sustentar a família. Mao Zedong nasceu em Shao Shan, na Província de Hunan, onde durante anos o seu mundo foi o campo de arroz, a escola da aldeia e a vergasta do pai. Tal como a mãe de Confúcio, também o pai de Mao Zedong trabalhou arduamente para dar o melhor aos filhos. Após ter prestado serviço militar, dedicou-se a atividades comerciais, de onde acumulou algum dinheiro, o que representou alguns privilégios para a família na terra onde nasceu Mao. Como a sua mãe passava mais tempo em casa, dedicando-se às tarefas domésticas, a ligação de Mao a esta sempre foi maior, principalmente em face de conflitos familiares emergentes. Na altura, o confucionismo estava bem patente nas relações familiares e sociais, o que não foi exceção para a sua família. A autoridade incontestável do pai e a piedade filial eram os fundamentos tradicionais da vida privada e os modelos de autoridade política. Apesar de ter recebido uma sólida formação confucionista, particularmente sob a influência da socialização da família, desde cedo Mao se rebelou contra a autoridade de seu pai, especialmente porque com 13 anos de idade, o pai criticou-o perante os hóspedes, o que representou uma grande perda de face para Mao. Posteriormente, mas ainda em relação a esse período dizia ele que "haviam dois partidos na família. Um era o meu pai, o «poder dirigente». A oposição compunha-se da minha mãe, do meu irmão e talvez mesmo o trabalhador."28 Eram tempos críticos, aqueles em que Confúcio e Mao viveram, caracterizados pela degradação do modo de governação vigente que, a breve trecho suscitaria uma reviravolta. No caso de Confúcio tratava-se do já descrito período dos Reinos Combatentes de finais da Dinastia Zhou, enquanto que no caso de Mao se tratava do declínio acentuado e posterior queda da última dinastia da História da China - a Dinastia Qing (1644-1911). Na maior parte da sua juventude e início da vida adulta, Mao viveu períodos bastante agitados em que a implantação da República por Sun Yat-sen (Sun Zhong Shan, 孙中山) não representou um restabelecimento completo da estabilidade nacional. Antes pelo contrário. Pouco tempo depois, o comandante militar Yuan Shikai (袁世) assumiu os destinos da Nação, exercendo a sua supremacia política. Mas logo em 1916, após a sua morte, a China entrou no chamado "Período dos Senhores da Guerra". Durante este período, caracterizado por uma desorganização geral do território, diversos governadores militares, antes subordinados a Yuan Shikai, entraram em conflito e dividiram o território, com o auxílio das diversas potências estrangeiras. Somente em 1928, Chiang Kaishek (Jiang Jieshi, 蒋介石), tendo assumindo a liderança do Partido Nacionalista, procurou assegurar o controle do território através de uma ditadura com o apoio da burguesia, a chamada década de Nanquim. Como tal, durante as primeiras décadas da vida de Mao Zedong a situação em que se encontrava a China não era fácil. Enquanto trabalhava nos campos, Mao foi sempre estudando, nomeadamente os Clássicos e os Livros do confucionismo. Contudo, Mao sempre preferiu as histórias de revolta da China antiga. Já após o fim dos exames imperiais, baseados no conhecimento dos Clássicos confucionistas, Mao começou a frequentar, com 16 anos, a Escola Moderna de Xiangxiang, onde tomou pela primeira vez contato com o conhecimento ocidental, as ciências naturais, a história e a geografia das nações estrangeiras. Após ter participado no exército republicano, em luta contra a Dinastia Manchu, Mao é admitido na Escola Normal de Hunan, para se tornar professor. Enquanto jovem estudante, Mao sempre foi bastante activo, tendo sido presidente da Associação de Estudantes da Escola Normal de Hunan. Aí sublinhava o absurdo das regras escolares em vigor, como as matérias obrigatórias. Por se ter rebelado contra os abusos administrativos, arriscou-se muitas vezes a ser expulso da Universidade. Contudo, tal como Confúcio, sempre foi um aluno aplicado e sobretudo interessado pelas ciências sociais e pela cultura clássica. Lia muito e procurava estar sempre informado quanto ao que se passava dentro e fora do território chinês. Já enquanto professor primário reivindicou com um grupo de amigos a independência de Hunan, assim como a igualdade de direitos entre os sexos. Como tal, cedo se deixou seduzir pelos ideais de igualdade da ideologia comunista, que conhecera na Universidade de Pequim, onde fora bibliotecário. Aí juntou-se ao Grupo de Estudo do Marxismo, organizado por Li Dazhao (李大), e leu traduções das três mais importantes obras do marxismo: "O Manifesto Comunista" de Marx, "A Luta de Classes" de Kautsky e a "História do socialismo" de Kirkupp. É também naquela altura que Mao conhece o professor de Economia Política da Universidade de Pequim Chen Duxiu (陈独秀), que haveria de fundar, juntamente com Li Dazhao e outros intelectuais, o Partido Comunista Chinês (PCC), em Shanghai, em 1921, reunião onde Mao também participou. Mao assumiu, então, o cargo de Secretário do Partido para Hunan, organizando diversos sindicatos de trabalhadores e uniões de camponeses. Após a decisão do III Congresso do Partido Comunista Chinês, em Cantão (广州), em junho de 1923, de participar no Partido Nacionalista (Guomindang 国民党), Mao é nomeado membro do Bureau executivo do Guomintang de Shanghai, onde é encarregado da coordenação da atividade dos dois partidos. Mao Zedong começa, então, a mostrar preocupações com as condições dos camponeses. É nesta altura que surgem as suas teorias de redistribuição geral das terras, que já haviam sido defendidas por Mêncio, como forma de promover a melhoria de condições de vida do povo. Mao foi, aqui, particularmente influenciado por Trotsky que, para além de uma nova política em relação ao campesinato, defendia a separação do PCC do Guomintang. Esta posição opunha-se completamente à opinião de Estaline que considerava uma tolice essa separação. A verdade é que, no seguimento do massacre de diversos comunistas desarmados, a 12 de Abril de 1927, em Shanghai, pelas tropas nacionalistas lideradas por Jiang Jieshi, acaba-se a colaboração entre estes dois partidos. Inicia-se, deste modo, um período de guerra civil entre nacionalistas de um lado e comunistas de outro. Os comunistas são, então, obrigados a refugiar-se na China rural. "Tal contato com a ruralidade e com o campesinato, socialmente predominante na estrutura sócio econômica chinesa, leva Mao a desenvolver a táctica e a doutrina da comuna camponesa em paralelo com as do soviete urbano de Lenine e de Estaline." O Partido Comunista Chinês adopta dois caminhos revolucionários, para conquistar o apoio do povo: por um lado, dirige-se à classe operária das cidades, ainda reduzida, e por outro, à classe camponesa das aldeias, mais numerosa e, consequentemente, o alvo privilegiado por estes. Um outro aspecto salientado por Mao Zedong é a revolução democrática, levando camponeses e operários a empenhar-se em lutas económicas e políticas. Este papel fundamental do povo na legitimação do poder do soberano é um aspecto que Confúcio já havia mencionado e Mêncio sublinhado. Ainda neste sentido, Mao apresenta o Exército Vermelho como suporte do poder comunista, o que está em contradição com a filosofia confucionista, nomeadamente de Xunzi, que defendia que o poder militar não era suficiente para se impor uma forma de governação ao povo. Em 1929, é criada a República Soviética de Jiangxi pelo Partido Comunista, onde é posta em prática a reforma agrária proposta por Mao Zedong. Tal como preconizado por Mêncio, alguns séculos antes, as terras são redistribuídas e os impostos são aligeirados, melhorando-se, desta forma, as condições de vida da população. A educação foi uma das áreas mais privilegiadas, tal como já Confúcio havia destacado, embora em moldes diferentes. As novas experiências de administração, de organização económica, social e militar impõem aos novos dirigentes comunistas novas soluções e um importante trabalho prático e teórico de investigação e análise. As bases comunistas são, então, alvo de ataques das tropas nacionalistas, o que as impele a deslocarem-se mais para Norte. É em 1934 que se inicia a Longa Marcha (长征), em direcção a Yan’an (延安), um movimento populacional que durará cerca de um ano e onde as populações por cerca de 12 000 Km são informadas sobre os propósitos da ideologia comunista, o que provoca uma grade adesão. É exatamente durante esta marcha que Mao Zedong é confirmado como o líder incontestável do Partido Comunista Chinês, ao ser eleito para o cargo de presidente do Comité Militar. Ainda que com propósitos diferentes, poder-se-á fazer aqui comparações entre este movimento de massas e o périplo realizado por Confúcio, quando se afastou dos cargos públicos para se dedicar ao ensino da sua doutrina. Ambas as deslocações suscitaram uma grande adesão popular, utilizando o mesmo método: procurar dar a conhecer aos outros uma filosofia de vida, através da forma de agir dos seus seguidores, através do exemplo dos confucionistas ou comunistas. Já Confúcio dizia que o conhecimento e a prática são uma e a mesma coisa, que a educação sem a experiência seria incompleta, pelo que apela à ação, ao conhecimento prático através do comportamento, sendo que este por sua vez, reflete os valores dos indivíduos. Foi exatamente este método utilizado por Mao Zedong para dar a conhecer a ideologia comunista que desencadeou um grande apoio popular, marcando pontos e levando à vitória do Partido Comunista sobre o Partido Nacionalista, após a derrota dos japoneses na Segunda Guerra Mundial (1945). A ideologia comunista ascendeu, então, ao poder na China a 1 de outubro de 1949, a partir do que Mao Zedong teve a oportunidade de pôr em prática em todo o território todos os projetos incluídos na ideologia comunista aplicados à realidade chinesa. Abraço. 

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