segunda-feira, 10 de junho de 2019

I. O SUTRA DA CONTEMPLAÇÃO DO BUDA DA VIDA IMENSURÁVEL


Budismo. Traduzido por Kalayasas durante o período de Yuan Chia da dinastia de Liu Song. www.terrapuradf.org.br. I. O SUTRA DA CONTEMPLAÇÃO DO BUDA DA VIDA IMENSURÁVEL. Exposto pelo Buda Sakyamuni. Assim ouvi. Certa vez o Buda Shakyamuni estava no Pico do Abutre em Rajagrha, com uma grande congregação de mil duzentos e cinquenta monges. Também havia trinta e dois mil bodhisattvas chefiados por Manjushri, o Príncipe do Dharma. Naquela época, na grande cidade de Rajagrha, havia um príncipe chamado Ajatasatru. Aconselhado por um mau amigo, Devadatta, prendeu seu pai, Rei Bimbisara, e confinou-o numa câmara com sete paredes, impedindo o acesso de qualquer cortesão. A Rainha, Vaidehi, era fiel ao Rei. Após um banho para se limpar, ela untou o próprio corpo com a pasta de manteiga e mel misturados com farinha, encheu seus ornamentos com o suco de uvas, e secretamente ofereceu ao Rei. O rei comeu a pasta de trigo, tomou o suco, então pediu água para enxaguar a boca. Em seguida, ele juntou as mãos respeitosamente, e voltando-se para o Pico do Abutre, reverenciou, ao longe, o Ser Venerado no Mundo, o Buda Shakyamuni, e disse, “Mahamaudgalyayana é meu amigo íntimo. Oxalá, compadecendo-se de mim, o mande aqui para iniciar-me nos oitos preceitos.” Então, Mahamaudgalyayana foi até o Rei, pelo ar, tão rápido como o voo da águia ou do falcão. Assim, a cada dia, Mahamaudgalyayana iniciou o Rei nos oito preceitos. O Ser Venerado no Mundo enviou também o Venerável Purna para expor o Dharma ao Rei. Após três semanas, tendo o Rei se alimentado com a pasta de trigo e podendo ouvir o Dharma, seu semblante ficou sereno e contente. Então, Ajatasatru perguntou a um guarda, “Meu pai ainda está vivo?” O guarda respondeu, “Sua Majestade, a Rainha untou o próprio corpo com a pasta de trigo, encheu seus ornamentos com suco e ofereceu-os ao Rei”. Os monges Mahamaudgalyayana e Purna vieram aqui, pelo ar, para expor-lhe o Dharma. É impossível impedi-los. Ao ouvir estas palavras, Ajatasatru ficou furioso com sua mãe e disse: “Mãe, você é minha inimiga porque é cúmplice do meu inimigo. Aqueles monges maléficos, com a mágica ilusória, possibilitaram ao Rei mau manter-se vivo por muitos dias”. E imediatamente tomou sua espada afiada, querendo matá-la. Havia um ministro sábio e inteligente, chamado Candraprabha. Ele, junto com um outro ministro de nome Jivaka, cumprimentou o Rei e disse, “Vossa Majestade, nós ministros, tínhamos ouvido que, segundo os Vedas, desde o início do universo, existiram dezoito mil reis que mataram seus próprios pais, cobiçando o trono. Ainda assim, nunca tínhamos ouvido de alguém que cometesse uma ação desumana como matar a própria mãe. Se Vossa Majestade, o fizer, trará a desonra à classe dos Ksatriya. Nós, como seus ministros, não suportaríamos ouvir uma tal acusação, pois seria uma ação de candala, e não podemos mais permanecer aqui.” Após estas palavras, os dois ministros empunharam as espadas e recuaram. Ajatasatru, surpreso e assustado, disse para Jivaka, “Você não está do meu lado?” Jivaka respondeu, “Vossa Majestade, por favor, refreie-se e não mate sua mãe.” Ouvindo estas palavras, o Rei se arrependeu e pediu perdão. Assim largou sua espada e desistiu de matar sua mãe. Em seguida, ordenou aos guardas da corte que a confinassem nos fundos do palácio e não a deixassem sair nunca mais. Então, Vaidehi, tendo sido confinada, definhou de tristeza e desespero. Voltando-se para o Pico do Abutre à distância, ela reverenciou o Buda e disse as seguintes palavras, “Tathagata, Ser Venerado no Mundo, no passado, o Senhor costumava enviar Ananda para vir me consolar. Agora estou aflita e triste. Ser Venerado no Mundo, o Senhor é majestoso e elevado e, por isso eu não conseguirei vê-lo. Peço-lhe que envie o Venerável Mahamaudgalyayana e o Venerável Ananda para virem ao meu encontro.” Tendo dito essas palavras, ela chorou de tristeza, vertendo lágrimas como chuva. Então, à distância, reverenciou o Buda, voltando-se a ele. Antes que ela erguesse a cabeça, o Ser Venerado no Mundo, do Pico do Abutre, percebeu o pensamento de Vaidehi e imediatamente ordenou a Mahamaudgalyayana e Ananda que fossem pelo ar até ela. O Buda ele próprio desapareceu do Pico do Abutre e surgiu no palácio real. Quando Vaidehi ergueu sua cabeça após a reverência, viu diante de si o Buda Shakyamuni, o Ser Venerado no Mundo, cujo corpo tinha a tonalidade ouro-púrpura, sentado numa flor de lótus feita de cem tipos de joias. À sua esquerda, estava Mahamaudgalyayana, e à sua direita, Ananda. Sakra, Brahma e os devas protetores flutuavam no céu, espalhando por toda parte, em oferenda, flores celestiais, como chuva. Ao ver o Buda, o ser Venerado no Mundo, Vaidehi tirou seus ornamentos, prostrou-se ao chão e chorou intensamente diante do Buda. “O Ser Venerado no Mundo” disse ela, “Eu tive tal filho mau, mas que faltas eu cometi no passado? E que relações kármicas, o Ser Venerado no Mundo, causaram ao Senhor o seu parentesco com Devadatta?” Peço-lhe, Ser Venerado no Mundo, que me descreva detalhadamente um mundo livre de tristeza e aflição. Eu desejo nascer lá. Não quero viver neste mundo sujo de Jambudvipa que está repleto de habitantes do inferno, espíritos insaciáveis e animais, e que tem muitos seres maus. Possa eu, daqui em diante, não mais ouvir palavras más nem ver pessoas perversas. Agora, diante do Ser Venerado no Mundo, eu me converto e me prostro, pedindo a sua Compaixão. Eu desejo sinceramente, Ser Venerado no Mundo, que me diga como visualizar um lugar aperfeiçoado por ações puras.” Nesse momento, o Ser Venerado no Mundo irradiou luz a partir de um ponto entre as suas sobrancelhas. Essa luz tinha cor de ouro e iluminou todos os mundos inumeráveis nas dez direções. E a luz, retornando ao Buda, se deteve sobre a sua cabeça e transformou-se numa plataforma de ouro, parecida com o Monte Sumeru. Em seu interior surgiram as terras puras e maravilhosas dos Budas das dez direções. Algumas destas eram constituídas por sete tipos de joias, outras constituídas somente de flores de lótus, outras eram semelhantes ao palácio no Céu de Paranirmita-vasa-vartin, e outras eram similares a um espelho de cristal em que se refletiam todas as terras em dez direções. Inumeráveis terras de Budas, tão gloriosas e magníficas como aquelas, tornaram-se visíveis e foram vistas por Vaidehi. Então, Vaidehi disse ao Buda, “Ser Venerado no Mundo, estas várias terras são puras e livres de máculas, e todas elas brilham. Eu, no entanto, quero nascer no Mundo da Suprema Bem-aventurança do Buda Amida. Peço-lhe, Ser Venerado no Mundo, que me diga como posso concentrar meus pensamentos e me ensine a atingir a percepção correta.” Neste momento, o Ser Venerado no mundo sorriu e de sua boca saíram raios de luz de cinco cores, cada um deles brilhou sobre a cabeça de Bimbisara. Ainda que estivesse confinado, o grande Rei pôde ver, ao longe, com os olhos da mente livre de obstáculos, o Ser Venerado no Mundo. Quando o Rei pôs sua testa no chão em homenagem ao Buda, ele espontaneamente evoluiu e atingiu o estágio de Anagamin. Então, o Ser Venerado no Mundo disse a Vaidehi, “Você sabe que o Buda Amida não está muito distante daqui”? Você deve concentrar seus pensamentos e contemplar claramente este Buda que, na terra Pura, já realizou as ações puras. Agora, eu vou descrever detalhadamente várias imagens daquela terra, de modo que, no futuro, todas as pessoas comuns que desejarem realizar as ações puras possam atingir o Nascimento na Terra da Suprema Bem-aventurança no oeste. As pessoas que querem nascer lá devem praticar os três tipos de ações meritórias. Primeiro, elas devem cuidar de seus pais, respeitar os seus mestres e as pessoas idosas, ter compaixão, evitar matar e praticar as dez ações boas. Segundo, devem manter o tríplice refúgio, observar os vários preceitos dos monges e não violar as regras de comportamento. Terceiro, devem despertar a aspiração para a Iluminação, crer profundamente na lei de causalidade, cantar os sutras do Mahayana e encorajar as pessoas a seguir esses ensinamentos. Estas três são as chamadas “ações puras”. O Buda disse a Vaidehi, “Você sabe ou não que estas três são as ações puras praticadas por todos os Budas do passado, do presente e do futuro, e também a causa correta da Iluminação?” O Buda disse a Ananda e Vaidehi, “Ouçam bem, ouçam bem. Pensem nisto com muita atenção. Eu como um Tathagata, vou explicar para vocês em detalhes as ações puras, em benefício de todos os seres do futuro que serão atormentados pelos malfeitores, as paixões cegas. É muito bom, Vaidehi, que você tenha me perguntado sobre isso. Ananda, você deve receber e manter as palavras do Buda, proclamando-as amplamente à multidão dos seres humanos. Eu, o Tathagata, agora vou ensinar a Vaidehi e aos seres do futuro, como contemplar a Terra da Suprema Bem-aventurança no oeste. Em virtude do poder do Buda, todos podem ver a Terra Pura, tal como se alguém visse o seu próprio rosto num espelho claro. Vendo a suprema magnificência e bem-aventurança daquela terra, regozijarão e imediatamente atingirão a percepção da não-produção da existência de todos os existentes”. Disse o Buda a Vaidehi, “Você é apenas uma pessoa comum e seus poderes espirituais são fracos e inferiores. Como você não obteve ainda o olho divino/alcançar a visão divina, é incapaz de ver o que se encontra à distância Mas os Budas, isto é, os Tathagatas, têm meios especiais de fazer com que você possa ver longe.” Vaidehi disse ao Buda: “Ser Venerado no Mundo, através do poder do Buda até eu sou capaz de ver aquela terra. Mas depois da morte do Buda, os seres vivos serão maculados e maus/ruins e serão atormentados pelos cinco tipos de sofrimento. Como estes seres então poderão ver a Terra da Suprema Bem-aventurança do Buda Amida?”. Disse o Buda a Vaidehi: “Você e outras pessoas devem se concentrar e com atenção focada voltar seus pensamentos para o Oeste”. Como é feita essa contemplação? Todos os seres humanos que possuem a faculdade da visão, a não ser as pessoas que nasceram cegas, devem olhar para o sol poente. Sentem-se na postura adequada, voltados para a direção do Oeste. Olhem atenta e nitidamente o sol, fixando a mente nele com firmeza. Concentrem sua atenção sem desviá-la do sol poente, como um tambor suspenso acima do horizonte. Tendo feito isso, vocês devem ser capazes, então, de visualizá-lo claramente, estejam vocês de olhos abertos ou fechados. “Esta é a visualização do sol e é chamada de a primeira contemplação.” “Pratique em seguida a visualização da água”. Visualize a água clara e pura, e deixe que esta visão seja percebida com toda nitidez. Não permita que sua mente se distraia. Após ter visualizado a água, imagine-a congelando. Tendo visualizado o gelo brilhante e transparente, veja-o transformando-se em lápis lazúli. Quando você tiver atingido essa visão, imagine então que a grande terra composta de lápis-lazúli brilha radiante, dentro e fora, e que esta terra é sustentada em sua base por colunas feitas de diamantes e sete tipos de joias, onde estão suspensos estandartes de ouro. Essas colunas têm oito faces e oito ângulos, cada qual ornamentado com cem joias. Cada joia emite mil raios de luz, cada raio por sua vez contém oitenta e quatro mil cores. Quando estes objetos 5 brilhantes refletem no solo de lápis-lazúli, assemelham-se a mil kotis de sóis, tão deslumbrante que é impossível vê-los com precisão. Na superfície do solo de lápis-lazúli, se entrecruzam cordas douradas. A terra se divide nitidamente em áreas constituídas por sete tipos de jóias. Cada jóia emite raios de quinhentas cores, que parecem flores. Estes, suspensos no espaço como a lua e as estrelas, transformam-se numa plataforma de luz. Nela estão dez milhões de pavilhões compostos por cem tipos de joias. Ambos os lados desta plataforma são adornados com cem kotis de estandartes floridos e inúmeros instrumentos musicais. Quando os oito tipos de brisa pura surgem da luz, tocam os instrumentos musicais, que proclamam o ensinamento do “sofrimento, vazio, impermanência e ausência do ego.”. Esta é a visualização da água e é chamada de a segunda contemplação. Quando você tiver atingido esta contemplação, visualize cada objeto com bastante nitidez. Não perca as imagens, quer você esteja de olhos fechados ou abertos. Exceto quando estiver dormindo, sempre as mantenha em sua mente. Quem visualiza essas imagens, é como ver o solo da Terra da Suprema Bem aventurança. Se você atingir um estado de samedhi, você verá este solo com clareza e nitidez. Será, porém, impossível descrevê-lo todo em detalhes. Esta é a visualização do solo e é chamada de terceira contemplação. O Buda disse a Ananda, “Atenha-se a estas palavras do Buda e exponha esse método de visualização do solo em benefício de todos os seres no futuro que hão de buscar a libertação do sofrimento. Se alguém contempla este solo, o mau carma que causa oito bilhões de kalpas de samsara será extinto e, assim após a morte, essa pessoa definitivamente nascerá na Terra Pura na próxima vida. Não duvide disto. Praticar desta forma é chamado de contemplação correta. Praticar de modo diferente, de contemplação incorreta.”. O Buda disse a Ananda e a Vaidehi, “Após ter visualizado o solo, imagine em seguida as árvores de joias”. Visualize cada uma delas e forme uma imagem de sete fileiras de árvores. Todas as árvores têm oito mil yojanas de altura e são adornadas, sem falta, com flores e folhas dos sete tipos de joias. Cada flor e folha têm a cor de cada jóia. Das flores e folhas com a cor de lápis´lazúli sai uma luz dourada. As que têm cor de cristal emitem luz carmesim. As de cor de ágata emitem luz safira. As de cor safira emitem luz verde-pérola. Coral, âmbar e todas as outras joias servem de ornamentos brilhantes. Excelentes redes de pérolas que se sobrepõem em sete camadas, cobrem as árvores. No meio de cada camada de rede, há quinhentos kotis de palácios adornados de flores raras, tal como o palácio do rei Brahma onde há naturalmente crianças celestiais. Cada uma destas crianças veste ornamentos de quinhentos kotis de joias de shakra-abhilagna-mani, que iluminam uma extensão de cem yojanas em todas as direções, como cem kotis de sóis e luas brilhando juntos. Assim é impossível descrevê-las em detalhes. Várias jóias se misturam produzindo as mais esplêndidas das cores. “Estas árvores de joias estão uniformemente enfileiradas e suas folhas se distribuem de forma harmoniosa”. Entre as folhas aparecem flores maravilhosas/deslumbrantes e, sobre estas/elas, surgem com espontaneidade frutas de sete tipos de joias. Cada folha tem vinte e cinco yojanas tanto em comprimento como em largura. Como os adornos celestiais, as folhas têm mil cores e cem modos de desenhos. As flores maravilhosas/deslumbrantes têm a cor do ouro oriundo do Rio Jambu, girando como rodas de fogo entre as folhas. Destas flores surgem várias frutas, tal como do vaso de Shakra. E grandes jorros de luz lançados das frutas trasformam-se em estandartes e inúmeros baldaquins de joias. Dentro dos baldaquins são refletidas todas as ações dos Budas de todo o universo de um bilhão de mundos, assim como as terras dos Budas das dez direções. Depois de ter visto estas árvores, visualize cada detalhe em ordem: os troncos, galhos, folhas, flores e frutas. Contemple todos estes itens com clareza. “Esta é a visualização das árvores, e é chamada a quarta contemplação.” Contemplem em seguida as águas. Assim deve ser feito. Na Terra da Suprema Bem-aventurança há lagos cujas águas possuem oito méritos, cada qual composto de sete tipos de joias, todas suaves e flexíveis. A água, jorrando de uma joia chamada cinta-mani, a rainha das joias, forma quatorze correntes. Cada corrente tem a cor de sete tipos de joias. O curso das águas e feito de ouro e seu leito é coberto de areia de diamantes de diversas cores. Em cada corrente há sessenta kotis de flores de lótus de sete tipos de joias, invariavelmente redondas com perfeição, medindo doze yojanas de diâmetro. A água da joia mani percorre entre as flores e flui subindo e descendo livremente pelas árvores. Seus movimentos produzem vozes maravilhosas, proclamando as verdades acerca do “sofrimento, do vazio, da impermanência, da ausência do ego e das virtudes de Paramitas”. Outros sons glorificam as características físicas dos Budas. A rainha das joias, cinta-mani, emite uma luz dourada esplêndida que se transforma em pássaros com as cores de cem tipos de joias. Seus gorjeios são harmoniosos e elegantes, louvando o tempo todo as virtudes de pensamento no Buda, no Dharma e na Sangha. “Esta é a visualização da água dos oito méritos, e é chamada a quinta contemplação.” Em cada região desta terra, há quinhentos kotis de pavilhões adornados de joias onde inúmeros devas tocam música celestial. Há também instrumentos musicais suspensos no céu, que emitem sons sozinhos, como os instrumentos anexos aos estandartes celestiais de joias. Vários sons pregam as virtudes de pensamento no Buda, no Dharma e na Sangha. Quando esta contemplação tiver sido alcançada, pode se dizer que conseguimos praticamente a visão total das árvores de jóias, do solo de joias e dos lagos de joias da terra da Suprema Bem aventurança. Esta é a visualização conjunta e é chamada de sexta contemplação. 7 Aqueles que assim tiverem visto ficarão livres dos maus carmas extremamente pesados de incalculáveis kalpas e, após sua morte, nascerão, sem falta, naquela Terra. Praticar deste modo é chamado de contemplação correta. “Praticar de modo diferente, de contemplação incorreta.” Disse o Buda a Ananda e Vaidehi: “Ouçam com atenção, ouçam com atenção e reflitam bem. Eu o Buda, vou agora discernir e expor-lhes o método de extinguir o sofrimento. Mantenham minhas palavras em suas mentes e transmitam-nas amplamente para as multidões de seres.” Quando ele proclamou essas palavras, o Buda da Vida Imensurável apareceu e permaneceu no ar, de pé, acompanhado a sua esquerda e a sua direita pelos dois Mahasattvas, Avalokitesvara e Mahasthamaprapta. As luzes deles eram tão radiantes que era impossível vê-los em detalhes. Este não poderia ser comparado nem mesmo a cem mil vezes o brilho do ouro oriundo do Rio Jambu. Após ter visto o Buda da Vida Imensurável, Vaidehi ajoelhou-se em reverência aos pés do Buda Shakyamuni e lhe disse, Ser Venerado no Mundo, através do seu poder, fui capaz de ver o Buda da Vida Imensurável e os dois Bodhisattvas. Mas, como os seres vivos do futuro poderão vê-los?” Disse então, o Buda a Vaidehi, “Quem desejar ver esse Buda, deve conceber a imagem de uma flor de lótus no solo de sete tipos de joias”. Eles devem visualizar cada pétala desta flor com as cores de cem tipos de jóias. Cada pétala possui oitenta e quatro mil veias como uma pintura celestial: cada uma delas emitem oitenta e quatro mil raios de luz. Eles devem visualizar tudo isto com clareza e nitidez. As pétalas menores têm o comprimento e a largura de duzentos e cinquenta yojanas. Esta flor de lótus tem oitenta e quatro mil pétalas. Entre as pétalas há cem kotis de joias-rei mani, que servem de ornamentos brilhantes. Cada joia-rei mani emite mil raios de luz, os quais, como baldaquinos feitos de sete tipos de joias, cobrem a terra inteira/toda a terra. A plataforma é elaborada com as joias de sakra-abhilagna-mani, sendo decorada com oitenta mil diamantes, joias kimsuka, joias brahma-mani e também com maravilhosas redes de pérolas. Na plataforma surgem, espontaneamente quatro colunas com estandartes adornados de joias e cada estandarte é tão amplo como um bilhão de kotis de Montes Sumerus. Apoiando-se nas colunas com estandartes há um baldaquino feito de joias similar ao que se encontra no palácio do Céu Yama. O baldaquino também é adornado com quinhentos kotis de excelentes joias, cada joia emite oitenta e quatro mil raios e cada raio, por sua vez, irradia oitenta e quatro mil diferentes matizes da cor dourada. Cada luz dourada permeia esta terra adornada de joias e se transforma em várias formas em todos os lugares, tais como plataformas de diamantes, redes de pérolas e nuvens ornadas de flores. Em todas as dez direções, transforma-se conforme se deseja, realizando atividades do Buda. Esta é a visualização do trono de lótus e é chamada de sétima contemplação. 8 O Buda disse ainda a Ananda, “Estas majestosas flores de lótus foram originalmente criadas pelo poder do Voto do Bhiksu Dharmakara. Aqueles que desejarem visualizar o Buda Amida, devem praticar a contemplação do trono de flor de lótus. Essa contemplação não deve ser realizada de forma desordenada. Visualizem os objetos um por um – cada pétala, cada jóia, cada raio de luz, cada plataforma e cada estandarte – distinguindo-os com clareza como se estivessem vendo sua própria imagem num espelho. Quando essa contemplação tiver se completado, os karmas maléficos que o prendem aos cinquenta mil de kalpas de samsara serão extinguidos e, assim, você nascerá sem falta na Terra da Suprema Bem-aventurança. Praticar deste modo é chamado de contemplação correta. Praticar de modo diferente, de contemplação incorreta.”. Disse o Buda a Ananda e Vaidehi, “Após terem visto tudo isto, em seguida visualizem o Buda Amida. Por quê? Porque Budas, ou seja, Tathagatas, são corpos do mundo de Dharma e assim aparecem na mente contemplativa de todos os seres. Por isto, quando vocês contemplam um Buda, sua própria mente adquire as trinta e duas características principais e oitenta marcas secundárias de corpo de Buda. Assim, sua mente produz a imagem do Buda e essa mente própria é o Buda. Os Budas da Sabedoria, perfeita e universal como o oceano, surgem assim da mente contemplativa. Por esta razão, vocês devem concentrar-se com exclusividade e contemplar nitidamente Amida, o Buda, Tathagata, Arhat e Perfeito Iluminado . “Quando vocês desejarem visualizar esse Buda, vocês devem em primeiro lugar formar sua imagem na mente. Quer seus olhos estejam abertos ou fechados, percebam-no como uma imagem adornada de joias, tendo a cor do ouro do rio Jambu, sentado naquele trono de flor. Quando vocês tiverem percebido deste modo a imagem sentada do Buda, o olho de suas mentes se abrirá e vocês verão com clareza e nitidez o solo, os lagos e as fileiras de árvores ornamentados de sete tipos de joias da Terra da Suprema Bem-aventurança. Estes são cobertos de cortinas celestiais de jóias. Todo o céu é tomado pelas redes de joias. Percebam tudo isso com clareza e exatidão como se olhassem um objeto na palma de sua mão.” “Depois de terem visto esta imagem, visualizem no lado esquerdo do Buda uma grande flor de lótus. Esta flor é exatamente a mesma que a descrita acima. E imaginem então outra grande flor em seu lado direito. Visualizem uma imagem do Bodhisattva Avalokitesvara sentado no assento de flor à sua esquerda, emitindo uma luz dourada tal como a imagem de Buda descrita acima. Em seguida, visualizem uma imagem do Bodhisattva Mahasthamaprapta sentado no assento de flor a sua direita.” “Quando vocês tiverem atingido esta visualização, vocês verão estas imagens de Buda e bodhisattvas, todas emitindo raios de luz. Esses raios, de cor dourada, iluminam todas as árvores de jóias. Sob cada árvore, há outras três flores de lótus. Sobre elas, há imagens do Buda e dos dois bodhisattvas sentados. De tal forma que esta terra é repleta destas imagens.” 9 ‘Quando vocês tiverem atingido esta visualização, perceberão os regatos, os raios de luz, as árvores de joias, patos, gansos, patos-mandarim machos e fêmeas, todos expondo o Dharma maravilhoso. Meditando ou não, vocês ouvirão o Dharma maravilhoso o tempo todo. Quando vocês saírem do estado de meditação, devem manter em mente o que ouviram, sem nada esquecer, buscando ver se está de acordo com os sutras. Se não está, então deve ser considerada uma ilusão, mas se concordar, deve ser reconhecida como uma visualização, mas ainda incompleta, da Terra da Suprema Bem-aventurança. Esta é a visualização da imagem do Buda, e é chamada de oitava contemplação. Caso a tenham atingido, os karmas maléficos que os prendem aos inúmeros kotis de kalpas de samsara serão extintos, e vocês alcançarão, ainda nesta vida, o Samadhi do Nembutsu.” Disse o Buda a Ananda e a Vaidehi, “Quando vocês tiverem alcançado esta visualização, contemplem, em seguida, as características físicas e a luz do Buda da Vida Imensurável”. Ananda, você deve perceber que o corpo do Buda é tão glorioso quanto um bilhão kotis de barras de ouro do rio Jambu do Céu Yama e que sua altura é de seiscentos mil kotis de nayutas de yojanas, multiplicado pelo número de grãos de areia do Ganges. O tufo de cabelo branco enrolado para o lado direito entre suas sobrancelhas é cinco vezes o tamanho do Monte Sumeru. Seus olhos são tão vastos como os quatro grandes oceanos; distingue-se bem a íris azul do branco do olho. De todos os poros de seu corpo emana um jorro de luz, magnífico como o Monte Sumeru. A auréola do Buda é tão ampla quanto cem kotis de universos, cada um contendo um trilhão de mundos. Nesta auréola residem Budas transformados, tão numerosos quanto milhões de kotis de nayutas, multiplicado pelo número de grãos de areia do Ganges. Cada Buda é acompanhado por incontáveis bodhisattvas transformados. O Buda da Vida Imensurável possui oitenta e quatro mil características físicas, cada qual com oitenta e quatro mil marcas secundárias de excelência. Cada marca secundária emite oitenta e quatro mil raios de luz; cada luz brilha universalmente sobre as terras nas dez direções, abraçando e jamais abandonando aqueles que se concentram no Buda. É impossível descrever em detalhes os raios de luz, as características e marcas físicas, os Budas transformados e assim por diante, mencionados anteriormente. Mas vocês podem vê-los claramente com o olho de sua mente através da contemplação. Aqueles que os visualizarem, veem todos os Budas nas dez direções. Porque veem os Budas, a isto se chama Samadhi do Nembutsu.” Atingir esta contemplação se chama “visualizar os corpos de todos os Budas.” Visualizando os corpos dos Budas, vocês veem, também a mente dos Budas. A mente dos Budas é a Grande Compaixão. Ela abraça os seres humanos com compaixão incondicional. Os que praticarem esta contemplação, após a morte nascerão na presença dos Budas e realizarão o insight do não-surgimento de todas as existências. Por isto, os sábios devem concentrar seus pensamentos e visualizar o Buda Amitayus. Ao contemplá-lo, iniciem por uma de suas características físicas. Visualizem primeiro o tufo branco de cabelo entre suas sobrancelhas até que este possa ser visto com bastante clareza e distinção. Quando o visualizarem, todas as oitenta e quatro mil características físicas tornar-se-ão manifestas espontaneamente. Quando vocês virem o Buda Amitayus, verão também inúmeros Budas das dez direções. Tendo visualizado estes inúmeros Budas, de cada um deles vocês receberão a predição de que se tornarão Budas no futuro. Esta é a visualização geral de todas as características do Buda e é conhecida como a nona contemplação. Praticar deste modo é chamado de contemplação correta. Praticar de modo diferente, de contemplação incorreta. Disse Buda a Ananda e a Vaidehi, “Após terem visualizado Amitayus nítida e distintamente, visualizem o Bodhisattva Avalokitesvara. Sua altura corresponde a oitocentos mil kotis de nayutas de yojanas multiplicado pelo número de grãos de areia do Ganges. A cor de seu corpo é ouro-púrpura e traz no topo da cabeça uma protuberância e atrás da cabeça, uma auréola com um diâmetro de cem mil yojanas, na qual há quinhentos Budas transformados. Cada Buda transformado assemelha-se a Shakyamuni e é acompanhado por quinhentos bodhisattvas e inúmeros devas. Na luz que emana de seu corpo inteiro, os seres humanos dos cinco reinos do samsara aparecem em todas as suas distintas formas físicas. Traz em sua cabeça uma coroa celestial feita de joias de sakra-abhilagna-mani, onde se apóia um Buda transformado (Amitayus) medindo vinte e cinco yojanas de altura. A face do Bodhisattva Avalokitesvara tem a cor do ouro do rio Jambu. O tufo de cabelo entre suas sobrancelhas possui as cores de sete tipos de jóias e emite oitenta e quatro mil diferentes raios de luz. Em cada raio alojam-se inúmeros e incontáveis centenas de milhares de Budas transformados, cada qual acompanhado de um sem-número de bodhisattvas transformados. Todos manifestam várias formas quando desejam, preenchendo por completo os mundos das dez regiões e brilhando como as flores vermelhas de lótus. Eles emitem oitenta kotis de raios de luz na forma de ornamentos, nos quais estão refletidos todos os gloriosos objetos daquela terra. As palmas de mãos de Avalokitesvara têm a cor de quinhentos kotis de várias flores de lótus. Cada uma das pontas de seus dez dedos possui oitenta e quatro mil figuras/desenhos como padrões impressos, cada qual com oitenta e quatro mil cores. Cada cor, por sua vez, emite oitenta e quatro mil delicados raios de luz, iluminando a todos os seres. Com suas mãos preciosas/excelentes, ele acolhe e guia os seres humanos. Quando ele levanta um dos pés, em sua sola “a marca de uma roda de mil hastes” transforma-se espontaneamente num pedestal que emite quinhentos kotis de raios de luz. Quando ele coloca seu pé no chão, flores feitas de diamantes e gemas mani espalham-se por toda parte. Todas as outras características físicas e marcas, as quais possui plenamente, são iguais às do Buda, com exceção das duas particularidades: a protuberância em sua cabeça e a parte mais alta e invisível: estas não são iguais às do Ser Venerado no Mundo (Amida). Exposto pelo Buda Sakyamuni. Templo Shin Budista da Terra Pura – Brasília – DF. Abraço. Davi.


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